14 novembro 2012

Cruzar Rios ou Massas de Água




Cruzar rios e riachos é provavelmente uma das principais causas de morte de muitos montanheiros e excursionistas.





Se olharmos para um mapa de uma determinada zona, será forte a tendência para a nossa vista se dirigir imediatamente para as linhas e pontos negros do mapa, para um estradão ou um caminho, sendo estas representações para muitos caminheiros os sinais de segurança e protecção, representando ainda vias para fugir a complicações na hipótese de a meteorologia mudar. Mas, e as linhas azuis que de vez em quando atravessam o caminho? No mapa elas nunca mudam, mas os riachos e rios representados por essas linhas azuis, alteram-se frequentemente e com resultados fatais.





antes





Um dia Depois






Antes





Um dia depois




Cruzar um rio ou um riacho pode ser o passo mais perigoso de uma jornada pela montanha, e no entanto muitos montanheiros não têm consciência de que esse acto é apto a propiciar  uma fatalidade. Um dos aspectos que é conveniente ter sempre presente, é que os rios e riachos podem mudar a sua velocidade, a força e o caudal, em questão de poucas horas, e, em muitos casos,  em questão de minutos. O belo ribeiro borbulhante que apenas tivemos que saltar para o transpor, pode-se converter amanhã numa furiosa e violenta torrente. Este fenómeno é mais provável de se verificar na Primavera e no início do Verão, quando a água do degelo transborda os riachos. Da mesma forma, após uma chuva intensa, ainda que breve, pode aumentar drasticamente o caudal e a força de um riacho, de tal forma que cubra todos os vaus e as pedras que se utilizavam para o cruzar.





Antes




Um dia depois




Devemos considerar o acto de cruzar um rio, como sendo um procedimento de emergência, e devemos respeitá-lo como tal. Não devemos arriscar atravessar um rio pela água, se existir uma ponte ou uma passagem próximos. É preferível percorrer a margem do rio durante uma hora ou mais, em busca de um sítio seguro para o transpor, do que correr o risco de afogamento.




A habilidade para cruzar um rio de forma segura, apenas se adquire com a prática, a observação atenta e o reconhecimento das distintas classes de cursos de água, sendo esse factor tão importante, como é o conhecimento da neve para os alpinistas e esquiadores. De facto, as pessoas que vão para o campo têm mais coisas em comum do que podemos imaginar. Isto corrobora-se quando estudamos a forma de cruzar um rio ou um riacho. Os caminheiros ou montanheiros devem olhar para o rio com os olhos de um canoísta, sendo a decisão de cruzar ou não, um rio, em determinado ponto, completamente dependente da avaliação que cada um faça da profundidade, da velocidade e da força da água. Os rios podem ser de vários tipos, sendo talvez mais fácil cruzar um com corrente rápida e fundo liso de seixos do que outro lânguido e com o fundo cheio de pedras barrentas e escorregadias.




Em termos gerais, existem três classes de rios:

 A primeira classe de rio, são os riachos jovens, de caudal abundante e corrente forte, que geralmente têm um leito de rochas e blocos de pedra, estando alguns submergidos e outros visíveis. Todos eles originam redemoinhos, correntes fortes, turbulência e espuma. Na primavera e no início do verão, o riacho costuma-se alimentar da água do degelo pelo que aumenta espectacularmente o seu caudal. Normalmente não são difíceis de cruzar, no entanto deve-se usar uma corda de segurança, particularmente se forem águas bravas e possivelmente profundas.

A segunda classe de rio é mais tranquilo e não corre com tanta velocidade. Localiza-se, normalmente, em regiões mais baixas, dos vales, onde a pendente é mais suave. De um modo geral o seu leito é composto de cascalho e pequenas rochas, sobre as quais se pode andar com relativa segurança, no entanto convém ter sempre presente a velocidade da corrente.

A terceira classe de rio, verifica-se quando o rio, nas partes mais baixas dos vales, se tornou majestoso e sereno. Podem ser muito profundo, mas as suas águas correm lentamente.






