O aparelho locomotor encarrega-se de
sustentar o corpo e proporcionar-lhe a estrutura necessária para se deslocar.
Está constituído pelos ossos,
articulações e músculos.
Os ossos são formados por um tecido
duro e resistente. No seu interior encontra-se a medula óssea, onde se fabricam
as células sanguíneas (glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas). O
conjunto dos ossos forma o esqueleto.
Os ossos podem ser classificados em:
. Longos (ex. Fémur)
. Curtos (ex. ossos da mão)
. Chatos (ex. ossos do crâneo)
O esqueleto humano está constituído
por cerca de 206 ossos
O esqueleto está dividido em partes
bem diferenciadas:
. Crânio e cara.
. Coluna Vertebral.
. Caixa Torácica.
. Extremidades superiores.
. Cintura escapular: permite
relacionar as extremidades superiores com o resto do esqueleto através dos
ombros, estando formada pelas clavículas e as escápulas ou homoplatas.
. Extremidades inferiores.
. Cintura pélvica: permite relacionar
as extremidades inferiores com o resto do esqueleto através dos quadris,
estando formada pela pélvis.
As articulações são as estruturas que
unem os ossos entre si. Existem articulações fixas (as do crânio), semimóveis
(as das vértebras) e móveis (joelhos, cotovelos, etc).
As articulações móveis constam de:
. Superficies articulares: parte dos
ossos que estão em contacto entre si.
. Cartilagens articulares: revestem
as superfícies articulares para evitar o seu desgaste.
. Ligamentos articulares: mantém o
contacto e a estabilidade entre as superfícies articulares.
. Cápsula articular: delimita a
articulação e estabiliza-a.
. Cavidade articular: é o espaço
compreendido entre as superfícies articulares e a cápsula articular.
. Membrana sinovial: camada que
reveste interiormente a cavidade articular.
. Sinóvia: líquido secretado pela
membrana sinovial para lubrificar a articulação.
. Discos fibrosos: interpõem-se entre
as superfícies articulares de algumas articulações para as tornar compatíveis
(meniscos dos joelhos).
Os músculos representam o elemento
activo que assegura a dinâmica (movimentos) e estática (postura) do corpo.
As principais funções do esqueleto
são:
. Suporte e apoio aos outros órgãos
. Protecção de agressões externas aos
órgãos vitais
. Locomoção através de uma estrutura
rígida que se flexibiliza a nível das articulações e por movimentos de
contracção-distensão de conjuntos de músculos.
Lesões do aparelho locomotor
Podem ser:
. Fracturas, se afectam os ossos.
. Entorses e luxações, se afectam os
ligamentos articulares. (tema a tratar noutro artigo)
. Lesões musculares, (distensão,
cãibra) se afectam os músculos (tema a tratar noutro artigo)
Fractura:
consiste na perda de continuidade da
substância óssea.
A fractura pode ser aberta ou
fechada.
. Fractura Aberta ou exposta:
Existe uma ferida na continuidade da
fractura, existindo a possibilidade de que os microorganismos penetrem no foco
de fractura, desde o exterior.
As fracturas abertas podem ainda dividir-se em três subgrupos consoante a natureza da ferida:
Grau I: de
dentro para fora
Os fragmentos ósseos (esquírolas
ósseas), ao angularem-se, provocam edema e perfuração da pele, de dentro para
fora. A ferida é geralmente, pequena (< 1 cm) e está relativamente limpa.
Grau II:
de fora para dentro
O mesmo agente físico que provocou a
ruptura do osso lesa a pele e os outros tecidos moles adjacentes. A ferida é
geralmente grande (> 1 cm e < 3 cm) de aspecto sujo e com os bordos muito
macilentos.
Grau III:
Existe grande afectação das partes
moles com destruição de músculos, vasos sanguíneos, nervos e perda de
substância. A ferida tem geralmente mais que 3 cm de diâmetro.
. Fractura Fechada:
A pele está intacta ou as feridas existentes
não estão relacionadas com a fractura.
A fractura pode apresentar diversos
tipos de deformidade:
. Deslocamento:
Se um dos extremos ósseos sofreu um
desvio relativamente ao outro osso.
