30 janeiro 2013

Socorro em montanha – 10ª parte – Lesões articulares e musculares

Antes de abordarmos o tema propriamente dito, tentaremos dar uma ideia das partes do sistema locomotor do nosso corpo referentes a este tema, excluindo o sistema esquelético que já foi abordado nas fracturas, e desta forma tentar ajudar a assimilar com maior facilidade os vários tipos de lesão que vamos abordar.




Sistema articular

Uma articulação é um local de união entre dois ou mais ossos, independentemente do grau de movimento permitido por essa junção.
O corpo humano tem 230 articulações. As articulações classificam-se em três grupos: sinartroses (imóveis), anfiartroses (ligeiramente móveis) e diartroses ou sinoviais (de movimentos livres).
Nas diartroses a articulação está contida numa cápsula fibrosa revestida com uma membrana (a membrana sinovial) que secreta um lubrificante (líquido sinovial), e as superfícies articulares deslizam uma sobre a outra.
O movimento nos outros tipos de articulação, por outro lado, ocorre entre ossos ligados por tecido fibroso ou cartilagem – os Ligamentos.


flexão dobra e a extensão endireita uma articulação. A abdução afasta o membro e a adução aproxima o membro em relação ao plano médio. As rotações são movimentos em torno de um eixo longitudinal. Denomina-se de pronação o movimento dado à mão, de forma que o polegar fique ao lado do corpo e a palma para baixo. A supinação corresponde à posição da mão, de forma que a palma fique voltada para cima ou para diante (em oposição à pronação).





Sistema muscular

O corpo humano tem três tipos de tecidos musculares, num total de 720 músculos: o tecido muscular liso, o tecido muscular estriado cardíaco e o tecido muscular estriado esquelético.
A musculatura estriada esquelética constitui a maior parte do volume muscular corpóreo (cerca de 41% nos homens e 36% nas mulheres). Ela compreende os músculos que estão ligados ao esqueleto e que são responsáveis pela movimentação do corpo. Os músculos esqueléticos têm contracção voluntária.
O músculo cardíaco, embora com uma estrutura e propriedades fisiológicas semelhantes ao músculo esquelético, existe somente no coração e é responsável pela sua contracção.




A contracção do músculo liso não está sob controlo voluntário (por exemplo, paredes dos vasos sanguíneos, do intestino, do sistema urinário, do estômago e de outras cavidades internas do organismo). A sua estrutura e propriedades fisiológicas são diferentes das dos músculos esqueléticos e cardíaco. Alguns músculos sobrevivem, até duas horas, sem oxigénio.






As lesões do aparelho locomotor podem ser:

. Fracturas, se afectam os ossos (tema já abordado noutro artigo)
. Entorses e luxações, se afectam os ligamentos articulares.
. Lesões musculares, se afectam os músculos.

Portanto:

Entorse:

É uma ruptura ou torção incompleta de um ligamento ou de um conjunto de ligamentos que reforçam uma articulação sendo responsáveis pela estabilidade da mesma articulação. Também se aplica a ruptura incompleta de músculos e tendões. Geralmente é provocada por um repuxamento violento ou movimento forçado a esse nível.




Sinais e sintomas
. Dor forte, no momento do acidente, que aumenta com o movimento.




. Edema (inchaço) na região articular.




. Equimose (nódoa negra), em alguns casos.




Primeiro socorro
. Instalar a vítima em posição confortável.
. Fazer aplicações frias no local.
. Conferir apoio à articulação, envolvendo-a em camada espessa de algodão que se fixa com uma ligadura.
. Em caso de dúvida, imobilizar a articulação como se de uma fractura se tratasse e promover o transporte a um centro hospitalar.





Luxação
Consiste na perda de contacto das superfícies articulares por deslocação dos ossos que formam uma articulação, o que acontece quando esta sofre uma violência directa ou indirecta, podendo ser provocada por uma queda ou uma pancada, resultando geralmente de um traumatismo costumando ser acompanhado de rúptura dos ligamentos e da cápsula, podendo existir ou não fractura de um ou mais ossos.

Sinais e sintomas
. Dor violenta e muito aguda.
. Impotência funcional.
. Deformação.
. Edema.




