No entanto, mesmo estas técnicas
básicas necessitam de formação e treino efectuado por pessoal devidamente preparado e treinado.
Como de costume e para uma melhor
compreensão, iniciaremos o tema abordando o aspecto da anatomia que envolve
este tipo de socorro.
O aparelho cardiorespiratório
A estrutura básica do corpo
humano é a célula. Os agrupamentos de células formam os tecidos e o conjunto de
tecidos compõem os órgãos. Os órgãos formam parte dos aparelhos ou sistemas, sendo
que o conjunto destes constitui o
organismo.
As células necessitam de energia
para viver. A energia obtém-se ao realizar-se a combustão da glicose na
presença de oxigénio no interior das células nuns pequenos órgãos
intracelulares chamados mitocôndrias.
Portanto a presença de oxigénio é
fundamental para o funcionamento celular. Se for detido o consumo de oxigénio,
as células experimentam um sofrimento que pode originar a morte celular.
Aparelho respiratório
O aparelho respiratório é o
responsável pela introdução do oxigénio no organismo. Este sistema está situado
na cavidade torácica, protegido pelas costelas, pelo esterno, e pelas
vértebras. É separado da cavidade abdominal pelo diafragma.
Este aparelho é constituído por:
. As vias respiratórias.
. Os pulmões.
. A pleura.
. Os elementos motores.
Vias respiratórias
A sua função principal é a de conduzir
o ar da atmosfera para os pulmões.
São constituídas por:
. O nariz, que tem uma função
acondicionadora do ar (filtra, aquece e humidifica).
. A boca e a faringe.
. A laringe, separada do tubo
digestivo pela epiglote. É o local onde se encontram as cordas vocais.
. A traqueia.
. Os brônquios.
Os pulmões
A sua estrutura básica é composta
pelos alvéolos, que são pequenos sacos que se incham e desincham com os
movimentos respiratórios. Estão em contacto íntimo com os capilares sanguíneos
e neles realizam-se as trocas de gases que permitem incorporar oxigénio no
sangue e eliminar dióxido de carbono.
Pleura
É uma fina membrana que envolve
os pulmões e a parte interior da caixa torácica para conservar a pressão
interna. Entre a pleura aderida aos pulmões (pleura visceral) e a pleura
aderida à caixa torácica (pleura
parietal) existe um espaço virtual que em caso de pneumotórax se enche de ar e
pode chegar a comprimir e inclusive colapsar os pulmões. No caso de hemotórax,
este aspaço virtual enche-se de sangue podendo provocar os mesmos problemas
(tema já abordado em Traumatismo torácico).
Os elementos motores
. Rigidos: caixa torácica,
formada pela coluna vertebral, pelas costelas e pelo esterno.
. Móveis: os músculos (diafragma, intercostais, etc).
. Reguladores: nervos e centro
respiratório, situado no bolbo raquideano.
Dinâmica do aparelho
respiratório
A entrada e a expulsão de gases
realiza-se devido aos movimentos respiratórios que são:
. A inspiração (entrada de ar).
. A expiração (saída de ar)
A inspiração realiza-se devido a
uma elevação das costelas e um relaxamento do diafragma, que provocam um
aumento da capacidade intratorácica, originando assim a entrada de ar. É um
movimento activo que requer trabalho muscular.
A expiração é o processo inverso
e origina a expulsão do ar. É um movimento passivo que se realiza devido à
elasticidade dos elementos móveis. A frequência respiratória normal num adulto
saudável, oscila entre 12 e 16 respirações por minuto.
Aparelho cardiovascular
Tem a função de distribuir o
oxigénio por todo o corpo. Está formado por:
. Uma bomba: o coração.
. Um sistema de canais: Os vasos
sanguíneos.
. Um fluído transportador: o
sangue.
