Visto que cada vez é maior o número de praticantes de
actividades no meia natural, seja de um ponto de vista puramente recreativo
(excursões familiares de uma jornada, travessias com desnível medio ou baixo, etc), ou de outro
mais desportivo (ascensões em tempos recorde por vias técnicas ou raids de
montanha, etc), os desportistas de montanha, incluindo todo o género de pessoas
e/ou actividades, requerem uma característica comum, todos deveriam realizar
uma preparação física em consonância com a envergadura dos seus objectivos no
meio natural/montanha.
Mas afinal
O que são os
desportos de montanha?
Quando falamos deste género de desportos, numerosas
modalidades invadem a nossa mente, desde o esqui em todas as suas variedades,
BTT, excursionismo, alpinismo, escalada, etc. Sem entrar em questões confusas,
os desportos de montanha estariam incluídos num conjunto de actividades que se
praticam num meio natural, mas de um ponto de vista concreto, que converge para
a verticalidade, a montanha.
Normalmente fala-se dos desportos de montanha como um
conjunto de modalidades de resistência de longa duração e que se praticam na
montanha.
É mesmo necessário preparar-se fisicamente para realizar
actividades de montanha?
A motivação para dedicar tempo ao treino, com o objectivo de
realizar desportos ou actividades de montanha, varia segundo o indivíduo.
Aquela pessoa que se dedica a competir, ou que sem participar em competições
oficiais, gosta de realizar actividades de montanha procurando sempre um óptimo
rendimento, precisará certamente de dedicar bastante tempo e disciplina para
alcançar e manter o maior tempo possível, um elevado rendimento físico.
Também, e dado o contexto em que se levam a cabo estes
desportos, existem outras razões pelas quais é necessário preparar-se
fisicamente de forma adequada. Uma delas e talvez a mais importante, é a
segurança. Quando se trata de actividades de longa duração, a convivência com o
cansaço e a fadiga, é algo natural, algo que, para quem não esteja devidamente
preparado e habituado, pode originar alguns problemas, que poderão comprometer
a sua integridade física.
É importante termos a certeza que o nosso nível físico está
habilitado para levar a cabo a actividade que nos propusemos realizar. Temos
que estar confiantes, ao ponto de a nossa condição física nos proporcionar
segurança, visto que na montanha as mudanças são muito bruscas e frequentes,
sejam as mudanças bruscas de temperatura, nevoeiro, nevões, tempestades e uma
infinidade de factores, que poderão complicar de certa forma a actividade
inicialmente prevista, e nessas alturas, teremos que ter uma condição física
suficiente para superar estes factores,
aliada a uma forte componente psicológica, pois se estivermos fatigados não ajudará
muito, antes pelo contrário, vai-nos aniquilar rápidamente.
Outro motivo muito importante, é o facto de nos sentirmos bem
fisicamente de forma a podermos desfrutar do espectáculo maravilhoso que nos
proporciona a mãe natureza durante a nossa jornada. Se estivermos exaustos, não
pensaremos minimamente em disfrutar dessas paisagens maravilhosas que nos são
oferecidas, pois apenas teremos presente na nossa mente aguentar dar mais uma
passada, tomando isso como objectivo principal e tornando tortuoso o que
deveria ser prazeroso.
O princípio da adaptação biológica
Devido à influência dos estímulos do treino sobre o
organismo, surge uma diminuição transitória da capacidade de rendimento. Na
fase de recuperação, a seguir,
renovam-se as fontes de energia, voltando-se ao ponto de partida, fisicamente.
Se neste momento aparecerem novos estímulos de treino, vai-se obtendo uma
melhoria contínua da capacidade de rendimento. Este processo é conhecido por
supercompensação. Se forem incluídos os novos estímulos de treino na fase de recuperação, piora-se o resultado
do treino. Da mesma forma, se forem muito distanciadas as sessões de treino não
se conseguem progressos. Por esse motivo, a fase de recuperação entre os ciclos
de treino possui uma importância vital.
Classificação dos
métodos de treino
Uma vez que as diversas modalidades dos desportos de montanha
pedem exigências diferentes, em função das capacidades e condições de cada um
deles, tentaremos abordar na sua generalidade os métodos de treino.
A preparação física
A preparação física é uma das bases para praticar desportos
de montanha de forma satisfatória.
