Desta feita, descobrimos quase por mero acaso,
um artigo que consideramos bastante interessante, sobretudo na sequência
daquele que publicamos anteriormente. Como consideramos um trabalho bem
elaborado e de extrema utilidade decidimos publicá-lo na íntegra, limitando-nos
a fazer a tradução do mesmo para português.
Desde já damos os nossos parabéns ao seu autor, pelo
inequívoco mérito e qualidade do seu artigo.
Trabalho realizado por:
José A. Pérez González, Professor de Educação Física, diplomado pela
Escuela Central de Educación Física del Ejército.
Excursionismo/Pedestrianismo
e preparação física
Como melhorar os benefícios físicos do
excursionismo/Pedestrianismo, minimizando os seus riscos, incluindo conselhos
sobre a utilização de bastões.
Introdução
O excursionismo/pedestrianismo não é uma forma de preparação
física por si só, ainda que na realidade comporte uma interminável lista de
óbvios benefícios psicofísicos a quem o pratica regularmente. O desfrute da
natureza, a liberdade do campo aberto, afastado do ar poluído da nossa
envolvência habitual, a beleza da paisagem nova, a recompensa do esforço e o
alcançar do objectivo proposto, serão provavelmente o primeiro objectivo do
caminheiro, embora algumas vezes esta actividade tenha origem por “prescrição
facultativa” devido às repercussões positivas sobre o próprio organismo.
Também, como qualquer outra actividade física, o
excursionismo/pedestrianismo pode produzir
algumas consequências não desejadas. Uma actividade física
desproporcionada para a nossa idade e sobretudo para a nossa condição física ou
de saúde , pode agravar insuficiências funcionais já existentes. A intensidade
ou duração do esforço, o peso do mesmo, assim como o perfil do percurso e da
natureza do solo, podem causar lesões a longo ou curto prazo, dependendo sempre
da proporção entre as nossas possibilidades reais e o que nos exigimos.
Existem dois factores que influenciam cada vez mais sobre a
actividade física realizada mediante o excursionismo/pedestrianismo. Por um
lado, o sedentarismo próprio da sociedade de bem-estar em que vivemos,
levou-nos a manter durante a maior parte da nossa vida, graus de actividade e
posturas nas quais os nossos principais grupos musculares, incluindo o coração,
estão fora de sintonia, ou com uma actividade mínima. Por outro lado, a
sensação de prazer e liberdade que experimentamos no contacto com a natureza,
tão afastadas da nossa vida cotidiana e o pouco tempo disponível que as nossas
obrigações nos permitem para disfrutar, leva-nos com frequência a um
“descontrole” quando nos deslocamos ao campo ou à montanha, sem medir demasiado
as consequências desses excessos semanais, no melhor dos casos, ou meramente de
férias.
Este trabalho tem como objectivo, proporcionar ao caminheiro
uma série de conselhos básicos que lhe permitam um maior desfrute das suas
oportunidades de contacto com a natureza, permitindo garantir maiores benefícios
físicos do esforço realizado e minimizando os seus efeitos negativos. Para
maior facilidade de consulta e estruturação do conteúdo, este trabalho foi
dividido em quatro partes. A primeira antes
da marcha, trata do acondicionamento
do organismo para um exercício que supera a nossa actividade física cotidiana.
A segunda parte fala sobre o aproveitamento da actividade física realizada,
complementada com exercitação dos principais grupos musculares, para
proporcionar melhorias físicas, assim como a adaptação do corpo a uma menor actividade
física, através de uma série de exercícios realizados depois da marcha. A terceira parte inclui uma série de actividades
aconselháveis durante a realização do percorrido. Dirigidas tanto ao
relaxamento dos grupos musculares mais sobrecarregados, como â realização de
actividades complementares durante a
marcha, que tornem mais completo o exercício realizado durante toda a
jornada. De seguida foi incluído um artigo de conselhos práticos que, devido à sua simplicidade, pode ser fácil
ter presente em modo de decálogo para as nossas incursões. Finalmente,
convencido dos benefícios físicos que acarreta ao caminheiro a utilização
habitual de bastões e nas dúvidas existentes sobre a sua utilização, incluiu-se
neste capítulo um artigo sobre marcha
com bastões.
Este trabalho é destinado a todo o tipo de caminheiros, sem
necessidade de que tenham conhecimentos especiais de anatomia ou educação
física. Por esse motivo, fugiu-se à terminologia técnica, utilizando em sua
substituição expressões simples que possam facilitar a compreensão de exercícios
e sensações a qualquer tipo de leitor. Por último acrescenta-se que os
exercícios apresentados são apenas uma base de partida para não iniciados.