. Angulação:
Deve ser corrigida porque pode
afectar a função do membro fracturado.
. Rotação:
Movimento de um dos fragmentos ósseos
relativamente ao seu eixo, por vezes apenas visível em radiografias que mostrem
os dois extremos do osso.
Fissuras:
são fracturas muito finas produzidas
por um traumatismo mínimo que é suficientemente intenso para produzir a
fractura, mas não tanto, ao ponto de a deslocar. Podem ser difíceis de ver nas
radiografias, pelo que se aconselha utilizar projecções obliquas ou repetição
da radiografia ao fim de 7 a 10 dias, quando se consegue ver mais nitidamente
devido à descalcificação que se produz no foco da fractura.
As fracturas de fadiga por sobrecarga
costumam ser deste tipo e geralmente não são diagnosticadas até que aparece a
protuberância produzida pelo calo de consolidação óssea ou pela maior densidade
no foco da fractura após 3 a 6 semanas depois do início dos sintomas.
As fissuras – com a excepção do escafóide
e do fémur – costumam consolidar rapidamente e apenas necessitam de tratamento
sintomático.
Actuação por parte do
socorrista/montanheiro
Apenas se podem tratar de forma extra-hospitalar,
as contusões, distenções e algumas
fracturas sem deslocamento.
Fracturas:
Quando não são evidentes, suspeita-se
sempre perante a história clínica e pela observação e confirmam-se apenas
através de radiografia.
Os sinais e sintomas mais evidentes
são:
. Presença de um antecedente
traumático.
. Dor intensa, de aparecimento brusco
na zona afectada, ainda que por vezes apenas existam pontos sensíveis à
palpação do osso desde qualquer ângulo.
. Edema, resultante de uma reacção
normal de defesa do organismo ao trauma.
. Hematoma, que será maior quanto
maior for o diâmetro do osso.
. Equimoses e hematomas são
frequentes nos traumatismos directos.
. Impotência funcional; a extremidade
afectada não pode realizar a sua função habitual.
. Deformação: assimetrias do contorno
, encurtamento do membro ou a posição em comparação com o outro lado.
. Ponto de impacto, lesões na pele ou
tumefacção da zona afectada.
. O lesionado pode ter notado uma
rachadela.
. Mobilidade anormal.
. Crepitação óssea (barulho dos ossos
a roçar uns nos outros quando fracturados). Situação que pode ser ouvida e
sentida. A pesquisa deste sinal é muito dolorosa para o sinistrado, podendo
provocar lesões vasculares e nervosas, pelo que se deve evitar pesquisar.
. Em fracturas abertas pode-se
observar o osso desde o exterior. São indicação de que o traumatismo
responsável pela fractura foi de grande violência.
Em caso de dúvida actua-se sempre como
se estivéssemos na presença de uma fractura.
Principais complicações das fracturas:
. Choque.
. Ferida.
. Lesões vasculares. Possibilidade de
hemorragia interna importante com consequente choque hipovolémico.
. Infecção, dos topos ósseos
fracturados e dos demais tecidos lesados.
. Lesão nervosa. Os locais mais
frequentes são a nível da clavícula, úmero, cotovelo, fémur, joelho e coluna
vertebral.
. Possibilidade de lesão visceral em
órgãos adjacentes, por exemplo, pulmão, fígado, baço, bexiga, uretra.
. Síndrome compartimental. O edema da
extremidade comprime a circulação capilar, causando isquémia. O sinistrado
apresenta, passadas algumas horas, fraqueza, dor persistente e paralisia. Os
pulsos distais estão geralmente presentes
. Embolia gorda. Trata-se de uma
complicação grave e potencialmente letal, causando distúrbios respiratórios,
normalmente passados três a quatro dias após o traumatismo.
Perda potencial de sangue nas
fracturas fechadas:
. Fractura
da bacia: perda de 1 a 5 dm3 de volume de sangue.
. Fractura do fémur: perda de 1 a 4
dm3 de volume de sangue.
. Fractura
dos ossos da perna: perda de 0,5 a 1 dm3 de volume de sangue.
