27 março 2013

VÍBORAS DO PARQUE NACIONAL DA PENEDA GERÊS



Vipera seoanei Lataste, 1879 e Vipera latasti Boscá, 1878


Conforme o prometido, vou abordar o tema das cobras venenosas existentes na área do Gerês (Norte de Portugal). Desta feita vou publicar um enxerto alongado de um trabalho de pesquisa que levei a cabo no ano de 2002. Espero que esteja do vosso agrado e venha esclarecer algumas dúvidas acerca deste fantástico animal.

A reputação das serpentes

Os répteis, com algumas excepções, como são os casos dos cágados e dos camaleões considerados como bons animais de estimação, são perseguidos pelo homem desde há milhares de anos. Esta perseguição resulta de terem tido, desde sempre, uma má reputação, sendo consideradas por um grande número de pessoas como animais repugnantes e daninhos, participando em todo o tipo de fábulas e lendas.




Esta reputação tem profundas raízes culturais, motivos psicológicos e, inclusivamente, religiosos. No caso das serpentes, associadas à serpente do Jardim do Paraíso, a Adão e Eva e ao Pecado Original, sempre foram consideradas, em particular pela cultura judaico-cristã, como representantes do Mal e, por isso, perseguidas.




As serpentes provocam sempre reacções intensas nas pessoas, quer estas habitem nas cidades e nunca as tenham visto, quer vivam em áreas rurais onde as serpentes abundam. Num estudo feito na Grã-Bretanha, de um total de 11960 crianças entrevistadas por uma televisão acerca do animal que menos gostavam, as serpentes lideravam a lista com 27%. Num outro estudo realizado por um jornal, através de inquéritos a adultos e crianças, 24% consideravam as serpentes como o animal menos simpático (Dodd, 1987).




Por estes motivos, quando as serpentes são vistas, geralmente são mortas, particularmente no hemisfério Norte, onde a religião judaico-cristã está mais arreigada. Existem vários relatos de serpentes mortas deliberadamente em toda a Europa, durante o século XIX e princípios do século XX, com a extinção de várias populações: em Espanha, em meados dos séculos XIX, foi extinta uma população insular de Víbora-cornuda, nas ilhas Columbretes (Bernis, 1968). Entre 1856 e 1859, durante a construção de um farol, chegaram-se a matar 70 víboras apenas nalguns dias. Até final das obras foram mortas 2700 víboras; em França, Vipera aspis foi extinta nos bosques  circundantes de Paris (e.g. Fontainebleau)(Lescure, 1994); na Roménia e Áustria, Vipera (ursinii) rakosiensis foi extinta por morte deliberada e por captura de indivíduos para museus e coleccionadores privados (Langton and Burton, 1997).




Parece interessante desmistificar a pretensa agressividade e perigosidade das víboras que existem no P.N.P.G., embora ressalvando as precauções médicas que se devem tomar em caso de mordedura. É também interessante apoiar medidas efectivas de protecção à Vipera latasti que se encontra já contemplada, como foi referido, pela Convenção de Berna e alargar este tipo de protecção à Vipera seoanei, facto que se justifica por ser uma espécie muito rara no nosso país e estar circunscrita praticamente à região do Parque Nacional da Peneda-Gerês.




Dentro da zoologia SERPENTES ou OPHIDAE é a terminologia dada à Ordem à qual as serpentes pertencem.

Nos países de língua espanhola “culebra”, (cobra) refere-se a serpente não venenosa e “serpiente” a serpente venenosa.

Na Europa denomina-se “víboras”, às serpentes venenosas.

Mas qualquer que seja a designação popular, estes animais, dentro da ciência, pertencem à Classe dos RÉPTEIS.

Originário do latim, reptum significa rastejar, uma alusão ao tipo de locomução característico dessa classe de animais.

Mas o que agrupa um conjunto de indivíduos dentro dessa Classe Reptília não é o facto de como se locomovem e sim por possuírem basicamente:

. Esqueleto completamente ossificado e com vértebras características (Vertebrados)
. Corpo revestido por escamas ou placas.
. Quatro, dois ou ausência de membros locomotores.
. Coração perfeitamente dividido em 4 câmaras porém os ventrículos são parcialmente unidos.
. Respiração sempre pulmonar.
. Temperatura do corpo variável com a do meio ambiente (ectotermia ou pecilotermia).
. Fecundação interna, geralmente com órgãos copuladores abrigados na cauda do macho.





Encontram-se referenciadas no Parque Nacional da Peneda Gerês, duas espécies de víboras – Vipera seoanei Lataste,1879, víbora negra e Vipera latasti Boscá, 1878, sub-espécie latasti, víbora-cornuda.



Nome ciêntifico: Vipera Seoanei. (Lataste, 1879) ou Víbora negra
(O nome de Seoanei é dedicado ao naturalista português V.L. Seoane)




Nome ciêntifico: Vipera Latasti Boscá ou Víbora cornuda



Identificação e características

Segundo Salvador (1985), os adultos de Vipera seoanei atingem um comprimento total de 60 centímetros, tendo o focinho ponteagudo e ligeiramente levantado. 




Coloração dorsal castanho claro, às vezes esverdeada. Banda dorsal escura de forma variável. Lateralmente possuem manchas escuras arredondadas. Na região posterior da cabeça observa-se uma mancha de cada lado e na anterior apresenta 2 ou 3 manchas transversais. As manchas negras da cabeça têm forma de V invertido, contribuindo para o aspecto triângular da cabeça. 




