(… continuação)
Escorpiões ou lacraus
Os escorpiões não atacam, a menos que sejam muito provocados. As
crianças são as vítimas mais frequentes destes acidentes (por exemplo, sapatos
que se calçam no campo, sem primeiro serem sacudidos). O veneno é injectado
através de um ferrão localizado na extremidade da cauda do animal, denominado aguilhão.
A ferroada do escorpião produz edema, que pode ser ligeiro ou bastante
acentuado, resultando daí uma forte dor e, por vezes, a descoloração da pele.
Há também taquicardia, secreções excessivas e movimentos oculares errantes.
Sinais e sintomas:
. Dor intensa.
. Edema e eritema local que costumam passar ao fim de 48 horas.
. As reacções sistémicas são raras.
Actuação de emergência
. Contactar as equipas de resgate
. Limpar a ferida e desinfectá-la
. Aplicar frio indirectamente sobre o local lesado (por exemplo, gelo
ou sacos de frio instantâneo envolvidos num pano limpo e sem pêlos), até à
chegada de ajuda diferenciada
. Manter em repouso a extremidade ou zona afectada
. Infiltração subcutânea com anestesia local (efectuado por
equipas especializadas).
. avaliar, registar e vigiar as funções vitais
Mordedura de animais mamíferos
A maior parte das histórias de perigos provenientes dos animais de
grande porte é ficção, no entanto qualquer animal atacará quando se sentir
encurralado. Muitos animais são perigosos quando feridos ou quando protegem os
filhos. Os velhos animais solitários e escorraçados, dos bandos ou matilhas,
são muitas vezes conflituosos e agressivos. As mordeduras de todos os canídeos
(cães, chacais, raposas, etc), bem como de outros carnívoros podem transmitir a
raiva.
Os cães causam imensas mordeduras. Cerca de 15-20% das feridas por
mordedura de cão infectam-se. As mordeduras são mais frequentes nos membros e,
destes, as mais perigosas são nas mãos.
Relativamente aos felinos, mais de metade das mordeduras e escoriações
causam infecção. As feridas por mordeduras humanas infectam-se mais
frequentemente do que as feridas de mordeduras de outros animais.
As mordeduras apresentam duas complicações, principalmente:
. A infecção (por exemplo, tétano), devido a bactérias como as Staphylococus
aureus, Eykenella corrodens, Pasteurela multocida e Capnocytophaga canimorsus,
provocando esta última, sépsia, alterações da coagulação e insuficiência
cardiopulmonar e renal.
. A raiva, doença mortal devido a um vírus que existe na saliva do
animal doente, e que se transmite ao homem por contacto directo (mordedura,
escoriação, ou saliva depositada sobre uma ferida).
Actuação de emergência:
. Examinar a vítima.
. Alertar as equipas de resgate.
. Se não existir apoio diferenciado, deve-se transportar a vítima até
um centro de saúde para profilaxia antitetânica e vacinação anti-rábica.
. Lavar meticulosamente e abundantemente a ferida com soro fisiológico
e desinfectar com anti-séptico. Remover tecidos desvitalizados.
. Controlar a hemorragia (caso ocorra).
. Cobrir a ferida com um penso esterilizado.
. Tentar identificar o animal que efectuou a mordedura e tentar
averiguar se está contaminado com o vírus da raiva.
Prevenção:
Se nos deparamos com um animal perigoso, deve-se seguir as seguintes
regras:
. Não entrar em pânico. Não fazer movimentos bruscos. Afastar-se
lentamente.
. Não fazer nada que leve o animal a sentir-se encurralado ou
ameaçado.
Para evitar o contacto com animais perigosos:
. Manter o acampamento limpo.
. Manter todos os alimentos fora da vista e, se possível, trancados.
. Não comer nem guardar alimentos no abrigo.
. Limitar as actividades nocturnas. A maior parte dos animais de
grande porte caçam à noite.
. Nunca incomodar um covil e nunca se deixar apanhar entre a mãe e os
filhos.
Serpentes
As cobras venenosas são raras na maior parte dos países desenvolvidos,
contudo no mundo inteiro, pelo menos cerca de 30.000 a 40.000 pessoas morrem
todos os anos devido a acidentes ofídicos.
Em Portugal, a cobra-rateira, também conhecida por cobra-de-colchete,
é frequente em todo o país, nos lugares secos, rochosos ou pedregosos, entre a
vegetação e nas galerias escavadas pelos roedores.