Podem surgir algumas complicações provocando paralisia:
. A luxação de uma vértebra por grave traumatismo sobre o dorso pode provocar paralisia do corpo abaixo do nível da lesão. (tema a abordar num próximo artigo)
. A luxação da articulação do ombro ou da anca pode lesar os nervos mais importantes do braço ou da perna, resultando também em paralisia.



Primeiro socorro
. Instalar a vítima em posição confortável.
. Imobilizar sem fazer qualquer redução.
. Aplicar frio, por exemplo, gelo ou neve envoltos num pano de forma a evitar lesões pelo frio em contacto directo com a pele.
. Prevenir e combater o choque.
. Promover o transporte a um centro hospitalar.






Subluxação

Similar à luxação, apenas que a perda de contacto das superfícies articulares não é completa, deixando o deslocamento, ainda,  superfícies articulares em contacto parcial.




Lesões musculares

Distensão muscular:

Quando um músculo ou conjunto de músculos se estica demasiado pode mesmo originar a ruptura das fibras que compõem os músculos, resultante de um esforço para além da sua resistência, como consequência de um movimento violento e brusco. Esta lesão denomina-se distenção, e ocorrem, em geral, quando se levantam pesos numa postura incorrecta ou durante a prática desportiva.
A união músculo tendinosa é muito vulnerável a lesões, constituindo o local mais frequente das rupturas. Os músculos que apresentam maior risco de rupturas são os que atravessam duas articulações.





Músculos da curva:

São as lesões dos músculos mais frequentes. Ocorrem no decurso de actividades interactivas a grande velocidade e estão relacionadas com um mau aquecimento prévio, resistência deficiente ou exercício em climas frios.






Bícepes:
Muito frequentes entre o quarto e o sexto decénios de vida. É raro nos atletas jovens. Cerca de 97% dos casos afectam a unidade músculo-tendinosa proximal.

Tricípedes:
Esta lesão é mais frequente nos homens jovens. O mecanismo do trauma pode ser uma queda sobre um braço voltado para fora, embora possa dar dar-se espontaneamente ou no decurso de um golpe directo.

Quadricipedes:
É mais frequente depois de um golpe directo no músculo.

Gastrocnémio:
É muito frequente em atletas mal preparados fisicamente. Ocorre por dorsiflexão do pé enquanto se distende o joelho e se empurra para levantá-lo.

Sinais e sintomas
. Dor súbita e aguda no local da lesão que pode irradiar para fora.
. Rigidez muscular.
. Edema.
. Equimose.
. Cãibra.
. Inflamação do local.
. Perda de funcionalidade do músculo afectado.




Primeiro socorro
. Instalar a vítima em posição confortável.
. Estabilizar a zona lesada e levantá-la, se de um membro se trata.
. Se o acidente é recente, fazer aplicações frias durante 30 minutos.
. Comprimir a zona afectada. Aplicar uma camada espessa de algodão, fixando-a com uma ligadura
. Repouso absoluto do músculo, mantendo-o imóvel.
. Em caso de dúvida sobre a situação, imobilizar como se de uma fractura se tratasse.
. Se houver dúvidas sobre o estado da vítima, promover o transporte a um centro hospitalar.





Cãibra

Contracção sustentada, involuntária, intensa e dolorosa de um músculo ou de um conjunto de músculos, provocada por situações de fadiga muscular, sudação abundante ou qualquer outra situação que provoque desidratação.






Sinais e sintomas
. Dor local de instalação súbita.
. Rigidez muscular.
. Edema.

Primeiro socorro
. Distender os músculos afectados forçando o seu relaxamento.







. Massajar suavemente o local.
. Aplicar, localmente e de forma indirecta, calor.
. No caso de as cãibras se tornarem repetitivas após um grande desgaste físico, como por exemplo,  uma caminhada muito prolongada, a vítima pode ingerir uma pastilha de magnésio (que geralmente atenua ou resolve a situação).




Lesões musculares agúdas

Podem ser sem lesão de fibras musculares (contractura, alongamento) ou pode ser com lesão de fibras (rupturas fibrilares parciais ou totais). Um tipo de lesão muscular são as dores.




