29 maio 2013

Prever a meteorologia em Montanha (Parte 3)

Porque costuma estar pior tempo nas montanhas?

Se quisermos uma resposta simples e breve a esta pergunta ela será a de que as montanhas estão à altitude das nuvens. No entanto esta resposta não deixa de ser uma verdade muito vaga, pelo que convém desenvolver um pouco mais o tema.
Num mesmo maciço, as vertentes não beneficiam do mesmo tipo de clima. As cotas a partir das quais começa a encontrar-se a neve são muito diferentes, isto para não falar da vegetação, que é um excelente indicador também revelador desta quantidade de variações. A orografia também tem um papel importante nos fenómenos climáticos locais.



O que mais nos pode interessar saber da atmosfera referente às montanhas? Duas coisas fundamentais que por sua vez explicam três diferentes consequências:

1. A atmosfera atenua as variações de temperatura na superfície do globo, o que quer dizer, que torna mais lento o seu aquecimento e arrefecimento.

Primeira consequência: as variações de temperatura, que são um dos factores que intervêm nas mudanças de tempo, são muito mais bruscas nas montanhas (onde a espessura da atmosfera é menor) do que nas zonas situadas ao nível do mar.

2. A atmosfera filtra os raios solares e retém aproximadamente metade da sua energia. No entanto a eficácia desse filtro atmosférico não é uniforme, uma vez que decresce com a altitude (numa menor espessura de camada de ar existe menor pressão atmosférica).


Segunda consequência: Nas montanhas, o ar filtra muito menos energia solar do que na costa, e tanto menos energia quanto mais alta seja a montanha, pelo que o terreno e a nossa pele estarão muito mais expostos a essa radiação. Se a isto adicionarmos a refracção dos raios solares sobre  a neve e a ausência de vapor de água nos ambientes secos de montanha, o efeito multiplica-se.

Terceira consequência: Os raios solares quando se apresentam bastante oblíquos (quando o Sol está baixo sobre o horizonte) perdem mais energia que os verticais (quando o Sol está sobre as nossas cabeças), e que atravessam uma espessura menor de atmosfera antes de tocar no solo. Isto explica porque é que na planície o Sol aquece menos pela manhã do que ao meio-dia. No entanto, e pelo mesmo motivo, as montanhas aquecem-se primeiro do que as terras baixas (porque recebem em primeiro lugar as radiações uma vez que têm uma menor espessura de atmosfera). Além disso, as ladeiras montanhosas, orientadas a Este (Sol nascente) aquecem-se logo desde a manhã pois oferecem um plano perpendicular aos raios o que se verifica muito antes do que nos vales circundantes.

Para os meteorologistas, as montanhas constituem as áreas preferidas de observação, devido à quantidade de fenómenos que se pode observar em espaços relativamente pequenos.


NUVENS
  

Quando o ar fica saturado de humidade, o aumento do vapor de água, ou o arrefecimento da massa saturada ao elevar-se, provoca a condensação em forma de gotas minúsculas de água ou gelo sobre as diminutas partículas flutuantes na atmosfera formando, assim, as nuvens. Conhecer a forma das nuvens e identificá-las é de grande utilidade na hora de fazer o prognóstico das possíveis mudanças de tempo e interpretar correctamente os boletins meteorológicos. As nuvens identificam-se pela sua forma e pela altura a que normalmente se formam. 


O aspecto exterior de uma nuvem, de uma forma geral,  pode ser identificado da seguinte forma:

. Uma nuvem de gelo apresentará um aspecto liso e fibroso.

. Uma nuvem de água terá perfis mais arredondados e em forma de algodão.

No entanto, as nuvens de água nem sempre apresentam este aspecto, devido a vários factores.


As nuvens cobrem sempre, aproximadamente, metade da superfície terrestre. A sua luminosidade é determinada pela quantidade de luz reflectida, difundida e transmitida pelas partículas que as constituem. Assim:

. Uma nuvem iluminada directamente pelo Sol, é branca brilhante.

. A nuvem é cinzenta e azulada se recebe a luz azul do céu.

. Ao entardecer, a luz de poente proporciona faixas amarelas, laranja ou vermelhas, às nuvens.

. Quando existe Lua, as nuvens iluminadas directamente por esta, são brancas, e as que não o são, tornam-se cinzentas ou negras, quase invisíveis.

. Uma nuvem espessa deixa passar menos luz e a sua base apresenta-se cinzenta.


A observação das nuvens começa pela identificação do género de nuvens sobre a maior percentagem de céu visível, à disposição. Esta primeira tarefa que requer um grande treino, completa-se com o cálculo da quantidade de nuvens. Para tal, agrupam-se mentalmente, de um lado a zona ocupada por nuvens e do outro a zona limpa de nuvens. Se imaginarmos o céu dividido em 8 partes, observaremos quantas partes estão ocupadas por nuvens. 


Deste modo, se o céu estiver limpo podemos dizer que existem “0” partes. Pelo contrário, se estiver totalmente coberto podemos dizer que existem “8” partes. Se soubermos previamente qual o género de nuvens e alguns dos fenómenos que lhes estão associados, conseguiremos realizar certas previsões a curto prazo.

Além de determinar o género e a quantidade de nuvens, por vezes, também é importante observar a direcção de deslocamento das nuvens, pois é um indicador da direcção do vento. Por vezes, quando nos situamos num vale, observa-se uma rápida deslocação das nuvens e no entanto não notamos grande vento na superfície onde nos encontramos. Este detalhe indica-nos a forte velocidade dos ventos nos cumes, o que nos alertará sobre a inconveniência de realizar determinadas actividades a essas altitudes. Outras vezes podemos observar nuvens a diferentes altitudes que se movem em diferentes direcções, o que nos indica uma certa tendência para o pioramento da meteorologia.