Realizados na sua totalidade, e, uma vez mecanizados, não devem demorar mais de
6 a 7 minutos antes da marcha, 3 a 5 minutos nos descansos e cerca de 10 a 15
minutos no final da marcha. A experiência pessoal aconselhará cada um na
substituição de uns exercícios por outros, no que respeita ao seu prolongamento
ou redução.
Antes da marcha
O aquecimento tem como finalidade adequar o nosso corpo a uma
actividade extraordinária. Os exercícios devem ser suaves, aumentando de
intensidade gradualmente, percorrendo todas as partes do nosso corpo que vão
ser submetidas a uma actividade extraordinária. No caso concreto, o
excursionismo/pedestrianismo. Portanto vamo-nos fixar fundamentalmente nas
costas, incluindo pescoço, ombros e zonas dorsal e lombar e ainda nas pernas.
Dada a natureza suave do exercício a realizar, não é
necessário um aquecimento longo e intenso, que, em condições normais se
conseguiria durante o início da própria marcha. O aquecimento é o que nos vai
ajudar a preparar para uns exercícios de estiramento, que nunca devemos
efectuar em frio e que proporcionam aos nossos músculos a elasticidade
necessária para permitir às nossas articulações uma mobilidade adequada às
exigências da atividade a realizar e principalmente, que nos ajudará a
controlar a redução de mobilidade articular a que nos habituaram a comodidade e
o sedentarismo. Não se trata de incrementar, antes do exercício a elasticidade
do músculo, mas sim de recuperar a que normalmente temos no final de uma sessão
de exercícios. A intensidade do estiramento não deve ser elevada, mas sim,
aquela que permita recuperar a mobilidade articular e adquirida anteriormente.
Exercícios de
aquecimento
Seguiremos uma sequência de baixo para cima, e de volta para
baixo, de forma a não esquecer nenhum dos grupos musculares que nos interessam.
1. Com os pés afastados à distância dos
ombros e as mãos nas ancas, flexionamos uma das pernas até ficar apoiado apenas
o metatarso desse pé. Coloca-se o peso do corpo sobre esse mesmo pé e fixando o metatarso, descrevemos pequenos
círculos com o tornozelo, alternando o sentido do movimento. Devem-se efectuar desde
5 a 7 repetições em cada sentido, com cada pé.
2. Com os pés afastados à largura dos
ombros, apoia-se toda a planta do pé no solo e colocam-se as mãos nas ancas, de
seguida efectua-se uma extensão completa e simultânea dos dois pés, até apoiar
somente os metatarsos no solo. Devem-se efectuar desde 15 a 20 repetições
rápidas.
3. Juntar os pés e flexionar um pouco
as pernas, inclinando o tronco para a frente até apoiar as mãos sobre os
joelhos. Descrever lentas circunferências horizontais com os joelhos unidos,
para a direita e para a esquerda. Devem-se efectuar 6 a 8 repetições em cada
sentido.
4. Partindo de uma posição com os pés
ligeiramente separados e os calcanhares um pouco levantados (se tivermos
dificuldade em manter o equilíbrio, podemos utilizar um ponto de apoio nas
nossas costas), eleva-se um joelho para o aproximar-mos do peito, para de
seguida estendermos a perna para a frente, baixando-a de seguida para a posição
inicial, num movimento contínuo. Deve-se realizar este exercício alternando
ambas as pernas, efectuando 5 a 7 repetições com cada perna.
5. Partindo da mesma posição do exercício
nº2, vai-se movendo as ancas de forma que o seu centro de gravidade descreva
uma circunferência de diâmetro aproximadamente igual à separação dos pés. Deve-se
efectuar para a direita e para a esquerda com 5 a 7 repetições em cada sentido.
6. Separando um pouco as pernas e
elevando as mãos à altura das clavículas. Lançar alternadamente cada um dos
braços, horizontalmente, para trás , girando a cabeça para lado do braço
lançado, tentando ver o calcanhar do pé contrário. Devem-se efectuar 5 a 7
repetições em cada sentido.
7. Começando com as pernas na mesma
posição do exercício anterior e com os braços relaxados ao longo do corpo.
Lançar um braço para cima, passando à nossa frente enquanto se lança o outro
braço para trás, alternando a posição dos braços num movimento contínuo. Devem-se
executar 8 a 10 repetições com cada braço.
8. Começando de uma posição de pernas afastadas
e as mãos nas ancas, descrever com a cabeça uma circunferência com centro na
verticalidade da coluna. O movimento deve ser tão amplo quanto se consiga, mas
muito, muito lento (de forma a evitar lesões). Alternar as circunferências para
a direita e para a esquerda. Devem-se efectuar 2 a 3 repetições em cada
sentido.
