Vipera
seoanei Lataste, 1879 e Vipera latasti Boscá, 1878
Conforme o
prometido, vou abordar o tema das cobras venenosas existentes na área do Gerês
(Norte de Portugal). Desta feita vou publicar um enxerto alongado de um
trabalho de pesquisa que levei a cabo no ano de 2002. Espero que esteja do
vosso agrado e venha esclarecer algumas dúvidas acerca deste fantástico animal.
A reputação das serpentes
Os répteis, com algumas excepções, como são os casos dos cágados e
dos camaleões considerados como bons animais de estimação, são perseguidos pelo
homem desde há milhares de anos. Esta perseguição resulta de terem tido, desde
sempre, uma má reputação, sendo consideradas por um grande número de pessoas
como animais repugnantes e daninhos, participando em todo o tipo de fábulas e
lendas.
Esta reputação tem profundas raízes culturais, motivos
psicológicos e, inclusivamente, religiosos. No caso das serpentes, associadas à
serpente do Jardim do Paraíso, a Adão e Eva e ao Pecado Original, sempre foram
consideradas, em particular pela cultura judaico-cristã, como representantes do
Mal e, por isso, perseguidas.
As serpentes provocam sempre reacções intensas nas pessoas, quer
estas habitem nas cidades e nunca as tenham visto, quer vivam em áreas rurais
onde as serpentes abundam. Num estudo feito na Grã-Bretanha, de um total de
11960 crianças entrevistadas por uma televisão acerca do animal que menos
gostavam, as serpentes lideravam a lista com 27%. Num outro estudo realizado
por um jornal, através de inquéritos a adultos e crianças, 24% consideravam as
serpentes como o animal menos simpático (Dodd, 1987).
Por estes
motivos, quando as serpentes são vistas, geralmente são mortas, particularmente
no hemisfério Norte, onde a religião judaico-cristã está mais arreigada.
Existem vários relatos de serpentes mortas deliberadamente em toda a Europa,
durante o século XIX e princípios do século XX, com a extinção de várias
populações: em Espanha, em meados dos séculos XIX, foi extinta uma população
insular de Víbora-cornuda, nas ilhas Columbretes (Bernis, 1968). Entre 1856 e
1859, durante a construção de um farol, chegaram-se a matar 70 víboras apenas
nalguns dias. Até final das obras foram mortas 2700 víboras; em França, Vipera
aspis foi extinta nos bosques
circundantes de Paris (e.g. Fontainebleau)(Lescure, 1994); na Roménia e
Áustria, Vipera (ursinii) rakosiensis foi extinta por morte deliberada e por
captura de indivíduos para museus e coleccionadores privados (Langton and
Burton, 1997).
Parece interessante desmistificar a pretensa agressividade e
perigosidade das víboras que existem no P.N.P.G., embora ressalvando as
precauções médicas que se devem tomar em caso de mordedura. É também
interessante apoiar medidas efectivas de protecção à Vipera latasti que
se encontra já contemplada, como foi referido, pela Convenção de Berna e
alargar este tipo de protecção à Vipera seoanei, facto que se justifica
por ser uma espécie muito rara no nosso país e estar circunscrita praticamente
à região do Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Dentro da
zoologia SERPENTES ou OPHIDAE é a terminologia dada à Ordem à qual as serpentes
pertencem.
Nos países
de língua espanhola “culebra”, (cobra) refere-se a serpente não venenosa e
“serpiente” a serpente venenosa.
Na Europa
denomina-se “víboras”, às serpentes venenosas.
Mas qualquer
que seja a designação popular, estes animais, dentro da ciência, pertencem à
Classe dos RÉPTEIS.
Originário
do latim, reptum significa rastejar, uma alusão ao tipo de locomução
característico dessa classe de animais.
Mas o que
agrupa um conjunto de indivíduos dentro dessa Classe Reptília não é o facto de
como se locomovem e sim por possuírem basicamente:
. Esqueleto
completamente ossificado e com vértebras características (Vertebrados)
. Corpo
revestido por escamas ou placas.
. Quatro,
dois ou ausência de membros locomotores.
. Coração
perfeitamente dividido em 4 câmaras porém os ventrículos são parcialmente
unidos.
. Respiração
sempre pulmonar.
.
Temperatura do corpo variável com a do meio ambiente (ectotermia ou
pecilotermia).
. Fecundação
interna, geralmente com órgãos copuladores abrigados na cauda do macho.
Encontram-se
referenciadas no Parque Nacional da Peneda Gerês, duas espécies de víboras – Vipera
seoanei Lataste,1879, víbora negra e Vipera latasti Boscá, 1878,
sub-espécie latasti, víbora-cornuda.
Nome ciêntifico: Vipera Seoanei. (Lataste, 1879)
ou Víbora negra
(O nome de Seoanei é dedicado
ao naturalista português V.L. Seoane)
Nome
ciêntifico: Vipera Latasti Boscá ou Víbora cornuda
Identificação e características
Coloração dorsal castanho claro, às vezes esverdeada. Banda dorsal
escura de forma variável. Lateralmente possuem manchas escuras arredondadas. Na
região posterior da cabeça observa-se uma mancha de cada lado e na anterior
apresenta 2 ou 3 manchas transversais. As manchas negras da cabeça têm forma de
V invertido, contribuindo para o aspecto triângular da cabeça.
A região ventral é cinzenta escura ou negra, à excepção da zona do
pescoço que é amarelada. No entanto os desenhos desta víbora são vários, podendo
inclusivé ser lisa. Outra característica desta víbora é o facto de possuir o
corpo muito gordo e quase não tem cauda, ou seja, o corpo remata bruscamente
com pouca cauda.