. Fractura
dos ossos do antebraço: perda de 0,25 dm3 de volume de sangue.
. Fractura
do úmero: perda de 0,5 a 1 dm3 de volume de sangue.
. Fractura
da coluna vertebral: perda de 1 a 2 dm3 de volume de sangue.
Os objectivos principais do socorro a
fracturas são:
. Conseguir uma boa consolidação
óssea sem deformidade.
. Restabelecer a função.
. Reduzir a dor.
Actuação do socorrista/montanheiro
perante uma fractura:
. Examinar a vitima para descartar
outros problemas mais graves, como alteração dos sinais vitais (pulso,
respiração, tensão arterial) ou hemorragias e actuar segundo a ordem de
prioridades.
. Prevenir o estado de choque,
mantendo a vítima deitada, agasalhada e controlando os sinais vitais.
. Aconselhar a vítima a manter-se na
posição mais confortável e que lhe provoque menos dor.
. Expor o foco da fractura, cortando
a roupa que o envolve, se necessário.
. Para transportar a vítima para um
hospital, é necessário efectuar uma boa imobilização, de forma a evitar a dor e
as complicações provocadas pela mobilidade durante o transporte.
. Avaliar a localização, tipo,
deslocamento, angulação, afectação da pele, vasos sanguíneos e nervos. Deve-se
suspeitar de rotura vascular se houver um sangramento, um hematoma pulsátil ou
pulso anormal. Suspeitar de compressão vascular se houver ausência de pulso,
palidez, formigueiro ou anomalias motoras.
. Controlar hemorragias, através de
compressão manual indirecta.
. Retirar anéis, pulseiras e relógios
da extremidade afectada para evitar que façam compressão.
. Por regra, o socorrista/montanheiro
não se deve cingir à fractura. Se a deformação for tão grande que a pele tenha
risco de ser lesada, pode-se tentar recolocar suavemente o extremo distal do
membro, embora não seja muito aconselhável se não possuir conhecimentos
necessários para tal manobra.
.Proceder à imobilização do membro, tendo
o cuidado de não fazer redução da fractura, nem modificar a posição do membro.
O socorrista experiente pode tentar
reduzir as fracturas deslocadas. Para isso, após verificar a existência de
pulso distal, deve-se fazer tracção, geralmente no eixo da extremidade para se
conseguir um alinhamento de todas as estruturas. Se após a tracção se perder o
pulso distal, retira-se a tracção e recomeça-se esta antes de imobilizar. As
angulações que se observem depois da tracção podem-se corrigir colocando uma
mão debaixo da fractura e aplicando pressão com a outra mão.
. Devem-se evitar os movimentos no
foco da fractura empregando uma imobilização temporária até completar o exame
da vítima. A imobilização da extremidade fracturada efectua-se na mesma posição
em que a encontramos, uma vez que o ferido adopta sempre e espontaneamente a
posição mais confortável e menos dolorosa. Deste modo diminuirá a dor, a
hemorragia e a possibilidade de uma fractura fechada se converter em aberta.
. Imobilizar o membro afectado com
talas (na montanha, geralmente improvisadas), acolchoando previamente as
proeminências ósseas. A imobilização deve abranger até à articulação que esteja
acima e/ou abaixo do foco da fractura.
. Se a fractura for aberta, deve-se
lavar com água e tapar com compressas esterilizadas, evitando tocar no topo ósseo
em caso de fractura exposta em que se coloca uma “sogra” em volta do topo ósseo
exposto antes de cobrir, faz-se a imobilização do membro e se possível iniciar
tratamento antibiótico.
. Seguidamente e com a maior rapidez
possível, deve-se providenciar o transporte do sinistrado a um centro
hospitalar.
Coberturas e imobilizações:
Coberturas:
As coberturas servem para segurar
pensos, tapar feridas, fixar talas, suspender membros e inclusive fixar e
imobilizar extremidades.
Posição funcional da articulação que
se deve ter em conta nas coberturas
. Ombro: 90º de flexão.
. Cotovelo: 90º de flexão.
. Pulso: 20º de flexão dorsal.
. Metacarpofalângica: 45º de flexão.