9. Posição inicial com as pernas
abertas e braços caídos nos lados do corpo. Lançar um braço pela sua lateral,
para cima, forçando-o por trás da cabeça, enquanto se lança o outro braço para
trás das costas. A partir desta posição alterna-se o movimento dos braços num
movimento contínuo. Devem-se efectuar 8
a 10 repetições em cada braço.
10. Começa-se de uma posição de pernas
esticadas e ligeiramente separadas, com um apoio para as mãos. Fazer uma grande
flexão de pernas lentamente, até ficar em “cócoras”, apoiado sobre os
metatarsos. Nesta posição, alterna-se a carga do peso sobre um e o outro
pé. Faz-se extensão das pernas , lentamente,
até voltar à posição inicial. Devem-se efectuar
de 5 a 7 repetições.
Exercícios de
estiramento
A regra a ter presente nos estiramentos antes do exercício, é
não forçar até ao ponto de sentir dor. Devemos sentir, a zona que queremos
trabalhar a estirar-se, e manter a posição durante 15 ou 20 segundos, sem
forçar e sem insistências. Deve-se concentrar as extensões, mais, sobre os
músculos que sejam mais flexíveis, do que nos tendões e ligamentos das
articulações.
11. Com uma perna flexionada e a outra
quase esticada para trás e com uma ligeira flexão do joelho, com as plantas dos
pés coladas ao chão, apoiam-se as mãos sobre uma superfície vertical e vai-se
inclinando o tronco para a frente até se notar o estiramento dos músculos da
parte posterior da perna. Aumentando a flexão da perna esticada, podemos
aumentar a tensão gradualmente. Na mesma posição, esticando completamente a
perna de trás e aumentando ligeiramente a flexão do corpo para a frente,
notaremos como sobe até à parte posterior do joelho. Deve-se repetir o
exercício com a outra perna.
12. Com os pés ligeiramente afastados e
as pernas com uma ligeira flexão (quase esticadas), flexiona-se o tronco para a
frente, deixando a cabeça caír do pescoço e aproximando as mãos aos dedos dos
pés, até se notar o estiramento dos músculos da face posterior da coxa. Esta
posição serve também para relaxar os músculos das costas.
13. Coloca-se um pé sobre um apoio
horizontal, à altura das ancas e flexiona-se o tronco sobre a perna elevada,
até se notar o estiramento dos músculos da face posterior da coxa e das
costas. Deve-se realizar o mesmo
exercício com a outra perna.
14. Convém criar apoio com uma mão, de
forma a facilitar o equilíbrio e seguidamente flexionar ligeiramente o corpo,
agarrando com a mão livre um dos pés estirando o corpo e puxando o pé para cima
e para trás, até se notar o estiramento dos músculos anteriores da coxa e da
perna. Deve-se realizar o mesmo exercício segurando o outro pé.
15. Com as pernas bem abertas,
empurra-se a pélvis para a frente até se notar o estiramento dos músculos da
face superior interna da coxa (abdutores), de seguida entrelaçam-se os dedos
das mãos, esticam-se os braços para cima e flexiona-se lateralmente o tronco
até se notar o estiramento dos músculos laterais do tronco. Realiza-se o mesmo
exercício para o outro lado. É importante manter cada posição de estiramento
durante 15 a 20 segundos, sem balançar.
Depois da marcha
Durante a marcha, aquecemos uma série de músculos que
posteriormente precisam ser relaxados. Uma vez efectuada a marcha e aquecidos
esses músculos, no final desta será o melhor momento para executar alguns
exercícios complementares dos específicos da marcha, de forma a obtermos
benefícios mais completos da jornada. Finalmente e estando os músculos quentes
será o momento de realizar alguns exercícios de estiramento mais intensos, que
melhorem a nossa mobilidade articular e ao mesmo tempo facilitar a diminuição
do tónus muscular, a corrente sanguínea e a posterior recuperação muscular. A
intensidade deve ser média, sem chegar a sentir dor.
Exercícios de
relaxamento
16. Em posição de pé, com as pernas
ligeiramente abertas, colocar um braço esticado para cima e o outro braço caído
naturalmente ao longo do corpo, realizam-se roletas rápidas dos braços à
frente, com centro de rotação nos ombros e com os braços soltos, como se
estivéssemos a nadar estilo mariposa. Deve-se efectuar de 8 a 10 repetições à
frente e outras tantas atrás.
