Quando nos deslocamos à montanha, experimentamos diversas
emoções e sentimentos. Dependendo da experiência que temos, dos conhecimentos
que possuímos do local para onde nos deslocamos, do terreno que encontraremos,
da perigosidade da montanha seleccionada, do risco da actividade e outros e variadíssimos
factores, experimentaremos sempre um sentimento específico e cada pessoa reagirá
de forma diferente das demais. A ideia da sobrevivência deverá estar sempre
presente, pois a montanha representa um risco real e nela temos a noção que nos
encontramos num local susceptivel de nos surpreender com situações adversas e
perigosas e que a qualquer momento poderemos ficar defronte de uma situação de
sobrevivência inesperada. Nestas situações muitos sentimentos e estados de
espírito florescem em cada um de nós. É por observância a esse princípio que
hoje abordamos este artigo.
A psicologia da sobrevivência
Ninguém consegue estar sempre e completamente preparado para
uma situação de sobrevivência. Se o montanheiro for precavido e esperto,, será
já muito versado nos conhecimentos e técnicas de sobrevivência. Mas
independentemente da sorte e dos conhecimentos que possamos ter, se nos
encontrarmos subitamente isolados numa área desolada da montanha, isso
constituirá um choque para o sistema humano como um todo, não apenas emocional
e mentalmente, mas também em termos físicos. É importante compreender a
psicologia da sobrevivência, bem como as suas técnicas.
A vontade de
sobreviver
Após ter percorrido determinada distância, o montanheiro vai
perdendo a passada certa, abandona a posição típica de montanheiro e começa a
abrandar de forma evidente. Dominado pela dor, ou pelas caímbras, ou ainda pela
fadiga, perde a vontade de continuar e por vezes, mesmo de viver.
Em situações de sobrevivência este último fenómeno acontece
imensas vezes, pelo que a atitude individual revela-se uma questão muito
importante. Existem registos de pessoas que foram resgatadas e tratadas de
todas as lesões e doenças e que, mais tarde acabaram por morrer no hospital.
Perderam a vontade de viver. Está provado que a sobrevivência é
fundamentalmente uma questão de perspectiva mental. A vontade de viver é o
factor mais importante para a sobrevivência. Quer o montanheiro esteja
integrado num grupo ou esteja sozinho, experimentará problemas emocionais
derivados do choque, do medo, do desespero e da eventual solidão. Para além
destes perigos mentais, a lesão e a dor, a fadiga, a fome ou a sede pesam
também na vontade de viver. Se o
montanheiro não estiver mentalmente preparado para vencer todos os obstáculos e
esperar o pior, as hipóteses de escapar com vida serão enormemente reduzidas.
Sabe-se que a mente pode desistir primeiro que o corpo, mas
com a determinação de sobreviver podemos ter uma significativa vantagem numa
situação de emergência.
Os nossos corpos são máquinas muito complexas, mas mesmo
quando submetidos às mais confusas e desagradáveis condições, a vontade de
viver pode sustentar o processo da vida. Imbuídos dessa vontade as necessidades
do corpo em energia proveniente dos alimentos podem ser reduzidas praticamente a zero durante um determinado
período de tempo.
Focar a mente na
sobrevivência
As duas grandes ameaças à sobrevivência vêm da nossa própria
mente. São elas, o desejo de conforto e uma atitude passiva. Se não forem
rapidamente contornadas, podem resultar na desmoralização e na morte dos
sobreviventes. Afortunadamente, podem na verdade, ser ultrapassadas com grande
facilidade por qualquer sobrevivente.
O desejo de conforto é uma consequência das condições da vida
urbana moderna. Os padrões da vida ocidental tornaram as pessoas “moles”, no
sentido de que são, na sua maioria, desviadas das ameaças da natureza e do
ambiente. Muitos de nós vivem e trabalham em edifícios quentes e seguros, tendo
acesso a cuidados de saúde sofisticados dispondo de água e a comida de forma garantida.