Principalmente as fêmeas possuem o desenho dorsal bilinear bastante visível.
Em relação à Vipera latasti, os adultos atingem um comprimento total de 72 centímetros, sendo a única víbora ibérica que possui o focinho francamente levantado, ou seja o extremo do focinho é muito proeminente, com 3 a 7 escamas apicais que formam um apêndice nasal típico da espécie.
Possui uma cabeça bem definida, de contorno triangular. Possui um
corpo relativamente grosso e coberto dorsalmente por escamas fortemente
carenadas (com uma saliência longitudinal). A coloração do dorso varia do
cinzento claro ao castanho escuro por vezes com manchas amarelas, alaranjadas
ou avermelhadas, com uma banda dorsal geralmente em zigue-zague mais escuro com
o bordo mais contrastante.
Lateralmente existem manchas negras arredondadas. Na parte posterior
da cabeça existem duas manchas escuras que formam uma espécie de V invertido.
De cada lado da cabeça apresenta uma banda escura. Ventralmente clara, manchada
de negro com o pescoço amarelado. Outra característica desta víbora é o facto
de possuir uma cauda curta e muito mais fina em relação ao resto do corpo.
Os machos distinguem-se das
fêmeas por possuirem uma cauda mais larga e maior número de escamas subcaudais
(entre a cloaca e a ponta da cauda). É frequente as fêmeas apresentarem cores
menos contrastantes.
Distribuição e abundância
No que se refere à Vipera
latasti latasti, ela ocupa a Península Ibérica e o Noroeste da África,
sendo considerada relativamente comum em todo o território peninsular. No
Parque Nacional da Peneda Gerês encontram-se referências de ocorrência desta
sub-espécie na Serra do Gerês (in Crespo, 1972) existindo ainda observações
mais recentes (Crespo et al, com. Pessoal), Malkmus. R., 1981) e
(Caetano, H. Et al, 1979).
A Vipera seoanei é
bastante rara no P.N.P.G., visto que há cerca de 20 anos, esta espécie era
relativamente frequente em Portugal. No entanto, ultimamente tem sofrido um
declínio acentuado, contrariamente à latasti que observamos
frequentemente na região central do Parque Nacional da Peneda Gerês – Serra do
Gerês – sobretudo em locais de difícil acesso. A Vipera latasti é uma
espécie estritamente protegida, constando do anexo II da Convenção de Berna,
sendo a Vipera seoanei referida no anexo III da mesma Convenção.
A região do
P.N.P.G. é a única zona do país onde coexistem as duas espécies de víboras da
fauna portuguesa.
De acordo com o resultado de um inquérito efectuado a 64 aldeias
do Parque Nacional da Peneda Gerês, torna-se difícil separar os dados relativos
a uma e a outra espécie, anteriormente citadas no Parque Nacional. De qualquer
forma, parece evidente que a maior parte dos inquiridos se referiam à Vipera
latasti, pela descrição que faziam do animal observado.
Relacionando os dados bibliográficos, observações pessoais e os
dados do inquérito, parece razoável afirmar ser a Serra do Gerês a área fundamental
de distribuição e abundância da Vipera latasti, havendo quem chame a
Albergaria o “Solar das Víboras”.
Nas outras Serras que constituem o P.N.P.G. tais como Castro
Laboreiro, Peneda e Soajo, os resultados são um pouco mais contraditórios no
que se refere à espécie presente e à sua frequência de observação,
parecendo-nos contudo serem estes os locais da ocorrência da Vipera seoanei.
Existindo comércio de cabeças de víboras com diferentes fins,
sendo um deles, o de amuletos, admitimos que ambas as espécies correm perigo.
Actividade e reprodução
Saint-Girons, 1976, diz-nos que existe um emparelhamento outunal em
Setembro ou inícios de Outubro para as duas espécies. Este aspecto do ciclo
reprodutor – anual ou bianual – não está ainda claro para os autores.
No entanto sabe-se que são duas espécies de maturação sexual
tardia (superior a 6 anos) e que têm um reduzido número de descendentes (menos
de 8 recém-nascidos por fêmea) por geração, segundo Saint-Girons e Naulleau,
1981. De um modo geral, as fêmeas não se reproduzem todos os anos. Em condições
normais os indivíduos vivem cerca de 9 anos.
A ausência de membros torna o acto da
procriação um tanto curioso.
Não tendo como segurar e conter a fêmea,
durante a cópula (acto sexual), o macho utiliza-se do próprio pénis para se
fixar a ela.
Os machos
possuem dois órgãos copulatórios, chamados de hemipénis. Estes apresentam
espinhos ou pregas que fazem sucção e permitem com que a cópula seja realizada
efectivamente.
Durante o acto sexual apenas um, de cada vez,
é introduzido na cloaca (abertura Uro-Genital) da fêmea.
Estes hemipénis não são visíveis externamente, ficando alojados
dentro da cauda e invertido.
Nos momentos que antecedem a cópula as cloacas do macho e da fêmea
encostam-se e um hemipénis é colocado directamente dentro da fêmea.
Como são revestidos de espinhos calcáreos ou pregas, ele prende-se
à parede da cavidade, conhecida também como vagina, impedindo que o casal se
solte. A cópula pode levar de alguns minutos a 72 horas.
As víboras apresentam um período de hibernação cuja duração é
muito variável, dependendo de factores como a altitude e a latitude. No entanto
sabe-se que, na metade Norte do País hibernam desde o final de outubro ou
início de Novembro até Março ou Abril.
