Sistema articular
Uma articulação é um local de união entre dois ou mais ossos,
independentemente do grau de movimento permitido por essa junção.
O corpo humano tem 230 articulações. As articulações classificam-se em
três grupos: sinartroses (imóveis), anfiartroses (ligeiramente móveis) e
diartroses ou sinoviais (de movimentos livres).
Nas diartroses a articulação está contida numa cápsula fibrosa
revestida com uma membrana (a membrana sinovial) que secreta um lubrificante
(líquido sinovial), e as superfícies articulares deslizam uma sobre a outra.
O movimento nos outros tipos de articulação, por outro lado, ocorre
entre ossos ligados por tecido fibroso ou cartilagem – os Ligamentos.
flexão dobra e a extensão endireita uma articulação. A abdução afasta o membro e a adução aproxima o membro em relação ao plano médio. As rotações são movimentos em torno de um eixo longitudinal. Denomina-se de pronação o movimento dado à mão, de forma que o polegar fique ao lado do corpo e a palma para baixo. A supinação corresponde à posição da mão, de forma que a palma fique voltada para cima ou para diante (em oposição à pronação).
Sistema muscular
O corpo humano tem três tipos de tecidos musculares, num total de 720
músculos: o tecido muscular liso, o tecido muscular estriado cardíaco e o
tecido muscular estriado esquelético.
A musculatura estriada esquelética constitui a maior parte do volume
muscular corpóreo (cerca de 41% nos homens e 36% nas mulheres). Ela compreende
os músculos que estão ligados ao esqueleto e que são responsáveis pela
movimentação do corpo. Os músculos esqueléticos têm contracção voluntária.
O músculo cardíaco, embora com uma estrutura e propriedades
fisiológicas semelhantes ao músculo esquelético, existe somente no coração e é
responsável pela sua contracção.
A contracção do músculo liso não está sob controlo voluntário (por
exemplo, paredes dos vasos sanguíneos, do intestino, do sistema urinário, do
estômago e de outras cavidades internas do organismo). A sua estrutura e
propriedades fisiológicas são diferentes das dos músculos esqueléticos e
cardíaco. Alguns músculos sobrevivem, até duas horas, sem oxigénio.
As lesões do aparelho
locomotor podem ser:
. Fracturas, se afectam os ossos (tema já abordado noutro artigo)
. Entorses e luxações, se afectam os ligamentos articulares.
. Lesões musculares, se afectam os músculos.
Portanto:
Entorse:
É uma ruptura ou torção incompleta de um ligamento ou de um conjunto
de ligamentos que reforçam uma articulação sendo responsáveis pela estabilidade
da mesma articulação. Também se aplica a ruptura incompleta de músculos e
tendões. Geralmente é provocada por um repuxamento violento ou movimento
forçado a esse nível.
Sinais e sintomas
. Dor forte, no momento do
acidente, que aumenta com o movimento.
. Edema (inchaço) na região
articular.
. Equimose (nódoa negra), em alguns casos.
Primeiro socorro
. Instalar a vítima em posição confortável.
. Fazer aplicações frias no local.
. Conferir apoio à articulação, envolvendo-a em camada espessa de
algodão que se fixa com uma ligadura.
. Em caso de dúvida, imobilizar a articulação como se de uma fractura
se tratasse e promover o transporte a um centro hospitalar.
Luxação:
Consiste na perda de contacto das superfícies articulares por
deslocação dos ossos que formam uma articulação, o que acontece quando esta
sofre uma violência directa ou indirecta, podendo ser provocada por uma queda
ou uma pancada, resultando geralmente de um traumatismo costumando ser
acompanhado de rúptura dos ligamentos e da cápsula, podendo existir ou não
fractura de um ou mais ossos.
. Dor violenta e muito aguda.
. Impotência funcional.
. Deformação.
. Edema.
Podem surgir algumas complicações provocando paralisia:
. A luxação de uma vértebra por grave traumatismo sobre o dorso pode
provocar paralisia do corpo abaixo do nível da lesão. (tema a abordar num
próximo artigo)
. A luxação da articulação do ombro ou da anca pode lesar os nervos
mais importantes do braço ou da perna, resultando também em paralisia.
Primeiro socorro
. Instalar a vítima em posição confortável.
. Imobilizar sem fazer qualquer redução.