As nuvens classificam-se internacionalmente em 10 tipos, englobados em três grandes grupos, segundo a altitude a que se encontram (altas, médias e baixas). Esta classificação tradicional deve-se ao farmacêutico inglês Luke Howard, a qual foi realizada no início do século XIX.

De seguida vamos tentar fazer uma breve abordagem aos diferentes tipos de nuvens, segundo a sua forma ou aspecto e altitude:


Nuvens altas (mais de 5 km de altura) São um grupo constituído por 3 tipos de nuvens que começam  os seus nomes por “cirro” e são geralmente formadas por cristais de gelo. São nuvens pouco opacas, pelo que são pouco visíveis com a luz diurna e mais visíveis com a luz de começo e do final do dia. Básicamente, são originadas por um deslizamento ascendente de uma massa de ar sobre outra, situando-se o ar frio e turbulento nas camadas altas onde se produzem ventos fortes:

Cirros (Ci): Nuvens isoladas brancas e filamentosas em forma de plumas, franjas, novelos, fileiras ou cabeleiras, bancos ou faixas estreitas brancas ou quase brancas, com um aspecto fibroso ou sedoso e sem densidade. Não produzem sombras. Costumam ser presságio da passagem de uma perturbação do tipo frente quente na zona do observador, ou mais a Sul (transformação de tempestade no sentido contrário às agulhas do relógio) por influência de outros factores. Estas nuvens, por si só não são de chuva. Se estiverem isoladas e se desfizerem devagar, são inofensivas. Se se deslocam na cabeça de um sistema nubloso e se tornarem espessas, são sinais de mau tempo e se têm tendência a converter-se em cirroestratos ou altoestratos, o mau tempo estará eminente.




Cirrocúmulos (Cc) São nuvens de escassa densidade, têm aspecto de flocos de algodão ou finos sulcos de areia na praia, brancas, sem sombras próprias, constituídas por elementos muito pequenos em forma de grãos, ligados ou não e dispostos mais ou menos regularmente. A maioria dos elementos têm largura aparente inferior a um grau. O tamanho aparente pode-se medir por comparação com a largura do nosso dedo mindinho. Assim, quando colocamos o braço estendido e o dedo abrange cada uma das bolas de nuvem isso significará que p tamanho desses elementos será de um grau. Geralmente, este tipo de nuvens anunciam que a perturbação está a passar pelo Norte.





Cirroestratos (Cs): Nuvens de gelo em forma de finos véus nebulosos resplandecentes e esbranquiçados, de aspecto fibroso ou liso, que cobrem grande parte do céu e dão origem a auréolas solares ou lunares. Estratificadas e altas, frequentemente esta formação avisa uma calorosa frente de uma tempestade e situa-se na cabeça de uma perturbação, ainda que não seja eminente.




Nuvens médias (de 2,5 a 7 km de altura, são de dois tipos), apresentam uma de estrutura líquida. No entanto alcançam facilmente o limite com as nuvens altas, pelo que também podem conter cristais de gelo que as identificam claramente. Ao contrário das nuvens altas, estas são opacas ou muito translúcidas:

Tipos de nuvens médias:


Altostratos (As): Aparecem como densos e extensos véus fibrosos ou estriados, de cor cinza ou azulada, cobrindo total ou parcialmente o céu dando-lhe um aspecto sombrio. Através destas o sol ou a lua vêem-se vagamente, como através de vidro fosco. Os altostratos não produzem fenómenos de halo. Anunciam mau tempo. Se ficarem muito cinzentas, deixarão cair algumas gotas de água ou flocos de neve. É frequente precederem a uma perturbação, pois nascem do deslizamento lento e ascendente de uma massa de ar húmido sobre a outra.




Altocúmulos (Ac): Possuem uma estrutura similar à dos Cc, mas com as bolas maiores. para calcular o seu tamanho aparente, teremos que estender o braço sendo então necessário utilizar o equivalente a três dedos mindinhos (em termos médios) para as poder cobrir. São nuvens que parecem formadas por flocos brancos ou grisalhos com partes sombreadas e dispostas em grupos que seguem uma ou duas direcções, constituídas por lâminas, massas globulares, rolos, etc, às vezes parcialmente fibrosos ou difusos, ligados ou não. Quando passam pela frente do sol ou da lua, originam coroas circulares coloradas de azul, amarelo e vermelho. Após alguns dias de bom tempo anunciam chuva próxima. Se aparecem com tempo chuvoso indicam melhorias.





Nuvens Baixas (altura inferior a 2,5 km, são de três tipos):


Cúmulos (Cu): Estas são nitidamente as nuvens mais fáceis de identificar à primeira vista. São nuvens isoladas, brancas e densas de textura de algodão e de contornos nítidos. A sua base é quase plana e o cimo em forma de cúpula apresentando protuberâncias arredondadas como espuma espessa. Quando o seu desenvolvimento é considerável, desenvolve-se verticalmente em forma de montículos, cúpulas, torres, etc, cuja região superior toma muitas vezes o aspecto característico da couve-flôr. As posições iluminadas pelo Sol são quase sempre de um branco brilhante, enquanto a base é realmente sombria e sensivelmente horizontal. Por vezes estas nuvens são esfarrapadas e acompanhadas de chuveiros. Geralmente aparecem isoladas e são sinal de bom tempo.






Estratos (St): São nuvens pouco espessas, como o seu nome indica. São de uma camada nebulosa uniforme de côr cinza plúmbeo de base bastante uniforme, é das 10 nuvens classificadas a que evolui mais baixo, ao ponto de se confundir com nevoeiro, mas sem tocar o solo. Estas nuvens têm o seu desenvolvimento mais horizontalmente do que vertical. Quando se vê o Sol através da camada, o contorno é nítido. Por vezes os estratos apresentam-se sob a forma de bancos esfarrapados. A precipitação, quando existe, é sob a forma de chuvisco. São nuvens típicas de tempo chuvoso.