Num cenário de emergência, não teremos acesso a nenhuma
dessas comodidades, pelo menos no início. O súbito desaparecimento dos
confortos que se têm como garantidos, constitui um grande choque para o
organismo e pode conduzir a uma séria desmoralização. Como devemos então
combater a angústia mental causada pela perda daquilo que consideramos
essencial para a vida?
Primeiro temos que nos convencer de que os confortos do
estilo ocidental não são essenciais para a sobrevivência. Temos que ser
obstinados. Podemos sobreviver perfeitamente sem o ar condicionado, sem a
comida plástica e sem a televisão.
Em segundo lugar temos que nos mentalizar que o desconforto
que sentimos presentemente, não será nada, comparado com o desconforto que
experimentaremos se simplesmente nos sentarmos a lamentar-nos e nada fazer.
A atitude passiva, é, também uma consequência de se viver no
Ocidente. Como resultado de se viver em estados normalizados, as pessoas acabam
por não precisar de tomar decisões de vida ou de morte. A decisão pessoal de
cada pessoa está reduzida ao mundano e ao banal e a iniciativa é suprimida assumindo
a maioria das pessoas uma atitude passiva. Numa situação de sobrevivência
podemos ficar entregues a nós próprios e seremos forçados a tomar importantes
decisões. Se esta perspectiva parece assustadora, convém lembrar que o
resultado de não se fazer nada será provavelmente a nossa morte. No entanto,
podemos tomar o controlo da situação e sobreviver, o que, como é óbvio, será bem
preferível. Não baixes os braços para morrer, motiva-te e actua.
Vencer os inimigos da sobrevivência
Existem outros inimigos da sobrevivência de natureza mais
física, e devemos estar conscientes deles para podermos tomar as medidas
efectivas para os contrariar:
DOR – A dor é o modo que o nosso corpo encontra para nos
dizer que algo está mal. Por ser desconfortável pode enfraquecer a vontade de
viver. Contudo, torna-se mais tolerável se entendermos a sua origem e natureza.
Reconhecê-la e transformá-la em algo mais tolerável pode permitir-nos que nos concentremos
noutras tarefas. Recordemos que a dor parecerá pior se não fizermos mais nada a
não ser sentar-nos e pensar nela.
FRIO – O frio abranda o fluxo sanguíneo e deixa-nos
sonolentos. Também entorpece a mente. É uma sensação perigosa, pelo que ao
senti-lo, deve-se imediatamente procurar um abrigo e fazer uma fogueira.
SEDE – Tal como a fome, a sede pode entorpecer a mente. É
importante manter a ingestão de água. Se a água for escassa, devemos cortar na
ingestão de comida, pois o corpo utiliza água para limpar os resíduos de comida
do sistema digestivo.
FOME - A fome pode
resultar em perda de peso, fraqueza, tonturas e perdas de visão temporárias, bem
como batimentos cardíacos mais lentos, aumento da sensibilidade ao frio e
aumento da sede. Obviamente, e desde que esteja disponível, a fome pode ser
contrariada pela ingestão de comida.
FADIGA – A fadiga pode originar letargia, pouco discernimento
mental, tal como o desespero, falta de objectivo e aborrecimento. É muito
importante para o sobrevivente providenciar o descanso regular e suficiente.
ABORRECIMENTO – Pode resultar de uma falta de interesse e de
sentimentos, de tensão e depressão. Para se ultrapassar o aborrecimento devemos
manter o nosso objectivo – sobrevivência – como ideia predominantemente na
nossa mente e compreender como é que as tarefas que empreenderemos se encaixam
no nosso plano global de sobrevivência.
SOLIDÂO – Estar sozinho, sobretudo num ambiente de montanha,
implica obviamente, enfrentar fragilidades próprias da solidão, que pode causar-nos
uma sensação de debilidade e desespero. Tais sentimentos podem ser ultrapassados
mantendo-nos ocupados e tornando-nos auto-suficientes.