. Aplicar frio, por exemplo, gelo ou neve envoltos num pano de forma a
evitar lesões pelo frio em contacto directo com a pele.
. Prevenir e combater o choque.
. Promover o transporte a um centro hospitalar.
Subluxação:
Similar à luxação, apenas que a perda de contacto das superfícies
articulares não é completa, deixando o deslocamento, ainda, superfícies articulares em contacto parcial.
Lesões musculares
Distensão muscular:
Quando um músculo ou conjunto de músculos se estica demasiado pode
mesmo originar a ruptura das fibras que compõem os músculos, resultante de um
esforço para além da sua resistência, como consequência de um movimento
violento e brusco. Esta lesão denomina-se distenção, e ocorrem, em geral,
quando se levantam pesos numa postura incorrecta ou durante a prática
desportiva.
A união músculo tendinosa é muito vulnerável a lesões, constituindo o
local mais frequente das rupturas. Os músculos que apresentam maior risco de
rupturas são os que atravessam duas articulações.
Músculos da curva:
São as lesões dos músculos mais frequentes. Ocorrem no decurso de
actividades interactivas a grande velocidade e estão relacionadas com um mau
aquecimento prévio, resistência deficiente ou exercício em climas frios.
Bícepes:
Muito frequentes entre o quarto e o sexto decénios de vida. É raro nos
atletas jovens. Cerca de 97% dos casos afectam a unidade músculo-tendinosa
proximal.
Tricípedes:
Esta lesão é mais frequente nos
homens jovens. O mecanismo do trauma pode ser uma queda sobre um braço voltado
para fora, embora possa dar dar-se espontaneamente ou no decurso de um golpe
directo.
Quadricipedes:
É mais frequente depois de um
golpe directo no músculo.
Gastrocnémio:
É muito frequente em atletas mal preparados fisicamente. Ocorre por
dorsiflexão do pé enquanto se distende o joelho e se empurra para levantá-lo.
Sinais e sintomas
. Dor súbita e aguda no local da lesão que pode irradiar para fora.
. Rigidez muscular.
. Edema.
. Equimose.
. Cãibra.
. Inflamação do local.
. Perda de funcionalidade do músculo afectado.
Primeiro socorro
. Instalar a vítima em posição
confortável.
. Estabilizar a zona lesada e
levantá-la, se de um membro se trata.
. Se o acidente é recente, fazer
aplicações frias durante 30 minutos.
. Comprimir a zona afectada.
Aplicar uma camada espessa de algodão, fixando-a com uma ligadura
. Repouso absoluto do músculo,
mantendo-o imóvel.
. Em caso de dúvida sobre a
situação, imobilizar como se de uma fractura se tratasse.
. Se houver dúvidas sobre o estado da vítima, promover o transporte a
um centro hospitalar.
Cãibra
Contracção sustentada, involuntária, intensa e dolorosa de um músculo
ou de um conjunto de músculos, provocada por situações de fadiga muscular,
sudação abundante ou qualquer outra situação que provoque desidratação.
Sinais e sintomas
. Dor local de instalação súbita.
. Rigidez muscular.
. Edema.
Primeiro socorro
. Distender os músculos afectados
forçando o seu relaxamento.
. Massajar suavemente o local.
. Aplicar, localmente e de forma
indirecta, calor.
. No caso de as cãibras se tornarem repetitivas após um grande
desgaste físico, como por exemplo, uma
caminhada muito prolongada, a vítima pode ingerir uma pastilha de magnésio (que
geralmente atenua ou resolve a situação).
Lesões musculares agúdas:
Podem ser sem lesão de fibras
musculares (contractura, alongamento) ou pode ser com lesão de fibras (rupturas
fibrilares parciais ou totais). Um tipo de lesão muscular são as dores.
Dores musculares:
São parte de um processo de adaptação ao exercício sendo devidas a
lesões musculares microscópicas produzidas por um trabalho mecânico sobre umas
fibras musculares que não estão preparadas para esse exercício, seja por
estarem cansadas, por não serem as fibras adequadas para o trabalho solicitado
(geralmente fibras rápidas) ou por ambas as razões. A zona afectada, é
geralmente a músculo-tendinosa, porque é no local de transição da zona
contráctil a zona elástica onde as fibras musculares sofrem mais tensão. A ruptura celular liberta substâncias que
produzem dor e inflamação. A inflamação retém água (edema), que com o repouso
incha a zona afectada comprimindo as fibras nervosas e aumentando o
desconforto. Este edema diminuirá, quando se realizar um novo exercício com a
conseguinte diminuição da compressão sobre as fibras nervosas e diminuição da
dor.