A região ventral é cinzenta escura ou negra, à excepção da zona do pescoço que é amarelada. No entanto os desenhos desta víbora são vários, podendo inclusivé ser lisa. Outra característica desta víbora é o facto de possuir o corpo muito gordo e quase não tem cauda, ou seja, o corpo remata bruscamente com pouca cauda.
Principalmente as fêmeas possuem o desenho dorsal bilinear  bastante visível.

Em relação à Vipera latasti, os adultos atingem um comprimento total de 72 centímetros, sendo a única víbora ibérica que possui o focinho francamente levantado, ou seja o extremo do focinho é muito proeminente, com 3 a 7 escamas apicais que formam um apêndice nasal típico da espécie. 



Possui uma cabeça bem definida, de contorno triangular. Possui um corpo relativamente grosso e coberto dorsalmente por escamas fortemente carenadas (com uma saliência longitudinal). A coloração do dorso varia do cinzento claro ao castanho escuro por vezes com manchas amarelas, alaranjadas ou avermelhadas, com uma banda dorsal geralmente em zigue-zague mais escuro com o bordo mais contrastante. 




Lateralmente existem manchas negras arredondadas. Na parte posterior da cabeça existem duas manchas escuras que formam uma espécie de V invertido. De cada lado da cabeça apresenta uma banda escura. Ventralmente clara, manchada de negro com o pescoço amarelado. Outra característica desta víbora é o facto de possuir uma cauda curta e muito mais fina em relação ao resto do corpo.




 Os machos distinguem-se das fêmeas por possuirem uma cauda mais larga e maior número de escamas subcaudais (entre a cloaca e a ponta da cauda). É frequente as fêmeas apresentarem cores menos contrastantes.






Distribuição e abundância

A Vipera seoanei distribui-se a noroeste da Península Ibérica, chegando até aos 1800 metros nos Ancares, existe em toda a Galiza, tendo sido já observada em França na região basca (Duguy, 1975). Em Portugal todas as referências respeitam a região a norte do Rio Douro. No parque Nacional da Peneda Gerês esta espécie é dada para Castro Laboreiro e Soajo (in Crespo, 1972); existe ainda uma observação de 1983 em Tourém.

 No que se refere à Vipera latasti latasti, ela ocupa a Península Ibérica e o Noroeste da África, sendo considerada relativamente comum em todo o território peninsular. No Parque Nacional da Peneda Gerês encontram-se referências de ocorrência desta sub-espécie na Serra do Gerês (in Crespo, 1972) existindo ainda observações mais recentes (Crespo et al, com. Pessoal), Malkmus. R., 1981) e (Caetano, H. Et al, 1979).

 A Vipera seoanei é bastante rara no P.N.P.G., visto que há cerca de 20 anos, esta espécie era relativamente frequente em Portugal. No entanto, ultimamente tem sofrido um declínio acentuado, contrariamente à latasti que observamos frequentemente na região central do Parque Nacional da Peneda Gerês – Serra do Gerês – sobretudo em locais de difícil acesso. A Vipera latasti é uma espécie estritamente protegida, constando do anexo II da Convenção de Berna, sendo a Vipera seoanei referida no anexo III da mesma Convenção.

A região do P.N.P.G. é a única zona do país onde coexistem as duas espécies de víboras da fauna portuguesa.




De acordo com o resultado de um inquérito efectuado a 64 aldeias do Parque Nacional da Peneda Gerês, torna-se difícil separar os dados relativos a uma e a outra espécie, anteriormente citadas no Parque Nacional. De qualquer forma, parece evidente que a maior parte dos inquiridos se referiam à Vipera latasti, pela descrição que faziam do animal observado.
Relacionando os dados bibliográficos, observações pessoais e os dados do inquérito, parece razoável afirmar ser a Serra do Gerês a área fundamental de distribuição e abundância da Vipera latasti, havendo quem chame a Albergaria o “Solar das Víboras”.




Nas outras Serras que constituem o P.N.P.G. tais como Castro Laboreiro, Peneda e Soajo, os resultados são um pouco mais contraditórios no que se refere à espécie presente e à sua frequência de observação, parecendo-nos contudo serem estes os locais da ocorrência da Vipera seoanei.

Existindo comércio de cabeças de víboras com diferentes fins, sendo um deles, o de amuletos, admitimos que ambas as espécies correm perigo.





Actividade e reprodução

A Vipera latasti encontra-se activa de Março a Outubro. A cópula tem lugar entre finais de Março e Maio, existindo por vezes um segundo pico reprodutor em Setembro-Outubro. Estas víboras são ovovivíparas e a fêmea pare no mês de Agosto. A Vipera seoanei tem a mesma época de actividade, sendo a reprodução de finais de Março a princípios de Maio. 




Saint-Girons, 1976, diz-nos que existe um emparelhamento outunal em Setembro ou inícios de Outubro para as duas espécies. Este aspecto do ciclo reprodutor – anual ou bianual – não está ainda claro para os autores. 





No entanto sabe-se que são duas espécies de maturação sexual tardia (superior a 6 anos) e que têm um reduzido número de descendentes (menos de 8 recém-nascidos por fêmea) por geração, segundo Saint-Girons e Naulleau, 1981. De um modo geral, as fêmeas não se reproduzem todos os anos. Em condições normais os indivíduos vivem cerca de 9 anos.




