06 agosto 2014

Altitude: o ambiente hipobárico da Terra (9)




Pessoas de terras baixas comparados com nativos de grandes altitudes

Conforme já informamos num artigo anterior, as pessoas que permanecem em altitude durante vários dias ou semanas chamam-se “visitantes”, os que vivem assim durante meses ou anos são conhecidos como “residentes” e as pessoas que nasceram em altitude são conhecidos por “nativos”. Este artigo descreve investigações que se realizaram para comparar visitantes de terras baixas com os nativos de grande altitude, de forma controlada e com experiências de laboratório.





Ainda que se tenham realizado poucos estudos deste tipo, adicionam-se dados interessantes aos já descritos nos artigos anteriores. As semelhanças e as diferenças entre os visitantes e os nativos, podem-se resumir da seguinte maneira:

. Os nativos apresentam uma economia de exercício semelhante à das pessoas de terras baixas (quer dizer, utilizam a mesma quantidade de O2 para um determinado trabalho).





. Dentro de determinado grupo étnico, os nativos e as pessoas de terras baixas têm composições corporais semelhantes.





. Os nativos de grandes altitudes tendem a ser mais policitémicos e possuem um coração maior e maior massa muscular cardíaca do que os visitantes. Os nativos também possuem uma circulação coronária arterial mais abundante (quer dizer que têm mais protecção contra a hipoxia) do que as pessoas de terras baixas; o que também pode explicar o facto de os nativos terem uma menor incidência de doenças coronárias em relação às pessoas de terras baixas.





. As pessoas que vivem a grande altitude durante a sua infância parecem ser as que obtêm os maiores benefícios da aclimatação. Provavelmente é devido ao facto de o corpo optimizar os mecanismos de transporte de O2 durante a puberdade e outros períodos críticos do crescimento e do desenvolvimento corporal.





. Quando as pessoas de terras baixas se tornam residentes a uma altitude de aproximadamente 4.000 metros, o seu débito cardíaco cai e permanece baixo durante vários meses. O seu pequeno volume sistólico não é compensado por um número de pulsações maior, talvez porque o número de pulsações em repouso, retorna praticamente ao que tinham ao nível do mar.





. Verificou-se que a taxa metabólica basal em repouso, das pessoas de terras baixas, era 10% mais alta depois de residirem a uma altitude de 5.834 metros durante 82 a 113 dias. Essa melhoria do metabolismo basal verificou-se através de outros estudos e provavelmente deve-se a aumentos da hormona tiroxina produzida pela glândula tiróidia.





. Carl Maresh (Universidade de Connecticut) e os seus antigos colegas da universidade de Wyoming, demonstraram que o aumento da hormona do stress (como o cortisol) devido à hipoxia hipobárica era maior nas pessoas de terras baixas do que nos nativos. O que sugere que existe algo da aclimatação do sistema hipotálamico-pituitário-adrenal na hipoxia a longo prazo nos nativos. Portanto os níveis de cortisol no plasma estão relacionados com a duração de exposição e aumentam à medida que se desenvolvem os sintomas do mal agudo de montanha. Os níveis de cortisol acabam por regressar aos anteriores à exposição, após uma semana de permanência em altitude, reflectindo que os efeitos do stress ambiental (devido à aclimatação) geralmente desaparecem.





Em resumo, os nativos aparentemente diferenciam-se das pessoas de terras baixas, no desenvolvimento da circulação arterial coronária, a dinâmica cardiovascular em repouso e as respostas de cortisol perante o stress. No entanto, ambos os grupos têm composições corporais semelhantes e rendem de forma parecida fazendo exercício.






Perda de aclimatação

O termo desaclimatação refere-se à perda de adaptações que se tinham adquirido quando se esteve em ambientes hipobáricos-hipóxicos. O ritmo com que desaparece a aclimatação é diferente para cada adaptação e em cada pessoa.





Por exemplo, alguns dias ao nível do mar podem ser suficientes para deixar uma pessoa exposta a ser afectada por doenças originadas pela altitude, principalmente um edema pulmonar. Também ocorre que o volume de glóbulos vermelhos dos nativos de grandes altitudes que se deslocam para o nível do mar, diminui consideravelmente num espaço de tempo tão breve como cerca de 10 dias. Em contraste a melhoria na capacidade para levar a cabo trabalho físico em altitude pode persistir durante semanas. Outro tipo de adaptações, como uma melhoria da função cardiovascular e uma melhor termorregulação, podem persistir durante vários meses após descer da altitude.





Na próxima semana continuaremos com este tema, até lá…





Boas caminhadas

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