A análise de um rio

As rochas submergidas fazem com que a água forme ondas em  “V”, cujo vértice aponta rio acima.



Nos rápidos costumam formar-se ondas que parecem estar fixas num lugar. Estas ondas estacionárias originam-se, quando a água passa sobre obstáculos fixos. Costumam aparecer em filas perpendiculares à corrente e normalmente correspondem às partes mais profundas e rápidas dos rios.

Quando observamos uma série de ondas estacionárias, mais largas, é habitualmente sinal da existência de pedras submergidas profundamente. 

Duas rochas que estejam parcial ou totalmente submersas,  produzem uma onda em forma de “V” que aponta rio abaixo indicando-nos por onde passa o fluxo principal da corrente. Se o “V” for muito estreito, significa que podemos aproveitar as turbulências horizontais existentes  por trás das rochas, porque, se cruzamos por aí, encontraremos águas mais calmas e poderemos atravessar ao abrigo da rocha, evitando a estreita linha principal da corrente e proteger-nos atrás da rocha seguinte. De qualquer forma, é imprescindível muita precaução.


As características potencialmente mais perigosas das correntes de água são as ondas inversas, denominadas também de buracos ou sistemas hidráulicos.



Este tipo de fenómeno origina-se quando existe uma rocha grande, logo abaixo da superfície. A água que flui por cima desta, forma remoinhos verticais, parecidos com pequenas cascatas, no lado abaixo da corrente. A água passa por cima da rocha e cai com força, voltando a subir praticamente sobre si mesma. Estes remoinhos são extremamente perigosos, e quem caír num, o mais provável será ficar preso nele e afogar-se. Este tipo de remoinho é também conhecido por máquina de lavar, pois geralmente quem aí cai fica preso num turbilhão de água que enrola e aprisiona quem lá cai, e mesmo já cadáver é extremamente difícil a extracção do corpo, devido à força exercida pela água num sistema rotativo.  Em teoria, pode-se escapar destes remoinhos deixando-se ir até ao fundo do rio até ser arrastado pela sua corrente, desde que entretanto não se fique preso na “máquina de lavar”. Uma grande vantagem para escapar pode ser possuir uma boa capacidade de suster a respiração. As ondas maiores originam-se a partir da água que cai por uma cascata.






Características dos rios

Os rápidos são as zonas turbulentas existentes nas correntes de água. A sua perigosidade depende da pendente do rio, do número, tamanho e tipo de obstáculos, da dimensão do leito e da velocidade e volume da corrente de água.

A velocidade da água varía em função da situação do leito da corrente e segundo a profundidade do rio. Normalmente a água flui com maior rapidez no centro e à superfície do que junto à margem e no fundo.  A velocidade e a profundidade dependem portanto, do relevo do leito.  A água causa maior erosão nas curvas, na qual deposita mais rochas no respectivo leito.





Na parte interior de uma curva, a água move-se mais lentamente e é menos profunda do que no centro ou na parte exterior. Em locais pouco profundos, as correntes fortes podem produzir pequenos rápidos. Com o aumentar da pendente, acrescenta-se também o risco de rochas, a dimensão do leito, o volume e a velocidade da água, sendo todas estas características, perigosas. Com o aumentar da pendente, acrescenta-se também o risco de rochas, a dimensão do leito, o volume e a velocidade da água, sendo todas estas características, um acréscimo ao perigo por si, já existente.




O que fazer quando nos deparamos com um rio 

Geralmente quanto mais largo seja um rio, mais provável  é,  que seja pouco profundo e que flua lentamente. Deve-se observar se existem bancos de areia ou de cascalho, porque estas dão-nos a ideia de onde o rio se começa a precipitar por uma inclinação. Quando o rio forma um serpenteio, as suas curvas costumam ser mais profundas.

 É conveniente eleger um local elevado para que assim se possam observar e avaliar os seguintes factores:

.  O curso do rio e verificar se existem redemoinhos ou turbulências. 