O coração
É um músculo vazio, situado na
cavidade torácica, chamado miocárdio. Efectua uns movimentos de contracção
(sístole) e relaxamento (diástole), chamados batimentos, que provocamo
movimento do sangue pelos vasos sanguíneos. Os batimentos podem ser detectados mediante
a transmissão pulsante que fazem as artérias (pulso). O coração de um adulto
saudável, em repouso bate 60 a 80 vezes por minuto.
Os vasos sanguíneos
Fundamentalmente existem três
tipos de vasos:
. Vasos de saída do coração:
artérias.
. Vasos de entrada no coração:
veias.
. Vasos de trocas de gases nas
células: capilares.
Os vasos sanguíneos formam
dois ciclos:
. Grande circulação: vai desde o
ventrículo esquerdo até à aurícula direita, passando por todo o organismo.
Envia oxigénio a todo o organismo através das artérias. O oxigénio que circula
pelo sangue através deste circuito, atravessa as paredes dos vasos e chega às
células onde participa na combustão da glicose para obter energia.
. O dióxido de carbono que resulta da reacção do oxigénio na presença da
glicose, atravessa a parede celular e a dos vasos, incorporando-se na corrente
sanguínea para retornar ao coração, através das veias, pela aurícula direita.
. Pequena circulação: vai desde o
ventrículo direito até à auricula esquerda, passando pelos pulmões.
. O dióxido de carbono que circula pelo sangue, atravessa a parede dos
vasos e dos alvéolos pulmonares, sendo expulso. O oxigénio percorre o caminho
inverso e incorpora-se no sangue de retorno ao coração através da aurícula
esquerda.
O sangue
É o fluído que circula pelos
vasos. É composto por uma parte líquida, o plasma, e uma parte sólida, as
células. Entre as células existem os glóbulos vermelhos que são os
transportadores do oxigénio.
Reanimação cardiopulmonar
A reanimação cardiopulmonar (RCP)
consiste num conjunto de técnicas que se aplicam a um paciente em situação de
paragem cardiorrespiratória. Estas técnicas, como são fundamentalmente
práticas, necessitam de uma aprendizagem, uma actualização e um treino
periódico que se podem adquirir nos
cursos de socorrismo. As técnicas de RCP estão constantemente a ser
actualizadas.
A RCP básica consiste em manter a
via aérea da vítima livre e permeável, assegurando a ventilação e a circulação
sem a intervenção de equipas médicas ou medicações especiais.
O socorrista/montanheiro centrará
os seus pontos de actuação nos seguintes aspectos: Avaliação inicial da
consciência, permeabilidade das vias aéreas e compressões cardíacas externas.
A paragem cardíaca é uma paragem
brusca do batimento cardíaco, comprometendo a circulação sanguínea e portanto, do transporte
de oxigénio aos tecidos. Caracteriza-se pela perda de conhecimento, a ausência
de pulso e de movimentos respiratórios.
A consciência perde-se entre três
e onze segundos depois da interrupção do fluxo sanguíneo cerebral. Portanto, um
ferido que esteja semiconsciente, não estará em paragem cardíaca.
A falta de oxigénio por um
período de entre três e dez minutos pode produzir lesões irreversíveis no
cérebro. A cianose (pele azulada nas extremidades) não costuma aparecer até que
a hipoxemia (descida do oxigénio no sangue) seja grave (saturação de oxigénio
<80 p="">80>
A dilatação pupilar aparece 30 a
60 segundos após o início do quadro clínico e pode orientar sobre a eficácia da
reanimação, não tendo este sinal, no entanto, valor em hipotérmicos (vítimas em
estado de hipotermia, já abordado num tema anterior).
Tendo estas referências, devem ser avaliadas e identificadas as
situações de risco vital e simultaneamente ser iniciado o tratamento que se
mostrar adequado.
Não se deve tardar mais do que 10
a 20 segundos para efectuar esta avaliação funcional e em iniciar a reanimação
cardiopulmonar básica, caso assim se revele necessário.