. Interfalângica proximal: 90º de
flexão.
. Interfalângica distal: 45º de
flexão.
. Anca: em extensão.
. Joelho: 20º de flexão.
. Tornozelo: 90º entre o pé e a
perna.
Imobilizações:
. A imobilização de uma fractura
inicia-se por uma ligeira e suave tracção (a tracção de um membro não
corresponde ao acto da redução “fazer voltar ao seu lugar os ossos
fracturados”. A redução é um acto médico ou de pessoal especializado) prévia da
mesma, segundo o eixo em que se encontra o membro, seguida de alinhamento e estabilização
dos ossos.
. Quando as lesões são articulares, a
tracção a exercer deve ser mínima e realizada com a participação activa do
sinistrado. No caso de resistência à mobilidade, a fractura deve ser
imobilizada na posição em que se encontra.
. A imobilização das extremidades
alivia a dor, produz hemostasia e diminui a lesão tecidual no local da
fractura.
. Deve-se imobilizar o membro
fracturado, para evitar que a fractura
se volte a deslocar.
. Deve-se imobilizar no mínimo uma articulação acima e outra abaixo do foco da fractura, com a finalidade de evitar a movimentação da zona fracturada.
. Deixar os dedos a descoberto, de
forma que se consiga observar, no caso de aparecimento de sinais e sintomas de
pressão excessiva provocada pela cobertura (escurecimento dos dedos,
temperatura, perda de sensibilidade, formigueiro, motricidade, etc).
. Para imobilizar o membro,
utilizam-se talas que mantém a
extremidade lesionada em posição fixa e impedindo o seu movimento. Normalmente
utilizam-se duas talas, para a parte interior da extremidade lesionada e outra
para a parte exterior.
Geralmente
os membros superiores necessitam de suspensão.
Complicações graves das fracturas:
Imediatas:
. Hemorragia com choque hipovolémico.
. Lesões vasculares.
. Lesões viscerais.
. Lesões neurológicas.
A curto prazo:
. Embolia gordurosa pulmonar
originada possivelmente pela passagem de partículas de medula óssea desde a
região da fractura até à circulação sanguínea, sendo mais frequente em
fracturas de diáfise femural e pélvis. A mobilidade do foco de fractura pode
ser um factor contribuinte para tal.
A longo prazo:
. As fracturas e luxações que se
associam mais frequentemente a paralisias nervosas são:
. Luxação do ombro: paralisia do
nervo circunflexo e raramente outras lesões do plexo braquial.
. Fractura da diáfise do húmero:
paralisia do nervo radial.
. Luxação do cotovelo: paralisia do
nervo cubital, por vezes com afectação do mediano.
. Fracturas da região do cotovelo:
paralisia do nervo mediano, raramente o cubital ou o interósseo posterior.
. Luxações de anca: paralisia do
nervo ciático.
. Luxação de joelho ou rotura do
ligamento lateral com fractura da parte interna da meseta tibial: paralisia do
nervo peronial comum ou ciático poplíteo externo.
Prioridade de atenção nas fracturas
Fracturas vitais com risco de
hemorragia:
. Fracturas abertas massivas.
. Fracturas Bilaterais de fémur.
. Fracturas com lesões vasculares
associadas (cotovelo, joelho).
. Fracturas de pélvis.
. Amputações de membros.
Fracturas com risco de afectar a
função do membro:
. Fracturas articulares.
. Luxações.
. Lesões por esmagamento.
. Fracturas abertas simples.
Fracturas com risco mínimo:
. As restantes.
Fracturas de extremidades mais frequentes na montanha
. Fracturas de mãos e dedos:
Tratamento geral:
vendar toda a mão em posição
funcional (como se estivesse a segurar uma bola de ténis). Elevar o membro com
um lenço com a ajuda de um lenço triangular ou outro improviso e providenciar o
transporte a um centro hospitalar.
. Fracturas das falanges dos dedos, excepto o polegar
Tratamento: imobiliza-se o dedo
lesionado colocando uma compressa entre esse dedo e o dedo do lado. De seguida
unem-se os dois dedos com fita adesiva ou uma ligadura. Deixando o leito ungueal
à vista para controlar a correcta
circulação do sangue.