. Troços planos onde o rio se divida em vários canais.

. Obstáculos na outra margem que possam entravar a nossa progressão, após cruzarmos o rio.

. Um banco de rochas que atravesse o rio, indicando a presença de rápidos ou desfiladeiros.

. Qualquer arborização mais cerrada, que indica onde o canal é mais profundo.






Quando se escolher um sítio para passar, devem-se ter presentes os seguintes aspectos:

. Sempre que possível, escolher um trajecto que atravesse a corrente a cerca de 45º para montante.

. Nunca tentar atravessar uma corrente imediatamente acima ou próximo de rápidos ou quedas de água.

. Passar sempre onde se possa ser arrastado para um baixio ou um banco de areia, para o caso de acidentalmente caír na água.

. Tentar evitar locais rochosos, pois uma queda pode provocar ferimentos graves, no entanto, uma rocha que quebre a corrente e forneça apoio, pode ajudar.





Quando se procura um vau, será melhor parar e avaliar a situação. Devemo-nos fixar em pormenores como a cor da água, se a força da corrente arrasta os materiais que formam o leito do rio, a largura do canal, a velocidade e o caudal. Se escutarmos um peculiar ruído surdo (para além do normal barulho da água), é provável que a força do curso de água arraste pelo fundo pedras e rochas. Deve-se evitar cruzar nestes locais, e da mesma forma, quando se vejam ramos e troncos arrastados pela corrente. Tampouco se deve procurar atravessar onde existam grandes rochas, lajes polidas e escorregadias, areia ou lodo. As margens altas e de forte pendentes, são um indício seguro de que a água flui rápida e com profundidade.





Os leitos fluviais de seixos ou cascalho, ou inclusive de pequenas rochas comprovadamente estáveis, oferecem o caminho mais seguro para percorrer, no entanto convém certificar que a saída desta zona, corrente abaixo, esteja suficientemente liberta de obstáculos. Já tem acontecido, alguns caminheiros que se afogaram, porque tropeçaram, ao cruzarem passagens seguras, e que foram arrastados pela corrente ficando depois presos entre grandes rochas. A maioria dos riachos de montanha cruzam-se saltando de pedra em pedra, mas não se deve saltar demasiado. É necessário avaliar constantemente a situação e lembrar que é impossível dar saltos muito grandes se, por exemplo, formos carregados com uma mochila pesada. Se estiver tempo frio, será conveniente certificarmo-nos que as rochas não brilham devido à água gelada e não tentar nunca, saltar, se existir a possibilidade de escorregar nas rochas que denunciem a presença de lodo. Para cruzar alguns rios de águas rápidas e profundas, por vezes, é melhor modificar o trajecto pré estabelecido e subir o rio pela margem até encontrar um ponto onde este se estreite. Desviar-se do caminho uma ou duas horas, não é uma medida irracional, principalmente em situações de degelo ou de aumento do caudal. Não devemos esquecer o mais óbvio, ou seja, procurar no mapa se existe uma ponte perto.






Métodos de travessia de rios ou massas de água na ausência de pontes

Após eleger um ponto onde seja possível cruzar, será necessário escolher o método a empregar. 

Se vamos sozinhos, ou  a passagem parece suficientemente segura e com uma base estável, paramos e tiramos as meias, pois não tem lógica molhá-las. De seguida calçamos novamente as botas nos pés sem meias para atravessar o rio. As botas protegem de alguma forma, do frio e possíveis feridas, oferecendo ainda uma melhor aderência à superfície do fundo do rio. 

Se carregarmos uma mochila, será conveniente desapertar a correia da cintura, de modo que, se ocorrer uma queda, consigamos tirá-la rapidamente.  Se a corrente do rio nos arrastar, o peso e a força que faz a mochila ao flutuar, fará com que fiquemos com a cara dentro da água, o que não é uma perspectiva muito atractiva. Em caso de dúvida não se deve hesitar em soltar e deixar a mochila ir pelo rio abaixo. 