A ausência de membros torna o acto da procriação um tanto curioso.
Não tendo como segurar e conter a fêmea, durante a cópula (acto sexual), o macho utiliza-se do próprio pénis para se fixar a ela.
Os machos possuem dois órgãos copulatórios, chamados de hemipénis. Estes apresentam espinhos ou pregas que fazem sucção e permitem com que a cópula seja realizada efectivamente.




 Durante o acto sexual apenas um, de cada vez, é introduzido na cloaca (abertura Uro-Genital) da fêmea.
Estes hemipénis não são visíveis externamente, ficando alojados dentro da cauda e invertido.
Nos momentos que antecedem a cópula as cloacas do macho e da fêmea encostam-se e um hemipénis é colocado directamente dentro da fêmea.




Como são revestidos de espinhos calcáreos ou pregas, ele prende-se à parede da cavidade, conhecida também como vagina, impedindo que o casal se solte. A cópula pode levar de alguns minutos a 72 horas.




As víboras apresentam um período de hibernação cuja duração é muito variável, dependendo de factores como a altitude e a latitude. No entanto sabe-se que, na metade Norte do País hibernam desde o final de outubro ou início de Novembro até Março ou Abril. 




A sua actividade é diurna, ainda que no verão podem trabalhar de noite, quando as noites são mais quentes sendo que a temperatura que mais lhe agrada, ronda os 30º.







A troca de pele

As víboras possuem o corpo revestido por escamas queratinizadas. Entre outras funções a queratina evita a perda de água pela transpiração e diminui o desgaste causado pelo atrito do solo com o corpo.
Essa camada de queratina que recobre toda a pele reveste até ao olho, de maneira que não há pálpebra móvel, ou seja, elas não piscam, pois a pálpebra fica aderida ao olho como uma lente de contacto, dando protecção e evitando o dessecamento.




A camada externa das escamas, devido à queratina, é rígida.
Quando o animal cresce, necessita trocá-la, pois o aumento das dimensões do corpo não é acompanhado por essa fina película. Dessa forma, por debaixo da pele antiga, forma-se uma nova camada ligeiramente maior. Quando a nova estiver pronta, forma-se um líquido entre as duas para facilitar a remoção da antiga. 




Este processo chama-se de muda e a pele velha começa-se a desprender no focinho e, conforme o animal se locomove pelo chão, saindo invertida como se estivéssemos a retirar uma meia apertada do nosso pé.
As víboras adultas mudam a pele duas vezes ao ano. Os machos mudam a camisa (pele) pela primeira vez,  na primavera após o acasalamento.





A visão

A visão não constitui um órgão de orientação com muita precisão. Podemos dizer, que a sua visão é míope.




Essa deficiência, em obter uma imagem focada é causada pelo cristalino, uma espécie de lente gelatinosa presente nos olhos de todos os vertebrados. O cristalino é esférico e rígido sendo, simplesmente deslocado para a frente e para trás, não havendo acomodação dessa “lente” para definir com precisão o contorno das imagens.





A audição

Se a visão não é boa, a audição pouco ajuda.
As víboras não possuem ouvido externo, médio e nem tímpano. São praticamente surdas.
Não são capazes de ouvir sons, mas sim vibrações físicas (mecânicas) fortes, como passos, queda de objectos, etc..., que chegam ao cérebro por um longo caminho.
A mandíbula da víbora está constantemente em contacto com o solo ou sobre o seu próprio corpo. 




Para a víbora captar um “som”, a vibração precisa atingir a mandíbula para que esta vibre e estimule um pequeno osso (chamado columela) que une a base da mandíbula à caixa craniana. Se a columela vibrar, a víbora percebe o som sem, contudo, precisar correctamente a direcção.





O olfacto

O principal órgão de orientação, capaz de suprir as deficiências visuais e auditivas é o olfacto. As víboras não sentem o cheiro propriamente pela narina.
Todo o sistema de captação de partículas dispersas no ar, que constituem o odor, é realizado pela língua. Quando em movimento, as víboras agitam constantemente a sua língua bífida (com duas pontas).




Cada vez que a língua é projectada para fora da boca, uma secreção grudenta faz com que as partículas dispersas no ar fiquem aderidas às duas pontas, razão pela qual elas vibram rapidamente para que a maior quantidade possível de elementos fiquem aderidos às extremidades.
Quando a língua é retraída, antes de ser limpa e banhada novamente com a secreção, cada ponta, com a secreção contendo as partículas coletadas no ar, é introduzida num orifício localizado no “céu da boca” onde as partículas são depositadas e analisadas.



A ponta que estava mais próxima da fonte de odor terá mais partículas e isto é o suficiente para fornecer com precisão a direcção.
Para cada ponta existe um orifício correspondente.
A análise rápida desses odores permite, mesmo em completa escuridão, reconhecer o ambiente, procurar alimento e proteger-se de agressores.






Sistema Esquelético

As víboras apresentam em média 800 ossos. Só o crâneo é formado por 43 e as costelas podem chegar a 200, distribuídas aos pares e articuladas nas vértebras. A coluna vertebral é simples e uniforme, sustentando as costelas, que exercem importante função no desenvolvimento da locomoção e protecção dos órgãos. As vértebras podem atingir um número de 200.