A aplicação de frio local (gelo envolto num tecido) após a pratica de
exercícios em que a solicitação de um determinado grupo de músculos tenha sido
elevada pode melhorar os sintomas. Quando já apareceram as dores, deve-se
efectuar um aquecimento mais prolongado antes de um novo exercício, assim como
uma massagem superficial. Se for necessário pode-se administrar um analgésico.
O período de recuperação é de 3 a 5 dias, mas a recuperação da força máxima não
ocorre antes de 7 a 15 dias.
Actuação por parte do
socorrista/montanheiro
Apenas se podem tratar de forma extra-hospitalar as contusões,
distenções e algumas fracturas sem deslocamento.
Lesões musculares e articulares
Entorses e luxações
Sinais e sintomas comuns:
. Dor intensa
. Inchaço
. Equimoses
Sinais e sintomas diferenciados:
. Entorses: a articulação pode-se mover, ainda que seja doloroso.
. Luxações: impotência funcional e deformação da articulação.
Em caso de dúvida trata-se como se fosse uma luxação.
Actuação do socorrista perante uma entorse:
. Manter a articulação em repouso e apoiada.
. Aplicar frio local (gelo, neve) indirecta e localmente, durante
cerca de 30 minutos. Deve-se envolver o gelo ou a neve num tecido para evitar
lesões devido ao frio.
. Comprimir a zona da lesão com uma ligadura compressiva, colocando
algodão sobre a zona atingida. De seguida deve-se imobilizar a articulação.
. Deve-se manter o membro elevado.
. Promover o transporte para um centro hospitalar.
Actuação do socorrista perante uma luxação:
. Nas luxações não é recomendada a tracção no eixo para tentar a redução, pois pode aumentr as
lesões internas. Imobiliza-se na posição que se encontrou.
. Promover o transporte para um centro hospitalar.
Lesões
musculares
As lesões musculares
caracterizam-se por dor e impotência funcional. Nas contracturas e alongamentos
costuma existir antecedentes de esforço incomum ou de exercícios de
flexibilidade. Nas roturas o ferido recorda o momento da lesão. Por vezes
aparece hematoma ou existe dor à palpação ou à mobilidade.
Tratamento:
Contracturas e alongamentos:
. Descanso da actividade que originou a lesão.
. Calor seco durante 2 a 5 dias.
. Relaxantes musculares e por vezes, anti-inflamatórios.
Rupturas musculares
. Repouso absoluto da zona lesionada.
. Frio Local durante as primeiras 48 horas: sessões de 15 a 20 minutos
em cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou a neve num pano para evitar
lesões pelo frio.
. Calor local depois das primeiras 48 a 72 horas.
. Anti-inflamatórios tipo ibuprofeno.
. Fisioterapia
Lesões dos dedos produzidas
pela escalada
A flexão dos dedos é muito potente. Os músculos responsáveis pela
flexão são executados através de um deslizamento (canais) para assegurar o efeito de roldana.
O uso repetitivo e a grande tensão que sofre o tendão pode levar a inflamação
ou rompimento do canal.
A lesão mais frequente é a ruptura de uma roldana na base da primeira
falange do 4º ou 3º dedo, esta ruptura aparece com o dedo arqueado e observa-se
um ruido acompanhado de uma dor forte localizada.
Trata-se com frio local, repouso e imobilização.
A sobrecarga não dá tempo ao corpo para regenerar os tecidos, motivo
porque se deve respeitar o tempo de repouso.
Os tendões também se podem lesionar, originando lesões microscópicas
que por vezes não cicatrizam bem e formam um tecido fibroso, engrossando o tendão.
Este tendão engrossado não correrá bem pelos canais, convertendo-se numa lesão
difícil de tratar.
As medidas preventivas consistem em efectuar um pré-aquecimento e
estiramentos, antes e depois de escalar. Uma boa hidratação, evitar o frio e
recordar que quanto mais se dobram os tendões, mais tensão recebem as roldanas
e mais possibilidades têm de se romper.