Será melhor usar calças justas e curtas do que largas e compridas, as quais têm  tendência a oferecer maior resistência à corrente, pelo que é aconselhável tirar as calças largas, mas não a roupa interior, principalmente se for térmica, para de alguma forma, nos poder proteger um pouco do frio da água.





Os riachos começam-se a atravessar, de modo preferencial, lateralmente à corrente, não devemos ser invadidos pela ideia de olhar rio abaixo, pois se entramos dessa forma na água, a corrente e a força da água podem dobrar as pernas pelos joelhos. Deve-se mover os pés, um de cada vez, arrastando-os, em vez de dar passadas largas. Apenas se move um pé, quando o outro esteja firmemente seguro, e nunca se cruzarão as pernas. Estas devem ir sempre afastadas, em tensão e firmes. 

Usar um pau comprido para funcionar como uma terceira perna, pode ser uma boa ideia. Usa-se como um suporte no lado montante do rio, mantendo sempre dois pontos de apoio ao mover-nos.

Se o rio for calmo e profundo, pode-se atravessar a nadar. É possivel usar  a mochila como um flutuador, o que se fará após colocar todo o equipamento em sacos plásticos dentro desta e fechando-a hermeticamente. Devem-se inverter as panelas e as embalagens  e fechar a parte superior da mochila o melhor possível. Cruza-se o rio, impulsionando com as pernas, posicionando a mochila flutuando debaixo de nós e com um ligeiro ângulo rio abaixo, como o faria um barco.

Se vários montanheiros cruzarem o rio juntos, podem-se ajudar mutuamente formando um círculo de três pessoas. O montanheiro mais pesado deve estar na posição que olha rio acima e entrelaçar os seus braços com os braços dos outros dois montanheiros. Então  unem-se entre si olhando para o interior do circulo formado pelos três. Desta forma estão unidos pelos braços, com as cabeças juntas e os pés separados. O trio cria desta forma um “triângulo de apoio”. Devem-se mover um de cada vez, enquanto os outros dois aguentam a força da corrente. Se as águas forem muito “bravas” talvez seja melhor os três avançarem conjuntamente.


O grupo também pode fazer a travessia com a ajuda de uma vara comprida ou de um bastão, como se indica na figura. Devem premanecer um junto ao outro com os braços entrelaçados e todos agarrados à vara ou bastão. Ao deslocarem-se juntos oferecem apoio mútuo.


Se for necessário nadar, deve-se usar os estilos com braços (de costas ou de lado), pois são menos cansativos do que outros estilos e permitem transportar pequenos atados de roupa e equipamento, enquanto se nada.  Deve-se  caminhar até que a água chegue ao peito antes de começar a nadar.

Nadar em rápidos ou em águas rápidas não é um problema tão grande como se pensa. Em rápidos baixos, colocamo-nos  de costas para a água e com os pés para jusante, mantendo o corpo horizontal e as mãos ao longo das ancas. Deve-se utilizar as mãos  tal como uma foca utiliza as barbatanas. Em rápidos fundos, deve-se nadar de bruços e tentar alcançar a margem quando for possível. Devem-se evitar correntes convergentes, pois pode-se ficar submerso pelo efeito da confluência.




Auxiliares de natação

Se não for capaz de nadar, pode-se atravessar um rio usando certos auxiliares de natação, como por exemplo:

Vestuário 

Se já se está na água, despe-se as calças, dá-se um nó em cada perna e abotoa-se a braguilha. Agarra-se por um dos lados do cós e agita-se sobre a cabeça, de trás para a frente de maneira que a abertura das calças bata na superfície da  água com força. O ar fica retido em cada uma das pernas das calças.









Se ainda se estiver fora da água, despe-se as calças, dá-se um nó em cada perna e abotoa-se a braguilha. Segura-se as calças à frente e salta-se para a água. De novo o ar fica retido em cada perna das calças, funcionando assim como um auxiliar de flutuação.