. Fracturas que afectam o antebraço
As fracturas do rádio e do cúbito são
as mais frequentes por traumatismo significativo, por ex. queda de uma altura
significativa. As fracturas isoladas do cúbito surgem, geralmente, devido a
golpes directos no antebraço, por ex. uma bastonada. As fracturas isoladas do
rádio são ocasionadas por quedas sobre a mão estendida para fora ou por golpes
directos.
Tratamento generalizado:
Imobilizar o pulso e o cotovelo a 90º.
. Fractura de escafoides
É o osso do carpo que se fractura com
maior frequência.
Mecanismo: Queda sobre a mão em
flexão dorsal ou golpe directo sobre a região dorsal da mão por baixo do
estiloide radial.
Pesquisa:
Em lesões recentes, pode existir
edema da caixa anatómica (pequeno afundamento na zona do pulso que se observa
ao levantar o polegar para cima).
Palpação:
Dor à pressão digital da caixa
anatómica.
Mobilidade:
Dor e limitação dos movimentos do
pulso.
Perante a suspeita clinica, mesmo que
a radiografia seja negativa, deve imobilizar-se a mão e repetir a
radiografia passados 15 dias, momento em
que a reabsorção óssea torna mais visível o foco da fractura.
Tratamento:
Resgatador: Imobilização em posição
funcional e evacuação.
Socorrista/montanheiro com meios e
conhecimentos suficientes: Imobilizar o pulso em pronação completa, desvio
radial, dorsiflexão moderada e o polegar em abdução intermédia.
Coloca-se uma tala e imobiliza-se o
membro. Deve-se evitar imobilizar as articulações da flange distal do polegar e
do cotovelo
Tempo de imobilização: 1,5 a 4 meses.
. Fractura da extremidade inferior do radio
A mais frequente é a fractura
completa (afecta o osso cortical todo) extra-articular com desvio posterior (dorsal) de fragmento
distal (fractura de Colles).
Mecanismo:
Queda sobre a mão, estando esta em
híper-extensão.
Pesquisa:
Aspecto de forquilha.
Palpação:
Realce por defeito da continuidade
óssea na face dorsal do braço. Dor selectiva à pressão, no foco da fractura.
Mobilidade:
Impotência funcional.
Sempre que se diagnosticar uma
fractura de Colles, é necessário procurar lesões associadas nos escafoides,
cotovelo e ombro.
Tratamento:
Resgatador: Aplicação de curativo
compressivo e evacuação para centro hospitalar.
Socorrista/montanheiro com meios e
conhecimentos suficientes: Antes da manipulação, deve-se colocar talas e
imobilizar o membro entre o olecrano e as cabeças dos metacarpos.
Reducção (apenas efectuado por
profissionais):
Infiltração no foco da fractura de
5-10cc de lidocaína. O cotovelo flexiona-se em ângulo recto e um ajudante
segura-o com os dedos entrelaçados, aplica-se então tracção na direcção do eixo
do antebraço. Quando se reduz a tracção confirma-se a desimpactação do
fragmento distal, que preso entre o polegar e o indicador, pode-se mover
facilmente na direcção anterior e posterior.
De seguida estica-se o cotovelo,
coloca-se uma mão sobre a superfície dorsal do fragmento distal do radio com os
dedos debruçados sobre o pulso e a palma da mão do lesionado, e utilizando a
outra mão como ponto de apoio, aplica-se uma pressão em sentido anterior que
corrigirá o resto das deformidades. Mantendo a tracção, muda-se a posição de
forma que a palma da mão seja capaz de empurrar o fragmento distal no sentido
cubital e corrigir o deslocamento radial.
Então muda-se a posição das mãos para
facilitar a colocação de talas, pelo que uma mão segura o dedo polegar do
sinistrado em extensão completa e a outra mão segura os três dedos centrais do
sinistrado, mantendo uma ligeira tracção.
Imobilização:
Imobilizar o membro desde as faces
anterior externa e posterior do radio.