Síndromas de compartimento
Os músculos estão envoltos por
uma casca ou compartimento pouco flexível. O inchaço destes músculos após um
traumatismo, normalmente por achatamento, pode comprimir os vasos sanguíneos
que irrigam o próprio músculo, devido à falta de flexibilidade da casca. Ao
diminuir a irrigação sanguínea, o tecido muscular lesiona-se ou morre.
Sintomas e sinais:
Dor, inchaço, debilidade ou
paralisia dos músculos afectados.
Tratamento:
. Retirar qualquer peça de roupa ou ligadura que aperte.
. Elevar a extremidade, no mínimo até ao nível do coração.
. Providenciar o transporte para um centro hospitalar para
descomprimir cirurgicamente.
Luxações das extremidades, mais frequentes em montanha:
Luxações das falanges dos dedos, excepto o polegar
Tratamento:
Imobiliza-se o dedo lesionado colocando uma compressa entre esse dedo
e o dedo do lado. De seguida unem-se os dois dedos com fita adesiva ou uma
ligadura. Deixando o leito ungueal à
vista para controlar a correcta circulação do sangue.
Luxações interfalângicas
Este tipo de lesão resume-se à
perda de contacto entre as superfícies da cabeça das falanges e a base das
falanges adjacentes. Geralmente são posteriores.
Mecanismo:
Golpe ou híperextensão forçada.
Pesquisa:
Verifica-se uma deformação do
dedo com perda de relevos ósseos, dedo em extensão.
Palpação:
Relevos anormais.
Mobilidade:
Impotência funcional e rigidez
elástica.
Tratamento:
Socorrista/Montanhista com
adequados conhecimentos: efectua a imobilização com a ajuda de talas digitais
em semi-flexão durante 20 dias, fixando se necessário for, o dedo saudável
adjacente para desta forma aumentar a solidez da ligadura. As talas digitais
colocam-se sempre com o dedo em flexão como se estivesse a segurar uma esfera,
e abrangendo até ao pulso. Deve-se tentar colocar as articulações
metacarpofalângicas a 90º de flexão, as articulações interfalângicas em
extensão e o polegar em abdução.
Equipas de resgate: Se não existir fractura associada, pode-se tentar fazer
a redução fazendo tracção
do dedo.
Luxação da articulação metacarpofalângica do polegar
Mecanismo:
É secundária a uma hiperextensão
forçada do polegar.
Tratamento:
Socorrista/Montanhista com
adequados conhecimentos: Deve fazer a imobilização do dedo em posição
funcional.
Equipes de resgate: Podem tentar fazer a redução fazendo tracção
rápida do polegar, pressionando simultaneamente a cabeça metacarpiana.
Ruptura do ligamento lateral interno do polegar
Mecanismo:
É secundária a uma hiperextensão
forçada do polegar.
Pesquisa:
Se não for diagnosticada e
tratada atempadamente, pode originar uma subluxação metacarpofalângica
progressiva que afectará o movimento de pinça do polegar, originando uma
incapacidade permanente.
Estender completamente a
articulação metacarpofalângica e forçar o ligamento lateral interno abduzindo a
falange proximal, de seguida, repetir com o polegar flectido, até notar que a
articulação cede. A sensibilidade da face interna da articulação pode ser
dolorosa.
Tratamento:
Socorrista/Montanhista com
adequados conhecimentos: Efectuar a imobilização em posição funcional e
providenciar o transporte para um centro hospitalar.
Equipas de resgate com meios
suficientes: Se a flacidez for leve (ruptura incompleta) trata-se engessando
durante 6 semanas. Se a flacidez for grande, terá que ser tratado
cirurgicamente.
Luxação acromioclavicular
É a ruptura ou distenção dos
ligamentos acromioclaviculares e/ou coraclaviculares.
Estas lesões podem-se associar a
uma fractura do terço externo da clavícula.
Mecanismo:
Queda sobre a parte superior do
ombro, forçando-a para baixo ao rodar sobre o ombro.
Pesquisa:
Subluxação: Aspecto normal
ou pequena inflamação local do acrômio.
Luxação: Equimose e
proeminência do extremo distal da clavícula e proximal do acrômio.