Troncos de árvore

Antes de se decidir usar um tronco de madeira, deve-se experimentar a sua capacidade de flutuação.

Jangadas

Andar de jangada num rio é uma das mais antigas formas de deslocamento e muitas vezes, o método mais seguro e rápido para atravessar um obstáculo aquático. Construir uma jangada em condições de sobrevivência, é porém,  cansativo e demorado, até mesmo quando se dispõe de ferramentas apropriadas e ajuda.

Com os abetos que se encontram nas regiões polares e subpolares, constroem-se as melhores jangadas. Contudo, qualquer madeira seca ou o bambu (nos trópicos), servirão como material base. Pode-se construir uma jangada sem pregos e sem corda,  se possuirmos uma machada e uma faca. Considera-se que uma jangada adequada para três pessoas deve medir 3,7 m de comprimento por 1,8 m de largura.




Como atravessar um rio com uma jangada

Pode-se atravessar um rio de águas profundas e rápidas sobre uma jangada, utilizando o “movimento pendular” das águas de superfície numa curva do rio. Este método é utilizado quando existem várias pessoas para atravessarem o rio. No entanto, é necessário observar os seguintes pontos:

1) A jangada tem de ser alinhada com a direcção da corrente.

2) A corda a partir do ponto de amarração, tem de ser sete a oito vezes mais comprída que a largura do rio.

3) A ligação da corda à jangada tem de ser ajustável, para permitir a modificação do ângulo de derivação de modo a possibilitar o retorno da jangada ao ponto de partida.






Construção de uma jangada emalhetada

1) Constrói-se a jangada sobre dois apoios colocados de maneira que possam deslizar pela margem abaixo até se alcançar a água. (pode-se ser capaz de manusear um tronco de cada vez, mas não se será capaz de arrastar uma jangada pronta). Aplaina-se os troncos de apoio com um machado para que os troncos da jangada fiquem regularmente colocados sobre eles.

2) Abrem-se quatro malhetes invertidos, dois na face superior e dois na inferior dos troncos, cada um deles próximo de cada um dos topos. Os malhetes devem ficar mais largos na base, do que à face dos troncos.

3) Para unir os troncos da jangada, enfia-se uma peça de madeira de secção triangular, e com mais 30 cm de comprimento do que a jangada, através dos malhetes. Unem-se primeiro todos os malhetes de um dos lados, antes de unir os do outro.

4) Ata-se firmemente, duas a duas, as pontas salientes das travessas para dar mais consistência à jangada. Quando a jangada entrar na água, as travessas incharão, ligando firmemente os toros uns aos outros.

5) Se as travessas ficarem demasiado folgadas, travam-se com pequenas cunhas de madeira seca. Estas cunhas incharão, apertando e reforçando as travessas.






Outros tipos de jangadas

1) Mesmo com um machado, o tipo de trabalho necessário na construção do tipo de jangada descrito atrás, exige muito tempo e muita habilidade. Um método mais simples e rápido é o que utiliza “toros de pressão”, amarrados firmemente em cada extremo, para manterem os troncos unidos.






2) Com um oleado, um pano de tenda, ou qualquer outro material à prova de água, pode-se construir uma excelente jangada usando mato para conceber a estrutura e como material de enchimento.

3) Nas regiões nórdicas, durante o Inverno, os rios podem estar desbloqueados de gelo na sua zona mais central, o que sucede em virtude da rapidez da corrente. Pode-se atravessar um rio destes sobre uma jangada feita de um bloco de gelo, que pode ser cortado nas margens geladas com o auxílio de um machado ou mesmo de uma vara (se existir uma fenda no gelo). A jangada deve ter cerca de 1,8 m por 2,7 m e a espessura do gelo deve ser de 30,5 cm pelo menos. Usa-se uma vara para deslocar a jangada de gelo através da parte desobstruída do rio.