Estratocúmulos (Sc): São constituídos por grandes massas de nuvens bastante espessas, pelo que a sua coloração é escura, cinzenta e/ou esbranquiçada, quase sempre com porções escuras constituídas por massas em mosaico, glóbulos, rolos, etc, de aspecto não fibroso ligados ou não. Apresentam-se normalmente como um imenso lençol ou colchão de algodão (no entanto com algumas abertas). Apesar do seu aspecto ameaçador e da sua extensão quase nunca originam precipitação, mas podem evoluir para nimbostratos. São nuvens geralmente ligadas a perturbações passadas ou próximas e são típicas de uma entrada de ar húmido oceânico sobre uma zona continental.






Nuvens de grande desenvolvimento (Com base entre os 800 e os 1500 m de altura) São 2 tipos de nuvens.

Chegamos finalmente aos dois colossos que sempre precipitarão na forma que lhes convier (água, neve, etc). Ainda que a sua base coincida com a base das nuvens baixas, estas alcançam niveis superiores. O objectivo de uma boa interpretação das nuvens em geral, será evitar encontrarmo-nos na montanha debaixo de algum deste tipo de nuvens.


Assim, existem dois tipos de nuvens nesta categoria e são elas:

Nimbostratos (Ns): São as nuvens características da chuva que cobrem ordinariamente todo o céu dando-lhe um aspecto triste e sombrio. Formam uma capa amorfa de cor cinzenta escura de bordos quebrados, dos quais ao longe se vê por vezes cair a chuva como uma cortina. O aspecto torna-se difuso pela queda mais ou menos contínua de chuva ou neve, que na maioria dos casos alcança o solo. É suficientemente espessa em todos os pontos para ocultar o Sol (centenas de quilómetros). Por baixo da camada existem frequentemente nuvens baixas esfarrapadas, ligadas ou não a ela. O seu aspecto geral, mantem-se vaporoso o que é motivado pelas continuas precipitações. É a típica nuvem de chuva de frente quente, que devido às suas características origina uma precipitação de gotas muito finas, lenta mas contínua no tempo e no espaço.




Cumulonimbos (Cb): De todos os fenómenos meteorológicos que têm lugar na montanha, estas nuvens, sem dúvida, são a maior manifestação de poder que nos pode chegar do céu. São massas de nuvens de grandes dimensões com cumuliformes firmes que se elevam em forma de montanhas ou de torres e cuja parte superior é de estrutura fibrosa e assemelhando-se a uma bigorna. Ainda que a base da nuvem seja baixa, o seu cume pode alcançar 10 km ou mais. Quando a nuvem alcança o seu apogeu produz-se a precipitação em forma de chuva de água, neve ou granizo, podendo originar tempestades de grandes proporções e com aparato eléctrico. Estão compostas de água em todas as suas manifestações líquidas, sólidas ou gasosas e as suas precipitações são de carácter violento, próprias de uma tempestade.





De uma forma genérica, pode-se  dizer que as nuvens baixas que sobressaem nas montanhas são indicadoras de bom tempo e de uma situação anticiclónica com garantias de persistência. As nuvens altas em movimento podem anunciar a chegada de uma perturbação. As nuvens alongadas em forma de peixe e cor acinzentada cobrindo as montanhas, anunciam prováveis tempestades durante o dia. A acumulação de nuvens baixas com forte desenvolvimento vertical, originam a formação de uma tempestade.


Independentemente das nuvens classificadas, convém recordar que cada região montanhosa tem peculiaridades que influenciam a formação das chamadas nuvens orográficas. Estas nuvens são produzidas pela detenção ou elevação das massas de ar, que ao verem-se obrigadas a flanquear as montanhas, permanecem ligadas aos acidentes que as originam.



As nuvens distinguem-se em três tipos gerais:


. Nuvens formadas a barlavento que cobrem os cumes e se desfazem ao descer por sotavento. Produzem-se com pouco vento e muita húmidade.

. Nuvens formadas após a passagem pelos cumes. Fazem-no com vento forte , têm forma lenticular e podem coexistir com as anteriores.


. Nuvens de altitude sobre o obstáculo. Geralmente são altocúmulos ou cirrocúmulos, formados pela existência de uma camada de ar bastante húmida acima da montanha e pouca húmidade na massa que franqueia o obstáculo. São reabsorvidas ao perder altura e ao misturarem-se com ar mais baixo e limpo.



Existe no entanto, um tipo de nuvem, que pelas suas características, merece um destaque especial e mais aprofundado, pelo que vamos então falar mais um pouco sobre:

Cumulonimbo


Denominado Cb na nomenclatura utilizada nos mapas, é a nuvem “braço de ferro” da tempestade. Na realidade, a tempestade pode ser considerada como sendo a última fase do desenvolvimento do Cb, ou por outras palavras, o momento em que este “explode”. O seu nome provém dos termos latinos cúmulo (significa - montão, que tem a ver com o seu aspecto felpudo e volumoso) e nimbo (nuvem de chuva, que se refere à sua grande dimensão). Caracteriza-se por ser uma nuvem muito densa, com uma base ampla, plana e escura, que é acompanhada por um enorme desenvolvimento vertical cumuliforme que lhe concede um aspecto grandioso, parecendo-se com uma enorme montanha nevada. 