A cabeça é constituida de 2 partes principais, uma superior, fixa, chama-se crâneo, outra inferior, móvel, chama-se mandíbula.
O crâneo e a mandíbula são ligados por intermédio de um osso, denominado “quadrado”, que descrevendo um arco, permite grande recuo da mandíbula para baixo, o que explica a possibilidade de abrirem a boca até um ângulo de quase 180 graus.





Anatomia

Na impossibilidade de encontrar matéria relativa à anatomia específica da Vipera Seoanei e Vipera Latasti, apresento aspectos da anatomia das serpentes em geral, nas quais se inserem as víboras.
O espaço interno do corpo de uma víbora é bastante reduzido, por isso foi necessário por parte da “mãe natureza”, uma “ginástica” evolutiva para dispor os órgãos pares na mesma altura
A selecção natural resultou no que presenciamos hoje, os órgãos pares direitos são geralmente maiores e situados anteriormente aos esquerdos, e desta forma os órgãos ocupam os espaços alternadamente.




Apresentam apenas um pulmão, sendo o pulmão o maior órgão existente, ocupando cerca de 1/3 do comprimento total do corpo. Não possuem diafragma , a membrana abdominal que fica abaixo dos pulmões e que é a responsável pela sua dilatação, podendo ficar vários minutos sem insuflar os pulmões exactamente porque podem consumir, durante este período, o ar ali retido. Como também não têm o osso “esterno”, evolutivamente a sua ausência foi compensada pelo mecanismo diferenciado de respiração onde os pulmões se insuflam e esvaziam com auxilio das musculaturas intercostais (que une uma costela à outra) e ventral (da região inferior do corpo).




O aparelho digestivo é um grande tubo alongado, formado pelo esófago, estômago, intestino delgado e grosso. Lateralmente ao estômago e intestino situam-se o pâncreas, a vesícula biliar e o baço.




O fígado é o segundo maior órgão e fica localizado na região mediana ventral.
O coração é chamado de tricavitário, pois apesar de apresentar quatro câmaras, os dois ventrículos são praticamente unidos numa câmara, devido ao septo intraventricular (membrana que divide as duas câmaras) ser incompleto. Como os ventrículos são unidos ocorre uma mistura de sangue venoso e arterial dentro do coração o que reduz a taxa de oxigénio do sangue que sai do coração em direcção aos órgãos.






Alimentação

As víboras predam sobre uma grande variedade de presas, como lagartos, lagartixas e outros répteis, musaranhos, toupeiras, ratos, pequenas aves, pequenos anfíbios e invertebrados como escorpiões e centopeias.




As víboras actuam todas da mesma forma, atacam a vítima dando-lhe uma mordida de medo (com a qual injectam uma dose de veneno), e de seguida, tranquilas perseguem a vítima até a encontrarem. Encontram-na geralmente morta. De seguida e sempre começando pela cabeça, engolem integralmente a vítima.







A grande maioria das serpentes apresentam, na boca, uma grande quantidade de dentes dispostos em quatro fileiras na região superior e duas na inferior. Esses dentes são curvos, voltados para trás, impedindo que a presa se consiga soltar se a boca estiver fechada, facilitando também, através de contracções musculares, que a presa seja “empurrada” para o interior do esófago. 




Estes dentes não são facilmente visíveis, não por serem pequenos, mas por serem recobertos por uma membrana flácida (gengiva).



Movimentos

É uma espécie terrestre, mas por vezes utiliza rios ou charcos de baixa profundidade. Ocasionalmente também trepa a arbustos. Como não possui membros especializados para deslocar o seu corpo, utiliza um complexo sistema de músculos que a revestem totalmente por dentro. 




Através de movimentos sincronizados de contracção e distenção muscular. Utiliza um movimento ondulatório horizontal ou serpentino como meio de locomoção, com ondulações alternadas do corpo em sentido horizontal deslocando-se em forma de “S”, de modo que todo o corpo da cabeça à cauda, passa sobre os mesmos pontos.




Inimigos naturais e não só

Para além do seu maior inimigo, o Homem, entre os seus inimigos naturais incluem-se algumas cobras, rapinas (falcões, tartaranhões e águias) e mamíferos como o saca-rabos, o javali e o ouriço.
A sua potencial perigosidade constitui por vezes (infelizmente) motivo suficiente para a promoção do seu extermínio. As cabeças de víbora cornuda são usadas em rituais de magia negra ou simplesmente como amuleto, tendo, este tipo de crença, maior popularidade no norte do país. A confusão entre a víbora e outras cobras leva também a que se matem muitos indivíduos de espécies inofensivas. Geralmente as víboras são capturadas, mortas e a parte anterior do corpo é colocada num frasco com álcool e vendida.

De acordo com vários inquéritos a habitantes da vila das Caldas do Gerês (P.N.P.G.), este comércio está associado à crença de que ter uma víbora ou a sua cabeça em casa dá sorte, abençoa o lar e trás dinheiro. São ainda utilizadas como remédio (depois de colocada a víbora em aguardente, o líquido será eficaz no combate ao reumatismo). Ocasionalmente são utilizadas como pulseiras e amuletos pelas pessoas mais velhas. A cabeça da víbora é seca nas cinzas de uma lareira e colocada dentro do casaco para trazer sorte na vida diária. Apesar deste uso tradicional nas montanhas do Norte de Portugal, também são vendidas nas cidades, como Lisboa ou Porto, mas neste caso por bruxos e magos.