Deve-se imobilizar em desvio cubital sem fazer demasiada flexão do
pulso. O cotovelo flexiona-se a mais de 90º mantendo a mão mais alta que o
cotovelo e efectua-se a imobilização precoce dos dedos para evitar o edema.
Imobilização: 40 dias.
. Fracturas que afectam o cotovelo, braço e ombro
Tratamento generalizado:
cabresto e transporte para um centro
hospitalar.
. Fractura do úmero
As fracturas da porção proximal do
úmero são lesões relativamente frequentes. Geralmente são resultado de
traumatismo directo ou indirecto.
Pesquisa:
Dor e braço instável. Explorar a
função do nervo radial.
Tratamento:
Talas ou cabresto e transporte para
um centro hospitalar. Nas fracturas de aproximadamente 1/3, se forem estáveis
coloca-se um curativo tipo Velpeau, e se forem fragmentadas usa-se um cabresto.
Nas fracturas de diáfise ou supracondiliana coloca-se uma tala ou uma ligadura
compressiva deixando o cotovelo em ângulo recto.
. Fractura da clavícula
As fracturas da clavícula e as lesões
da articulação acromioclavicular (da apófise terminal, da espinha da omoplata
com a clavícula) são muito comuns. As primeiras contribuem com quase metade do
número de lesões significativas na zona do ombro.
Mecanismo: Golpe directo ou queda
sobre o ombro com o braço junto ao corpo.
Pesquisa:
O sinistrado apresenta o ombro
encolhido e tem tendência a segurar no braço para evitar a tracção sobre o foco
da fractura devido ao peso do braço. Na fractura do terço médio (75% das
fracturas de clavícula) observa-se uma proeminência óssea.
Palpação:
observa um ressalto ósseo doloroso à
pressão no foco da fractura.
Mobilidade:
Impotência funcional devido à dor.
Tratamento:
O tratamento baseia-se no seguinte:
. Fornecer suporte à extremidade, a
qual deixou de ser segura pela clavícula, o que se consegue com um cabresto.
. Evitar a movimentação anterior do
omoplata em volta do tórax, o que se consegue fazendo pressão na região
anterior do ombro através de um cruzado em 8.
Reducção:
A fractura do terço médio reduz-se
puxando os ombros para trás, auxiliado pela colocação do joelho do socorrista
na coluna dorsal do ferido.
Imobilização:
Fractura do terço médio: cruzado em
8, inspecionando-o a cada 3 ou 4 dias para evitar erosões da pele na axila,
compressões vasculares ou nervosas e folga do cruzado em 8.
Fractura do terço externo: cabresto
com correia de suspensão cotovelo-ombro.
Tempo de imobilização: 4 a 6 semanas.
Membro inferior:
. Fractura do cólo e terço superior do fémur
As fracturas pélvicas constituem
apenas 3% de todas as fracturas ósseas, embora conduzam a uma importante
mortalidade, especialmente quando estão abertas. Em termos ortopédicos a
fractura pélvica é a mais letal, oscilando entre os 40% a 60%. A sua elevada
morbilidade está associada a lesões de órgãos intrapélvicos e a grandes vasos.
A mortalidade precoce surge devido a hemorragia abundante incontrolável (no
espaço retroperitonal podem acumular-se até cinco litros de sangue). As
fracturas da diáfise femural são frequentes em quedas. Devido à irrigação
abundante, o fémur pode acumular nos tecidos moles adjacentes, de um a quatro
litros de sangue, conduzindo ao choque hipovolémico.
Mecanismo:
Rotação da perna com queda.
Pesquisa:
Encurtamento e rotação externa da
perna.
Palpação:
elevação da proeminência trocantérica e
compressão bitrocantérica dolorosa.
Mobilidade:
Impotência funcional com a
mobilização activa. Mobilidade passiva limitada e dolorosa.
Tratamento:
Resgatador: Aplicação de uma tala e
transportar o sinistrado para um centro hospitalar.