17. Na posição de pé, com as pernas
afastadas e os braços “soltos” ao longo do corpo, giram-se os ombros para um e
o outro lado, mantendo fixas as ancas à frente. Utiliza-se a inércia dos braços
para prolongar a amplitude da rotação, até tentarmos ver os calcanhares. Devem-se
efectuar de 6 a 8 repetições em cada sentido.
18. Na posição de pé, com os pés
afastados à distância dos ombros e com as mãos colocadas nas ancas,
movimenta-se a pélvis de forma que o seu centro de gravidade descreva uma
circunferência de diâmetro aproximadamente igual à separação dos pés. Alternar
a circunferência para a direita e par a esquerda. Devem-se efectuar de 5 a 7
repetições em cada sentido.
19. Na posição de pé, com os pés
afastados à distância dos ombros, mantendo as pernas esticadas, deixa-se cair o
tronco para a frente e para baixo, com os braços “suspensos” dos ombros,
imprimindo a estes um rápido movimento de vaivém, para cima e para baixo,
soltando os ombros e os braços. Devem-se efectuar 2 a 3 repetições.
20. Deitado de barriga para cima numa
superfície dura e horizontal, lançam-se as pernas para trás e elevam-se os
quadris, apoiando-os. Nesta posição elevada, com a ajuda das nossas mãos e
antebraços, mantendo os braços apoiados no solo, formando a base de sustentação
com os ombros e a parte posterior da cabeça. Ainda nesta posição, com as pernas
próximas da verticalidade tensionam-se e relaxam-se em rápida sucessão, os
músculos internos das coxas, de forma que os joelhos se aproximem e se afastem
rapidamente durante uns segundos, “soltando” os músculos das pernas. De
seguida, deixa-se “cair” os joelhos até perto do peito. Devem-se efectuar de 4
a 6 repetições do exercício completo.
Exercícios de
estiramento
Repetem-se os exercícios de estiramentos 11 a 15 que fizemos
antes da marcha, aumentando um pouco a intensidade, visto que os músculos estão
agora mais quentes. É importante não chegar ao ponto de causar dor. Devemos ter
presente que a dor é uma das “luzes vermelhas” que o nosso organismo acende
para nos advertir que “romper” o músculo é um risco. Deve-se manter cada
estiramento entre 15 e 20 segundos. Os exercícios apresentados e que aqui
ocupariam os artigos 21 a 25, podem ser substituídos por alguns dos que
apresentamos a seguir, de preferência, por aqueles que incidam sobre regiões em
que notamos que perdemos mobilidade articular.
26. Sentados numa superfície dura e
horizontal, com as pernas unidas e ligeiramente flectidas, agarram-se as pontas
dos pés e, flexiona-se o tronco, estendendo-se as pernas até se notar o
estiramento dos músculos das costas e da face posterior das coxas e pernas.
27. A partir da mesma posição, sentada,
flexionam-se as pernas, juntando as plantas dos pés e deixando cair os joelhos.
Com as mãos puxam-se os pés para a pélvis sem os levantar do solo, até se notar
o estiramento da parte superior dos músculos da face interior das coxas.
28. Na posição de pé, com as pernas
esticadas e ligeiramente separadas, apoiam-se as mãos à frente, à altura
aproximada das ancas e flexiona-se o tronco para a frente com os braços
esticados. Nesta posição baixa-se o tronco até se notar o estiramento da zona
alta das costas, mesmo por debaixo dos ombros.
29. Com um braço elevado verticalmente,
baixa-se o antebraço por trás da cabeça para tocar o ombro contrário, enquanto que
com a outra mão, puxamos o cotovelo do braço dobrado para a parte posterior da
cabeça, até se notar o estiramento dos músculos posteriores do dito braço.
Repete-se o exercício com o outro braço.
30. Dobra-se um braço pela frente do
corpo, como se fosse tocar na orelha do lado oposto e força-se com a outra mão
no cotovelo do braço dobrado para cima, até se notar o estiramento no ombro do
braço dobrado. Deve-se repetir o exercício com o outro braço.
31. Com um braço caído ao longo do
corpo, sobe-se o antebraço por trás das costas, tentando alcançar a parte
posterior do pescoço. De seguida eleva-se o outro braço na vertical, baixando o
antebraço por trás da cabeça. Entrelaça-se as duas mãos puxando por ambas até
se notar o estiramento do braço elevado
do ombro contrário. Repetir o exercício alternando a posição dos braços.
Se não se conseguir entrelaçar as mãos,
utiliza-se uma corda que se agarra com as duas mãos para forçar o estiramento.