Estas superstições sobre o uso de cabeças de víboras são antigas e pensa-se que tenham perdurado desde a Idade média (Ferreira, 1935). Existem referências do princípio do século XX de que este comércio de cabeças era frequente no Norte de Portugal (Nobre, 1928; Ferreira, 1935). Tanto quanto foi possível apurar, o preço da cabeça da víbora rondava os 2$50 nos anos 30, 800$00 nos anos 70, 3.000$00 nos anos 80 e actualmente ultrapassa os 5,00 €. Estes são os valores de venda no Gerês, mas há referências de que podem ultrapassar os 70,00 € em Lisboa ou no Porto (Campos, 1993).


D. Salomé, aldeã da Gralheira (Serra de Montemuro), exibe uma víbora para uma reportagem do jornal “Tal & Qual)


 Os principais caçadores de víboras são os pastores e madeireiros. Muitas vezes capturam-nas em Espanha para as venderem em Portugal.
Em relação ao número de víboras transaccionadas, nos anos 70 e 80 vendiam-se, em média, cerca de 500 víboras por ano nas caldas do Gerês. Certos indivíduos apanhariam anualmente cerca de 20 a 30 e, num caso extremo, este número podia chegar a cerca de 150. A venda das cabeças aos interessados era feita geralmente por pessoas que vendiam chás e em cafés, sendo o comércio feito “às claras”, no meio da vila, até meados dos anos 80. Com a assinatura da convenção de Berna, este comércio foi considerado ilegal e proibido. No entanto, não desapareceu totalmente, sendo hoje feito “às escondidas”, estimando-se que actualmente sejam  comercializadas entre 50 a 100 víboras por ano, nas Caldas do Gerês.




Contudo, o comércio de cabeças de víbora não está limitado à Serra do Gerês, pois ocorre também nalgumas serras do Norte e Centro de Portugal, como são os casos das Serras do Marão, Montemuro, Estrela, Caramulo e Aire e Candeeiros, existindo reportagens jornalísticas que a ele se referem, e.g. “Víboras em saldo” – Tal & Qual (21/05/93) ou “Caçadores de Víboras” – Público (04/04/98).



Habitat

São espécies mediterrânicas que necessitam de locais de boa insolação, embora estejam adaptadas a qualquer meio. 




Deste modo habitam em zonas abertas nos limites dos bosques e matos ou em bosques relativamente abertos como os montados ou os pinhais, embora os substratos rochosos sejam preferidos por estas espécies, não são um factor que limite a sua presença. Agrada-lhes os terrenos de mato baixo, tojos, urze, etc, assim como zonas de fentos, muros de pedra seca, empilhamentos de lenha, etc. Muitas vezes inspecciona galerias de micromamíferos.





Locais favoráveis de observação

 A sua observação é difícil. Por vezes podem observar-se em estradas alcatroadas, sobre rochas ou noutras zonas abertas.




“Geralmente as víboras de Portugal não são animais agressivos e só atacam para se defender. Segundo Naulleau, 1984, estes animais não atacam espontâneamente e não perseguem o seu agressor, sendo exageradas quaisquer referências e ataques deliberados, com perseguições”.





O veneno

 A simples palavra veneno desencadeia reacções de aversão por todos os animais que o podem produzir. É o caso das cobras, frequentemente associadas a mordeduras venenosas, apesar de apenas 20% das espécies serem capazes de produzir veneno.

Nas cobras, o veneno é uma adaptação evolutiva para imobilização das presas, secundariamente usado para defesa. Uma cobra morde um ser humano apenas quando se encontra assustada ou se sente ameaçada.
Estes venenos são secreções altamente tóxicas, mas que não são mais do que saliva modificada, produzida por glândulas salivares igualmente modificadas. Quando injectado no corpo de uma presa, o veneno imobiliza-o e, muitas vezes, inicia o processo digestivo mesmo antes da deglutição. Cada espécie produz um veneno único, com diferentes componentes e diferentes quantidades de substâncias tóxicas e não tóxicas.




A química dos venenos é complexa. Eles são verdadeiros cocktails de dezenas, centenas de diferentes proteínas enzimáticas, que constituem mais de 90% do composto. São misturas bastante variáveis, cuja  complexidade é responsável pela diversidade de efeitos que uma mordedura pode causar. As proteases catalizam as reacções de degradação de tecidos, as fosfolipases actuam sobre a musculatura e os nervos e algumas dissolvem os conteúdos intracelulares, aumentando a velocidade de dispersão do veneno no corpo da vítima. Mas existe um sem número de substâncias, com efeitos tão diversos como o impedimento da  coagulação do sangue ou a indução da formação de coágulos, a destruição dos glóbulos vermelhos ou dos glóbulos brancos, a destruição dos vasos capilares, causando hemorragias, a despolarização do músculo cardíaco e alteração das contracções, provocando paragens cardíacas e o bloqueio da transmissão de impulsos nervosos nos músculos, especialmente os associados ao diafragma e à respiração.




Embora com tão diversa composição, é possível identificar dois tipos gerais de venenos, de acordo com a sua actuação – os neurotóxicos, que afectam o sistema nervoso, paralisando os centros nervosos que controlam a respiração e a frequência cardíaca, e os hemotóxicos que actuam sobre o sistema circulatório, provocando hemorragias locais e sistémicas. Algumas cobras possuem uma combinação dos dois tipos de venenos.
Os dois colmilhos são simplesmente dentes modificados para injectar veneno numa presa. Eles trabalham de forma coordenada com outras estruturas, para formar um sistema completo de “entrega de veneno”, que funciona como uma seringa hipodérmica. 