FRUSTRAÇÂO – É uma sensação que pode ser contrariada pela
canalização das nossas energias para objectivos positivos e atingíveis. Para a
evitar, deveremos procurar terminar as tarefas mais fáceis antes de tentar
outras mais difíceis. Para além disso, devemos aceitar a situação em que
estamos e agir de acordo com ela. Não tenhamos objectivos irrealistas. Não
podemos é desistir e temos que nos manter ocupados.
As principais
prioridades
Numa situação de sobrevivência, as principais prioridades
são: o abrigo, o lume e a água. Se existir abundância de água e combustível
para uma fogueira, ou seja, madeira, teremos também acesso a material para
construir abrigos. Se for este o caso, teremos as três principais prioridades
satisfeitas pelo que deveremos permanecer no local até que se perspective uma
solução melhor.
É importante frisar a necessidade de se pensar em todos os
aspectos da situação em que nos encontramos, de forma a tirar-mos partido do
máximo de elementos que estejam ao nosso dispor.
Caminhar ou
manter-nos imóveis
Esta pode ser uma decisão difícil de tomar numa situação de
sobrevivência. Existem fortes razões para nos mantermos imóveis. Desde logo,
porque os serviços de salvamento poderão saber da nossa localização e estarão à
nossa procura nesse local concreto. Além disso, porque enquanto caminharmos
estaremos a queimar muitas calorias, e estaremos sujeitos aos elementos da natureza.
Depois, em situação de movimento poderemos não ter condições para montar um
sistema de sinalização efectivo e permanente, e sobretudo, arriscamo-nos a
caminhar para a morte.
Contudo, se por qualquer razão decidirmos, ou formos forçados
a caminhar, deveremos elaborar um plano que inclua as seguintes escolhas:
. A direcção em que iremos caminhar.
. Um método para manter o caminho que escolhemos.
. Um horário indicando quantas horas caminharemos em cada
dia.
. Um método de sinalização.
Convém recordar que necessitamos de guardar, ao fim do dia, algum
tempo suficiente, para acampar e fazer um sistema de sinalização para o caso de
um helicóptero ou outro meio aéreo passar no local.
Se por outro lado decidirmos mantermo-nos quietos no local,
então o nosso plano deve incluir as seguintes considerações e por ordem de
prioridades:
. Estabelecimento de um sistema de sinalização.
. A localização e o estilo do nosso acampamento permanente.
. Determinar qual será a nossa fonte de água.
. Determinar o que constituirá a nossa dieta.
É muito importante estabelecer em primeiro lugar um sistema
de sinalização, pois um meio aéreo pode
sobrevoar a qualquer momento o local onde nos encontramos e, como tal,
devemos estar preparados. Deste modo, é aconselhável que o acampamento esteja próximo
do sistema de sinalização.
Pânico e medo
Este item revela-se deveras importante em matéria de
sobrevivência, exigindo, por isso, que aqui se faça algum desenvolvimento do
tema.
Ora, quase todos os que se viram perdidos, isolados e
separados da civilização, experimentaram medo. Medo do desconhecido, medo da
dor e do desconforto, medo das suas próprias fraquezas. Em tais condições, o
medo não é apenas normal, mas poderá ser também saudável. O medo apura-nos os
sentidos e obriga-nos a potenciar os perigos e os riscos. O medo não é nada
mais nada menos do que o aumento gradual da adrenalina existente em todos os
mamíferos e que actua como um mecanismo de defesa contra o que é hostil ou
desconhecido.
No entanto, o medo deve ser dominado e convenientemente
orientado, ou pode levar ao pânico. O pânico é a resposta mais destrutiva a uma
situação de sobrevivência. Com ele, dissipam-se energias, a racionalidade é
enfraquecida ou mesmo destruída e torna-se impossível dar qualquer passo
positivo no sentido da nossa própria sobrevivência. O pânico pode levar ao
desespero, e este pode começar por quebrar a nossa vontade de sobreviver.
Podem ser dados, mentalmente, vários passos para se fazer do
medo um aliado e tornar o pânico uma impossibilidade. Para tal, a preparação e
o conhecimento das técnicas de sobrevivência incutem confiança e levam não só
ao autocontrole, mas também ao controlo do ambiente que nos rodeia. Por outro
lado, é importante ocupar imediatamente o nosso espírito com a análise da
situação e com as tarefas imediatas de sobrevivência.