Enquanto que o cúmulo em qualquer das suas fases de desenvolvimento, não supera os 5.000 m, o Cb chega a alcançar os 12.000 m, com uma espessura média em altura de 7 km. Como marca de identidade inequívoca, o seu cume aparece coroado de cristais de gelo que lhe proporcionam um aspecto liso e fibroso, parecido com o aspecto dos Cs e claramente diferente do que apresenta as bordas tipo couve-flor, que se forma a menor altitude. Esta última formação do Cb pode terminar com a forma de uma enorme bigorna ou um grande triângulo invertido (a sua ascensão é interrompida quando choca com uma massa de ar mais quente). A sua natureza pode ser convectiva e orográfica em simultâneo.

Os Cb assemelham-se a enormes máquinas termodinâmicas e muitos foram os homens de ciência, que no decorrer da história efectuaram estudos profundos com o objectivo de desvendar o mecanismo físico que dá vida a estes gigantes, animados por uma energia equivalente à que pode ser gerada por uma central nuclear, durante dois dias.

Como se forma o Cumulonimbo


 Inicialmente, é necessário existir um elevado nível de instabilidade atmosférica, que proporcione o aparecimento de ascendências ou movimentos verticais da massa de ar. Duas formas de instabilizar o ar, podem ser, ou o aquecimento do solo, motivado pela acção solar, ou a interrupção em altitude de uma massa de ar frio que vai esfriar lentamente o ar de cima para baixo. Como o ar não aquece directamente ao ser atravessado pela radiação solar, quanto maior for o contraste de temperatura entre a superfície (mais quente) e a altitude (mais frio), maior será a instabilidade, pelo que mais rapidamente ascenderá a massa de ar. A orografia da montanha, quando força a ascensão das massas de ar instável, é determinante para que o fenómeno seja acelerado. No entanto, ainda falta o factor definitivo: a humidade. Quanto maior for esta, ou seja, quanto maior for a quantidade de vapor de água presente na massa de ar, mais rapidamente se origina a sua saturação desta, e a sua condensação transforma-se numa nuvem de natureza orográfica e convectiva do género de um cúmulo.
Vista aérea da evolução de um cúmulo para um cumulonimbo

Em qualquer caso, e devido à sua magnitude, a tempestade, seja do tipo que for, apresenta-se com formações nublosas o suficientemente massivas e típicas para podermos falar de um “sistema nubloso”.


As montanha favorecem o desenvolvimento do Cumulonimbo

O que sucede não apenas devido à sua geomorfologia, mas também:


. Devido à humidade: o ar normalmente mais seco das montanhas é capaz de absorver uma grande quantidade de humidade e mais rapidamente do que em planícies baixas, o que ocorre por razões óbvias. Apenas necessita para o fazer, de calor suficiente.

. Devido à insolação: desde as primeiras horas do dia os raios de Sol incidem perpendicularmente sobre as vertentes orientadas a Este, ou seja, o ar que se encontra em contacto com estas vertentes vai aquecendo desde a manhã, o que não aconteceria numa planície.

Os fundamentos físicos que originam a formação de um simples e inofensivo cúmulo às 10 horas da manhã sobre uma crista de orientação Este, e os que geram um perfeito cumulonimbo que escurece todo o vale, ao meio-dia ou antes, são os mesmos. O que diferencia as duas situações é a magnitude dos factores intervenientes e logicamente, as suas consequências. Em função do grau de instabilidade e humidade, o cúmulo das 10 horas da manhã e com uma espessura de 150 m pode:

. Engordar um pouco mais e inclusive conectar-se com as suas irmãs que se vão formando sobre as ladeiras próximas mais meridionais, à medida que o Sol se eleva e gira, e desta forma alimentando todo o conjunto através de uma actividade convectiva contínua mas ao mesmo tempo moderada, para depois se dissipar de forma pausada ao entardecer, quando o Sol se esconder e a convecção ficar neutralizada.

. Degenerar numa enorme couve-flor que ultrapassa os 3 km de espessura e libertar um aguaceiro contínuo que poderá durar até ao anoitecer.


. Converter-se num autêntico monstro com a sua característica bigorna a 12.000 m do solo, levando à sua frente tudo que se lhe depare, e facilmente continuará a investir a sua fúria pela noite dentro.



Vida própria do cumulonimbo

De facto, animado por uma energia equivalente à que pode gerar uma central nuclear, em plena carga, durante dois dias, a tempestade desencadeada pelo Cb pode prolongar-se perfeitamente para lá das horas diurnas. Como qualquer aparelho com pilhas, se estas estiverem bem carregadas, não necessitará de uma tomada que a una durante o dia à rede convectiva para continuar a funcionar durante a noite.

No processo da mudança do estado gasoso para líquido, que origina o vapor de água na condensação da nuvem, solta-se calor que liberta imensa energia, a qual contribui ainda mais para a instabilidade da massa de ar, catapultando-a novamente para cima, As micro gotas de água que se vão formando, unem-se umas às outras aumentando o seu diâmetro no meio de intensas correntes que sobem e baixam dentro e fora da nuvem. 

Quando as ascensões internas não conseguem suportar o peso das gotas de água, origina-se a precipitação. No entanto, enquanto aquelas caem, principalmente quando a massa de ar na superfície é seca e quente, estas gotas podem-se evaporar antes de chegar ao solo (por vezes observa-se uma cortina de água debaixo de um Cb que se interrompe bruscamente a uma determinada altura). Este fenómeno conhecido como “virga” origina novamente a ascensão deste vapor de água, o qual intensificará novamente os niveis de instabilidade, condensação, calor, etc. O aspecto exterior de todo este processo será o de um desenvolvimento vertical galopante, juntamente com uma base de nuvem cada vez maior, lisa e escura.