Dores musculares

São parte de um processo de adaptação ao exercício sendo devidas a lesões musculares microscópicas produzidas por um trabalho mecânico sobre umas fibras musculares que não estão preparadas para esse exercício, seja por estarem cansadas, por não serem as fibras adequadas para o trabalho solicitado (geralmente fibras rápidas) ou por ambas as razões. A zona afectada, é geralmente a músculo-tendinosa, porque é no local de transição da zona contráctil a zona elástica onde as fibras musculares sofrem mais tensão.  A ruptura celular liberta substâncias que produzem dor e inflamação. A inflamação retém água (edema), que com o repouso incha a zona afectada comprimindo as fibras nervosas e aumentando o desconforto. Este edema diminuirá, quando se realizar um novo exercício com a conseguinte diminuição da compressão sobre as fibras nervosas e diminuição da dor.
A aplicação de frio local (gelo envolto num tecido) após a pratica de exercícios em que a solicitação de um determinado grupo de músculos tenha sido elevada pode melhorar os sintomas. Quando já apareceram as dores, deve-se efectuar um aquecimento mais prolongado antes de um novo exercício, assim como uma massagem superficial. Se for necessário pode-se administrar um analgésico. O período de recuperação é de 3 a 5 dias, mas a recuperação da força máxima não ocorre antes de 7 a 15 dias.






Actuação por parte do socorrista/montanheiro
Apenas se podem tratar de forma extra-hospitalar as contusões, distenções e algumas fracturas sem deslocamento.




Lesões musculares e articulares

Entorses e luxações

Sinais e sintomas comuns:
. Dor intensa
. Inchaço
. Equimoses




Sinais e sintomas diferenciados:

. Entorses: a articulação pode-se mover, ainda que seja doloroso.

. Luxações: impotência funcional e deformação da articulação.

Em caso de dúvida trata-se como se fosse uma luxação.




Actuação do socorrista perante uma entorse:

. Manter a articulação em repouso e apoiada.
. Aplicar frio local (gelo, neve) indirecta e localmente, durante cerca de 30 minutos. Deve-se envolver o gelo ou a neve num tecido para evitar lesões devido ao frio.
. Comprimir a zona da lesão com uma ligadura compressiva, colocando algodão sobre a zona atingida. De seguida deve-se imobilizar a articulação.
. Deve-se manter o membro elevado.
. Promover o transporte para um centro hospitalar.

Actuação do socorrista perante uma luxação:

. Nas luxações não é recomendada a tracção no eixo  para tentar a redução, pois pode aumentr as lesões internas. Imobiliza-se na posição que se encontrou.
. Promover o transporte para um centro hospitalar.





 Lesões musculares

As lesões musculares caracterizam-se por dor e impotência funcional. Nas contracturas e alongamentos costuma existir antecedentes de esforço incomum ou de exercícios de flexibilidade. Nas roturas o ferido recorda o momento da lesão. Por vezes aparece hematoma ou existe dor à palpação ou à mobilidade.




Tratamento:
Contracturas e alongamentos:
. Descanso da actividade que originou a lesão.
. Calor seco durante 2 a 5 dias.
. Relaxantes musculares e por vezes, anti-inflamatórios.





Rupturas musculares

. Repouso absoluto da zona lesionada.
. Frio Local durante as primeiras 48 horas: sessões de 15 a 20 minutos em cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou a neve num pano para evitar lesões pelo frio.
. Calor local depois das primeiras 48 a 72 horas.
. Anti-inflamatórios tipo ibuprofeno.
. Fisioterapia





Lesões dos dedos produzidas pela escalada

A flexão dos dedos é muito potente. Os músculos responsáveis pela flexão são executados através de um deslizamento  (canais) para assegurar o efeito de roldana. O uso repetitivo e a grande tensão que sofre o tendão pode levar a inflamação ou rompimento do canal.
A lesão mais frequente é a ruptura de uma roldana na base da primeira falange do 4º ou 3º dedo, esta ruptura aparece com o dedo arqueado e observa-se um ruido acompanhado de uma dor forte localizada.
Trata-se com frio local, repouso e imobilização.
A sobrecarga não dá tempo ao corpo para regenerar os tecidos, motivo porque se deve respeitar o tempo de repouso.