Medidas a adoptar em caso de queda acidental num rio

No caso de sofrermos uma queda na água, devem-se efectuar as seguintes acções:

 1) Colocar os pés a favor da corrente para nos protegermos das rochas; 

2) Nadar o mais rapidamente possível até à margem mais próxima;

 3) Desfazermo-nos ou guardar bem, tudo o que possa ficar preso entre as rochas como seja uma câmara fotográfica ou as fitas da mochila;

 4) não perder de vista o equipamento que se soltou;

 5) Procurar com a visão os companheiros, para lhes pedir ajuda ou verificar se eles também estão em apuros;

 6) Se for possível, olhar corrente abaixo para procurar um lugar seguro, como uma rocha um pequeno tufo de erva ou areia onde possamos parar. Se não se conseguir, deve-se tentar alcançar a margem.

Nunca nos devemos agarrar desesperadamente a um ramo ou a uma rocha, enquanto lutamos contra a corrente. O frio e a força da água desgastam rápidamente as nossas forças e passamos a ser um potencial afogado devido à fadiga e ao frio. O que devemos fazer é deixar-nos seguir com a corrente, tentando chegar à margem e se isso não for possível deve-se tentar encontrar uma rocha onde nos consigamos sentar e saír da água.





Se, por azar, continuarmos a ser arrastados pela corrente, devemos manter a calma e retirar as alças da mochila dos ombros e procurar adoptar uma posição que nos mantenha com os pés para a frente, de forma que os possamos usar para repelir o impacto com rochas. Em vez de tentarmos nadar contra a corrente, devemos fazê-lo transversalmente, com a esperança de alcançar uma contracorrente fora do fluxo principal do rio. Devemos ter muito cuidado com ramos afundados ou troncos de árvore, que facilmente nos podem prender e servir de barreira entre nós e a corrente, pois podemos ficar presos debaixo de água por acção da força da corrente.




A água e o frio

Se estiver muito frio, é provável que alguém chegue a arrefecer perigosamente.  Neste caso, quando se chegar à outra margem, deve-se tirar toda a roupa, secarmo-nos e metermo-nos num saco cama que, de preferência, tenha sido previamente aquecido, seguindo todos os passos para combater a hipotermia. Se o arrefecimento não for muito grave, devemos absorver bastante açúcar e amido, e deveremos começar a caminhar depressa e energicamente, de forma a gerar a maior quantidade de calor corporal possível. A roupa molhada demora pouco tempo a secar, se caminharmos depressa.

A imersão em água fria durante um largo período de tempo pode produzir a morte por hipotermia ou por asfixia. Também pode produzir um trauma violento, como uma comoção cerebral que provoca a perda de conhecimento e a morte por afogamento.

Uma pessoa que caia numa corrente de água fria, principalmente a menos de 10ºC, mesmo que não produza ferimentos na queda, em pouco tempo, correrá o risco de perder a vida. As causas de morte nestas situações podem assim ter lugar em virtude da hipotermia por imersão ou da asfixia por afogamento. Na seguinte tabela demonstra-se a relação entre a hipotermia e a perda de sentidos do acidentado.


A asfixia por afogamento ocorre quando o acidentado fica debaixo de água. No entanto ainda que consiga manter a cabeça fora de água, é provável que a manter-se a situação, acabe afogado com hipotermia por imersão.

Se o acidentado ficar preso debaixo de água, as consequências são óbvias. Os ramos e os troncos arrastados pela corrente podem aprisionar o acidentado contra as rochas. Com frequência, as pernas ficam presas entre as rochas, provocando o afogamento. O acidentado deve manter sempre as pernas próximas da superfície dirigidas contra ou a favor da corrente, conforme se queira proteger das rochas enquanto atravessa os rápidos ou enquanto nada para a margem.