As glândulas produtoras correspondem ao corpo da seringa, a musculatura maxilar que envolve as glândulas e o canal condutor do veneno até aos dentes, regulando o fluxo de veneno libertado, funciona como êmbolo, e os dentes muito aguçados na extremidade, com um orifício de descarga, correspondem à agulha. 





A toxidade de um veneno varia entre espécies, entre indivíduos da mesma espécie e ao longo do tempo no mesmo indivíduo. Em geral, o veneno de recém-nascidos e juvenis é mais potente do que o veneno de adultos.




Existem venenos em que a inoculação de 1,5 mg é suficiente para matar um ser humano, enquanto para outros são necessários mais de 100 mg. Da mesma forma, uma mordedura de uma cobra que não se alimenta há muito tempo, após um período de hibernação, é mais perigosa do que a de uma que utilizou o seu mecanismo de inoculação recentemente. Outro aspecto importante consiste na capacidade de perfuração da pele, já que existem espécies que apesar de possuirem venenos muito potentes, não dispõem de “aparelhos de entrega” suficientemente eficazes para causarem qualquer dano em animais de grandes dimensões. 




Todas  estas variáveis tornam cada mordedura única. Dependendo das circunstâncias, a dentada de uma cobra medianamente venenosa pode colocar a vida em risco e a de uma cobra fortemente venenosa não o fazer.
Outro aspecto curioso é que os dentes das cobras estão continuamente a ser substituidos ao longo da vida, e o veneno é constantemente secretado sendo que, uma vez totalmente extraído, em cerca de duas semanas a glândula estará novamente cheia.
Após falarmos um pouco da generalidade dos venenos das cobras, vamo-nos debruçar agora no veneno das cobras existentes em Portugal e em especial das víboras focadas neste trabalho a que também se aplicam a maioria dos aspectos focados anteriormente.
São quatro as famílias de serpentes que incluem espécies produtoras de veneno. Em Portugal, estas espécies pertencem apenas a duas famílias – Colubridea e Viperidea. A maioria das colubrídeas não dispõem de glândulas de veneno, e as que as possuem não desenvolveram um aparelho eficaz de injecção durante a mordedura. Na família das viperídeas, o aparelho venenoso é considerado o mais eficaz de todos os répteis, e caracterizam-se por possuirem um aparelho venenoso muito sofisticado, em que os dentes venenosos são demasiado longos para permitir um encerramento da boca, colocados em posição de ataque quando esta morde.




O veneno da Vipera Latasti e da Vipera Seoanei pode ser fatal em determinadas circunstâncias, tendo uma acção do tipo proteolítico, sendo a víbora cornuda a que possui o veneno mais activo das nossas víboras, embora seja a mais pacífica das víboras.
A composição do veneno das víboras, são essencialmente, misturas complexas de proteínas, algumas das quais dotadas de actividade enzimática. Estão também presentes substâncias inorgânicas como o sódio, cálcio, potássio, magnésio e pequenas quantidades de metais (zinco e ferro). Este veneno é rico em bactérias. As proteases (tipo de acção do veneno da víbora) são particularmente responsáveis pelos fenómenos locais e, ocasionalmente, por reacções anafiláticas.
As mordeduras fatais das serpentes são mais comuns nos cães, devido ao peso relativamente baixo de alguns cães em relação à quantidade de veneno inoculado. A mordedura de uma pequena víbora pode chegar a ser fatal. 




O gado estabulado é mordido com maior frequência nas extremidades dos membros apresentando secundariamente a perda do casco, enquanto que os animais em pastoreio são atingidos com maior frequência nos lábios e na face. Ao atingirem um tamanho consideravelmente maior, têm uma menor probabilidade de ser atingidos mortalmente.
Os cães atacam frequentemente as víboras e são mordidos na cabeça e no pescoço. Podendo ocorrer a morte, após a picada, entre 5 a 7 dias.
Os gatos parecem ter uma maior resistência ao efeito dos venenos e, além disso, existe uma menor probabilidade de serem mordidos devido à tendência em evitá-las.
Segundo as pessoas inquiridas não houve, em seres humanos, nenhum caso mortal. Em relação a animais domésticos, regista-se o caso mortal de duas vacas (Sobredo) e um cão (Germil).




Achamos contudo que um ser humano mordido por uma víbora deverá tomar as devidas precauções médicas.
Em relação aos animais, a população sugere vários tipos de tratamento, todos locais, que citamos textualmente:

1 . Esfregar com freixo e azeite.
2 . Untar com óleo de rã derretido.
3. Untar com leite de vaca e/ou folhas de freixo cozidas.
4. Sangrar o animal e esfregar com uma mistura de azeite e vinagre.
5. Esfregar com gordura e vinagre.
6. Esfregar com carne gorda e ranço.



Diferentes tipos de sistemas venenosos

As cobras possuem distintos tipos de sistemas venenosos, podendo ser opistoglifos, proteroglifos e solenoglifos.
As víboras são solenoglifos, que é o sistema venenoso mais eficaz e sofisticado, uma vez que possui colmilhos (dentes) superiores que se abatem e injectam o veneno de modo fulgurante e em grande quantidade.