Os tendões também se podem lesionar, originando lesões microscópicas que por vezes não cicatrizam bem e formam um tecido fibroso, engrossando o tendão. Este tendão engrossado não correrá bem pelos canais, convertendo-se numa lesão difícil de tratar.
As medidas preventivas consistem em efectuar um pré-aquecimento e estiramentos, antes e depois de escalar. Uma boa hidratação, evitar o frio e recordar que quanto mais se dobram os tendões, mais tensão recebem as roldanas e mais possibilidades têm de se romper.




Síndromas de compartimento

Os músculos estão envoltos por uma casca ou compartimento pouco flexível. O inchaço destes músculos após um traumatismo, normalmente por achatamento, pode comprimir os vasos sanguíneos que irrigam o próprio músculo, devido à falta de flexibilidade da casca. Ao diminuir a irrigação sanguínea, o tecido muscular lesiona-se ou morre.

Sintomas e sinais:
Dor, inchaço, debilidade ou paralisia dos músculos afectados.

Tratamento:
. Retirar qualquer peça de roupa ou ligadura que aperte.
. Elevar a extremidade, no mínimo até ao nível do coração.
. Providenciar o transporte para um centro hospitalar para descomprimir cirurgicamente.

Luxações das extremidades, mais frequentes em montanha:




Luxações das falanges dos dedos, excepto o polegar

Tratamento:
Imobiliza-se o dedo lesionado colocando uma compressa entre esse dedo e o dedo do lado. De seguida unem-se os dois dedos com fita adesiva ou uma ligadura. Deixando o leito ungueal  à vista para controlar a correcta circulação do sangue.





Luxações interfalângicas

Este tipo de lesão resume-se à perda de contacto entre as superfícies da cabeça das falanges e a base das falanges adjacentes. Geralmente são posteriores.





Mecanismo:
Golpe ou híperextensão forçada.

Pesquisa:
Verifica-se uma deformação do dedo com perda de relevos ósseos, dedo em extensão.

Palpação:
Relevos anormais.

Mobilidade:
Impotência funcional e rigidez elástica.




Tratamento:
Socorrista/Montanhista com adequados conhecimentos: efectua a imobilização com a ajuda de talas digitais em semi-flexão durante 20 dias, fixando se necessário for, o dedo saudável adjacente para desta forma aumentar a solidez da ligadura. As talas digitais colocam-se sempre com o dedo em flexão como se estivesse a segurar uma esfera, e abrangendo até ao pulso. Deve-se tentar colocar as articulações metacarpofalângicas a 90º de flexão, as articulações interfalângicas em extensão e o polegar em abdução.

Equipas de resgate: Se não existir fractura associada, pode-se tentar fazer a redução fazendo tracção
do dedo.







Luxação da articulação metacarpofalângica do polegar

Mecanismo:
É secundária a uma hiperextensão forçada do polegar.

Tratamento:
Socorrista/Montanhista com adequados conhecimentos: Deve fazer a imobilização do dedo em posição funcional.
Equipes de resgate: Podem tentar fazer a redução fazendo tracção rápida do polegar, pressionando simultaneamente a cabeça metacarpiana.






Ruptura do ligamento lateral interno do polegar

Mecanismo:
É secundária a uma hiperextensão forçada do polegar.

Pesquisa:
Se não for diagnosticada e tratada atempadamente, pode originar uma subluxação metacarpofalângica progressiva que afectará o movimento de pinça do polegar, originando uma incapacidade permanente.
Estender completamente a articulação metacarpofalângica e forçar o ligamento lateral interno abduzindo a falange proximal, de seguida, repetir com o polegar flectido, até notar que a articulação cede. A sensibilidade da face interna da articulação pode ser dolorosa.




Tratamento:
Socorrista/Montanhista com adequados conhecimentos: Efectuar a imobilização em posição funcional e providenciar o transporte para um centro hospitalar.

Equipas de resgate com meios suficientes: Se a flacidez for leve (ruptura incompleta) trata-se engessando durante 6 semanas. Se a flacidez for grande, terá que ser tratado cirurgicamente.




Luxação acromioclavicular

É a ruptura ou distenção dos ligamentos acromioclaviculares e/ou coraclaviculares.
Estas lesões podem-se associar a uma fractura do terço externo da clavícula.





Mecanismo:
Queda sobre a parte superior do ombro, forçando-a para baixo ao rodar sobre o ombro.