Quanto às víboras, existem em Portugal duas espécies a víbora-cornuda
e a víbora-europeia ou víbora-nortenha.
A primeira é a maior serpente
existente no nosso país, tem movimentos lentos e vive em terrenos secos,
gostando de se expor ao sol. A víbora-europeia é muito tímida e não ataca
espontaneamente, no entanto, se for pisada defende-se, mordendo agressivamente.
Note-se que esta víbora depois de decapitada, pode reagir violentamente
passados 30 minutos ou mais, ainda que tenha a cabeça separada do resto do
corpo. Habita os terrenos secos, rochosos ou cobertos de arbustos,
principalmente nas regiões do Minho e Trás-os-Montes.
Em Portugal não existem registos de casos mortais devido a picadas de
víboras.
Sinais e sintomas:
Os efeitos clínicos do envenenamento dependem do tamanho, da espécie
da víbora, da idade e altura da vítima, do tempo decorrido desde que se deu a
mordedura e das características da mordedura em si.
Em geral. As mordeduras de víbora produzem a seguinte sintomatologia:
. Lesão, que consiste em dois pontos vermelhos, separados entre si por
um centímetro aproximadamente, dolorosos, por onde se inocula o veneno.
. Inflamação progressiva do local.
. Equimose da pele.
. Edema considerável.
. Cerca de 30 minutos mais tarde, altera-se o estado geral, mal-estar,
náuseas, sudação, cefaleias, dispneia, taquicardia, hipotensão, parestesias.
Actuação de emergência:
. Contactar as equipas de resgate da área.
. Contactar o CIAV (Centro de Informações Anti-Venenos) (em Portugal
808 250 143), se possível, para obter ajuda no tratamento da vítima até à
chegada de ajuda diferenciada.
. Tranquilizar a vítima
. Pode-se colocar uma ligadura entre a ferida e o coração, que impeça
unicamente o retorno venoso e faça oclusão linfática – Garrote Venoso. Este
garrote pode ser eficaz se aplicado até 30 minutos após a mordedura. O garrote
venoso não deve ser apertado a ponto de interferir com o fluxo arterial.
. Manter em repouso a zona afectada, procurando estar tranquilo e
imobilizar qualquer extremidade mordida em posição neutral abaixo do nível do
coração (por exemplo, com uma tala).
. Não efectuar incisões na ferida.
. Não sugar o veneno com a boca.
. Não aplicar frio local.
. Desinfectar a ferida com anti-séptico.
. Avaliar, registar e vigiar continuamente as funções vitais, com
particular atenção para os sinais e sintomas de choque.
Nos Pirinéus existem dois tipos de serpentes venenosas
Vibora (Vipera Aspis)
A víbora mede de 60 a 75 cm de comprimento, com actividade diurna e
nocturna. Não ataca se não for pisada, raramente causa acidentes mortais,
devido ao seu pequeno tamanho e à pequena quantidade de veneno inoculado.
Apesar de evitar as temperaturas extremas de calor e frio e as altitudes
elevadas, já foi avistada a 3.000 metros nos Alpes.
Cobra de Montpellier (Malpolon
monspessulamus)
Com 2 – 2,5 metros de comprimento, vive em zonas de mato, árvores e de
cultivo, tendo uma actividade exclusivamente diurna. Trepa e inclusive nada, é
agressiva, emite um síbilo, incha o pescoço e poe-se de pé. É a maior serpente
e apenas causa acidentes leves, nunca mortais.
As mordeduras de víbora não são raras (2.000 mordeduras anuais em
França). São mais frequentes na Primavera e no Outono, e afectam principalmente
os braços. No estado Espanhol produzem entre 3 a 7 mortes anuais.
Entre 30% e 40% das mordeduras não têm veneno (mordeduras secas). A
gravidade do envenenamento depende da quantidade de veneno injectado, da idade
da vítima e dos seus antecedentes.
Sinais e sintomas:
Locais:
. Dor que desaparece lentamente em alguns minutos ou horas.
. Edema (inchaço), é o principal sinal de envenenamento. Pode ser
ligeiro, se apenas se tratar de um edema local, moderado quando afecta todo o
membro, e grave se passar a raiz do
membro e se difundir para o tórax e abdome generalizando-se. O aparecimento de
uma reacção edematosa precoce à distância (língua, laringe, lábios) leva a
suspeitar de uma grave reacção de hipersensibilidade.
. Avermelhamento e hematomas na pele,
e bolhas cheias de sangue.