32. Sentados numa superfície horizontal
e dura, estende-se uma perna e flexiona-se
outra, passando o pé desta última por cima do joelho da outra, até se
apoiar a planta do pé no solo, na parte exterior do dito joelho. Com ambas as
mãos empurra-se o joelho da perna dobrada para o ombro do lado contrário até se
notar o estiramento dos glúteos da perna dobrada.
Exercícios
suplementares
Existem dois grupos de músculos de extrema importância, que
se trabalham pouco na vida sedentária actual, pelo facto de que, normalmente, passamos um grande número de
horas sentados. Nesta posição, mesmo mantendo uma posição correcta, os músculos
das costas, desde o pescoço até à região lombar, estão estirados, perdendo
“tono muscular”. Algo semelhante ao que acontece com um elástico que se mantém
sempre esticado. Todos estes músculos têm um papel fundamental na nossa vida,
pois são os responsáveis para manter a coluna no seu sítio correcto, prevenindo
deslocamentos anormais das vértebras, evitando lombalgias, dores de costas e
cervicais, tão frequentes, e em simultâneo fixam o ponto de apoio onde acabam
ou se iniciam todos os movimentos das nossas articulações.
Algo semelhante acontece com os músculos abdominais. Quando
estamos sentados, estes músculos estão relaxados, ao mesmo tempo que a caixa
visceral (estômago, fígado, intestinos, etc) os forçam para o exterior. Se a
isto acrescentarmos que este paquete visceral tem tendência a ficar mais
dilatado do que o seria desejável, pela normal desproporção entre o que
ingerimos e o que desgastamos, podemos concluir a necessidade de prestar uma
certa atenção a estes músculos.
A seguir, propõe-se uma série de exercícios simples para os
músculos das costas e os seus antagonistas e os músculos abdominais a realizar
com a marcha, de forma a completar os efeitos benéficos da mesma sob o nosso
organismo. No entanto é altamente recomendável não limitar estes exercícios à
nossa incursão dominical, mas sim repeti-los várias vezes ao longo da semana,
de preferência diariamente, de forma a conseguir resultados apreciáveis e
estáveis. É preferível começar com poucas repetições, se não estivermos
habituados a estes exercícios, para evitar lesões. O mais importante é a
progressão em dias sucessivos, aumentando sempre uma ou duas repetições em cada
ocasião.
Todos os exercícios são efectuados no solo e sobre uma
superfície horizontal e dura, sobre a qual possamos colocar uma manta dobrada
ou um tapete de poliuretano.
33. Deitados de barriga para cima, com
as mãos na nuca, com as pernas flectidas e as plantas dos pés apoiadas no solo,
elevar a cabeça e o tronco para os joelhos, até separar a metade superior das costas do solo,
voltando a apoia-la imediatamente.
34. Deitados de barriga para baixo, com
as mãos nas ancas, elevar ligeiramente o tronco
e fazer “tesouras” rápidas com os pés, enquanto vamos olhando para estes,
girando a cabeça alternadamente à direita e à esquerda.
35. Realizar novamente o exercício 33,
mas desta vez terminando o movimento de elevação do dorso com rotação do mesmo,
mandando um cotovelo ao joelho do lado contrário, o qual podemos elevar um
pouco para facilitar a aproximação.
36. Deitados de barriga para baixo e
apoiando as mãos no solo, de cada lado da cabeça, esticar completamente os
braços, levantando um pouco os pés do solo. Nesta posição, deve-se manter desde
a pélvis até aos joelhos em contacto com o solo, e a cabeça erguida, realizando
lentas e amplas rotações do pescoço à esquerda e à direita, tentando olhar
alternadamente, por um e outro lado para a parte posterior das pernas.
Durante a marcha
É aconselhável realizar paragens periódicas (10 minutos ao
cabo de cada hora ou 5 minuto ao fim de meia hora de caminhada em montanha),
que nos permitam descansar e relaxar os grupos musculares mais esforçados.
Exercitar um poucos os restantes músculos, ajustar o equipamento, repor ou
eliminar líquidos, etc. Isto que no exército se conhece como “disciplina de
marcha”, ajuda a manter um ritmo e superar quebras de resistência, necessitando
de maior ajuda quanto maior e prolongado seja o esforço realizado. É
conveniente que o local selecionado para a paragem nos ofereça o máximo de
comodidades, pelo menos que nos permita sentar.
Todos os exercícios de relaxamento recomendados para depois
da marcha (16 a 20) são igualmente aconselhados nestes “altos horários”,
diminuindo o número de repetições.