Sinais clínicos

O 1º sinal é a dor local (súbita e de intensidade variável). Inicialmente, a dor é reduzida vindo a acentuar-se progressivamente.
A mordedura é caracterizada por duas lesões puntiformes e posterior inflamação. Durante as horas seguintes à mordedura, instala-se um edema, sendo a sua extensão proporcional à gravidade da mordedura. Nos casos mais graves, o edema atinge e, eventualmente, ultrapassa a raíz do membro atingido.

Os sintomas são normalmente moderados. Podemos verificar ansiedade, hipotensão, hipertermia, aumento da motilidade do tubo digestivo, dores abdominais, náuseas, vómitos, diarreia (nos casos mais graves), ocasionais alterações cardíacas, depressão e desidratação.

A mordedura é mais grave em vítimas de menor peso e quando o veneno é injectado directamente num vaso sanguíneo. As mordeduras na face são sempre mais perigosas que nos membros ou em zonas ricas em tecido adiposo.

Como complicações mais graves podem ocorrer: síndrome de coagulação vascular disseminada, choque anafilático e alterações renais (hemorragias petequiais ao nível do córtex).


Factores que afectam a gravidade de uma mordedura de víbora

O peso e altura da vítima.
A quantidade de veneno inoculado.
O sítio de inoculação do veneno e a profundidade da mordedura.
A actividade da vítima, após o acidente.
A demora do socorro.
As condições de saúde prévias da vítima.
As acções do veneno.
O nível de agressividade do animal.
A espécie, idade e tamanho do animal.



Efeitos da mordedura de víbora

Convém saber que a morte por mordedura de víbora é pouco provável sempre que a vítima seja tratada hospitalarmente dentro das 48 horas seguintes à mordedura.
        
 As mordeduras das víboras podem produzir os seguintes efeitos:


Medo e angústia

Responsável de manifestações clínicas similares às causadas pelo próprio veneno (nervosismo, agitação, temores, parestesias por hiperventilação, taquicardia, secura da boca, suduração, diarreia, dores variadas, ...). Estas manifestações podem estar presentes mesmo que a víbora não seja venenosa.


Inflamação no local da mordedura

Com dor intensa, edema, equimose, em alguns casos bolhas. Pode haver zonas de necrose local. O edema pode ser grande e avançar em questão de horas até à raiz do membro.





Manifestações gerais

       São pouco frequentes e aparecem durante as horas posteriores. Podem-se verificar transtornos cardiovasculares (taquicardia, arritmias, hipotensão, colapso circulatório, choque) Relativamente ao aparelho respiratório podem-se verificar edemas das vias altas, broncoespasmos, dispneia e insuficiência respiratória. Também se podem verificar sintomas próprios da reacção tóxica (vómitos violentos, diarreia violenta, incontinência urinária, convulsões, cefaleia, enjoo, perca de consciência, febre, ...), transtornos renais e de coagulação de sangue.



Morte

Muito raro. Em Portugal não existem registos de mortes.



Tratamento                                                                                     

O exercício aumenta a absorção do veneno. Deste modo, a vítima deve ser transportada ao médico, imobilizada ou aguardar em repouso até que este chegue.


Contactar o 112

Ligar 112 e solicitar apoio de pessoas especializadas e ambulância para transporte da vítima.




Contactar o CIAV (Centro de informação antivenenos)

Telefonar para o CIAV através do número 808250143. Este serviço médico funciona 24 horas por dia, todos os dias do ano. Para cada situação serão aconselhadas as medidas que deverá tomar. Procurar dar informações que possam ajudar o CIAV a identificar a situação, designadamente:

. Quem – idade, sexo, gravidez, etc.
. O quê – produto, animal, planta, cogumelo.
. Quanto – quantidade de produto, tempo de exposição.
. Quando – há quanto tempo.
. Onde – em casa, no campo, na fábrica, etc.
. Como – em jejum, com alimentos, com bebidas alcoólicas, etc.

A sua colaboração é fundamental, preste atenção às perguntas efectuadas e siga as instruções indicadas.

Como geralmente estes acidentes acontecem no campo e por vezes não é possível estabelecer contacto com nenhuma entidade teremos que socorrer no local, conforme se explica a seguir.


Tranquilizar a vítima

       Tentar acalmar a vítima, informando-a por exemplo, que nem todas as cobras são venenosas.


Tentar identificar o agressor

A cabeça em forma de “V” nem sempre distingue as víboras das cobras, mas existem diferenças evidentes, visto que as víboras:

Têm a pupila rasgada verticalmente (as cobras têm a pupila redonda).




Os dentes são móveis e estão situados na frente da boca (nas cobras ficam atrás e são fixos)




Têm um corpo grosso e redondo, a cauda é curta e cónica e nunca medem mais de 80 cm. No entanto estas características só são úteis para reconhecer um animal capturado.




No que respeita à mordedura de víbora, os sinais são característicos: dois pequenos pontos espaçados entre si 6-10 mm, no entanto poderá aparecer um único ponto (porque poderá ter mordido de lado e só penetrou um dente). Além disso poderá produzir numerosas feridas (mordeduras múltiplas) ou uma só ferida.




Diminuir a dor

       Utilizar um analgésico, aspirina ou paracetamol. Alguns autores desaconselham o uso da primeira para evitar que contribua para a diátese hemorrágica causada pelo veneno.



Lavar a ferida

       Lavar a ferida com água e sabão. De seguida desinfectar com um antiséptico que não pigmente, visto que as posteriores mudanças de coloração da pele podem constatar o diagnóstico. Cobrir a ferida com uma gase esterilizada. A aplicação de pomadas ou cremes tópicos não acarreta nenhum benefício.