Pesquisa:

Subluxação: Aspecto normal ou pequena inflamação local do acrômio.

Luxação: Equimose e proeminência do extremo distal da clavícula e proximal do acrômio.
Surge o sinal chave (subida da clavícula no seu terço médio) que consiste em reduzir o extremo distal da clavícula pressionando para baixo, e este volta-se a luxar quando abandonamos a pressão.

Mobilidade:
Dor e limitação da abdução do braço de forma activa a partir dos 90º.

Tratamento:
Imobilização: Se não existir ruptura ligamentosa coloca-se uma ligadura e imobiliza-se o membro.




Luxação do ombro

É a perda de contacto entre a cabeça do úmero e a cavidade da escápula onde se insere o úmero, sendo a luxação mais frequente (cerca de 45 a 60% de todas as luxações).




Mecanismo:
Golpe sobre o ombro, de trás para a frente, ou queda sobre o braço em abdução, extensão e rotação externa.

Pesquisa:
Perda das proeminências ósseas e da forma arredondada do ombro. Ligeira abdução e rotação interna do braço.

Palpação:
Cabeça do úmero em posição anterior e inferior à clavícula. Pode-se palpar a cavidade glenoidal ao pressionar o músculo deltóide. Em caso de dúvida pode-se palpar a posição relativa da cabeça do úmero e a cavidade glenoidal palpando a axila.

Mobilidade:
Impotência funcional com rigidez elástica na mobilização passiva.

Tratamento:
Socorrista/Montanhista com adequados conhecimentos: Aplicar um cabresto sem prender o braço  ao corpo (pode-se colocar por exemplo, as luvas e o gorro na axila) e providenciar o transporte para um centro hospitalar.




Equipas de resgate: Apenas tentarão a redução quando não exista fractura associada.

Método de Kocher: Quando utilizarem este método (apenas equipas de resgate e pessoal habilitado para tal), em primeiro lugar administra-se um relaxante (diazepam 10 mg sublingual). De seguida aplica-se tracção e faz-se a rotação externa do braço muito lentamente, até chegar aos 90º, se a dor ou a contracção muscular o impedirem, deve-se administrar anestesia geral ao sinistrado. Se não se conseguir reduzir, coloca-se o ombro em adução, de forma que o cotovelo comece a cruzar o tórax, de seguida roda-se internamente o ombro levando a mão do sinistrado ao ombro contrário. Após efectuar a redução devem-se verificar os pulsos periféricos e a mobilidade do músculo trapézio, com a finalidade de excluir a lesão do nervo circunflexo (sensibilidade na zona onde se colocam os distintivos militares) e a artéria axilar.




Imobilização:
Na imobilização o braço deve ficar colado ao tronco com o cotovelo flectido, protegendo as zonas de contacto.

Tempo de imobilização: 3 semanas.




Luxação do cotovelo

Esta é a segunda luxação mais frequente, a seguir à luxação do ombro. Resume-se à perda de contacto das folhas articulares entre o cúbito com a tróclea do úmero e da cabeça do rádio com o côndilo do úmero. Geralmente são posteriores e estão associadas a um desagarre extenso da cápsula articular.

Mecanismo:
Queda sobre a palma da mão tendo o cotovelo em semi-flexão.

Pesquisa:
O cotovelo encontra-se em semi-flexão a aproximadamente 45º com sensação de encurtamento do braço. Olhando por trás observa-se uma deformidade provocada pela proeminência do olecrâneo.





Palpação:
Depressão em forma de passo e proeminência posterior exagerada do olecrâneo. O triângulo formado pelo epicôndilo-epitrochelea-olecrâneo, com o cotovelo em flexão, verifica-se alterado nas luxações do cotovelo.

É preciso descartar:

. Lesão do nervo cubital: para isso, pede-se ao sinistrado para segurar numa folha de papel entre o 4º e o 5º dedo e explora-se a sensibilidade cubital.

. Lesão do nervo mediano: confirma-se a contracção e potência do abdutor curto do polegar palpando o músculo, enquanto o sinistrado tenta resistir à pressão exercida sobre o polegar desde uma posição vertical e até ao plano da palma da mão. Explorar a sensibilidade do mediano.