Os primeiros socorros em casos de hipotermia por imersão, são similares aos que se ministram a um sinistrado com outro qualquer tipo de hipotermia. Uma envolvência fria, neste caso a água, provoca um rápida diminuição de calor corporal e a perda de sentidos; o coração bate mais rápido, até que a vítima morre. Para evitar a perda de calor, é necessário retirar a vítima da água, fazê-la ingerir líquidos e agasalhá-la. Para isso, pode ser útil um saco cama com pedras quentes dentro, ou com outra pessoa que lhe transmita calor rapidamente. 

A hipotermia por imersão é geralmente acompanhada pelo chamado afogamento aparente. Esta terminologia utiliza-se para descrever o estado de uma pessoa que tenha permanecido durante algum tempo debaixo de água, que perdeu os sentidos e deixou de respirar. Sobre este afogamento aparente e os seus efeitos, já se conseguiu demonstrar que podem acontecer excepções à regra. Assim a regra é a de que, depois de uma interrupção da respiração durante quatro minutos (que implica a ausência de oxigénio no cérebro) produz-se uma lesão cerebral irreversível e permanente. No entanto, um determinado número de pessoas que permaneceram em água fria (abaixo de 20ºC) entre quatro e trinta e oito minutos, conseguiram sobreviver, e todas elas recuperaram sem sofrerem lesões cerebrais.

A explicação  centra-se num reflexo que experimentam os mamíferos quando submergidos em água fria.  Esse reflexo desencadeia um mecanismo corporal que reduz a necessidade de oxigénio dos tecidos corporais, diminui a afluência de sangue à pele, aos músculos e aos órgãos no geral, reservando o oxigénio para o cérebro. Uma consequência muito importante desse mecanismo reflexo, é que não se deve interromper a respiração boca-a-boca depois de quatro minutos, pois o afogado pode recuperar os sentidos, inclusive depois de terem decorrido trinta e oito minutos.







Como determinar a largura de um rio

Antes de se atravessar uma massa de água, pode ser útil conhecer a distância até à margem oposta. Esta distância pode ser facilmente determinada estudando-se a figura abaixo, e seguindo-se estas instruções simples:

1) Escolhe-se uma rocha, árvore ou outro ponto de referência na margem oposta, e colocamo-nos directamente em frente dele.

2) Estima-se aproximadamente metade da largura do rio e marca-se em passos ao longo da margem, perpendicularmente à linha de mira citada no número anterior.

3) Marca-se este ponto com uma pedra ou estaca e continua-se andando ao longo da margem.

4) Após ter andado o mesmo número de passos do nº 2, para-se. Marca-se este segundo ponto com uma pedra ou estaca.

5) Deslocamo-nos perpendicularmente à linha marcada até que o objecto na margem oposta e a primeira marca estejam no mesmo alinhamento quando olhados por cima do nosso ombro. Para-se novamente.

6) A distância entre a segunda marca e a nossa nova posição é igual à largura do rio.





Nota: Não se torna necessário estimar qualquer distância. Basta apenas que BC seja igual a AB, sendo AB uma distância qualquer.

Cruzar um rio, ou uma linha de água, é sempre uma etapa inevitável em qualquer itinerário de montanha, pelo que se deve estudar muito bem esta arte. Ser arrastado por uma avalanche ou por um rio, tem muitas semelhanças. A diferença é que numa avalanche, sempre existe a remota hipótese de sermos resgatados com vida. As probabilidades não são tantas, depois de colidir e ser golpeados contra várias rochas, num rio rápido.





Pelo atrás exposto, tenham muito cuidado ao atravessar massas de água, continuem a desfrutar da natureza… de preferência secos e enxutos.

Boas caminhadas…





Nota:
Aproveitamos para apresentar dois pequenos filmes sobre a travessia de um riacho, numa das nossas recentes actividades. Foi um pouco atribulada, mas sem consequências graves. Esperemos que gostem.






2 comentários:

  1. Muito Bom! parabéns pelo incentivo formativo!
    Um abraço para o Paulo & Ca.

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  2. DGSX

    Obrigado por compartilhar comigo suas experiências e aprendizados!!

    Abraços...

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