À medida que a massa de ar em constante saturação vai ganhando altura, as temperaturas negativas com as quais entra em contacto, originam que a água condensada passe ao estado semi-sólido ou sólido (gelo). Neste momento o cumulonimbo está a alcançar a sua maturidade, em que produzirá as precipitações de carácter mais violento em forma de granizo, mais ou menos suave. No entanto, uns minutos antes e durante estas precipitações, as fortes ascensões correspondem-se com não menos violentas, correntes descendentes que movem toneladas de ar frio contra a superfície terrestre. Após bater no solo, este ar espalha-se em todas as direcções, de forma intensa e tempestuosa. Este fenómeno trás como consequência, a alteração e/ou anulação de outros ventos dominantes da zona e alheios à tempestade, incluindo o regime de brisas do vale. Para se entender melhor, quer isto dizer que o Cb “explodiu” e que a tempestade se manifesta em todo o seu esplendor.


Esperamos ter sido úteis com mais esta parte deste artigo, no próximo artigo continuaremos com o mesmo tema… até lá…


Boas caminhadas

22 maio 2013

Prever a meteorologia em Montanha (Parte 2)

Para a prática do montanhismo em todas as suas variantes, é aconselhável possuir alguns conhecimentos básicos sobre os princípios que regem o tempo e o clima.
Ainda que constantemente se utilizem estas duas palavras de forma indiscriminada, a realidade diz-nos que se tratam de conceitos muito diferentes. O tempo pode-se definir como sendo o estado da atmosfera num determinado ponto ou lugar e numa época ou momento determinado, podendo-se descrever relativamente a uma determinada área concreta da superfície da Terra. Pelo contrário, o clima define-se como  sendo a condição característica da atmosfera deduzida de largos períodos de observação. Isto quer dizer que o conhecimento do clima é derivado do conhecimento do tempo, sendo o primeiro uma generalização e o segundo um acontecimento particular e concreto. Do mesmo modo que se estabelece esta distinção entre tempo e clima, podemos estabelecer uma distinção entre Meteorologia (ciência que estuda o tempo) e Climatologia (ciência que estuda o clima).
O motivo da necessidade para o excursionista ter conhecimentos sobre o clima e o tempo de um determinado lugar, reside na possibilidade de poder estabelecer as “estratégias” gerais e as “tácticas” concretas de forma a poder desfrutar e realizar incursões sem estar sujeito a grandes perigos. Por exemplo, se formos realizar uma incursão pela montanha, devemos ter em primeiro lugar, um bom conhecimento do clima de montanha para nos equiparmos de forma adequada (como é sabido, a altitude quando alcança cotas relativamente importantes provoca uma série de modificações nos elementos climáticos, entre as quais se destaca a descida da temperatura – excepto quando se produz inversão térmica, a diminuição da pressão atmosférica devido à perda de densidade consequência do afastamento da superfície terrestre, aumento da força dos ventos devido à diminuição da fricção com a superfície da terra, aumento da turbulência, etc). 


No entanto também será importante conhecer as previsões do tempo para poder planificar as nossas actividades de um modo mais imediato (portanto, jamais nos ocorreria sair numa incursão a uma zona de montanha, antevendo uma previsão de forte tempestade).
A maioria dos montanheiros está habituado a recolher informação televisiva, ou via internet, das previsões meteorológicas, as quais se efectuam a partir da interpretação de mapas do tempo e de imagens proporcionadas por alguns satélites (como é o caso do Meteosat).


Esta informação meteorológica que nos proporcionam nos meios de comunicação, geralmente são de carácter geral. Por esse motivo, se quisermos informação concreta e determinada sobre um lugar específico, devemos completar essa informação com outro tipo de informação e adaptá-la dependendo das características topográficas do terreno.
De qualquer forma, apesar dessa necessidade de conhecer outros tipos de dados e do facto de a maioria das interpretações dos mapas de tempo nos serem fornecidas, é indispensável conhecer algumas directrizes básicas para efectuar as nossas próprias leituras dos mapas do tempo.
Grosseiramente poderíamos distinguir entre dois tipos de mapas: os mapas de análises (como o seu nome indica, analisa uma situação concreta, geralmente já passada, motivo pelo qual são bastante exactos) e os mapas de previsões (que não são tão exactos e em que a previsão pode ser de 24 horas a 12 dias). Destes mapas do tempo, os que têm maior difusão são os mapas de superfície nos quais são representados, por meio de isóbaras, os valores da pressão atmosférica reduzidos ao nível do mar. Nestes mapas costuma-se desenhar as isóbaras múltiplos de 4 milibares com linhas contínuas muito finas e setas que indicam o seu sentido giratório. As configurações isobáricas indicam-se com “A” (anticiclone: áreas de altas pressões) e “B” (tempestades: áreas de baixas pressões), conforme seja o tipo que formem.


Também se desenham as frentes frias (linhas mais grossas com triângulos de cor azul) as frentes quentes (linhas com semi-circulos de cor vermelha) e as frentes ocluidas (linhas com semicírculos e triângulos alternados).