É conveniente e possível, aceitar o medo como algo natural, e
portanto, criar resistências perante este, é uma total perda de tempo e
infrutífero, pois, na verdade, se não existisse o medo, para que serviria a
coragem? Lutar contra o medo apenas serve para criar resistência, produzir
ansiedade, nervosismo e insegurança, e com isso diminuir a qualidade na
execução das nossas tarefas.
Assim, o medo deve ser absorvido com naturalidade e transformado
em algo positivo. Assim sendo, o medo servirá para nos mantermos em alerta e
mostrar o quanto devemos ser precavidos e para nos prepararmos. Além disso, o
medo ajuda-nos a autoavaliar treinos e competências, verificar estratégias,
equipamentos e procedimentos. Sem medo, podemos ficar impulsivos, arrogantes e
negligentes. Como consequência, experimentar derrotas e, em alguns casos,
tragédias inesperadas.
Em muitas situações, é o medo que nos impele a pesquisar
informações e com essa atitude, acabamos por dominá-lo naturalmente. Sem
informações adequadas o desconhecido ganha forças ilusórias e potencializa o
medo.
O medo é o amigo silencioso que nos faz planear acções e
preparar o nosso corpo e mente para o enfrentarmos.
Quando respondermos positivamente às seguintes perguntas, o
medo passará a ser um grande aliado e deixará de ser um obstáculo:
. Tenho medo porquê…?
. Será que estou realmente preparado?
. O desafio é proporcional às minhas habilidades
psicofisiológicas?
. Tenho um bom plano de acções?
. O meu equipamento é adequado?
. Conheço bem as adversidades que enfrentarei?
. Sob risco, consigo vislumbrar o sucesso?
Todos os montanheiros sentem medo. Os mais corajosos aceitam
o medo como parte integrante da vida, aliam-se a ele e, portanto preparam-se
disciplinadamente para o desafio e com o ímpeto, vão em frente. Como resultado
dessa atitude, esses montanheiros conhecem o outro lado do medo: a liberdade!
As pessoas parecem tão seguras das suas acções, e, no
entanto, questionam-se constantemente. Existem muitos e diferentes casos em que
as pessoas relatam os seus medos, mas relatam-os a portas fechadas, numa sessão
terapêutica ou partilhados apenas com pessoas muito próximas. Parece que
construímos um modelo social onde sentir medo é sinónimo de fraqueza, é falta
de competência para existir, objectivando-se como algo negativo.
Olhando para o alpinismo, podem surgir determinadas questões:
. Como é possível alguém gostar de uma actividade como essa,
em que não se sabe ao certo o que irá
acontecer ou mesmo se se vai saír vivo da actividade?
. Vale a pena arriscar a vida por uma actividade desse
género?
. Existe algo de destrutivo ou suicida na mente desses
montanheiros?
Porém, quando se trata de uma actividade em que existe
alegria espontânea, controle das acções, motivação intrínseca (inconsciente),
oportunidade de expressão de habilidades e a pessoa flui no processo de
realização, então ela não se poupa a esforços para praticar tal actividade.
Por outro lado, quando um montanheiro tem controlo absoluto
sobre as suas acções e confia plenamente nas suas habilidades, o medo e o
fracasso tendem a ser dissipados e os sentimentos de autoconfiança, calma e
poder, surgem naturalmente. Por outras palavras, um sentimento de poder fazer
tudo com harmonia, precisão e com uma óptima percepção de controlo emocional. E
mais, quanto maior for a tensão, maior será a vontade de se testar essas
habilidades. Portanto, não há, como alguns sugerem, nenhuma associação
patológica, nenhuma tentativa de exorcizar o medo intrínseco, ou um vício em
sensações relacionadas com o medo. O que existe é um sentimento perfeitamente
saudável, pois como diz Csikszentmihalyi: “controlar as forças do potencial
destrutivo, pois a satisfação dos mesmos não se origina do perigo em si, mas
sim da habilidade para o minimizar”.