Surge o sinal chave (subida da
clavícula no seu terço médio) que consiste em reduzir o extremo distal da clavícula
pressionando para baixo, e este volta-se a luxar quando abandonamos a pressão.
Mobilidade:
Dor e limitação da abdução do
braço de forma activa a partir dos 90º.
Tratamento:
Imobilização: Se não existir ruptura ligamentosa coloca-se uma
ligadura e imobiliza-se o membro.
Luxação do ombro
É a perda de contacto entre a
cabeça do úmero e a cavidade da escápula onde se insere o úmero, sendo a
luxação mais frequente (cerca de 45 a 60% de todas as luxações).
Mecanismo:
Golpe sobre o ombro, de trás para
a frente, ou queda sobre o braço em abdução, extensão e rotação externa.
Pesquisa:
Perda das proeminências ósseas e
da forma arredondada do ombro. Ligeira abdução e rotação interna do braço.
Palpação:
Cabeça do úmero em posição
anterior e inferior à clavícula. Pode-se palpar a cavidade glenoidal ao
pressionar o músculo deltóide. Em caso de dúvida pode-se palpar a posição
relativa da cabeça do úmero e a cavidade glenoidal palpando a axila.
Mobilidade:
Impotência funcional com rigidez
elástica na mobilização passiva.
Tratamento:
Socorrista/Montanhista com
adequados conhecimentos: Aplicar um cabresto sem prender o braço ao corpo (pode-se colocar por exemplo, as
luvas e o gorro na axila) e providenciar o transporte para um centro
hospitalar.
Equipas de resgate: Apenas
tentarão a redução quando não exista fractura associada.
Método de Kocher: Quando
utilizarem este método (apenas equipas de resgate e pessoal habilitado para
tal), em primeiro lugar administra-se um relaxante (diazepam 10 mg sublingual).
De seguida aplica-se tracção e faz-se a rotação externa do braço muito
lentamente, até chegar aos 90º, se a dor ou a contracção muscular o impedirem,
deve-se administrar anestesia geral ao sinistrado. Se não se conseguir reduzir,
coloca-se o ombro em adução, de forma que o cotovelo comece a cruzar o tórax,
de seguida roda-se internamente o ombro levando a mão do sinistrado ao ombro
contrário. Após efectuar a redução devem-se verificar os pulsos periféricos e a
mobilidade do músculo trapézio, com a finalidade de excluir a lesão do nervo
circunflexo (sensibilidade na zona onde se colocam os distintivos militares) e
a artéria axilar.
Imobilização:
Na imobilização o braço deve
ficar colado ao tronco com o cotovelo flectido, protegendo as zonas de
contacto.
Tempo de imobilização: 3 semanas.
Luxação do cotovelo
Esta é a segunda luxação mais
frequente, a seguir à luxação do ombro. Resume-se à perda de contacto das
folhas articulares entre o cúbito com a tróclea do úmero e da cabeça do rádio
com o côndilo do úmero. Geralmente são posteriores e estão associadas a um
desagarre extenso da cápsula articular.
Mecanismo:
Queda sobre a palma da mão tendo
o cotovelo em semi-flexão.
Pesquisa:
O cotovelo encontra-se em
semi-flexão a aproximadamente 45º com sensação de encurtamento do braço.
Olhando por trás observa-se uma deformidade provocada pela proeminência do
olecrâneo.
Palpação:
Depressão em forma de passo e
proeminência posterior exagerada do olecrâneo. O triângulo formado pelo
epicôndilo-epitrochelea-olecrâneo, com o cotovelo em flexão, verifica-se
alterado nas luxações do cotovelo.
É preciso descartar:
. Lesão do nervo cubital: para
isso, pede-se ao sinistrado para segurar numa folha de papel entre o 4º e o 5º
dedo e explora-se a sensibilidade cubital.
. Lesão do nervo mediano:
confirma-se a contracção e potência do abdutor curto do polegar palpando o
músculo, enquanto o sinistrado tenta resistir à pressão exercida sobre o
polegar desde uma posição vertical e até ao plano da palma da mão. Explorar a
sensibilidade do mediano.
. Lesão da artéria umeral: Palpando-se
o pulso radial.
Mobilidade:
A rigidez elástica permite
diferenciar a luxação da fractura supracondiliana do cotovelo, na qual é
possível a mobilidade passiva do cotovelo.