A informação que se pode extrair destes mapas é variada, dada a importância que tem a pressão atmosférica: de valor (superior a 1013 mb – áreas de alta pressão e inferior a 1013 mb – áreas de baixa pressão) e da disposição das isóbaras (declive, curvatura e direcção), consegue-se deduzir a direcção e a força do vento (o maior declive, quer dizer quanto mais juntas estejam as isóbaras, maior será a força do vento), as áreas de instabilidade atmosférica e de precipitação (isóbaras rectilíneas indicam tendência para a instabilidade), e as de estabilidade (dorsal e anticiclone), e úteis considerações sobre a humidade e a temperatura de cada sector (se as isóbaras marcarem uma procedência marinha de latitudes altas, a temperatura será inferior à normal e a humidade relativa será alta; se marcarem procedência marinha de latitudes similares, a temperatura será normal e a humidade relativa será alta; se marcarem procedência marítima de latitudes mais baixas, a temperatura será superior à normal e a humidade absoluta será alta; se marcarem procedência continental de latitudes mais altas, a temperatura será inferior à normal e a humidade absoluta será baixa; se marcarem procedência continental de latitudes similares, a temperatura será normal e a humidade relativa será baixa; se marcarem procedência continental de latitudes mais baixas, a temperatura será superior à normal e a humidade relativa será baixa).
Além destes mapas de superfície, existem os chamados mapas de altitude ou topografias da superfície de uma dada pressão, normalmente 850, 700, 500 e 350 milibares, os quais dispõem de uma menor difusão, ainda que a sua utilização seja vital para uma boa compreensão dos fenómenos que ocorrem na atmosfera. Estes mapas indicam através de isoípsas as altitudes a que se encontra determinada pressão. Nestes mapas também podemos encontrar, além da isoípsas, umas linhas descontínuas denominadas isotérmicas que unem pontos com a mesma temperatura  e a determinada altitude e cujo traçado é importante porque assinalam bolsas de ar frio em altura, que podem ter grandes repercussões pluviométricas. A topografia que normalmente se utiliza com maior frequência é a de 500 milibares (mb). A altitude normal neste tipo de mapas é 5500 m aproximadamente; os valores superiores a 5500 m indicarão áreas de pressão alta e os valores inferiores, áreas de baixa pressão em altura.

Na carta acima estão representadas a carta de pressão à superfície (linhas brancas), isoípsas dos 500 hpa (1hpa = 30 pés = 9 metros) (linhas de cor) e a nebulosidade.


Tempo com situação de instabilidade e evolução diurna

Esta situação é muito comum em montanha e perigosa pelo facto de ser difícil de prever e avaliar a sua gravidade. Ocorre geralmente no Verão e durante a tarde, originando fortes tempestades com acumulação eléctrica, fortes chuvas e granizo. Normalmente a madrugada apresenta-se com ausência de vento ou no mínimo vento aquecido proveniente dos vales, o céu costuma ter algumas nuvens ou estar  parcialmente coberto, durante o decorrer da manhã as nuvens vão evoluindo lentamente de forma que passado o meio dia os cumes começam a ficar cobertos de neblinas e durante a tarde continuam a formar-se nuvens de desenvolvimento vertical (cumulonimbos) que, finalmente, culminarão em tempestade. Por regra, o montanheiro deverá evitar efectuar ascensões que possam ultrapassar os dois dias, ou pelo menos prever esta situação, supondo que o boletim meteorológico tenha advertido desta situação.



Interpretação dos sinais de forma a prever a meteorológica

A previsão meteorológica, apesar do uso da moderna tecnologia, não oferece segurança absoluta. A sua antecipação com uma alta percentagem de êxito não vai além de um ou dois dias, e para previsões com maiores prazos, a margem de erro aumenta consideravelmente.


Para actividades curtas de fim de semana, são úteis as informações meteorológicas locais, mas para actividades mais prolongadas temos de nos guiar pelos nossos próprios conhecimentos, auxiliados por instrumentos como o barómetro,


 os indícios obtidos pela observação da evolução do tempo, sinais da natureza e até pelo comportamento dos seres vivos.



Indicações barométricas


O barómetro é o instrumento utilizado para medir a pressão atmosférica, quer dizer, o peso da atmosfera sobre um ponto concreto. A palavra barómetro deriva de duas palavras gregas, “baros” (peso) e “metron” (medida).

Para a observação e previsão meteorológica é necessário considerar dois parâmetros:
-          Subida ou descida da pressão.
-          Velocidade com que se produzem estas variações.



O altímetro por sua vez, é na essência um barómetro ao qual se aplica uma escala de altitudes, tendo em atenção que a pressão atmosférica diminui lógicamente com a altitude. Deste modo, o altímetro marcará de forma inversa à do barómetro: seja que uma subida de pressão se reflete numa descida de altitude e por sua vez uma descida de pressão numa subida de altitude.
O altímetro é definitivamente um instrumento muito útil para qualquer actividade de montanha e hoje em dia já existem altímetros-barómetros digitais que são bastante acessíveis e de grande precisão.






De uma forma geral, a aproximação de uma frente nublosa coincide com uma descida da pressão atmosférica e uma subida desta com o final da perturbação. Uma descida do barómetro (ou subida do altímetro) com bom tempo anuncia pioramento e uma subida (ou descida do altímetro) com mau tempo, é sinal de melhoria.





Nem sempre podemos confiar no barómetro

Ou no altímetro… não podemos esquecer que a pressão atmosférica é apenas um parâmetro da atmosfera, apenas um. Não podemos pretender saber o tempo apenas por consultar este dado. No entanto poderão orientar-nos em face das prováveis tendências meteorológicas para o futuro imediato e não mais do que três dias. A típica lenda que reza nos barómetros decorativos: em que pressão alta é associada a bom tempo e pressão normal associada a tempo variável, e ainda que pressão baixa é associada a chuva, apenas nos será útil em algumas ocasiões. Esta associação directa entre pressão e mau ou bom tempo foi atribuída, à alguns anos atrás em latitudes superiores, pelos britânicos no princípio do séc. XX. Nas Ilhas Britânicas, o tempo depende quase exclusivamente das tempestades atlânticas e das frentes de oeste. Neste caso, apenas consultando as variações de pressão, pode-se saber se se aproxima uma tempestade ou um anticiclone, chuvas ou sol respectivamente.
No entanto em latitudes inferiores, como nas montanhas, é necessário contemplar a leitura destes instrumentos com mais dados. O sistema meteorológico atmosfera-continente-oceanos é muito mais complexo com uma massa de ar particular e caprichosa, em que pode chover por acção do vento.

