02 julho 2014

Altitude: o ambiente hipobárico da Terra (6)




No seguimento dos últimos artigos publicados, continuamos com o mesmo tema.





No decorrer dos Jogos Olímpicos de 1968, realizados no México (cuja capital se encontra a 2.286 metros de altitude) foi realizada muita investigação, bem como muitos debates relativos a este tema.





De facto, preparando-se para enfrentar a competição, a equipa de atletismo dos Estados Unidos treinou em Alamosa, Colorado, a uma altitude similar à do local onde se celebrariam os jogos.





Os esforços dessa investigação centraram-se em questões práticas como sejam; os atletas que treinam em altitude rendem mais quando em altitude do que os que não o fazem? (ou dos que vivem ao nível do mar)? E onde deveriam treinar os atletas para optimizarem em provas realizadas em grande altitude? Infelizmente apenas se conseguiram extrair algumas e poucas conclusões, e além disso, pouco concretas.





Para entender essas investigações é necessário apreender algumas definições utilizadas nas suas conclusões. As pessoas que permanecem em altitude durante vários dias ou semanas, são aí denominados “visitantes”, enquanto que os que o fazem durante meses ou anos recebem o nome de “residentes”. As pessoas que nasceram em altitude são tratadas como “nativos”.





Existem estudos que sugerem que os desportos anaeróbicos (ou seja, os de força e potência), não são necessariamente afectados pela exposição a altitudes elevadas. Por tal facto os velocistas não ganham nada, ou podem mesmo perder velocidade se treinarem em altitude. Em provas que não sejam de pista, que durem pouco e que exijam menos esforço, os efeitos variam muito de pessoa para pessoa.





Os corredores de distância costumam melhorar os seus tempos após várias semanas de treino em altitude, no entanto não igualam os tempos dos corredores nativos de grande altitude.





O melhor treino para melhorar o rendimento a grande altitude depende da altitude em que resida o desportista e da prova de que se trata. Para provas aeróbicas que durem mais de 3 ou 4 minutos a altitudes acima dos 2.000 metros, é necessária uma aclimatação de 10 a 20 dias. Após 20 dias de treino em altitude o VO2 max dará sinais de melhorias aproximadamente de +2,6%. Para provas realizadas acima dos 4.000 metros, recomenda-se uma aclimatação a uma altitude intermédia para dar tempo para que as adaptações biológicas se desenvolvam completamente e sem que se verifique a superveniência de doenças.




Relativamente a provas muito anaeróbicas disputadas a grande altitude, os atletas apenas necessitam chegar ao local no momento da prova, ainda que o mal agudo de montanha possa ser sempre um problema.




Um treino intenso de resistência ao nível do mar aumenta o VO2max. No entanto, em altitude, o VO2max aumenta apenas ligeiramente, ou mesmo nada como consequência de se haver treinado a resistência. Já a resposta em termos de tempo que se resiste até ao esgotamento em altitude, é diferente. Verificaram-se melhorias ao observar-se que homens jovens e saudáveis pedalaram a 75% do VO2max, em que a sua capacidade de resistência aumentava cerca de 61% após uma estadia de 12 dias a 4.325 metros.





Noutra investigação, o tempo que se esteve a correr sobre um tapete rolante até ao esgotamento (a cerca de 85% do VO2 max) aumentou cerca de 41% após 16 dias passados em altitude. Uma aclimatação sedentária à altitude também aumenta o rendimento de resistência submáximo em altitude, mas normalmente tem pouco ou nenhum efeito ou nenhum efeito sobre o VO2max.





Uma desvantagem do treino em altitude decorre de ser necessário reduzir a intensidade do exercício. Assim, por exemplo, é possível que os corredores de fundo que residam a 4.000 metros, tenham que reduzir a intensidade do seu treino em  cerca de 40% relativamente ao que se verifica ao nível do mar ( quer dizer, correr a um passo muito mais lento) durante as primeiras 3 semanas das suas sessões de treino. No decorrer das seguintes 8 semanas em altitude, a duração e intensidade podem ser aumentadas gradualmente até aos 75% do treino normal ao nível do mar. 





Este cenário poderia colocar em desvantagem os atletas de corrida de fundo que tivessem treinado em altitude quando competiam contra outros atletas que se tivessem preparado ao nível do mar e a um ritmo de passada mais rápida. No entanto, as “séries” (corridas curtas e rápidas realizadas a intervalos, descansando ligeiramente entre cada uma delas) não se revelam afectadas negativamente pela hipoxia, e podem mesmo melhorar. Em conclusão, no início da aclimatação à altitude, os desportistas podem encontrar benefícios nesse tipo de treino, colocando maior empenho para manter a potência muscular e desta forma compensar as reduções no treino da resistência.






Brevemente daremos continuidade a este tema. Contamos que tenha sido útil e até lá…





Boas caminhadas

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