Também é aconselhável fazer alguns exercícios de estiramentos
(recomenda-se o 14 e o 26). Neste caso, o objectivo do estiramento é travar,
dentro do possível, a perda de elasticidade que se produz por consequência da
marcha e do progressivo aumento do tónus muscular. A intensidade será menor do
que nos estiramentos realizados após a marcha, de forma a evitar uma perda de
eficácia contráctil que entretanto vamos necessitar. Trata-se de favorecer a
relaxação dos músculos exercitados e melhorar o fluxo sanguíneo, facilitando
assim a sua recuperação.
Em casos de marchas de longo curso, em que teremos que
efectuar uma mudança de meias e palmilhas, o exercício implícito nesta operação
pode ser um bom resultado com os exemplos recomendados nos parágrafos
anteriores, com a vantagem de poder massajar os pés com um creme relaxante ou
antifricção.
Enquanto caminhamos, sem parar, podemos realizar alguns
exercícios simples de relaxamento de grupos musculares concretos. Isto é
possível, não apenas para a parte superior, mas também para a inferior.
Simplesmente alargando a passada em terreno plano (sobretudo se ajudados por
bastões), fazendo como, se o pé ficasse atrasado e colado ao solo por uns
décimos de segundo, com esta técnica consegue-se um alongamento extraordinário
e relaxante dos músculos da parte posterior da perna. Da mesma forma, lançando
um pé para a frente em cada passada, como se fossemos dando pequenos pontapés a
uma bola imaginária, conseguiremos relaxar um pouco a maioria dos músculos e
articulações das extremidades inferiores. O simples facto de mudar de lado no
caminho, ajuda-nos a aliviar os músculos
e articulações sobrecarregados pelos desníveis laterais do mesmo. Se
mantivermos estes pequenos detalhes na memória e mecanizarmos todos estes
gestos de forma que os realizemos automaticamente, conseguiremos um caminhar
muito mais saudável.
Conselhos práticos
Não leves mais do que o necessário
Nem mais, nem menos. O caderno de andarilhos “Questões
básicas sobre o equipamento” tem óptimos conselhos neste sentido. A própria
experiência vai-nos dizendo o que levamos a mais, ou o que devemos considerar
como sendo carga útil.
Não existe atalho sem trabalho
Os caminhos estão feitos como são, por algum motivo. Quando a
maioria elegeu essa via e não o atalho, deve existir uma razão para tal. Os
atalhos, normalmente têm implícito um esforço extra e um risco adicional. Se
apesar de tudo optarmos por um atalho, devemos ter boas razões para tomar essa
decisão e devemos ser conscientes dos seus inconvenientes.
Pisa o mais levemente possível
Temos apenas um par de pernas para toda a vida. Cada passo
que damos produz um microtraumatismo que multiplicado pelo número de passos
dados ao longo da nossa vida, resulta num desgaste articular que devemos
minimizar utilizando todas as possibilidades que se encontrem ao nosso alcance.
O calçado desportivo é cada vez melhor, e devemos considerar
e valorizar a grande protecção que nos oferece. Uma boa sola, resistente, mas
com capacidade para absorver os choques contra o solo e das irregularidades do
terreno é o ideal. A palmilha anatómica e com zonas de amortecimento para o
calcanhar e o metatarso, também é um ponto a considerar. Se as palmilhas que
nos são fornecidas com as botas não nos convencerem, podemos adquirir umas
melhores separadamente. A utilização de umas palmilhas normais absorventes,
sobre as anatómicas, também costuma ter bons resultados, pois além de manter o
pé mais seco durante a marcha, previne roçaduras, além de funcionar como mais
uma camada de amortecimento. Em marchas prolongadas, é conveniente transportar
um segundo par de palmilhas que nos permita trocá-las se as usadas até então
estiverem húmidas ou perderem a sua capacidade de amortecimento.
Os caminhos costumam ter uma parte da superfície mais lisa, por estar mais pisada ou rodada.
Devemos valorizar a possibilidade de andar pelas margens do caminho ou pela
zona com erva central, que é normalmente muito mais fácil. Estas alternativas
apresentam uma superfície mais irregular que os trilhos pisados, mas está longe
de ser um inconveniente, sendo normalmente uma vantagem, pois permitem que o pé
se vá apoiando em distintas posturas, repartindo melhor o esforço realizado
durante a caminhada e prevenindo lesões, principalmente se tivermos bastões
para ajudar na marcha. Logicamente que se as irregularidades mencionadas
passarem de um determinado nível, devemos avaliar o risco de uma entorse e
portanto devemos voltar para as zonas mais duras e lisas, com todos os seus
inconvenientes.