Generalizados:
. Transtornos digestivos: náuseas, vómitos, dor abdominal em cerca de
60% dos casos.
. Transtornos neurológicos: vertigens e dor de cabeça nos casos leves,
e, convulsões, agitação, coma, nos casos mais graves.
. Transtornos cardiovasculares leves: hipotensão, taquicardia em cerca
de 60% dos casos.
. Transtornos da coagulação.
As principais complicações são o choque, edema pulmonar, insuficiência
renal e aparecimento de hemorragias. A morte é pouco frequente (1%) e acontece
em crianças, idosos e pessoas debilitadas ou hipersensíveis ao veneno.
No caso das cobras, as manifestações clinicas são parestesias (formigueiro),
edema local, ptosis palpebral (pálpebras caídas), e transtornos respiratórios,
da fala e da deglutição.
Tratamento:
Em primeiro lugar, constatar que realmente existiu mordedura de
serpente. No caso da víbora, observam-se duas pequenas feridas separadas um
centímetro, e no caso da cobra, duas feridas de punção paralelas ou um pouco
divergentes.
A) Nos primeiros minutos e até à primeira hora:
. Conservar a tranquilidade e lembrar que muitas mordeduras não contém
veneno e que o risco de problemas graves, é baixo. A vítima não se deve excitar
nem correr, pois o movimento acelera a circulação do sangue, e portanto, o
movimento do veneno para o resto do corpo, pelo que deve ser transportada para
o centro hospitalar mais próximo com o mínimo de esforço possível por parte do
ferido.
- Sugar com uma seringa (Aspivenin) durante 20-30 minutos. Deve-se
fazer nos primeiros 2-3 minutos, pois se for efectuado depois de 5 minutos, a
efectividade é praticamente nula. Estão contra-indicados os desbridamentos
(cortes) amplos e os torniquetes, pois podem provocar a difusão do veneno e das
infecções secundárias.
. Efectuar limpeza abundante com água e sabão. Aplicação de
Antisépticos iodados quando seja possível.
. Imobilizar a zona afectada.
. Transporte para um centro hospitalar.
B) No hospital revê-se a ferida para confirmar que não ficou preso um
pedaço de dente, verifica-se a vacinação anti-tetânica e administram-se
antibióticos.
A vítima permanecerá umas 6 horas em observação e se existirem sinais locais
ou generalizados, hospitaliza-se a vítima durante pelo menos 24 horas.
O médico avaliará se estão indicados os anti-histaminicos, corticoides
(edema rapidamente progressivo ou transtornos respiratórios devido a edema da
laringe), heparina (risco particular de tromboembolia) e o soro antiofídico
(apenas utilizado em casos de sinais graves, principalmente em crianças e se
existirem sinais neurológicos ou um edema que se espalha rapidamente, e, sempre em meio hospitalar, pois existe o
risco importante de produzir reacções graves). A aplicação de compressas
empapadas em água de Burow durante 15 minutos, a cada 6 horas lavando
posteriormente com água oxigenada podem reduzir a inflamação cutânia.
Prevenção:
. Levar botas altas e calças grossas.
. Na zona onde possam existir serpentes, deve-se caminhar fazendo
barulho e evitando as zonas pedregosas, as rochas quentes por acção do sol e as
zonas onde o sol incide mais. De noite, deve-se caminhar pelas zonas amplas,
evitando zonas de bosque.
. Não colocar as mãos nos buracos das árvores nem em covas.
. Não levantar pedras nem remover bosta seca sem precauções prévias.
. Não tentar capturar nenhuma serpente.
. Não deixar as tendas nem os sacos e mochilas abertos.
Picadas de aranhas:
Somente uma pequena parte do total de espécies de aranhas se defende
agressivamente e possui quelíceras (o par de extremidades mais anteriores está
provido de pinças (quelícera) que é característica dos quelicerados (por
exemplo, aranhas, escorpiões, ácaros, carraças), capazes de penetrar na pele
humana. A maioria das mordeduras de aranha são dolorosas mas com consequências
inofensivas. Algumas espécies, contudo, como por exemplo, as aranhas reclusas
castanhas ou com dorso de rabeca (espécie do género Loxosceles) e as aranhas
viúva negra (espécie do género Latrodectus) podem ameaçar a vida da vítima.
Aranha reclusa castanha
À picada da aranha reclusa
castanha (Loxosceles reclusa) e de outras variedades de aranhas sucede necrose
(morte rápida dos tecidos) intensa da pele e tecido subcutâneo.