Por muitos acontecimentos dramáticos que aconteçam, sempre
haverá alguém a subir uma montanha nalgum lugar.
Somos seres simples que, de tão simples, nos tornamos
demasiado complexos. Todos os outros animais na natureza reagem com base nos
seus instintos, mas nós, seres humanos, podemos reflectir sobre os nossos
instintos. Possuímos a capacidade de pensar até sobre os nossos pensamentos e
sobre a forma como pensamos. Essa circunstância que aparentemente é a nossa
maior vantagem, torna-se também no nosso maior obstáculo, pois o papel da
imaginação nas nossas vidas, modifica totalmente a realidade.
Existem diversas situações com as quais temos que lidar no
quotidiano, disciplinas essenciais na Universidade da Vida, e uma das matérias
mais difíceis é “como lidar com o medo”.
A primeira lição, será:
“Não nos devemos culpar por sentir medo”
Se nos começarmos a culpar por sentir medo, apenas
agravaremos o problema, porque além do medo estar presente, estaremos a incluir
o peso do sentimento de culpa, o qual é altamente destrutivo, muito mais que o
próprio medo.
Não nos podemos culpar por sentir medo porque todos os seres
humanos sentem medo, inclusive aqueles que demonstram ser destemidos. Existe
uma frase que define isto na perfeição: “corajoso não é quem não tem medo,
corajoso é o que segue em frente apesar do medo”.
A coragem não é a ausência do medo, mas sim a disposição de
não permitir que ele nos impeça de continuar a caminhar.
A segunda lição, será:
“Sentir medo é bom e importante”
O medo conduz-nos a uma atitude de respeito e atenção perante
os desafios da vida. Na ausência do medo, os nossos antepassados não teriam fugido
dos predadores e a humanidade poderia estar extinta. O medo é um sentimento que
nos tenta preservar e nos conduz a uma posição mais segura. O medo deve ser um
sinal de atenção e cuidado, nunca de desistência.
O medo faz parte de nós, e não nós do medo. Não podemos
permitir que a parte domine o todo. Não nos podemos deixar dominar pelo medo,
porque nada nos domina sem a nossa permissão.
A ansiedade reforça
a presença do medo
A ansiedade é outro elemento que reforça a presença do medo.
Pessoas ansiosas sentem que sempre falta algo que deveriam fazer imediatamente
ou ter feito antes para se sentirem seguras e, por isso, aumentam as
consequências do medo. Basta verificar que ninguém tem uma crise de pânico sem
antes apresentar distúrbios de ansiedade. Esses distúrbios possuem duas causas
básicas, que podem ocorrer juntas ou separadas: desiquilibrio da química
cerebral e dificuldades psicológicas para enfrentar a realidade.
Mecanismos do medo
saudável
Sinta-se convidado para o grupo dos que sentem o medo
saudável, aquele que nos ensina:
. O que devemos evitar;
. ao que devemos estar atentos;
. porque permitimos que algumas coisas tenham tanto poder
sobre nós.
Temos que compreender que muitos medos são simplesmente fruto
da imaginação, da vaidade e da ansiedade. Não somos cobardes pelo facto de
sentirmos medo. A única covardia, é desistir de compreender os mecanismos que
nos levam a sentir tanto medo. Por vezes temos medo de conhecer as causas do
nosso próprio medo. Pensemos com humor, medo já nós temos mesmo, então será
melhor que ele seja útil e sirva de estrada para nos compreendermos melhor, aos
outros e à própria vida.
Ralph Waldo Elerson, filósofo e poeta, disse: “Faça aquilo
que você receia e a morte do medo será certa”.
Nós nascemos apenas com dois medos: o medo de caír e o medo
do barulho. Todos os outros medos foram adquiridos. Assim como os adquirimos,
podemos também livrar-nos deles.