Vai sem pressa
O campo e a montanha vão continuar a estar lá. Quando saímos
para caminhar, vamos com o objectivo de desfrutar da natureza e não o devemos
fazer em corrida contra-relógio. Para além de a montanha ser uma envolvência
bela, mas exigente e onde é necessário efectuar um esforço extra para não
cometer erros que nos possam saír caros. A pressa é a principal causa dos erros
graves que costumam originar acidentes na montanha. É conveniente sair com
tempo de sobra para o percurso que pretendemos realizar, ou então, devemos
optar por outro mais curto, e contar com os meios para bivacar se existir a
mais remota possibilidade de que sejamos absorvidos pela noite.
Sabedoria popular
Devemos dar ouvidos aos ditados populares da montanha.
Dizeres como “quando existe nevoeiro na montanha, montanheiro na cabana” ou “sobe
como um velho, para chegares como um jovem”, encerram séculos de sabedoria que
é importante assimilar. Devemos dar ouvidos ás pessoas mais idosas do lugar.
Ajuda-te quanto possas
Os materiais modernos de excursionismo/pedestrianismo
permitem-nos aligeirar o peso e disfrutar de novas vantagens no que concerne a transpiração,
impermeabilidade, agasalho, protecção solar, etc, que é conveniente conhecer e
avaliar. Perder umas horas numa loja de desportos, sem pressas, sem ideia de
comprar nada, apenas admirando, lendo e perguntando, é uma boa alternativa.
Uma ajuda extra para o caminheiro e que lhe permite
incrementar os benefícios da marcha e
diminuir os seus inconvenientes, são os bastões. O capítulo seguinte aborda os
seus efeitos e fornece alguns conselhos de utilização, baseados numa
experiência pessoal.
Marcha com bastões
Nascida do interesse dos esquiadores nórdicos de fundo, para
manter uma atividade física similar durante os meses de verão sem neve, a
prática da marcha nórdica ou marcha com bastões generalizou-se nos seus países
de origem e espalhou-se rapidamente pelo resto do mundo, devido às suas indiscutíveis
vantagens.
Por um lado, a utilização dos bastões diminui o impacto sobre
o calcanhar e o peso suportado pelas pernas em cada passada, ao mesmo tempo que
ajuda na impulsão dos membros inferiores, aliviando o esforço que a marcha
exige. Por outro lado, a utilização dos bastões, permite realizar um esforço
compassado da parte superior do corpo, a qual dantes permanecia praticamente
inutilizada durante a marcha, aumentando portanto, o rendimento e a
racionalização de esforço total realizado na nossa jornada de marcha.
Resumindo, a utilização de bastões permite-nos andar mais, mais rapidamente,
com menor desgaste da parte inferior do corpo e exercitando também a parte
superior.
Ainda que os bastões possam parecer inicialmente um
inconveniente para um caminheiro que nunca os tenha utilizado, pode-se garantir
que rapidamente os considerarão uma ajuda imprescindível. É importante saber
usar os bastões correctamente. Os conselhos de utilização que se apresentam de
seguida, são fruto da experiência pessoal do autor deste artigo, pelo que devem
ser adaptados para cada caminheiro, aos seus próprios costumes e/ou “vícios” de
marcha, que todos possuem incondicionalmente após vários anos e quilómetros nas
pernas e nas costas.
Comprimento do bastão
A primeira interrogação do novo usuário de bastões de marcha,
será o comprimento que estes devem ter. Inicialmente, o conselho, é que o
bastão deve ter um comprimento tal, que agarrando-o correctamente pelo seu
punho e estando o bastão em posição vertical com a ponteira apoiada junto à
biqueira da bota, o antebraço da mão que o segura fique horizontal,
paralelamente ao solo. Depois com o uso, seremos capazes de ajustar a altura às
nossas características antropomorfológicas e às peculiaridades da nossa forma
de caminhar. Também existem os que preferem variar o comprimento dos bastões em função da
pendente ascendente ou descendente do caminho. Se forem bastões telescópicos e
reguláveis, pode-se modificar o seu tamanho até este se adaptar às nossas
necessidades particulares.
Agarre do bastão
A mão deve entrar na bandoleira ou dragoneira (correia
ajustável que sai da parte superior do punho), de baixo para cima, segurando de
seguida o punho de forma que o esforço de tracção que vamos realizar sobre o
bastão se reparta entre o punho e a bandoleira. A bandoleira além de garantir
que não perdemos os bastões, deve funcionar como amortecedor, evitando lesões
em alguns braços pouco acostumados a ajudar as pernas a caminhar.