A sua actividade é diurna, ainda que no verão podem trabalhar de
noite, quando as noites são mais quentes sendo que a temperatura que mais lhe
agrada, ronda os 30º.
A troca de pele
As víboras
possuem o corpo revestido por escamas queratinizadas. Entre outras funções a
queratina evita a perda de água pela transpiração e diminui o desgaste causado
pelo atrito do solo com o corpo.
Essa camada de queratina que recobre toda a pele reveste até ao
olho, de maneira que não há pálpebra móvel, ou seja, elas não piscam, pois a
pálpebra fica aderida ao olho como uma lente de contacto, dando protecção e
evitando o dessecamento.
A camada externa das escamas, devido à queratina, é rígida.
Quando o animal cresce, necessita trocá-la, pois o aumento das
dimensões do corpo não é acompanhado por essa fina película. Dessa forma, por
debaixo da pele antiga, forma-se uma nova camada ligeiramente maior. Quando a
nova estiver pronta, forma-se um líquido entre as duas para facilitar a remoção
da antiga.
Este processo chama-se de muda e a pele velha começa-se a
desprender no focinho e, conforme o animal se locomove pelo chão, saindo
invertida como se estivéssemos a retirar uma meia apertada do nosso pé.
As víboras adultas mudam a pele duas vezes ao ano. Os machos mudam
a camisa (pele) pela primeira vez, na
primavera após o acasalamento.
A visão
A visão não constitui um órgão de orientação com muita precisão.
Podemos dizer, que a sua visão é míope.
Essa deficiência, em obter uma imagem focada é causada pelo
cristalino, uma espécie de lente gelatinosa presente nos olhos de todos os
vertebrados. O cristalino é esférico e rígido sendo, simplesmente deslocado
para a frente e para trás, não havendo acomodação dessa “lente” para definir
com precisão o contorno das imagens.
A audição
Se a visão não é boa, a audição pouco ajuda.
As víboras não possuem ouvido externo, médio e nem tímpano. São
praticamente surdas.
Não são capazes de ouvir sons, mas sim vibrações físicas
(mecânicas) fortes, como passos, queda de objectos, etc..., que chegam ao
cérebro por um longo caminho.
A mandíbula da víbora está constantemente em contacto com o solo
ou sobre o seu próprio corpo.
Para a
víbora captar um “som”, a vibração precisa atingir a mandíbula para que esta
vibre e estimule um pequeno osso (chamado columela) que une a base da mandíbula
à caixa craniana. Se a columela vibrar, a víbora percebe o som sem, contudo,
precisar correctamente a direcção.
O olfacto
O principal órgão de orientação, capaz de suprir as deficiências
visuais e auditivas é o olfacto. As víboras não sentem o cheiro propriamente
pela narina.
Todo o
sistema de captação de partículas dispersas no ar, que constituem o odor, é
realizado pela língua. Quando em movimento, as víboras agitam constantemente a
sua língua bífida (com duas pontas).
Cada vez que a língua é projectada para fora da boca, uma secreção
grudenta faz com que as partículas dispersas no ar fiquem aderidas às duas
pontas, razão pela qual elas vibram rapidamente para que a maior quantidade
possível de elementos fiquem aderidos às extremidades.
Quando a língua é retraída, antes de ser limpa e banhada novamente
com a secreção, cada ponta, com a secreção contendo as partículas coletadas no
ar, é introduzida num orifício localizado no “céu da boca” onde as partículas
são depositadas e analisadas.
A ponta que estava mais próxima da fonte de odor terá mais
partículas e isto é o suficiente para fornecer com precisão a direcção.
Para cada ponta existe um orifício correspondente.
A análise rápida desses odores permite, mesmo em completa escuridão,
reconhecer o ambiente, procurar alimento e proteger-se de agressores.
Sistema Esquelético
As víboras apresentam em média 800 ossos. Só o crâneo é formado
por 43 e as costelas podem chegar a 200, distribuídas aos pares e articuladas
nas vértebras. A coluna vertebral é simples e uniforme, sustentando as
costelas, que exercem importante função no desenvolvimento da locomoção e
protecção dos órgãos. As vértebras podem atingir um número de 200.
A cabeça
é constituida de 2 partes principais, uma superior, fixa, chama-se crâneo,
outra inferior, móvel, chama-se mandíbula.
O crâneo
e a mandíbula são ligados por intermédio de um osso, denominado “quadrado”, que
descrevendo um arco, permite grande recuo da mandíbula para baixo, o que
explica a possibilidade de abrirem a boca até um ângulo de quase 180 graus.
Anatomia
Na impossibilidade de encontrar matéria relativa à
anatomia específica da Vipera Seoanei e Vipera Latasti, apresento aspectos da
anatomia das serpentes em geral, nas quais se inserem as víboras.
O espaço interno do corpo de uma víbora é bastante
reduzido, por isso foi necessário por parte da “mãe natureza”, uma “ginástica”
evolutiva para dispor os órgãos pares na mesma altura
A
selecção natural resultou no que presenciamos hoje, os órgãos pares direitos
são geralmente maiores e situados anteriormente aos esquerdos, e desta forma os
órgãos ocupam os espaços alternadamente.