. Lesão da artéria umeral: Palpando-se o pulso radial.

Mobilidade:
A rigidez elástica permite diferenciar a luxação da fractura supracondiliana do cotovelo, na qual é possível a mobilidade passiva do cotovelo.

Tratamento:
Socorrista/Montanhista com adequados conhecimentos: Aplica um cabresto e promove o transporte a um centro hospitalar.

Equipas de resgate: Se não existir fractura associada, podem tentar a redução. Para isso tracciona-se suavemente o antebraço fazendo contração do braço, aumentando simultaneamente a flexão deste e fazendo pressão directa sobre o olecrano para evitar deslocamentos laterais. Após fazer a redução.  Imobiliza-se o cotovelo a 90º com talas, desde a raíz dos dedos até ao terço médio do úmero.
Tempo de imobilização: 3 semanas.




Tendinite dos adutores

Diagnóstico:
Dor inguinal em desportistas.
Adução contra resistência dolorosa.





Tratamento:
Repouso e anti-inflamatórios.




Lesões dos ligamentos do joelho

É a distenção ou ruptura de um ou vários ligamentos articulares. Frequentemente associadas a lesões do menisco ou musculares.

Mecanismo:
Os ligamentos laterais lesionam-se devido a um movimento forçado do joelho. Se o joelho estiver em extensão completa pode-se advir ainda uma lesão dos ligamentos cruzados e limites capsulares posteriores.
Os ligamentos cruzados lesionam-se devido a traumatismos que originam antepulsão (ligamento cruzado anterior) ou retropulsão (ligamento cruzado posterior) da tíbia.

Pesquisa:
O exame deve ser bilateral com o lado saudável e verificar se existe flacidez ligamentosa.
Pode existir inflamação.


Palpação:
Dor na inserção e/ou trajecto dos ligamentos laterais do joelho.

Mobilidade:
Muito limitada devido à dor e derrame articular





As manobras de pesquisa efectuam-se com o sinistrado deitado de costas no solo.

Tratamento:
Imobilização com ligadura compressiva desde o terço médio da coxa até ao terço médio da perna.

Tempo de imobilização: De 2 a 3 semanas nos casos leves. A actividade desportiva será evitada durante 2 meses nas entorses leves, 4 meses em rupturas completas de ligamentos laterais e mais de 5 meses em rupturas de ligamento cruzado anterior.




Lesões do menisco do joelho

Mecanismo:
Ocorre durante a flexo-extensão do joelho combinada com rotação interna ou externa do fémur tendo a perna ficado firmemente assente no solo.





Pesquisa:
Anamnese: no momento da tensão ocorre dor intensa com sensação de aperto e de  deslocamento articular, ficando a dor fica mais difundida posteriormente.
Inspecção: A inflamação aparece lentamente.

Palpação:
 se existir derrame articular, observa-se união rótuliana.




Mobilidade:
Se não existir derrame articular a recuperação completa ocorre ao fim de poucas horas.

Manobras de exploração
Sinais funcionais: indicam inflamação parameniscal mas não se pressupõe rotura meniscal.

Manobra de Steimann I: Com o joelho flectido a 90º efectuam-se rotações do pé; quando existe lesão meniscal ocorre dor na interlinha articular  até à que se orienta com o calcanhar (menisco interno com a rotação externa do pé e menisco externo com a rotação interna do pé).



Manobra de Steimann II: A dor localiza-se na ponta do dedo, na interlinha articular, desaparecendo esta ao fazer a flexo-extensão do joelho.

Manobra de Bragard: É uma combinação de Steimann II e rotação do pé, provocando primeiro, o desaparecimento da dor ao flectir o joelho e, depois, o reaparecimento da dor ao efectuar rotações de pé e perna.

Sinais mecânicos: indicam ruptura meniscal.

Sinal de McMurray: efectua-se a hiperflexão do joelho, colocando um dedo na interlinha articular do menisco, que se explora ao mesmo tempo que se faz rotação do calcanhar para o interior ou exterior, conforme se queira verificar o menisco interno ou externo respectivamente. O dedo que palpa a interlinha pode sentir uma palpitação  dolorosa produzido pela prisão do menisco entre as duas superfícies articulares.