As técnicas de suporte básico de
vida visam manter uma oxigenação e circulação adequadas, sem o recurso a
equipamentos que não sejam os estritamente necessários para assegurar as
medidas de protecção na insuflação, como seja por exemplo o uso de máscara de protecção na
execução das insuflações.
Os primeiros minutos são decisivos
para as hipóteses de sobrevivência da
vítima.
Várias situações podem originar
uma paragem cardio-pulmonar, tais como o enfarte agúdo do miocárdio, a
obstrução das vias aérea, etc.
O que fazer?
Não se deve fazer qualquer
aproximação a uma vítima sem primeiro serem verificadas as condições de
segurança. Num cenário instável, o socorrista/montanheiro pode tornar-se mais
uma vítima. Garantida a segurança, deve ser feita a aproximação à vítima e deve
ser avaliado o seu estado de consciência, tocando suavemente os ombros da
vítima e chamando por ela.
Se a vítima não reagir aos
estímulos, deve-se colocá-la de costas (isto se não houver suspeitas de lesões
cervicais ou outras graves que impeçam a sua mobilização).
De seguida deve-se fazer a
abertura da via aérea utilizando o método de extensão da cabeça, com elevação
do maxilar inferior e executar o “VOS” (Ver – existência de movimentos torácico
abdominais, Ouvir – o ruído da inspiração/expiração, e Sentir – a saída de ar na face do
socorrista) para avaliar se a vítima tem
uma ventilação eficaz.
Na suspeita de lesão vertebro-medular,
deve-se substituir a técnica de extensão da cabeça e elevação do maxilar
inferior, pela técnica de elevação da mandíbula.
Como executar a técnica da
extensão da cabeça e elevação do maxilar inferior:
1 – Colocar uma mão na testa da
vítima, libertando os dedos indicador e polegar. Estes servirão para apertar o
nariz se for necessário fazer insuflações.
2 – Inclinar a cabeça da vítima
ligeiramente para trás.
3 – Dois dedos da outra mão deverão
ser colocados sob o maxilar inferior,
fazendo uma ligeira tracção para cima.
Como executar a técnica da
elevação da mandíbula:
1 – Os dedos polegares são
colocados de cada um dos lados da boca, sobre a mandíbula.
2 – Os restantes dedos de cada
uma das mãos.ficam sob o ângulo da mandíbula, fazendo força para cima e para a
frente.
2 – Os restantes dedos de cada
uma das mãos, ficam sob o ângulo da mandíbula, fazendo força para cima e para a
frente.
3 – Os polegares ajudam a manter
a boca aberta.
Se a vítima não ventila
O socorrista/montanheiro pode
fazer a pesquisa do pulso na artéria carótida. Contudo, se não tiver treino ou
surgir alguma dúvida sobre a presença ou não de circulação, o
socorrista/montanheiro deve proceder como se tratasse de ausência de
circulação. Assim deve iniciar as compressões torácicas. Deve verificar se a
vítima se encontra sobre uma superfície dura e plana ou procurar colocá-la num
plano duro de forma a garantir a eficácia das compressões torácicas.
Se o socorrista/montanheiro tiver
a certeza que a vítima se encontra apenas em paragem ventilatória, deve
executar 10 insuflações por minuto, fazendo de seguida nova avaliação do pulso
e/ou sinais de circulação
Técnica de compressão torácica:
1 – Colocar a base de uma mão na
metade inferior do esterno, na linha média do tórax, e colocar a outra mão
sobre a primeira, entrelaçando e levantando os dedos.
2 – Não fazer pressão sobre as
costelas, na parte superior do abdómen ou sobre o apêndice xifóide (ponta
interior do esterno).
3 – Manter os braços esticados,
perpendicularmente ao tórax da vítima.
4 – Pressionar o tórax 4 a 6
centímetros, 30 vezes. Após cada compressão aliviar totalmente, sem perder o
contacto com o esterno, e fazer as compressões a um ritmo de 100 por minuto. O
tempo de compressão é igual ao tempo de descompressão.