Apresentam apenas um pulmão, sendo o pulmão o maior órgão existente,
ocupando cerca de 1/3 do comprimento total do corpo. Não possuem diafragma , a
membrana abdominal que fica abaixo dos pulmões e que é a responsável pela sua
dilatação, podendo ficar vários minutos sem insuflar os pulmões exactamente
porque podem consumir, durante este período, o ar ali retido. Como também não
têm o osso “esterno”, evolutivamente a sua ausência foi compensada pelo
mecanismo diferenciado de respiração onde os pulmões se insuflam e esvaziam com
auxilio das musculaturas intercostais (que une uma costela à outra) e ventral
(da região inferior do corpo).
O
aparelho digestivo é um grande tubo alongado, formado pelo esófago, estômago,
intestino delgado e grosso. Lateralmente ao estômago e intestino situam-se o
pâncreas, a vesícula biliar e o baço.
O fígado
é o segundo maior órgão e fica localizado na região mediana ventral.
O coração
é chamado de tricavitário, pois apesar de apresentar quatro câmaras, os dois
ventrículos são praticamente unidos numa câmara, devido ao septo
intraventricular (membrana que divide as duas câmaras) ser incompleto. Como os
ventrículos são unidos ocorre uma mistura de sangue venoso e arterial dentro do
coração o que reduz a taxa de oxigénio do sangue que sai do coração em direcção
aos órgãos.
Alimentação
As víboras actuam
todas da mesma forma, atacam a vítima dando-lhe uma mordida de medo (com a qual
injectam uma dose de veneno), e de seguida, tranquilas perseguem a vítima até a
encontrarem. Encontram-na geralmente morta. De seguida e sempre começando pela
cabeça, engolem integralmente a vítima.
A grande maioria das serpentes apresentam, na boca, uma grande
quantidade de dentes dispostos em quatro fileiras na região superior e duas na
inferior. Esses dentes são curvos, voltados para trás, impedindo que a presa se
consiga soltar se a boca estiver fechada, facilitando também, através de
contracções musculares, que a presa seja “empurrada” para o interior do
esófago.
Estes dentes não são
facilmente visíveis, não por serem pequenos, mas por serem recobertos por uma
membrana flácida (gengiva).
Movimentos
É uma espécie terrestre, mas por vezes
utiliza rios ou charcos de baixa profundidade. Ocasionalmente também trepa a
arbustos. Como não possui membros especializados para deslocar o seu corpo,
utiliza um complexo sistema de músculos que a revestem totalmente por dentro.
Através de
movimentos sincronizados de contracção e distenção muscular. Utiliza um
movimento ondulatório horizontal ou serpentino como meio de locomoção, com
ondulações alternadas do corpo em sentido horizontal deslocando-se em forma de
“S”, de modo que todo o corpo da cabeça à cauda, passa sobre os mesmos pontos.
Inimigos naturais e não só
A sua potencial perigosidade constitui
por vezes (infelizmente) motivo suficiente para a promoção do seu extermínio.
As cabeças de víbora cornuda são usadas em rituais de magia negra ou
simplesmente como amuleto, tendo, este tipo de crença, maior popularidade no
norte do país. A confusão entre a víbora e outras cobras leva também a que se
matem muitos indivíduos de espécies inofensivas. Geralmente as víboras são
capturadas, mortas e a parte anterior do corpo é colocada num frasco com álcool
e vendida.
De acordo com vários inquéritos a habitantes da vila das Caldas do Gerês (P.N.P.G.), este comércio está associado à crença de que ter uma víbora ou a sua cabeça em casa dá sorte, abençoa o lar e trás dinheiro. São ainda utilizadas como remédio (depois de colocada a víbora em aguardente, o líquido será eficaz no combate ao reumatismo). Ocasionalmente são utilizadas como pulseiras e amuletos pelas pessoas mais velhas. A cabeça da víbora é seca nas cinzas de uma lareira e colocada dentro do casaco para trazer sorte na vida diária. Apesar deste uso tradicional nas montanhas do Norte de Portugal, também são vendidas nas cidades, como Lisboa ou Porto, mas neste caso por bruxos e magos.
Estas superstições sobre o uso de
cabeças de víboras são antigas e pensa-se que tenham perdurado desde a Idade
média (Ferreira, 1935). Existem referências do princípio do século XX de que
este comércio de cabeças era frequente no Norte de Portugal (Nobre, 1928;
Ferreira, 1935). Tanto quanto foi possível apurar, o preço da cabeça da víbora
rondava os 2$50 nos anos 30, 800$00 nos anos 70, 3.000$00 nos anos 80 e
actualmente ultrapassa os 5,00 €. Estes são os valores de venda no Gerês, mas
há referências de que podem ultrapassar os 70,00 € em Lisboa ou no Porto
(Campos, 1993).
D. Salomé, aldeã da Gralheira (Serra de Montemuro), exibe uma víbora para uma reportagem do jornal “Tal & Qual)
Os principais caçadores de víboras são
os pastores e madeireiros. Muitas vezes capturam-nas em Espanha para as
venderem em Portugal.
Em relação ao número de víboras
transaccionadas, nos anos 70 e 80 vendiam-se, em média, cerca de 500 víboras
por ano nas caldas do Gerês. Certos indivíduos apanhariam anualmente cerca de
20 a 30 e, num caso extremo, este número podia chegar a cerca de 150. A venda
das cabeças aos interessados era feita geralmente por pessoas que vendiam chás
e em cafés, sendo o comércio feito “às claras”, no meio da vila, até meados dos
anos 80. Com a assinatura da convenção de Berna, este comércio foi considerado
ilegal e proibido. No entanto, não desapareceu totalmente, sendo hoje feito “às
escondidas”, estimando-se que actualmente sejam
comercializadas entre 50 a 100 víboras por ano, nas Caldas do Gerês.