Tratamento:
Socorrista/Montanhista com
adequados conhecimentos: Aplica um cabresto e promove o transporte a um centro
hospitalar.
Equipas de resgate: Se não
existir fractura associada, podem tentar a redução. Para isso tracciona-se
suavemente o antebraço fazendo contração do braço, aumentando simultaneamente a
flexão deste e fazendo pressão directa sobre o olecrano para evitar
deslocamentos laterais. Após fazer a redução.
Imobiliza-se o cotovelo a 90º com talas, desde a raíz dos dedos até ao
terço médio do úmero.
Tempo de imobilização: 3 semanas.
Tendinite dos adutores
Diagnóstico:
Dor inguinal em desportistas.
Adução contra resistência dolorosa.
Tratamento:
Repouso e anti-inflamatórios.
Lesões dos ligamentos do joelho
É a distenção ou ruptura de um ou
vários ligamentos articulares. Frequentemente associadas a lesões do menisco ou
musculares.
Mecanismo:
Os ligamentos laterais lesionam-se devido a um movimento forçado do
joelho. Se o joelho estiver em extensão completa pode-se advir ainda uma lesão
dos ligamentos cruzados e limites capsulares posteriores.
Os ligamentos cruzados lesionam-se devido a traumatismos que originam
antepulsão (ligamento cruzado anterior) ou retropulsão (ligamento cruzado
posterior) da tíbia.
Pesquisa:
O exame deve ser bilateral com o lado saudável e verificar se existe
flacidez ligamentosa.
Pode existir inflamação.
Palpação:
Dor na inserção e/ou trajecto dos
ligamentos laterais do joelho.
Mobilidade:
Muito limitada devido à dor e
derrame articular
As manobras de pesquisa efectuam-se com o sinistrado deitado de costas
no solo.
Tratamento:
Imobilização com ligadura
compressiva desde o terço médio da coxa até ao terço médio da perna.
Tempo de imobilização: De 2 a 3 semanas nos casos leves. A actividade
desportiva será evitada durante 2 meses nas entorses leves, 4 meses em rupturas
completas de ligamentos laterais e mais de 5 meses em rupturas de ligamento
cruzado anterior.
Lesões do menisco do joelho
Mecanismo:
Ocorre durante a flexo-extensão do joelho combinada com rotação
interna ou externa do fémur tendo a perna ficado firmemente assente no solo.
Pesquisa:
Anamnese: no momento da tensão
ocorre dor intensa com sensação de aperto e de
deslocamento articular, ficando a dor fica mais difundida posteriormente.
Inspecção: A inflamação aparece
lentamente.
Palpação:
se existir derrame articular, observa-se união
rótuliana.
Mobilidade:
Se não existir derrame articular
a recuperação completa ocorre ao fim de poucas horas.
Manobras de exploração:
Sinais funcionais: indicam
inflamação parameniscal mas não se pressupõe rotura meniscal.
Manobra de Steimann I: Com o
joelho flectido a 90º efectuam-se rotações do pé; quando existe lesão meniscal
ocorre dor na interlinha articular até à
que se orienta com o calcanhar (menisco interno com a rotação externa do pé e
menisco externo com a rotação interna do pé).
Manobra de Steimann II: A dor
localiza-se na ponta do dedo, na interlinha articular, desaparecendo esta ao
fazer a flexo-extensão do joelho.
Manobra de Bragard: É uma
combinação de Steimann II e rotação do pé, provocando primeiro, o
desaparecimento da dor ao flectir o joelho e, depois, o reaparecimento da dor
ao efectuar rotações de pé e perna.
Sinais mecânicos: indicam ruptura
meniscal.
Sinal de McMurray: efectua-se a
hiperflexão do joelho, colocando um dedo na interlinha articular do menisco,
que se explora ao mesmo tempo que se faz rotação do calcanhar para o interior
ou exterior, conforme se queira verificar o menisco interno ou externo
respectivamente. O dedo que palpa a interlinha pode sentir uma palpitação dolorosa produzido pela prisão do menisco
entre as duas superfícies articulares.
Tratamento:
Socorrista/Montanhista com
adequados conhecimentos: Imobilização com ligadura compressiva desde o terço
médio da coxa até ao terço médio da perna.