- A descida súbita da pressão (em poucas horas,), mesmo que seja débil, indica a aproximação de uma perturbação de curta duração (tormenta). Se a descida é considerável é presságio de uma tempestade. Se for mais de 5 mb de descida em 24 horas, indica a aproximação de uma perturbação de caracter tempestuoso.


- A descida lenta, regular e pronunciada do barómetro (ao longo de um dia ou mais) indica um período grande de mau tempo, sendo mais acentuada a perturbação quanto maior for a descida (temporal).



- Uma elevação brusca com baixas temperaturas, é sinal de bom tempo. Se a subida for considerável e prolongada pode-se contar com vários dias de bom tempo.


- Uma elevação brusca da pressão, com bom tempo e com uma pressão prévia inferior à media barométrica do lugar, é indício  de que se aproxima vento com possibilidades de que a pressão acabe por descer.

- Nos dias calmos de verão, o barómetro baixa um ou dois milibares ao meio-dia e sobe ao entardecer. Na montanha, ao contrário, com tempo estável, o barómetro sobe um par de milibares ao meio-dia e se registar o contrário é sinal de perturbações em perspectiva.





- Uma descida lenta, em dois ou três dias, assinala uma mudança de tempo notável. Mais chuvoso e duradoiro.


- Com uma subida lenta, chegará um anticiclone firme com algumas nuvens baixas ou neblina e um longo período de bonança.


Outro sinal muito significativo a considerar juntamente com a observação do barómetro,  é a mudança de direcção do vento. Quando a direcção do vento muda no sentido dos ponteiros do relógio e o barómetro sobe, é sinal de bom tempo. Quando muda em sentido contrário e desce o barómetro, é sinal de mau tempo.



Observação dos indícios naturais


Na falta de boletins fiáveis, a atenta observação dos indícios naturais juntamente com o barómetro, podem ajudar-nos em percursos prolongados na montanha para fazermos o nosso próprio prognóstico local a curto prazo, servindo também para comparar com os dados disponíveis e tirarmos as nossas próprias conclusões. Estes indícios são variáveis dependendo da zona e do microclima, mas de qualquer forma ajudam-nos a enriquecer o nosso próprio conhecimento e experiência sobre o clima.


Todos os indícios que nos oferece uma observação atenta são de grande ajuda VISTOS NO SEU CONJUNTO, pois isoladamente podem-nos levar a falsas apreciações.
Não esquecer que os habitantes da região onde nos encontramos podem oferecer uma grande ajuda, pois ninguém melhor que eles conhece as peculiaridades do clima local.




São sinais de bom tempo estável:

- Céu ligeiramente rosáceo ao amanhecer, o disco solar límpido e brilhante e neblinas matinais no fundo dos vales.



- Durante o dia, com o céu vivo e tempo quente e seco, a visibilidade pode ser embaciada por causa de uma bruma ligeira no ambiente.



- A brisa do vale começa a soprar por volta das nove ou dez da manhã e adquire a sua maior força ao meio-dia. Sobre os declives das montanhas, a alturas similares, é frequente a formação de cúmulos que se elevam depois do meio-dia cobrindo os cumes e desaparecendo ao entardecer. Amiúde formam-se e dissolvem-se também alguns  cirros. As nuvens altas procedem de N, NE e SE.



- No ocaso do dia, o céu está claro e apresenta um colorido amarelo avermelhado com o horizonte claro. Depois de um intervalo de calma, a brisa de montanha substitui a do vale.



- A noite refresca notavelmente originando orvalho ou geada, conforme a estação. A noite de lua brilhante ou muito estrelada pode prognosticar geada. Distinguem-se relativamente poucas estrelas no céu mas com um forte cintilar, e não aparece nenhuma auréola em redor da lua. Nestes casos não se esperam variações.


- De uma forma geral os ventos frios e secos de N, E e NE, assim como os que sopram na mesma direcção que o sol no seu percurso diurno, levam consigo o bom tempo, mantendo-o.


- A formação e persistência das neblinas indicam predomínio das altas pressões e é sinal de estabilidade atmosférica.




Sinais anunciadores de alteração de tempo:

- Se com bom tempo cruzam o céu nuvens a distintas alturas, aproxima-se uma frente, o que pressagia mau tempo.


- O vento quente e húmido, geralmente de S, é acompanhado de chuvas, neve ou tempestades ( aumentando o perigo de avalanches).


- O vento frio e húmido de W e NW pode produzir muito nevoeiro, originando chuvas no verão e neve no inverno.


- Outro indício significativo é a mudança de direcção do vento dominante em altura, pois indica o curso que se deslocam as massas de ar, principalmente se muda de N ou NE para S ou SW, indica a aproximação de temporal.


- Os traços dos aviões ajudam-nos a prever o nível de humidade na atmosfera nas camadas altas. Se os aviões não deixam marca, o bom tempo durará todo o dia e pode continuar igual. O rasto branco e quanto mais aberto pior, pode indicar pior tempo nas próximas horas.




- Um pôr do sol num céu amarelo pálido, anuncia chuva.



- A visibilidade raramente é boa com bom tempo, por causa do estancamento da poeira atmosférica nas camadas de ar próximas do solo (bruma seca) ou do desvio irregular dos raios luminosos pelas camadas desigualmente aquecidas (bruma de calor).
Ao contrário, a visibilidade anormalmente boa deve ser interpretada como mau indício. Salvo imediatamente após a chuva, quando a atmosfera se encontra limpa, fresca e homogénica, uma visibilidade excessiva denota a presença de húmidade elevada, que impregna o pó e o faz cair devido ao peso; ou então é sinal de que se produzem correntes convectivas que elevam a poeira a grande altitude. Em qualquer destes casos existirá a ameaça de mudança de tempo ou de tempestade.