Contudo, o comércio de cabeças de víbora
não está limitado à Serra do Gerês, pois ocorre também nalgumas serras do Norte
e Centro de Portugal, como são os casos das Serras do Marão, Montemuro,
Estrela, Caramulo e Aire e Candeeiros, existindo reportagens jornalísticas que
a ele se referem, e.g. “Víboras em saldo” – Tal & Qual (21/05/93) ou
“Caçadores de Víboras” – Público (04/04/98).
Habitat
São espécies
mediterrânicas que necessitam de locais de boa insolação, embora estejam
adaptadas a qualquer meio.
Deste modo habitam em zonas abertas nos limites dos bosques e
matos ou em bosques relativamente abertos como os montados ou os pinhais,
embora os substratos rochosos sejam preferidos por estas espécies, não são um
factor que limite a sua presença. Agrada-lhes os terrenos de mato baixo, tojos,
urze, etc, assim como zonas de fentos, muros de pedra seca, empilhamentos de
lenha, etc. Muitas vezes inspecciona galerias de micromamíferos.
Locais favoráveis de observação
A sua observação é difícil. Por vezes podem
observar-se em estradas alcatroadas, sobre rochas ou noutras zonas abertas.
“Geralmente as víboras
de Portugal não são animais agressivos e só atacam para se defender. Segundo
Naulleau, 1984, estes animais não atacam espontâneamente e não perseguem o seu
agressor, sendo exageradas quaisquer referências e ataques deliberados, com
perseguições”.
O veneno
Nas cobras, o veneno
é uma adaptação evolutiva para imobilização das presas, secundariamente usado
para defesa. Uma cobra morde um ser humano apenas quando se encontra assustada
ou se sente ameaçada.
Estes venenos são
secreções altamente tóxicas, mas que não são mais do que saliva modificada,
produzida por glândulas salivares igualmente modificadas. Quando injectado no
corpo de uma presa, o veneno imobiliza-o e, muitas vezes, inicia o processo
digestivo mesmo antes da deglutição. Cada espécie produz um veneno único, com
diferentes componentes e diferentes quantidades de substâncias tóxicas e não
tóxicas.
A química dos venenos
é complexa. Eles são verdadeiros cocktails de dezenas, centenas de diferentes
proteínas enzimáticas, que constituem mais de 90% do composto. São misturas
bastante variáveis, cuja complexidade é
responsável pela diversidade de efeitos que uma mordedura pode causar. As
proteases catalizam as reacções de degradação de tecidos, as fosfolipases
actuam sobre a musculatura e os nervos e algumas dissolvem os conteúdos
intracelulares, aumentando a velocidade de dispersão do veneno no corpo da
vítima. Mas existe um sem número de substâncias, com efeitos tão diversos como
o impedimento da coagulação do sangue ou
a indução da formação de coágulos, a destruição dos glóbulos vermelhos ou dos
glóbulos brancos, a destruição dos vasos capilares, causando hemorragias, a
despolarização do músculo cardíaco e alteração das contracções, provocando
paragens cardíacas e o bloqueio da transmissão de impulsos nervosos nos
músculos, especialmente os associados ao diafragma e à respiração.
Embora com tão
diversa composição, é possível identificar dois tipos gerais de venenos, de
acordo com a sua actuação – os neurotóxicos, que afectam o sistema nervoso,
paralisando os centros nervosos que controlam a respiração e a frequência
cardíaca, e os hemotóxicos que actuam sobre o sistema circulatório, provocando
hemorragias locais e sistémicas. Algumas cobras possuem uma combinação dos dois
tipos de venenos.
Os dois colmilhos são
simplesmente dentes modificados para injectar veneno numa presa. Eles trabalham
de forma coordenada com outras estruturas, para formar um sistema completo de
“entrega de veneno”, que funciona como uma seringa hipodérmica.
As glândulas produtoras correspondem ao corpo da seringa, a
musculatura maxilar que envolve as glândulas e o canal condutor do veneno até
aos dentes, regulando o fluxo de veneno libertado, funciona como êmbolo, e os
dentes muito aguçados na extremidade, com um orifício de descarga, correspondem
à agulha.
A toxidade de um veneno varia entre espécies, entre indivíduos da
mesma espécie e ao longo do tempo no mesmo indivíduo. Em geral, o veneno de
recém-nascidos e juvenis é mais potente do que o veneno de adultos.
Existem venenos em
que a inoculação de 1,5 mg é suficiente para matar um ser humano, enquanto para
outros são necessários mais de 100 mg. Da mesma forma, uma mordedura de uma
cobra que não se alimenta há muito tempo, após um período de hibernação, é mais
perigosa do que a de uma que utilizou o seu mecanismo de inoculação
recentemente. Outro aspecto importante consiste na capacidade de perfuração da
pele, já que existem espécies que apesar de possuirem venenos muito potentes,
não dispõem de “aparelhos de entrega” suficientemente eficazes para causarem
qualquer dano em animais de grandes dimensões.
Todas estas variáveis
tornam cada mordedura única. Dependendo das circunstâncias, a dentada de uma
cobra medianamente venenosa pode colocar a vida em risco e a de uma cobra
fortemente venenosa não o fazer.
Outro aspecto curioso
é que os dentes das cobras estão continuamente a ser substituidos ao longo da
vida, e o veneno é constantemente secretado sendo que, uma vez totalmente
extraído, em cerca de duas semanas a glândula estará novamente cheia.
