12 setembro 2012

Trovoadas – Os Raios (1ª parte)







Poucos montanheiros morreram até aos dias de hoje por efeito  dos raios da trovoada, razão pela qual estatísticamente, é pouco provável que nos caia um em cima. O motivo porque se inclui este tema no nosso blog, é o de procurar evitar que a lei da probabilidade se constitua na nossa única defesa contra os raios. Na verdade, devido a representar um perigo muito residual para os praticantes de montanhismo, este tema acaba por ser amplamente ignorado, pelo que esperamos que a presente abordagem possa contribuir, sobretudo na vertente da prevenção, num factor relevante para reforçar a improbabilidade de assumirmos o “desconfortável” papel de para-raios.




Os raios, bem como por exemplo as avalanches, devem ser considerados como fontes de


perigo potencial e objectivo.
O raio deve-se às cargas eléctricas presentes na atmosfera, e à electricidade que flui da linha do denominado  menor esforço.  Se for produzida uma descontinuidade no condutor, que é o objecto através do qual circula a electricidade, a corrente salta no espaço, como acontece nas velas de ignição dos automóveis. Nas tempestades, as nuvens carregam-se de electricidade, a qual passa para a terra, através de um fenómeno que gera um flash de luz, escolhendo o caminho mais curto, pelo que este vai caír, a maioria das ocasiões,  sobre o acidente mais proeminente do terreno.

Existem três classes de raios. 

A primeira delas ocorre no interior de uma nuvem, de uma nuvem para outra ou ainda do ar carregado para uma nuvem. É um fenómeno interessante , mas que não oferece uma ameaça real para os montanheiros.





A segunda variedade, é a mais frequente e é apelidada de “ raio descendente”  porque o raio transmite-se  para o solo terrestre a partir de uma nuvem, normalmente caindo sobre o ponto mais proeminente de terreno. Estes raios podem cair directamente sobre alguém, ainda que seja pouco provável, no entanto é mais usual que originem uma redução da voltagem devido à captação do ar, que rodeia o corpo, pelo que a pessoa “apenas terá  que resistir a uns poucos milhares de voltes , derivados da chamada  tensão do arco durante uma fracção mínima de segundo. Ainda que seja  suficiente para causar a morte, raramente o é, e a vítima quase sempre recupera completamente e rapidamente.





Em terceiro lugar temos a classe dos “raios ascendentes”. Estes têm a sua origem no solo (embora a simples visão humana não detecte essa inversão) e transmitem-se para as nuvens. Esta classe de raios apenas se produz no cume das montanhas, pelo que os montanheiros e escaladores correm um certo risco em relação a eles. Uma pessoa que seja atingida por um raio ascendente pode sofrer uma descarga de até 300 amperes, durante várias centésimas de segundo, a uma temperatura superior a 50.000 F. A combinação da descarga eléctrica e do calor extremo, quase sempre produz uma paragem cardíaca. É frequente, perante tal tipo de raios,  encontrar queimaduras no corpo, e os fechos e botões metálicos fundidos.





Face a esse perigo real, que temos que fazer quando nos encontremos no meio de uma tempestade eléctrica? 

A não ser que tenhamos muita má sorte, normalmente apercebemo-nos que se aproxima a tempestade. Provavelmente escutaremos trovões, ou inclusive sentiremos a electricidade no ar, os pelos eriçam-se, sentiremos um formigueiro na pele, ou o piolet vibra, poderá soltar algumas faíscas, ou ficar mesmo com um brilho azulado…

Como os raios costumam cair sobre os elementos mais altos do terreno, existem zonas que apresentam maiores probabilidades de serem alcançadas por estes. O local ideal para se estar, será sempre afastado de qualquer objecto de aço, de cócoras, bem encolhidos, como que formando uma bola  e com os pés juntos. Se for possível, devemo-nos colocar sobre algo que nos isole do solo, ainda que seja roupa enrolada, colchonetes para dormir, ou a mochila (tendo o cuidado que não tenha remates metálicos e ter retirado previamente do seu interior tachos, fogões, varetas da tenda, etc…).





O nosso objectivo será manter o mínimo contacto possível com o solo, e estar afastados de riscos que sobressaiam, como sejam os cumes de montanha, rochas proeminentes, marcos de pedra, etc…

Não se deve procurar refúgio nos desfiladeiros, covas pouco profundas, ou debaixo de rochas que sobressaiam no terreno, porque estas situações tendem a actuar como o espaço de uma tomada eléctrica, e portanto poderemos sofrer graves queimaduras ou inclusive morrer.