- Um sol pálido ao amanhecer, o céu branco leitoso, a aureola e seus fenómenos secundários em volta do sol e da lua anunciam a presença de um véu de cirroestratos na vanguarda de uma perturbação, anunciam chuvas com antecipação de 24 a 48 horas, salvo se a perturbação seja local ou muito violenta.

- São bom sinal os ventos calmos e a circulação normal de brisas dos vales e montanha, não afectadas por erupções de vento meteorológico.





- Os ventos de componente Norte a Nordeste são frios e secos, assegurando a predominância de altas pressões, pelo contrário os de Sul e Sudoeste são quentes e húmidos. É importante detectar a mudança de direcção dos ventos e o sentido em que se produzem (a evolução das massas de ar supõem uma possível aproximação de tempestade).



- Os ventos de Noroeste, frios e húmidos, antecedem os distúrbios atmosféricos.

- As colunas de fumo que se elevam verticais e sem causar desvios, indicam estabilidade atmosférica. Pelo contrário aquelas que traçam esteiras de turbulência e descendentes, indicam instabilidade atmosférica.

- A superfície mate dos lagos e tanques também são prenúncio de mau tempo.

- A maior parte das aves insectívoras voam baixo e lançam guinchos.



- As gralhas fazem igual em bandos e principalmente pela manhã.



- As gaivotas voam alto e em direcção a terra.



- Os peixes saltam para apanhar moscas e mosquitos junto à água.



- As moscas e mosquitos tornam-se mais agressivos e persistentes.




- O gado mostra-se inquieto e procura abrigo.



- Durante a tarde as lesmas, os vermes, sapos e cobras, aparecem e cruzam os caminhos.



- O trevo ergue-se e levanta as suas folhas quando existe ameaça de tempestade.



- Os doentes reumáticos, assim como quem sofreu fracturas ou intervenções cirúrgicas, vêem-se afectados pelas dores de “mudança de tempo”.


- Nos bosques de coníferas, se as pinhas espalhadas pelo chão estiverem bem abertas, espera-se tempo seco, se estiverem fechadas, espera-se tempo húmido. Numerosas plantas mudam o seu aspecto com a humidade.


- O perfume das rosas é mais acentuado com baixas pressões do que em situações anticiclónicas.


- A maioria dos incêndios florestais ocorrem entre as 12:00h e as 17:00h (quando a insolação é maior). Factores que aumentam o risco são as geadas no final da Primavera e uma atmosfera seca.


- As teias de aranha. Diz-se que a forma destas mantém relação com o tempo. Quando a aranha tece uma teia pouco densa e distendida, se manterá o bom tempo. No entanto se a teia estiver bem tensionada e possuir um enredo maior, pode ser sinal de vento ou chuva.


- Costuma-se dizer que quando as formigas começam a elevar a entrada a entrada dos seus formigueiros mais do que o habitual, é aviso de que se aproximam as chuvas.


- Fala-se de bom tempo quando os grilos e as cigarras cantam, no entanto estes insectos são capazes de cantar antes de uma tempestade estourar, pelo que poderão não ter muito interesse para uma correcta previsão meteorológica quando analisados isoladamente.


- A rã é a estrela da meteorologia popular. Anuncia a chuva se coaxar mais forte do que o costume.



- As aves migratórias anunciam a chegada das estações climáticas com maior exactidão do que o calendário. Está próxima a Primavera ou ainda voltarão as condições invernais? Devem-se observar se as espécies migratórias da zona já chegaram, como os gansos, os pombos, os patos, as cegonhas, etc. Mesmo assim, é preciso ter presente outras circunstâncias para evitar falsas interpretações.


- Se as andorinhas se perseguirem, altas no céu e com gritos estridentes, o bom tempo está assegurado.



- Não é normal observar as perdizes pousadas sobre ramos, principalmente se estivermos próximos (pois costuma estar escondida entre o mato). No entanto se as observarmos à distância, pousadas a certa altura, não teremos mau tempo.



- Se ouvirmos piar a coruja ao entardecer, isso é prognóstico de chuva próxima.



- Os corvos, gralhas, etc, adoram brincar com o vento das ladeiras que ascende pelos rochedos, mantendo-se horas sobre estes. Se desaparecerem e se observarem a descer para os vales, é sinal de que chegará a chuva.



- O canto do melro, anuncia que o inverno se foi.


- Costuma-se dizer que quando o galo canta a horas anormais da noite, significa que o tempo vai mudar.


- Em zonas onde é normal haver ventos fortes, os rebanhos de animais como os cavalos ou as vacas orientam-se, curiosamente, oferecendo as suas partes traseiras para o vento, que não tardará a chegar.


- Em vales, normalmente afectados pelo efeito foenh, a brusca seca do ambiente afecta o sistema nervoso dos animais que se mostram muito inquietos horas antes de que o efeito chegue.


- Os pastores tibetanos atiram sal ao fogo. Se o sal ranger, avizinha-se bom tempo (ambiente seco), se não ranger, espera-se tempo húmido.


       Para interpretar correctamente os sinais de mudança em relação à direcção dos ventos é necessário levar em conta que na montanha existem causas modificadoras da sua direcção como a acção directa dos vales, a dinâmica das cristas, a combinação dos das brisas dos vales e dos ventos altos, etc..., para os relacionar com as perturbações atmosféricas é necessário conhecer as características locais e o tipo de tempo que costuma fazer.


Como verificamos, o interesse pela previsão do tempo e pela sua evolução é de extrema importância, e devemos levar em conta que nem sempre poderemos contar com boletins meteorológicos ou imagens de satélite, pelo que será necessário o montanheiro saber observar e interpretar certas variáveis no terreno.

No próximo artigo daremos continuidade a este tema, portanto… fiquem atentos… e… até lá






Boas caminhadas