Após falarmos um
pouco da generalidade dos venenos das cobras, vamo-nos debruçar agora no veneno
das cobras existentes em Portugal e em especial das víboras focadas neste
trabalho a que também se aplicam a maioria dos aspectos focados anteriormente.
São quatro as
famílias de serpentes que incluem espécies produtoras de veneno. Em Portugal,
estas espécies pertencem apenas a duas famílias – Colubridea e Viperidea. A
maioria das colubrídeas não dispõem de glândulas de veneno, e as que as possuem
não desenvolveram um aparelho eficaz de injecção durante a mordedura. Na
família das viperídeas, o aparelho venenoso é considerado o mais eficaz de
todos os répteis, e caracterizam-se por possuirem um aparelho venenoso muito
sofisticado, em que os dentes venenosos são demasiado longos para permitir um
encerramento da boca, colocados em posição de ataque quando esta morde.
O veneno da Vipera
Latasti e da Vipera Seoanei pode ser fatal em determinadas circunstâncias,
tendo uma acção do tipo proteolítico, sendo a víbora cornuda a que possui o
veneno mais activo das nossas víboras, embora seja a mais pacífica das víboras.
A composição do
veneno das víboras, são essencialmente, misturas complexas de proteínas,
algumas das quais dotadas de actividade enzimática. Estão também presentes
substâncias inorgânicas como o sódio, cálcio, potássio, magnésio e pequenas
quantidades de metais (zinco e ferro). Este veneno é rico em bactérias. As
proteases (tipo de acção do veneno da víbora) são particularmente responsáveis pelos
fenómenos locais e, ocasionalmente, por reacções anafiláticas.
As mordeduras fatais
das serpentes são mais comuns nos cães, devido ao peso relativamente baixo de
alguns cães em relação à quantidade de veneno inoculado. A mordedura de uma
pequena víbora pode chegar a ser fatal.
O gado estabulado é
mordido com maior frequência nas extremidades dos membros apresentando
secundariamente a perda do casco, enquanto que os animais em pastoreio são
atingidos com maior frequência nos lábios e na face. Ao atingirem um tamanho
consideravelmente maior, têm uma menor probabilidade de ser atingidos
mortalmente.
Os cães atacam frequentemente as víboras e são mordidos na cabeça
e no pescoço. Podendo ocorrer a morte, após a picada, entre 5 a 7 dias.
Os gatos parecem ter uma maior
resistência ao efeito dos venenos e, além disso, existe uma menor probabilidade
de serem mordidos devido à tendência em evitá-las.
Segundo as pessoas
inquiridas não houve, em seres humanos, nenhum caso mortal. Em relação a
animais domésticos, regista-se o caso mortal de duas vacas (Sobredo) e um cão
(Germil).
Achamos contudo que
um ser humano mordido por uma víbora deverá tomar as devidas precauções
médicas.
Em relação aos
animais, a população sugere vários tipos de tratamento, todos locais, que
citamos textualmente:
1 . Esfregar com freixo e azeite.
2 . Untar com óleo de rã derretido.
3. Untar com leite de vaca e/ou folhas de freixo cozidas.
4. Sangrar o animal e esfregar com uma mistura de azeite e
vinagre.
5. Esfregar com gordura e vinagre.
6. Esfregar com carne gorda e ranço.
Diferentes tipos de sistemas venenosos
As cobras possuem
distintos tipos de sistemas venenosos, podendo ser opistoglifos,
proteroglifos e solenoglifos.
As víboras são solenoglifos, que é o sistema venenoso mais eficaz
e sofisticado, uma vez que possui colmilhos (dentes) superiores que se abatem e
injectam o veneno de modo fulgurante e em grande quantidade.
Sinais clínicos
O 1º sinal é a dor local (súbita e de
intensidade variável). Inicialmente, a dor é reduzida vindo a acentuar-se
progressivamente.
A mordedura é
caracterizada por duas lesões puntiformes e posterior inflamação. Durante as
horas seguintes à mordedura, instala-se um edema, sendo a sua extensão
proporcional à gravidade da mordedura. Nos casos mais graves, o edema atinge e,
eventualmente, ultrapassa a raíz do membro atingido.
Os sintomas são
normalmente moderados. Podemos verificar ansiedade, hipotensão, hipertermia,
aumento da motilidade do tubo digestivo, dores abdominais, náuseas, vómitos,
diarreia (nos casos mais graves), ocasionais alterações cardíacas, depressão e desidratação.
A mordedura é mais
grave em vítimas de menor peso e quando o veneno é injectado directamente num
vaso sanguíneo. As mordeduras na face são sempre mais perigosas que nos membros
ou em zonas ricas em tecido adiposo.
Como complicações
mais graves podem ocorrer: síndrome de coagulação vascular disseminada, choque
anafilático e alterações renais (hemorragias petequiais ao nível do córtex).
Factores que afectam a gravidade de uma mordedura de víbora
O peso e
altura da vítima.
A quantidade de veneno inoculado.
O sítio de inoculação do veneno e a profundidade da mordedura.
A actividade da vítima, após o acidente.
A demora do socorro.
As condições de saúde prévias da vítima.
As acções do veneno.
O nível de agressividade do animal.
A espécie, idade e tamanho do animal.
Efeitos da mordedura de víbora
Convém saber que a morte por mordedura
de víbora é pouco provável sempre que a vítima seja tratada hospitalarmente
dentro das 48 horas seguintes à mordedura.