No início a mordedura é indolor ou pode produzir uma sensação de ardor. Nas horas seguintes
surge um quadro clínico distinto.
Sinais e sintomas:
. Dor
. Pruído
. Endurecimento no local da inoculação, que fica circundado por zonas
de isquémia e eritema.
Típicamente, as lesões resolvem-se sem tratamento em 2-3 dias. Nas
situações mais graves, o eritema expande-se e a lesão torna-se hemorrágica e
necrótica com uma flictena sobrejacente. Pode haver lesão dos nervos locais e
aparecimento de infecção.
Nos três dias seguintes à mordedura podem aparecer:
. Hipotermia
. Calafrios
. Cefaleias
Actuação de emergência:
. Alertar as equipas de resgate da área.
. Limpar a ferida e desinfectá-la.
. Arrefecer a zona com aplicação de frio indirectamente.
. Elevar a zona atingida e imobiliza-la.
. Avaliar, registar e vigiar constantemente as funções vitais.
. Tentar identificar a aranha agressora, existe tratamentos
específicos para as mordeduras por aranhas reclusas castanhas.
Viúva Negra
A aranha Viúva Negra (Latrodectus mactani) fêmea, também conhecida por
aranha-ampulheta devido à sua configuração, possui uma cor preta brilhante com
uma marca distinta de coloração vermelha ou laranja-amarelada, sob a forma de
uma ampulheta, no seu ventre. Existem espécies grandes e pequenas, tendo a
maior 4 cm de comprimento quando com as patas estendidas.
A vítima pode não sentir a picada ou então é sentida como uma picada
aguda.
A viúva negra possui uma neurotoxina que raramente pode originar a
morte. Na europa apenas existe a Latrodectus tredecimguttatus.
Sinais e sintomas:
. Possibilidade de coma
. Ansiedade
. Astenia
. Dispneia
. Taquicardia
. Hipertensão arterial
. Parestesia
. Dor no local da picada, durante duas horas aproximadamente.
. Ocasionalmente, no local de penetração das quelíceras poderão
aparecer dois pontos vermelhos.
. Eritema ligeiro
. Edema
. Espasmos musculares na extremidade afectada, com disseminação para
os músculos dos membros e dorso dentro de 30-60 minutos.
. Disseminação da dor intensa no abdome, que pode ficar rígido (em
tábua), simulando uma peritonite, todavia o abdome não está doloroso à palpação.
. Rigidez do tórax
. Náuseas/vómitos
. Cefaleia
. Sudação
. Sialorreia (prialismo, correspondendo a uma secreção anormal,
excessiva de saliva).
. Pode ocorrer morte por paragem cardiopulmonar, hemorragia cerebral,
ou insuficiência cardíaca.
Actuação de emergência:
. Fazer uma análise sucinta da vítima.
. Contactar as equipas de resgate da área.
. Limpar a ferida e desinfectá-la.
. Aplicar frio local com gelo envolto num pano durante cerca de 15
minutos.
. Avaliar, registar e vigiar constantemente as funções vitais.
. Tentar identificar a aranha agressora, existe tratamentos
específicos para as mordeduras por aranhas viúva-negra.
Tratamento por pessoal diferenciado:
. Para tratar o espasmo muscular pode-se usar gluconato cálcico,
metocarbamol, diazepán e narcóticos com êxito limitado. A combinação de
diazepán e narcóticos provavelmente será mais eficaz do que outros tratamentos
sintomáticos.
. A hipertensão trata-se com repouso em cama, analgésicos opiáceos e
diazepán.
. O soro antilatrodectus pode provocar reacções alérgicas graves e
portanto reserva-se para reacções importantes em pessoas menores de 16 anos e
maiores de 60 anos de idade, grávidas e cardiopatas.
Tarântula (Lycosa fasciventris)
As manifestações clinicas são similares à picada de himenóptero, sem
que se tenham registado reacções sistémicas. O tratamento é sintomático, como
no caso dos dípteros.
Muitas mais espécies de animais venenosos poderíamos abordar, mas
perante o exposto, ficamos cientes que o
maior tratamento que pode existir em relação a envenenamentos e intoxicações
provocados por animais, é reconhecê-los e respeita-los, evitando-os.
Boas caminhadas… e observem onde colocam os pés.
muito bem mesmo
ResponderEliminarEspetaculo ja partilhei...
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