Solidão e aborrecimento
A solidão e o aborrecimento são os meio-irmãos do medo e do
pânico. Ao contrário deste último, não surgem súbita e furiosamente, mas lenta
e quase sempre sem nos apercebermos, normalmente depois de se terem executado
todas as tarefas básicas de sobrevivência e as necessidades básicas – água,
comida, abrigo e vestuário – terem sido satisfeitas. A solidão e o
aborrecimento podem conduzir à depressão e minarem a vontade de sobreviver.
O antídoto psicológico para a solidão e para o aborrecimento
é o mesmo que para o medo e o pânico: manter o espírito ocupado. Estabelecer
prioridades e tarefas que minimizem o desconforto, melhorar as possibilidades
de recolha e preparar a sobrevivência para um extenso período de tempo.
Considerar as emergências inesperadas, embora possíveis, como operações de contingência
e conceber planos e tarefas para lhes fazer frente.
Estabelecer um programa. Um programa não é apenas uma forma
de segurança, também ocupa o espírito com as tarefas a executar.
Fixar tarefas de longa duração, tais como a construção de um
abrigo “permanente” e outras que têm que ser repetidas todos os dias, tal como
escrever um diário.
A solidão e o aborrecimento apenas podem existir na ausência
de um pensamento de acções positivas. Numa situação de sobrevivência há sempre
imenso trabalho que precisa de ser executado.
Sobrevivência em
grupo
A dinâmica de um grupo pode ser uma ajuda ou um risco para a
sobrevivência individual. Obviamente, em grupo, existem mais mãos para
executarem as tarefas necessárias e beneficiamos do contacto com outros seres
humanos. Contudo uma corrente ´é tão forte quanto o seu elo mais fraco e as
dificuldades de sobrevivência podem ser multiplicadas pelo número de pessoas
que se encontra mergulhado nelas. A sobrevivência do grupo também introduz um
factor adicional potencialmente destrutivo: a discórdia. A discórdia tem de ser
evitada a todo o custo.
Tal como as reacções individuais às situações de
sobrevivência se tornam automáticas, também o mesmo tem de suceder com as do
grupo. Os grupos que trabalham em conjunto e possuem chefes que assumem as suas
responsabilidades, têm melhores possibilidades de sobreviver. Se não houver um lider
designado, deve-se eleger um. O Lider deve mostrar calma e ter confiança em si
próprio e desta forma inspirará a confiança e a cooperação dos outros elementos
e fará com que a aplicação de um plano seja muito mais fácil. Se o grupo tomar
em consideração os pontos a seguir indicados, as possibilidades de regresso ao
seio dos elementos amigos serão grandemente aumentadas:
1 – Organizar as actividades de sobrevivência do grupo.
2 – Reconhecer um lider. O lider deve atribuir missões
individuais e manter o grupo informado sobre as actividades globais para a
sobrevivência.
3 – Desenvolver no seio do grupo um sentimento de mútua
dependência.
4 - Sempre que seja
possível, o grupo deve tomar decisões sob a direcção do lider. De qualquer
modo, qualquer que seja a situação, o lider tem de decidir e as suas ordens têm
de ser acatadas.
Finalmente convém saber, que o grande teste à vontade e
perseverança poderá suceder na hipótese de avistarmos um helicóptero de resgate
e acabarmos por não sermos vistos pela sua tripulação. Será então que se sente
um baque de depressão e de desespero. Mas não podemos sucumbir, havendo um
helicóptero nas redondezas, ele poderá regressar a qualquer momento e poderão
até existir outros mais. Se ele estiver a voar segundo um plano de busca, isso
significa que alguém anda à nossa procura. Agora o tempo é que orienta a nossa
energia e as técnicas de sobrevivência no sentido de sermos vistos da próxima
vez. E haverá uma próxima vez.
Entretanto apenas necessitamos de perícia de sobrevivência, noções
de primeiros socorros, e todos os demais conhecimentos que nos permitam viver
e, provavelmente, voltar à civilização.
O lema da sobrevivência é: Nunca desistir.
Pensem nisto, e…
Boas caminhadas
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