As mordeduras das víboras
podem produzir os seguintes efeitos:
Medo e angústia
Inflamação no local da mordedura
Manifestações gerais
São pouco frequentes e aparecem durante
as horas posteriores. Podem-se verificar transtornos cardiovasculares
(taquicardia, arritmias, hipotensão, colapso circulatório, choque)
Relativamente ao aparelho respiratório podem-se verificar edemas das vias
altas, broncoespasmos, dispneia e insuficiência respiratória. Também se podem
verificar sintomas próprios da reacção tóxica (vómitos violentos, diarreia violenta,
incontinência urinária, convulsões, cefaleia, enjoo, perca de consciência,
febre, ...), transtornos renais e de coagulação de sangue.
Morte
Muito raro. Em Portugal não existem
registos de mortes.
Tratamento
O exercício aumenta a absorção do
veneno. Deste modo, a vítima deve ser transportada ao médico, imobilizada ou
aguardar em repouso até que este chegue.
Contactar o 112
Contactar o CIAV (Centro de informação antivenenos)
Telefonar
para o CIAV através do número 808250143. Este serviço médico funciona 24
horas por dia, todos os dias do ano. Para cada situação serão aconselhadas as
medidas que deverá tomar. Procurar dar informações que possam ajudar o CIAV a
identificar a situação, designadamente:
. Quem – idade, sexo, gravidez, etc.
. O quê – produto, animal, planta, cogumelo.
. Quanto – quantidade de produto, tempo de exposição.
. Quando – há quanto tempo.
. Onde – em casa, no campo, na fábrica, etc.
. Como – em jejum, com alimentos, com bebidas alcoólicas, etc.
A sua colaboração
é fundamental, preste atenção às perguntas efectuadas e siga as instruções
indicadas.
Como geralmente estes acidentes acontecem no
campo e por vezes não é possível estabelecer contacto com nenhuma entidade
teremos que socorrer no local, conforme se explica a seguir.
Tranquilizar a vítima
Tentar acalmar a vítima, informando-a
por exemplo, que nem todas as cobras são venenosas.
Tentar identificar o agressor
A cabeça em forma de “V” nem sempre
distingue as víboras das cobras, mas existem diferenças evidentes, visto que as
víboras:
Têm a pupila rasgada verticalmente (as cobras têm a pupila
redonda).
Os dentes são móveis e estão situados na frente da boca (nas
cobras ficam atrás e são fixos)
Têm um corpo grosso e redondo, a cauda é curta e cónica e nunca
medem mais de 80 cm. No entanto estas características só são úteis para
reconhecer um animal capturado.
No que respeita à mordedura de víbora, os sinais são
característicos: dois pequenos pontos espaçados entre si 6-10 mm, no entanto
poderá aparecer um único ponto (porque poderá ter mordido de lado e só penetrou
um dente). Além disso poderá produzir numerosas feridas (mordeduras múltiplas)
ou uma só ferida.
Diminuir a dor
Utilizar um analgésico, aspirina ou
paracetamol. Alguns autores desaconselham o uso da primeira para evitar que
contribua para a diátese hemorrágica causada pelo veneno.
Lavar a ferida
Lavar a ferida com água e sabão. De
seguida desinfectar com um antiséptico que não pigmente, visto que as
posteriores mudanças de coloração da pele podem constatar o diagnóstico. Cobrir
a ferida com uma gase esterilizada. A aplicação de pomadas ou cremes tópicos
não acarreta nenhum benefício.
Aplicar ligadura compressiva (e não torniquete)
Aplicar a ligadura directamente sobre a
mordedura. Se optar pelo garrote (desaconselhado) deverá aplicar um garrote se
o local da mordedura o permitir, distanciado de 5 a 8 centímetros por cima da
marca dos dentes, mas não deve ser muito apertado (deve permitir a passagem de
um dedo por baixo do torniquete) de forma a permitir que se faça a circulação
arterial. Convém frisar que este garrote só é eficaz se aplicado até 30 minutos
após a mordedura.
Imobilizar o membro
Visto que o movimento pode acelerar a
difusão do veneno e com ele a acção tóxica, devemos imobilizar o membro
mordido. Por exemplo se se tratar de um braço, deve-se imobilizar em posição
neutral abaixo do nível do coração. De preferência devemos imobilizar
totalmente a vítima.
Profilaxia
antitetânica
Toda a mordedura de serpente é
considerada uma ferida suja, portanto possivelmente tetânica.
Não utilizar
“práticas antigas” que resultam mais perigosas que seguras
Tais como:
Sugar o
veneno da ferida, uma vez que existe o perigo de envenenamento para quem
pratica este método e no entanto é ineficaz devido à escassa quantidade de
veneno extraído. No entanto e segundo Deresiewicz (1999), esta técnica é
benéfica para remover o veneno, se aplicada dentro de 3-5 minutos após a
mordedura, desde que realizada com um dispositivo de sucção mecânica, devendo a
sucção ser continuada por um mínimo de 30 minutos.
Sangrar a
ferida com incisões realizadas na mordedura, pois facilita a penetração do
veneno, provoca um grande risco de infecção e não é eficaz.
Colocar
precocemente um torniquete ou garrote acima da mordedura para evitar a difusão
do veneno, pela possível aparição de problemas de esquemia no membro afectado,
e inclusive choque ao retirá-lo.
Cauterizar e
aplicar barro, ervas, etc ... por se considerar inadequado.
Dar álcool
ou hipnóticos à vítima.