Mas afinal o que é a trovoada?

A trovoada é uma situação meteorológica caracterizada pela presença de raios, associada ao efeito  acústico dos mesmos na atmosfera terrestre, mais conhecido por trovão.





Para uma trovoada se formar é necessário que aconteça a elevação de ar húmido numa atmosfera instável. A atmosfera fica instável quando as condições são tais, que permita que uma bolha ou massa de ar quente em ascenção possa continuar a subir, na medida em que esta continua mais quente do que o ar ambiente que a rodeia. (A elevação do ar quente é um mecanismo que tenta restabelecer a estabilidade. Do mesmo Modo, o ar mais frio tende a descer e a afundar-se enquanto se mantiver mais frio do que o ar à sua volta).
Se a elevação de ar for suficientemente forte, este arrefece até temperaturas abaixo do ponto de orvalho pelo que condensa, libertando assim calor latente que origina a elevação do ar e “alimenta” a trovoada. Formam-se então nuvens denominadas cumulonimbus isolados e com grande desenvolvimento vertical, que são alimentados pelas correntes ascendentes de ar.





As trovoadas podem-se formar no interior das massas de ar a partir da elevação do ar por efeito da convecção (comum em terra, nas tardes de Verão), quando o aquecimento da superfície atinge o seu pico (e também sobre o mar nas madrugadas de Inverno, quando as águas estão relativamente quentes), bem como por efeito orográfico (a barlavento das grandes montanhas) ou estarem ainda associadas à ocorrência de frentes, sendo neste caso, mais intensas no caso das frentes frias.

As trovoadas mais fortes são produzidas quando o ar quente e húmido sobe rapidamente, com velocidades que podem chegar aos 160 km/h, até altitudes mais elevadas e mais frias. Em cada minuto ocorrem cerca de 2000 trovoadas sobre a superfície da Terra. Os relâmpagos surgem quando as partículas de gelo ou neve de uma nuvem começam a cair de grande altitude em direcção à superfície terrestre e correspondem à libertação de energia devida à diferença de carga entre as partículas.






Qual a origem do trovão?

Os trovões são os ruídos que os raios fazem quando atravessam o ar.

Durante uma trovoada geram-se descargas eléctricas desencadeadas para equilibrar a diferença de potencial entre o topo da nuvem (cargas positivas), a base da nuvem (cargas negativas) e o solo (carga positiva). A atmosfera funciona como isolador entre a nuvem e o solo. Quando a energia envolvida numa tempestade ultrapassa a resistência do ar, gera-se uma descarga entre os polos, de carga oposta. Esta descarga é caracterizada por um raio com temperaturas elevadas que aquece o ar à sua passagem. O rápido aumento da pressão e temperatura fazem expandir violentamente o ar envolvente ao raio a velocidades superiores às do som, gerando-se desse modo uma onda de choque. O ribombar posterior a um trovão é o resultado do eco da onda de choque nas altas camadas da atmosfera e na geografia envolvente.





Nas proximidades do ponto de contacto do raio com o solo regista-se um nível sonoro de cerca de 120 dB. A proximidade do trovão pode produzir surdez temporária e até mesmo rotura da membrana do tímpano e consequentemente, surdez permanente.

Como saber a que distância se encontra a trovoada de nós?

Uma vez que o som e a luz se deslocam através da atmosfera a velocidades muito diferentes, pode-se estimar a distância da trovoada através da diferença de tempo entre o relâmpago (luz) e o trovão (som). A velocidade do som no ar é de aproximadamente 343 m/s. A velocidade da luz é tão elevada (+- 300.000 km/s) que a transmissão da luz pode ser considerada instantânea. Ora, multiplicando 343 pelo número de segundos que se registe entre a visualização do raio e o subsequente escutar do trovão, obter-se-á a distância da trovoada em metros. Por exemplo: Se a diferença de tempo entre o raio e o trovão for de 3 segundos, então a distância entre nós e a trovoada será de 1.029 metros (3 x 343 = 1.029 metros), ou seja, aproximadamente 1 km de distância.





No próximo artigo, daremos continuidade a este tema, que embora pouco abordado é de extrema utilidade, porque na improbabilidade de sermos atingidos por um raio, existem inúmeros casos de pessoas atingidas por raios na montanha. Portanto prestem atenção às condições meteorológicas quando se deslocarem para a montanha e criem situações de defesa.

Até lá…

Boas caminhadas

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