Utilização dos bastões
Se verificarmos como caminhamos de forma natural, sem
bastões, verificamos que o fazemos através de movimentos compassados em que
cada braço se move de forma coordenada com a perna do lado oposto. Cada passo
consta das seguintes fases diferenciadas: 1.
Impostação: O pé adiantado entra em contacto com o solo com o calcanhar,
enquanto que a maior parte do nosso peso se mantém sobre o pé de trás; 2. Carga: Vamos apoiando o resto do pé
adiantado e ao mesmo tempo vamos colocando o nosso peso sobre ele ( a perna
flexiona-se ligeiramente para amortecer a carga); 3. Impulsão: A inércia faz com que o nosso peso passe pela frente
do pé, o que faz que a carga sobre este diminua, e então podemos esticar a
perna e o pé para nos impulsionar para a frente. Devemos caminhar devagar
alguns minutos, observando e diferenciando estas fases, para percebermos
sensações sobre o nosso caminhar e compreender melhor como poderemos utilizar
de forma correcta a ajuda proporcionada pelos bastões.
Levando em conta os esforços realizados nas três fases
analisadas, concluímos que os bastões, utilizados correctamente, devem-nos
ajudar a: 1. Minimizar o impacto da
impostação; 2. Aliviar a carga sobre
a perna e o pé; 3. Potenciar a
impulsão para a frente.
Durante a marcha em terreno plano, a ponteira do bastão deve
entrar em contacto com o solo ao mesmo tempo que o tacão da bota do pé
contrário, de forma que amorteça o impacto sobre o calcanhar desse mesmo pé. O
bastão deve formar nesse momento, um ângulo mínimo de 30º com a verticalidade,
estando o braço que o segura, praticamente esticado. Se observarmos a
descomposição da força exercida sobre o bastão, esta inclinação permitirá que
nos apoiemos sobre o bastão no momento da impostação e da carga, aliviando os
efeitos negativos destas acções sobre os membros inferiores, assim como se deve
exercer um esforço de tracção sobre a bandoleira e o punho que ajudará na
impulsão, até que o pé abandone o solo para iniciar o passo seguinte , sendo
este o momento em que o braço leva o bastão para a frente para iniciar um novo
ciclo.
Nas pendentes ascendentes, os benefícios do uso dos bastões
tornam-se mais evidentes, ao aumentar consideravelmente a eficácia da
componente de tracção que surge quando se descompõe a força exercida sobre os
bastões.
Em trilhos alternados,
dependendo da altura das alternações , a utilização em paralelo dos bastões,
apoiando-os simultaneamente à mesma altura, podem ser de grande ajuda. Em
qualquer das situações, é importante prestar atenção para que o apoio das
bandoleiras esteja seguro, pois as possibilidades de deslizamento aumentam com
a inclinação do terreno e deve-se evitar perder os bastões.
Nas pendentes descendentes, o maior problema do caminheiro é
o impacto da impostação e a carga sobre a perna dianteira, aumentados pela
inércia da descida e pela acção da gravidade. A melhor ajuda, dos bastões, será
a que nos proporcionam para controlar ou travar esta inércia, pelo que os
bastões se apoiarão à frente do pé dianteiro, tanto mais quanto maior seja a
pendente da descida.
Dependendo do grau da pendente, teremos que abandonar o
movimento compassado e rítmico de pernas e bastões, que costuma ser muito útil
durante a marcha em terreno plano e em subidas. No entanto, o apoio seguro das
bandoleiras, têm maior importância nestes casos do que na ascensão.
Esperemos que este artigo vos tenha sido tão útil, quanto o
foi para nós, e não se esqueçam de mecanizar os exercícios de aquecimento e
estiramento, porque dessa forma estarão a olhar pela vossa saúde.
Boas caminhadas
DGSX
ResponderEliminarAdorei as matérias ao ler lembrei de alguns filmes que falam desses lances de resgate nas montanhas, resgate no gelo etc, e sempre começa com alguém sendo o displicente gerando o efeito dominó.
Só acho que deveriam postar o nome do lugares e se possível fosse as coordenadas para verificar no google earth o restante da paisagem. Lembrem-se que tem pessoas como eu que talvez nunca cruzar além da rua... kkkk
Abraços
Boa tarde, neste artigo postamos fotos de diversas m
Eliminarserras e montanhas. Se ajudar, apresentamos fotos da Serra do Gerês (Portugal), da Sierra de Gredos (Espanha), Peña Trevinca (Espanha), Toubkall (Marrocos), Vega redonda (Picos da Europa - Espanha)e Perdiguero (Pirineus). Esperamos ter ajudado. Cumprimentos e obrigado pelo comentário.