Classificação dos envenenamentos
por mordedura de víbora segundo a sua gravidade
Promover o transporte da vítima a
um hospital
Toda a pessoa que for mordida por uma víbora deve ser sistemáticamente
hospitalizada para receber o tratamento adequado à sua situação clínica:
Se está em
estado de choque ou evolui para o choque: deverão ser aplicados expansores de
plasma, fármacos vasopressores, e respiração assistida.
Se o quadro
clínico não é tão grave: devem ser administrados adrenalina, broncodilatadores,
anti-histamínicos, corticoides, antibióticos.
O uso de
soro anti-ofídico deve ser cuidadosamente valorizado por ser um produto não
isento de riscos importantes. Em Portugal utiliza-se o soro antiofídico
polivalente, e trata-se de um medicamento estrangeiro que necessita de
importação e necessita cuidados devido à data de validade.
Cuidados a ter
As víboras-cornudas
não atacam pessoas. Só o fazem quando se sentem ameaçadas. Como tal, não se
deve tentar agarrar uma víbora, ou qualquer tipo de cobra que não se saiba
identificar. Relativamente às víboras e principalmente a V. Seoanei, convém ter
muito cuidado, pois mesmo depois de morta e decapitada pode reagir
violentamente passados 30 ou mais minutos, ainda que tenha a cabeça separada do
corpo, através de movimentos reflexos e injectar o veneno.
Os antídotos
Os antídotos foram pela primeira vez
produzidos à mais de um século. Foi demonstrado que era possível imunizar um
animal de veneno de cobra e utilizar esta imunidade para salvar um segundo
animal de uma mordedura. Esta descoberta é ainda a base da moderna produção de
antídotos, que consiste na injecção de cavalos, em intervalos regulares, com
doses não letais e sempre crescentes de preparado de veneno extraído de cobras,
até que criem imunidade. O sistema imunitário do cavalo vai conseguindo neutralizar
as toxinas do veneno inoculado, produzindo anticorpos. São estes anticorpos,
que depois de isolados do sangue, podem ser inoculados no homem, para
neutralizar o veneno.
O tratamento mais seguro para a
mordedura de serpente é a utilização de antídotos específicos, isto se se puder
identificar a serpente “protagonista”. Caso contrário, deve proceder-se à
administração de um soro polivalente.
O antídoto existente no Hospital de
Braga (único local em toda a região Norte de Portugal onde se encontra o
antídoto contra a mordedura de víbora, segundo sondagens levadas a cabo por mim
na altura da pesquisa deste trabalho) é o soro antiofídico Pasteur, “VIPERFAV”.
È capaz de reverter a hipotensão e melhorar os sintomas que afectam o resto do
organismo, reduzindo as complicações das vítimas com alto risco. O antídoto é
eficaz inclusive dias após a inoculação do veneno, no entanto a sua acção é
mais eficaz quanto menor for o tempo decorrido entre a mordida e a aplicação do
antídoto.
Lembrem-se, na natureza não há vilões. Não matem as serpentes simplesmente por estarem vivas. Elas mantêm o equilíbrio natural comendo roedores, que transmitem doenças e os quais também são prejudiciais nas plantações.
Estudo
de pesquisa efectuado em 31 de Dezembro de 2002 por Amadeu Barros e "guardado na
gaveta" até hoje, momento que decidi partilhar convosco parte deste estudo.
Esperamos ter sido úteis na compreensão e respeito deste animal que comunga
connosco e com todo o direito, do mesmo espaço.
Boas caminhadas
Parabéns Amadeu pelo belíssimo artigo sobre as nossas simpáticas víboras que tanta falta fazem ao equilíbrio natural.Respeito-as por isso.No entanto, eu espero nunca me cruzar com nenhuma...lol.Continua a esclarecer-nos... :-))abraço amigo.Tina.
ResponderEliminarObrigada pelo elogio Tina, é para isso mesmo que nos empenhamos para agradar aos nossos seguidores.
ResponderEliminarMuito obrigado pelos esclarecimentos.
ResponderEliminarCostumo andar pela serra do Gerês e a víboras é algo que me assusta.
Ando sempre com atenção onde ponho as botas para não pisar nenhuma.
A minha companheira já viu 2 na descida dos carris, mas nem me disse nada na altura para não me ver a correr dali para fora.
Este ano quer dormir nos carris?!?!
É doida! Já dormi na serra, mas nos carris nem pensar.
Um abraço e obrigado.
Olá
ResponderEliminarLi com cuidado para saber se nos dizia a forma de as afastar. Gostaria de saber se são sensiveis a alguma coisa que as faça ir viver para outro lado..
Ponho raticida para acabar com os ratos, e não tendo que comer...
Há mais alguma forma?
Compreendo que sejam uteis,mas eu prefiro-as longe.
Grata (voltarei na esperança de ajuda)
anA
Olá Ana, Não podemos esquecer que a Serra do Gerês é o local onde vivem as duas espécies de víboras em Portugal. Este é o seu habitat natural, os estranhos somos nós. Quando elas nos ouvem a aproximar, a primeira reacção que têm é fugir (e estão na casa delas). Se tiveres calçadas umas boas botas de cano e roupa larga, as presas delas são tão pequenas que não chegam a tocar na tua pele. Devemos respeitar o seu habitat natural. Também não gostariamos que alguém arranjasse estratagemas para nos correrem de nossa casa apenas porque um vizinho não gosta de nós. Pensa no assunto.
EliminarInfelizmente as víboras entram nas casas ou andam por perto,já matei algumas.há dias o meu gato andava a tentar brincar com uma delas.era fininha e pouco maior que uma lagarta,devia ser das novas.
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