Equipas de resgate: Se existir derrame articular grave, deve-se
evacuar prontamente com punção articular.
Entorse do tornozelo
É a distensão do complexo
cápsulo-ligamentoso do tornozelo e que geralmente afecta os ligamentos
externos.
Classificação:
Grau I (o leve): Distensão sem
ruptura ligamentosa. Aparece uma dor intensa depois de um período assintomático
(arrefecimento), existindo pouca tumefacção. A impotência funcional é variável.
Grau II (o moderado): Estiramento
que ultrapassa o limite da elasticidade do ligamento originando ruptura de
alguns feixes de fibras de um ligamento (ruptura parcial). Existe tumefacção de
tecidos moles nas primeiras horas. Posteriormente aparece tumefacção articular
e hematoma tardio.
Grau III (o grave): Ruptura ligamentosa completa. Aparece dor
instantânea muito intensa com hematoma imediato. A dor diminui em poucos
minutos, permitindo por vezes a locomoção. O sinistrado nota um rasgo dos
ligamentos em mais de 50% dos casos.
Mecanismo:
Torção do tornozelo.
Pesquisa:
Palpação: Deve-se descartar
fracturas associadas.
Mobilidade:
Limitação variável.
Tratamento:
Grau I:
. Aplicação de frio local em sessões de 15 a 20 minutos a cada 4 a 6
horas, devendo-se envolver o gelo ou neve num pano para evitar lesões pelo frio
directo.
. Ligadura compressiva com ligadura elástica (nunca rígida) desde a
raíz dos dedos até debaixo
do joelho, durante uma semana.
. Evitar a actividade desportiva durante 15 dias.
Grau II:
. Aplicação de frio local em
sessões de 15 a 20 minutos a cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou
neve num pano para evitar lesões pelo frio directo.
. Elevar o pé e caminhar auxiliado
com canadianas ou bastões durante 48 a 72 horas.
. Anti-inflamatórios
. Imobilização com gesso durante 3
semanas, permitindo desta forma a locomoção.
. Evitar a actividade desportiva durante 2 meses.
Grau III:
. Aplicação de frio local em sessões
de 15 a 20 minutos a cada 4 a 6 horas, devendo-se envolver o gelo ou neve num
pano para evitar lesões pelo frio directo.
. Anti-inflamatórios
. Imobilização com gesso durante 4
semanas, permitindo assim a locomoção.
. Possível intervenção cirúrgica.
Em situações de total ausência de
ajuda especializada, e com os devidos conhecimentos pode-se actuar da seguinte
forma, em situações exclusivamente extremas, perante uma luxação. quando ocorre
uma luxação, aparece um inchaço e a lesão é muito dolorosa (A e B). A
articulação deve ser recolocada no sítio antes que o inchaço e os espasmos
musculares tornem esta recolocação difícil (os músculos junto à articulação
começarão a apertar-se quase
imediatamente). Se isso falhar, arrisca-se a que o sinistrado fique com
gangrena ou com uma deformação permanente.
Existem duas coisas que se devem
ter presentes quando se estiver a recolocar uma articulação no seu lugar:
. Fazer como deve ser (saber o
que se está a fazer).
. Fazer o mais depressa possível.
Para colocar uma articulação no
lugar, puxa-se e move-se a extremidade a ela ligada na direcção em que esta
normalmente se moveria. Isto deverá realinhar a articulação e retirar a pressão
sobre os vasos sanguíneos e os nervos (C). Deixar de puxar a articulação e
verificar a resposta dos nervos. Se houver um nervo contraído, deve-se repetir
o procedimento. A aplicação de panos frios ajudará a reduzir a dor e o inchaço.
Deve-se dar repouso à extremidade até a luxação ficar completamente curada.
Como sempre, alertamos para o facto de não fazer nada, a não
ser que possua os conhecimentos e treinos necessários para tal. Por esse motivo
aconselhamos a frequência de um curso de socorrismo ministrado por pessoas
habilitadas para tal. Qualquer um dos métodos aqui abordados são extremamente
complexos e perigosos de executar, podendo levar o sinistrado a uma
incapacidade permanente, se o socorro for mal executado. Pelo que a regra de
ouro continua a ser “se não sabe, simplesmente não mexa).
Boas caminhadas
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