Pessoas de terras
baixas comparados com nativos de grandes altitudes
Conforme já informamos num artigo anterior, as pessoas que
permanecem em altitude durante vários dias ou semanas chamam-se “visitantes”,
os que vivem assim durante meses ou anos são conhecidos como “residentes” e as
pessoas que nasceram em altitude são conhecidos por “nativos”. Este artigo
descreve investigações que se realizaram para comparar visitantes de terras
baixas com os nativos de grande altitude, de forma controlada e com
experiências de laboratório.
Ainda que se tenham realizado poucos estudos deste tipo,
adicionam-se dados interessantes aos já descritos nos artigos anteriores. As
semelhanças e as diferenças entre os visitantes e os nativos, podem-se resumir
da seguinte maneira:
. Os nativos apresentam uma economia de exercício semelhante
à das pessoas de terras baixas (quer dizer, utilizam a mesma quantidade de O2
para um determinado trabalho).
. Dentro de determinado grupo étnico, os nativos e as pessoas
de terras baixas têm composições corporais semelhantes.
. Os nativos de grandes altitudes tendem a ser mais
policitémicos e possuem um coração maior e maior massa muscular cardíaca do que
os visitantes. Os nativos também possuem uma circulação coronária arterial mais
abundante (quer dizer que têm mais protecção contra a hipoxia) do que as
pessoas de terras baixas; o que também pode explicar o facto de os nativos
terem uma menor incidência de doenças coronárias em relação às pessoas de
terras baixas.
. As pessoas que vivem a grande altitude durante a sua
infância parecem ser as que obtêm os maiores benefícios da aclimatação.
Provavelmente é devido ao facto de o corpo optimizar os mecanismos de
transporte de O2 durante a puberdade e outros períodos críticos do crescimento
e do desenvolvimento corporal.
. Quando as pessoas de terras baixas se tornam residentes a
uma altitude de aproximadamente 4.000 metros, o seu débito cardíaco cai e
permanece baixo durante vários meses. O seu pequeno volume sistólico não é
compensado por um número de pulsações maior, talvez porque o número de
pulsações em repouso, retorna praticamente ao que tinham ao nível do mar.
. Verificou-se que a taxa metabólica basal em repouso, das
pessoas de terras baixas, era 10% mais alta depois de residirem a uma altitude
de 5.834 metros durante 82 a 113 dias. Essa melhoria do metabolismo basal
verificou-se através de outros estudos e provavelmente deve-se a aumentos da
hormona tiroxina produzida pela glândula tiróidia.
. Carl Maresh (Universidade de Connecticut) e os seus antigos
colegas da universidade de Wyoming, demonstraram que o aumento da hormona do
stress (como o cortisol) devido à hipoxia hipobárica era maior nas pessoas de
terras baixas do que nos nativos. O que sugere que existe algo da aclimatação
do sistema hipotálamico-pituitário-adrenal na hipoxia a longo prazo nos
nativos. Portanto os níveis de cortisol no plasma estão relacionados com a
duração de exposição e aumentam à medida que se desenvolvem os sintomas do mal
agudo de montanha. Os níveis de cortisol acabam por regressar aos anteriores à
exposição, após uma semana de permanência em altitude, reflectindo que os
efeitos do stress ambiental (devido à aclimatação) geralmente desaparecem.
Em resumo, os nativos aparentemente diferenciam-se das
pessoas de terras baixas, no desenvolvimento da circulação arterial coronária,
a dinâmica cardiovascular em repouso e as respostas de cortisol perante o
stress. No entanto, ambos os grupos têm composições corporais semelhantes e
rendem de forma parecida fazendo exercício.
Perda de aclimatação
O termo desaclimatação refere-se à perda de adaptações que se
tinham adquirido quando se esteve em ambientes hipobáricos-hipóxicos. O ritmo
com que desaparece a aclimatação é diferente para cada adaptação e em cada
pessoa.
Por exemplo, alguns dias ao nível do mar podem ser
suficientes para deixar uma pessoa exposta a ser afectada por doenças
originadas pela altitude, principalmente um edema pulmonar. Também ocorre que o
volume de glóbulos vermelhos dos nativos de grandes altitudes que se deslocam
para o nível do mar, diminui consideravelmente num espaço de tempo tão breve
como cerca de 10 dias. Em contraste a melhoria na capacidade para levar a cabo
trabalho físico em altitude pode persistir durante semanas. Outro tipo de
adaptações, como uma melhoria da função cardiovascular e uma melhor
termorregulação, podem persistir durante vários meses após descer da altitude.
Na próxima semana continuaremos com este tema, até lá…
Boas caminhadas
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