Socorrista/montanheiro com meios e
conhecimentos suficientes: Fazer tracção do pé com a perna em extensão,
realizando suavemente rotação do membro para o alinhamento correcto. Colocação
de ligadura de algodão ou celulose, desde a raiz dos dedos até ao terço médio
do músculo. Colocação da tala de Thomas que abranja até ao terço médio do
músculo, segurando a perna com uma ligadura. Se não existir ao dispor esta
tala, coloca-se uma tala de madeira transversal ao eixo da perna no calcanhar
do sapato para evitar as rotações do pé. Deve-se colocar uma almofada ou por
exemplo, um saco cama ou um blusão de penas, entre as pernas.
Providenciar de seguida o transporte até um centro hospitalar.
Uma boa imobilização também é
importante para evitar a mobilidade excessiva, que pode contribuir para o
aparecimento de uma embolia gordorosa pulmonar. A imobilização contribui ainda
para a estabilidade hemodinâmica.
Perfusão intravenosa de soro
fisiológico para evitar o choque hipovolémico (apenas profissionais) devido ao
grande volume de sangue existente no foco da fractura.
. Fractura da Tíbia e Peróneo
As lesões na perna compreendem
fracturas a nível da tíbia e do perónio. Podem surgir devido a trauma directo
ou como resultado de forças de torção. As fracturas da tíbia apresentam elevado
nível de complicações.
Sintomas e sinais
Fractura de peróneo:
Dor local, tumefacção, impotência
funcional discreta que não impede o sinistrado de caminhar.
Fractura da tíbia:
Deformação, impede de caminhar.
Tratamento:
Se as fracturas não estiverem
deslocadas, imobiliza-se a perna com o joelho ligeiramente flectido. Se as
fracturas estiverem deslocadas, imobiliza-se provisoriamente na posição mais
confortável para o sinistrado.
. Fractura do Talo e do calcâneo
O calcâneo é o osso do tarso com
maior tamanho e que se fractura com maior frequência. A lesão pode ser
resultado de um mecanismo compressivo consecutivo a uma queda de certa altura. São
frequentes na escalada. Do conjunto das fracturas do calcâneo, 10% estão
relacionadas com compressão lombar, enquanto que 26% se referem a outras lesões
da extremidade.
A fractura do talo produz
frequentemente necrose vascular, o que provoca uma osteoartrite secundária que
pode limitar a prática desportiva.
Tratamento:
Imobilização e transporte para um
centro hospitalar.
. Fractura do Metatarso
A gravidade e o prognóstico dependem
da alienação dos fragmentos e do número de metatarsianos lesionados. As
fracturas afastadas do 1º e do 5º metatarso são as que provocam mais alterações
funcionais no apoio do pé.
Mecanismo:
. Golpe directo.
. Fractura por fadiga devido ao
esforço prolongado, estas fracturas são típicas da marcha prolongada ou
corridas a pé e ocorrem na diáfise do 2º e 3º metatarso. Por vezes a linha da
fractura não é visível até decorrerem 2 a 3 semanas depois do aparecimento da
dor e da tumefacção dorsal do pé.
. Fractura por sobrecarga ao torcer o
tornozelo ou apoiar mal o pé. A pesquisa de uma entorse do tornozelo deve
incluir a pressão digital da base do 5º metatarso para excluir fracturas.
Fracturas das Falanges dos pés
Mecanismo:
Golpe directo.
Pesquisa:
Edema local, hematoma tardio. As
fracturas das falanges distais podem-se associar a hematoma subungueal.
Palpação:
Dor
Mobilidade:
Impotência funcional activa e passiva.
Tratamento:
Imobilização: o dedo fracturado
une-se ao dedo adjacente com fita adesiva, colocando previamente uma compressa
entre os dedos para evitar maceração da pele. Deve-se deixar o leito ungueal à
vista para controlar a correcta circulação do sangue.
Tempo de imobilização: de 20 a 30
dias.
Como temos vindo a alertar, não basta a leitura atenta destes artigos para se considerarem aptos para prestar socorro. Todos estes métodos acarretam perigos, muitas vezes de vida, quando mal executados. Insistimos para que frequentes um curso de socorrismo, onde terás oportunidade de adquirir conhecimentos e treinar todas estas técnicas, supervisionado por pessoas experientes na matéria.
Nunca esqueças a regra de ouro, “não sabes,
não mexas”.
Boas caminhadas
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