Tratamento:

Socorrista/Montanhista com adequados conhecimentos: Imobilização com ligadura compressiva desde o terço médio da coxa até ao terço médio da perna.

Equipas de resgate: Se existir derrame articular grave, deve-se evacuar prontamente com punção articular.




Entorse do tornozelo

É a distensão do complexo cápsulo-ligamentoso do tornozelo e que geralmente afecta os ligamentos externos.

Classificação:

Grau I (o leve): Distensão sem ruptura ligamentosa. Aparece uma dor intensa depois de um período assintomático (arrefecimento), existindo pouca tumefacção. A impotência funcional é variável.

Grau II (o moderado): Estiramento que ultrapassa o limite da elasticidade do ligamento originando ruptura de alguns feixes de fibras de um ligamento (ruptura parcial). Existe tumefacção de tecidos moles nas primeiras horas. Posteriormente aparece tumefacção articular e hematoma tardio.

Grau III (o grave):  Ruptura ligamentosa completa. Aparece dor instantânea muito intensa com hematoma imediato. A dor diminui em poucos minutos, permitindo por vezes a locomoção. O sinistrado nota um rasgo dos ligamentos em mais de 50% dos casos.

Mecanismo:
Torção do tornozelo.





Pesquisa:
Palpação: Deve-se descartar fracturas associadas.

Mobilidade
Limitação variável.

Tratamento:

Grau I:
. Aplicação de frio local em sessões de 15 a 20 minutos a cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou neve num pano para evitar lesões pelo frio directo.
. Ligadura compressiva com ligadura elástica (nunca rígida) desde a raíz dos dedos até debaixo
do joelho, durante uma semana.   




. Evitar a actividade desportiva durante 15 dias.

Grau II:
. Aplicação de frio local em sessões de 15 a 20 minutos a cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou neve num pano para evitar lesões pelo frio directo.
. Elevar o pé e caminhar auxiliado com canadianas ou bastões durante 48 a 72 horas.
. Anti-inflamatórios
. Imobilização com gesso durante 3 semanas, permitindo desta forma a locomoção.
. Evitar a actividade desportiva durante 2 meses.

Grau III:
. Aplicação de frio local em sessões de 15 a 20 minutos a cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou neve num pano para evitar lesões pelo frio directo.
. Anti-inflamatórios
. Imobilização com gesso durante 4 semanas, permitindo assim a locomoção.
. Possível intervenção cirúrgica.


Em situações de total ausência de ajuda especializada, e com os devidos conhecimentos pode-se actuar da seguinte forma, em situações exclusivamente extremas, perante uma luxação. quando ocorre uma luxação, aparece um inchaço e a lesão é muito dolorosa (A e B). A articulação deve ser recolocada no sítio antes que o inchaço e os espasmos musculares tornem esta recolocação difícil (os músculos junto à articulação começarão a apertar-se  quase imediatamente). Se isso falhar, arrisca-se a que o sinistrado fique com gangrena ou com uma deformação permanente.

Existem duas coisas que se devem ter presentes quando se estiver a recolocar uma articulação no seu lugar:

. Fazer como deve ser (saber o que se está a fazer).

. Fazer o mais depressa possível.

Para colocar uma articulação no lugar, puxa-se e move-se a extremidade a ela ligada na direcção em que esta normalmente se moveria. Isto deverá realinhar a articulação e retirar a pressão sobre os vasos sanguíneos e os nervos (C). Deixar de puxar a articulação e verificar a resposta dos nervos. Se houver um nervo contraído, deve-se repetir o procedimento. A aplicação de panos frios ajudará a reduzir a dor e o inchaço. Deve-se dar repouso à extremidade até a luxação ficar completamente curada.




Como sempre, alertamos para o facto de não fazer nada, a não ser que possua os conhecimentos e treinos necessários para tal. Por esse motivo aconselhamos a frequência de um curso de socorrismo ministrado por pessoas habilitadas para tal. Qualquer um dos métodos aqui abordados são extremamente complexos e perigosos de executar, podendo levar o sinistrado a uma incapacidade permanente, se o socorro for mal executado. Pelo que a regra de ouro continua a ser “se não sabe, simplesmente não mexa).





Boas caminhadas

Sem comentários:

Enviar um comentário

comentários