13 agosto 2014

Altitude: o ambiente hipobárico da Terra (10)




Considerações médicas

Um meio hipobárico-hipóxico representa para o corpo um stress único, que não ocorre em nenhum outro ambiente da terra. Esse agente stressante não é nada mais do que o ar com um baixo teor de oxigénio devido a uma maior pressão atmosférica. Uma aclimatação bem feita permite a uma pessoa, adaptar-se à hipoxia, principalmente no aspecto de aumentar a chegada de oxigénio às células.





Os problemas médicos provocados pela hipoxia em altitude, estão relacionados com a aclimatação. Se a aclimatação à altitude for completa e o corpo compensar a hipoxia de forma adequada, não ocorrerão problemas médicos, e se estes existirem serão limitados. Uma aclimatação incompleta poderá acarretar vários estados fisiológicos e condições clínicas que são conhecidos como “mal de altitude”.





O risco de ocorrer o mal de altitude aumenta quanto maiores sejam, a velocidade da subida, a altitude alcançada e a duração da estadia em altitude. Outras variáveis críticas incluem, a idade, o género, o estado de saúde, a experiência prévia em altitude e a hereditariedade. Alguns outros factores podem ser críticos ou não para que surjam problemas médicos, incluindo a alimentação, a desidratação, as infecções e o estado emocional.





A seguinte tabela representa uma visão geral de três condições médicas relacionadas com a altitude.






Mal de altitude

O mal de altitude implica um complexo de sintomas que ocorre principalmente em residentes ao nível do mar, que não estão aclimatados e ascendem rapidamente a grande altitude. Os sintomas clínicos do mal de altitude podem ser muito debilitantes. Costumam ocorrer entre 6 e 12 horas após a ascensão, alcança a sua máxima intensidade entre 24 e 48 horas e resolve-se entre 3 a 7 dias, ao ocorrer a aclimatação.





Poucas pessoas experimentam sintomas a altitudes tão baixas como 2.400 metros, no entanto o mal de altitude pode ocorrer acima dos 3.000 metros. Praticamente, todas as pessoas sofrerão alguns sintomas se a ascensão for rápida e acima dos 4.300 metros. A aclimatação a uma altitude intermédia diminui a incidência do mal de altitude, no entanto, mesmo pessoas bem aclimatadas costumam sofrer dores de cabeça após alcançar os 5.500 metros.





Ainda que a causa básica do mal de altitude esteja relacionada provavelmente com o inchaço (edema) do cérebro, que se segue a uma hipoxia hipobárica, os seus sintomas não se vêm compensados inalando oxigénio suplementar. Nos casos ligeiros ou graves de mal de altitude, a retenção e redistribuição de líquidos, originam uma maior pressão intra-craneana e inchaço dos pulmões, o que vai piorar o intercâmbio de O2 e de CO2. Um motivo dessa retenção de líquidos é motivada pelos rins, que trabalham com uma grande falência de água. Ao mesmo tempo, o líquido move-se de maneira selectiva dentro do espaço intracelular.





Um mal de altura grave, dá a um alpinista uma sensação de “tremenda opressão” em que até o mínimo trabalho físico é esgotante. O sintoma normal de dor de cabeça pode aumentar para uma intensidade cruel. A apatia pode ser interrompida por ataques de irritabilidade. Por fim, uma pessoa pode ficar incapacitada de fazer alguma coisa.





O tratamento do mal de altitude consiste em descer para níveis mais baixos da montanha, respirar oxigénio suplementar e tomar o medicamento acetazolamida (Diamox). Convém continuar a perder altitude até os sintomas reverterem. Muitas vezes, é suficiente a descida de 300 metros.





Os médicos, os alpinistas experientes e os fisiologistas, recomendam várias técnicas para prevenir o mal de altitude. Estas técnicas incluem directrizes tais como, subir a montanha pouco a pouco, alimentação, exercício e medicação. Subir a montanha pouco a pouco, quer dizer fazer a ascensão por etapas. Deve-se passar duas ou três noites a 2.500 ou 3.000 metros antes de se subir mais, e por cada 600 ou 900 metros adicionais que se queira subir, deve-se adicionar mais outra noite de descanso. Deve-se evitar aumentos bruscos de mais de 600 metros em altitude, a que se deve dormir após se superar os 2.500 metros. Fazer ascensões durante o dia a altitudes mais elevadas pode ajudar a aclimatar, se de seguida se dormir mais abaixo. Este conselho adequa-se bem por uma frase muito utilizada “sobe alto, dorme baixo”.





Num grupo de soldados aos quais se obrigou a subir rapidamente até 4.300 metros verificou-se que uma alimentação rica em hidratos de carbono (>70% das calorias totais) reduziu os sintomas de mal de altitude em cerca de 30% e aumentou o nível de O2 do sangue arterial. Acredita-se que um sobre-esforço contribui para adquirir o mal, talvez porque seja algo que se acrescente ao esforço total que recebe o corpo humano. No entanto, um exercício moderado parece que ajuda a aclimatar.





A acetazolamida também é eficaz como medida preventiva contra o mal de altitude. Este medicamento ajuda a aclimatar a respiração, previne períodos de hipoxia extrema, e mantém níveis de oxigénio mais altos no sangue durante o sono. A acetazolamida também tem outro efeito importante que é neutralizar a retenção de líquidos, pois é um diurético. Existem numerosos estudos que indicam que a acetazolamida é eficaz em cerca de 75%, na prevenção do mal de altitude, nos visitantes a altitudes de 4.000 a 4.500 metros. Este medicamento, sendo membro da família das sulfamidas, obriga a tomar precauções com a acetazolamida, se a pessoa for alérgica a estes fármacos, pois pode originar hipersensibilidade.





A dexametasona proporciona propriedades preventivas alternativas, mas é menos eficaz do que a acetazolamida e tem vários efeitos secundários menos desejados. No entanto, uma combinação de acetazolamida e uma dose pequena de dexametasona parece ser mais eficaz do que a acetazolamida isolada, para melhorar os sintomas de mal de altitude.





Na próxima semana voltaremos ao mesmo tema, até lá…





Boas caminhadas

Sem comentários:

Enviar um comentário

comentários