Aplicar ligadura compressiva (e não torniquete)

       Aplicar a ligadura directamente sobre a mordedura. Se optar pelo garrote (desaconselhado) deverá aplicar um garrote se o local da mordedura o permitir, distanciado de 5 a 8 centímetros por cima da marca dos dentes, mas não deve ser muito apertado (deve permitir a passagem de um dedo por baixo do torniquete) de forma a permitir que se faça a circulação arterial. Convém frisar que este garrote só é eficaz se aplicado até 30 minutos após a mordedura.



Imobilizar o membro

       Visto que o movimento pode acelerar a difusão do veneno e com ele a acção tóxica, devemos imobilizar o membro mordido. Por exemplo se se tratar de um braço, deve-se imobilizar em posição neutral abaixo do nível do coração. De preferência devemos imobilizar totalmente a vítima.


Profilaxia antitetânica

       Toda a mordedura de serpente é considerada uma ferida suja, portanto possivelmente tetânica.


  
Não utilizar “práticas antigas” que resultam mais perigosas que seguras

       Tais como:

Sugar o veneno da ferida, uma vez que existe o perigo de envenenamento para quem pratica este método e no entanto é ineficaz devido à escassa quantidade de veneno extraído. No entanto e segundo Deresiewicz (1999), esta técnica é benéfica para remover o veneno, se aplicada dentro de 3-5 minutos após a mordedura, desde que realizada com um dispositivo de sucção mecânica, devendo a sucção ser continuada por um mínimo de 30 minutos.

Sangrar a ferida com incisões realizadas na mordedura, pois facilita a penetração do veneno, provoca um grande risco de infecção e não é eficaz.

Colocar precocemente um torniquete ou garrote acima da mordedura para evitar a difusão do veneno, pela possível aparição de problemas de esquemia no membro afectado, e inclusive choque ao retirá-lo.

Cauterizar e aplicar barro, ervas, etc ... por se considerar inadequado.

Dar álcool ou hipnóticos à vítima.



Classificação dos envenenamentos por mordedura de víbora segundo a sua gravidade




Promover o transporte da vítima a um hospital

       Toda a pessoa que for mordida por uma víbora deve ser sistemáticamente hospitalizada para receber o tratamento adequado à sua situação clínica:

Se está em estado de choque ou evolui para o choque: deverão ser aplicados expansores de plasma, fármacos vasopressores, e respiração assistida.

Se o quadro clínico não é tão grave: devem ser administrados adrenalina, broncodilatadores, anti-histamínicos, corticoides, antibióticos.

O uso de soro anti-ofídico deve ser cuidadosamente valorizado por ser um produto não isento de riscos importantes. Em Portugal utiliza-se o soro antiofídico polivalente, e trata-se de um medicamento estrangeiro que necessita de importação e necessita cuidados devido à data de validade.


Cuidados a ter

       As víboras-cornudas não atacam pessoas. Só o fazem quando se sentem ameaçadas. Como tal, não se deve tentar agarrar uma víbora, ou qualquer tipo de cobra que não se saiba identificar. Relativamente às víboras e principalmente a V. Seoanei, convém ter muito cuidado, pois mesmo depois de morta e decapitada pode reagir violentamente passados 30 ou mais minutos, ainda que tenha a cabeça separada do corpo, através de movimentos reflexos e injectar o veneno.


Os antídotos

       Os antídotos foram pela primeira vez produzidos à mais de um século. Foi demonstrado que era possível imunizar um animal de veneno de cobra e utilizar esta imunidade para salvar um segundo animal de uma mordedura. Esta descoberta é ainda a base da moderna produção de antídotos, que consiste na injecção de cavalos, em intervalos regulares, com doses não letais e sempre crescentes de preparado de veneno extraído de cobras, até que criem imunidade. O sistema imunitário do cavalo vai conseguindo neutralizar as toxinas do veneno inoculado, produzindo anticorpos. São estes anticorpos, que depois de isolados do sangue, podem ser inoculados no homem, para neutralizar o veneno.
       O tratamento mais seguro para a mordedura de serpente é a utilização de antídotos específicos, isto se se puder identificar a serpente “protagonista”. Caso contrário, deve proceder-se à administração de um soro polivalente.

       O antídoto existente no Hospital de Braga (único local em toda a região Norte de Portugal onde se encontra o antídoto contra a mordedura de víbora, segundo sondagens levadas a cabo por mim na altura da pesquisa deste trabalho) é o soro antiofídico Pasteur, “VIPERFAV”. È capaz de reverter a hipotensão e melhorar os sintomas que afectam o resto do organismo, reduzindo as complicações das vítimas com alto risco. O antídoto é eficaz inclusive dias após a inoculação do veneno, no entanto a sua acção é mais eficaz quanto menor for o tempo decorrido entre a mordida e a aplicação do antídoto.


Lembrem-se, na natureza não há vilões. Não matem as serpentes simplesmente por estarem vivas. Elas mantêm o equilíbrio natural comendo roedores, que transmitem doenças e os quais também são prejudiciais nas plantações.

  
Estudo de pesquisa efectuado em 31 de Dezembro de 2002 por Amadeu Barros e "guardado na gaveta" até hoje, momento que decidi partilhar convosco parte deste estudo. Esperamos ter sido úteis na compreensão e respeito deste animal que comunga connosco e com todo o direito, do mesmo espaço.


Boas caminhadas