Depois de fazer 30 compressões
torácicas, e através de um insuflador manual de balão (se existir),
de uma máscara de bolso (que deve
existir),
ou em ultimo recurso através do método de boca-a-boca,
insuflar suavemente, enquanto se observa a
elevação do tórax. Fazer a insuflação durante um segundo. A quantidade de ar a
insuflar é a estritamente necessária para elevar o tórax, ou seja
aproximadamente 700 a 1.000 ml de ar, o qual é suficiente para conseguir uma
adequada ventilação, se for insuflada uma quantidade maior de ar e insuflado
rapidamente, aumenta o risco de insuflação gástrica (entrada de ar no estômago,
provocando distensão, com perigo de regurgitação e aspiração de vómito. Um
estômago distendido, também diminui a capacidade de expansão torácica durante a
insuflação).
No final de cada insuflação
deve-se observar a descida do tórax. Fazer nova insuflação. Após duas
insuflações, volta-se às 30 compressões torácicas.
O método de insuflação
boca-a-nariz pode ser uma alternativa, quando o boca-a-boca é impossível quer devido
a lesão da boca, ou por incapacidade de boa selagem ou em vítimas de afogamento
ainda na água, ou quando não está disponível um insuflador.
Se a insuflação inicial não fizer
o tórax expandir, deve-se verificar:
. Se existe algum corpo estranho
na boca, o qual se deve retirar apenas se estiver visível.
. Se existem secreções, vómito ou
sangue.
. Se a posição da cabeça está
correcta.
Não se deve tentar fazer mais do
que as duas insuflações sem fazer compressões torácicas. Se houver mais do que
um socorrista/montanheiro a fazer a reanimação, devem trocar de posição após
cada dois minutos para evitar a fadiga.
Até quando se devem manter as
manobras de suporte básico de vida:
. Quando chegar alguém mais
qualificado ou à chegada ao hospital.
. Quando a vítima começar a
ventilar de forma eficaz.
. Ocorrendo a exaustão do
socorrista/montanheiro.
Se por alguma razão não for
possível efectuar a insuflação, deve-se
fazer apenas as compressões torácicas a um ritmo de 100 por minuto. Esta
manobra deve ser suspendida logo que a vítima recupere a ventilação eficaz.
Método de insuflação
boca-a-boca
1 – Fechar o nariz da vítima com
os dedos indicador e polegar da mão que faz a extensão da cabeça.
2 – Manter a boca da vítima
aberta.
3 - Fazer uma inspiração normal e adaptar a sua
boca à boca da vítima de forma a obter uma selagem perfeita. Insuflar durante
um segundo.
Método de insuflação
boca-a-nariz
Com a cabeça na mesma posição que
no método de boca-a-boca, manter o nariz liberto e, com os dois dedos na
mandibula, fazer pressão para manter a boca fechada. De seguida fazer uma inspiração normal e
adaptar a sua boca ao nariz da vítima de forma a obter uma selagem perfeita.
Insuflar durante um segundo.
Complicações da RCP
. Fracturas de costelas e
esterno.
. Hemotórax (sangue entre a caixa
torácica e o pulmão).
. Pneumotórax (ar entre a caixa
torácica e o pulmão).
. Hemopericárdio (sangue entre o
coração e o tecido que o envolve).
. Lesão de fígado e baço.
Para prevenir estas complicações
deve-se nomeadamente, evitar comprimir sobre a ponta do esterno, evitar que os
dedos toquem as costelas e evitar movimentos bruscos.
Esperemos que nunca necessitem
executar estas técnicas, no entanto são movimentos simples que salvam vidas.
Frequentem um curso de primeiros socorros e enriqueçam a vossa sabedoria para
um dia poderem dizer, “salvei uma vida”, e para que não se arrependam um dia de
dizer “podia ter salvado uma vida”.
Boas caminhadas ….
Sem comentários:
Enviar um comentário
comentários