Considerações médicas
Um meio
hipobárico-hipóxico representa para o corpo um stress único, que não ocorre em
nenhum outro ambiente da terra. Esse agente stressante não é nada mais do que o
ar com um baixo teor de oxigénio devido a uma maior pressão atmosférica. Uma
aclimatação bem feita permite a uma pessoa, adaptar-se à hipoxia,
principalmente no aspecto de aumentar a chegada de oxigénio às células.
Os problemas médicos
provocados pela hipoxia em altitude, estão relacionados com a aclimatação. Se a
aclimatação à altitude for completa e o corpo compensar a hipoxia de forma
adequada, não ocorrerão problemas médicos, e se estes existirem serão limitados.
Uma aclimatação incompleta poderá acarretar vários estados fisiológicos e
condições clínicas que são conhecidos como “mal de altitude”.
O risco de ocorrer o
mal de altitude aumenta quanto maiores sejam, a velocidade da subida, a
altitude alcançada e a duração da estadia em altitude. Outras variáveis
críticas incluem, a idade, o género, o estado de saúde, a experiência prévia em
altitude e a hereditariedade. Alguns outros factores podem ser críticos ou não
para que surjam problemas médicos, incluindo a alimentação, a desidratação, as
infecções e o estado emocional.
A seguinte tabela
representa uma visão geral de três condições médicas relacionadas com a
altitude.
Mal de altitude
O mal de altitude
implica um complexo de sintomas que ocorre principalmente em residentes ao
nível do mar, que não estão aclimatados e ascendem rapidamente a grande
altitude. Os sintomas clínicos do mal de altitude podem ser muito debilitantes.
Costumam ocorrer entre 6 e 12 horas após a ascensão, alcança a sua máxima
intensidade entre 24 e 48 horas e resolve-se entre 3 a 7 dias, ao ocorrer a
aclimatação.
Poucas pessoas
experimentam sintomas a altitudes tão baixas como 2.400 metros, no entanto o
mal de altitude pode ocorrer acima dos 3.000 metros. Praticamente, todas as
pessoas sofrerão alguns sintomas se a ascensão for rápida e acima dos 4.300
metros. A aclimatação a uma altitude intermédia diminui a incidência do mal de
altitude, no entanto, mesmo pessoas bem aclimatadas costumam sofrer dores de
cabeça após alcançar os 5.500 metros.
Ainda que a causa
básica do mal de altitude esteja relacionada provavelmente com o inchaço
(edema) do cérebro, que se segue a uma hipoxia hipobárica, os seus sintomas não
se vêm compensados inalando oxigénio suplementar. Nos casos ligeiros ou graves
de mal de altitude, a retenção e redistribuição de líquidos, originam uma maior
pressão intra-craneana e inchaço dos pulmões, o que vai piorar o intercâmbio de
O2 e de CO2. Um motivo dessa retenção de líquidos é motivada pelos rins, que
trabalham com uma grande falência de água. Ao mesmo tempo, o líquido move-se de
maneira selectiva dentro do espaço intracelular.
Um mal de altura
grave, dá a um alpinista uma sensação de “tremenda opressão” em que até o
mínimo trabalho físico é esgotante. O sintoma normal de dor de cabeça pode
aumentar para uma intensidade cruel. A apatia pode ser interrompida por ataques
de irritabilidade. Por fim, uma pessoa pode ficar incapacitada de fazer alguma
coisa.
O tratamento do mal de
altitude consiste em descer para níveis mais baixos da montanha, respirar
oxigénio suplementar e tomar o medicamento acetazolamida (Diamox). Convém
continuar a perder altitude até os sintomas reverterem. Muitas vezes, é
suficiente a descida de 300 metros.
Os médicos, os
alpinistas experientes e os fisiologistas, recomendam várias técnicas para
prevenir o mal de altitude. Estas técnicas incluem directrizes tais como, subir
a montanha pouco a pouco, alimentação, exercício e medicação. Subir a montanha
pouco a pouco, quer dizer fazer a ascensão por etapas. Deve-se passar duas ou
três noites a 2.500 ou 3.000 metros antes de se subir mais, e por cada 600 ou
900 metros adicionais que se queira subir, deve-se adicionar mais outra noite
de descanso. Deve-se evitar aumentos bruscos de mais de 600 metros em altitude,
a que se deve dormir após se superar os 2.500 metros. Fazer ascensões durante o
dia a altitudes mais elevadas pode ajudar a aclimatar, se de seguida se dormir
mais abaixo. Este conselho adequa-se bem por uma frase muito utilizada “sobe
alto, dorme baixo”.
Num grupo de soldados
aos quais se obrigou a subir rapidamente até 4.300 metros verificou-se que uma
alimentação rica em hidratos de carbono (>70% das calorias totais) reduziu
os sintomas de mal de altitude em cerca de 30% e aumentou o nível de O2 do sangue
arterial. Acredita-se que um sobre-esforço contribui para adquirir o mal,
talvez porque seja algo que se acrescente ao esforço total que recebe o corpo
humano. No entanto, um exercício moderado parece que ajuda a aclimatar.
A acetazolamida também
é eficaz como medida preventiva contra o mal de altitude. Este medicamento
ajuda a aclimatar a respiração, previne períodos de hipoxia extrema, e mantém
níveis de oxigénio mais altos no sangue durante o sono. A acetazolamida também
tem outro efeito importante que é neutralizar a retenção de líquidos, pois é um
diurético. Existem numerosos estudos que indicam que a acetazolamida é eficaz em
cerca de 75%, na prevenção do mal de altitude, nos visitantes a altitudes de
4.000 a 4.500 metros. Este medicamento, sendo membro da família das sulfamidas,
obriga a tomar precauções com a acetazolamida, se a pessoa for alérgica a estes
fármacos, pois pode originar hipersensibilidade.
A dexametasona
proporciona propriedades preventivas alternativas, mas é menos eficaz do que a
acetazolamida e tem vários efeitos secundários menos desejados. No entanto, uma
combinação de acetazolamida e uma dose pequena de dexametasona parece ser mais
eficaz do que a acetazolamida isolada, para melhorar os sintomas de mal de
altitude.
Na próxima semana
voltaremos ao mesmo tema, até lá…
Boas caminhadas
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