É recomendável fazer um exame médico que inclua prova de
esforço, antes de realizar um programa de treino.
Conceitos gerais
Neste capítulo falaremos das diferenças entre a actividade
física, o exercício físico e a condição física.
. A actividade física
resume-se a qualquer movimento corporal
produzido pelos músculos esqueléticos, que tem como resultado um gasto
energético que se une ao gasto do metabolismo basal.
. O exercício físico
é a actividade física planeada, estruturada e repetitiva que tem como objectivo
a melhoria ou a manutenção de um ou mais componentes da forma física.
. A condição física
é a capacidade de desenvolver as actividades diárias com rigor e diligência,
sem fadiga e com energia suficiente para disfrutar das actividades de tempo
livre e enfrentar as eventuais emergências.
A prática dos desportos de montanha sem uma condição física
suficientemente capaz, não impede apenas que não se desfrute da actividade
montanheira, como pode inclusive comprometer a segurança do individuo. Ainda
assim, convém lembrar que a prática não profissional de um desporto deve
representar uma fonte de equilíbrio e prazer e não uma fonte de stress.
Benefícios do exercício aeróbico
Melhora a capacidade respiratória e cardiovascular. O
exercício físico aumenta o volume de ar mobilizado por minuto, assim como o
volume das cavidades cardíacas e a espessura das paredes venosas, aumentando
ainda o número de capilares pelos quais circula o sangue. Este alargamento do
coração é uma adaptação normal ao treino crónico da resistência não sendo
patológico.
O treino aeróbico melhora a capacidade metabólica de produção
de energia a nível muscular e melhora a capacidade de armazenamento e
mobilidade das reservas energéticas (aumenta as reservas de glicogénio).
Benefícios osteomusculares:
. aumento ou manutenção da massa muscular.
. aumento da capilarização do musculo.
. aumento da capacidade mitocondrial do músculo e da
actividade das suas enzimas aeróbicas, melhorando a produção de energia. As
mitocôndrias são os órgãos celulares onde se produz a energia e as enzimas são
as substâncias que facilitam a produção da dita energia.
. melhoria da estrutura e da função de ligamentos e tendões.
. aumento ou manutenção da amplitude do movimento articular.
Exercício físico e saúde
O exercício físico pode contribuir para prevenir e controlar
muitas doenças:
. Cardiopatia
isquémica: o risco de sofrer doenças coronárias diminui cerca de 50% nas
pessoas que gastam mais de 2.000 kcal semanais com actividade física de tempo
livre.
. Hipertensão
arterial.
. Obesidade.
. Diabetes mellitus.
. Osteoporose: o
exercício físico aumenta ou mantém a mineralização óssea, protegendo da
osteoporose.
. Benefícios
psicológicos e sobre o sistema nervoso: a possibilidade de sofrer uma
depressão reduz-se em cerca de 17% nas pessoas que gastam 1.000 ou 2.499 kcal
semanais em exercício aeróbico e cerca de 28% nas que gastam 2.500 kcal ou
mais.
. Cancro do Cólon:
o risco diminui entre 1 e 3 vezes.
. Envelhecimento:
a falta de uso dos sistemas orgânicos representa cerca de 50% das perdas
funcionais associadas ao envelhecimento. A perda de capacidade aeróbica é de 5%
em cada década, em pessoas idosas activas, e de 9% em pessoas sedentárias.
. Aumento da esperança
de vida: Está demonstrado que as pessoas que gastam mais de 2.000 kcal
semanais em actividade física de tempo livre, têm uma esperança de vida de 2
anos ou mais.
Riscos do exercício
. Lesões musculo-esqueléticas.
. Alterações da função endócrina.
. Golpe de calor.
. Acidentes cardiovasculares. A causa de morte súbita
induzida pelo exercício em atletas com menos de 30 anos, é devida à cardiopatia
congénita, doenças do miocárdio e anomalias do sistema de condução, e, em maiores de 30 anos, a cardiopatia coronária.
. O excesso de treino pode chegar a produzir uma obcessão que gera agressividade e outras alteração de
comportamento.
O treino desportivo
O treino deve contemplar três grandes aspectos:
. A Preparação Técnica:
tem como objectivo conseguir o máximo domínio das técnicas necessárias para
executar o movimento de forma correcta e óptima. Um aspecto importante da
preparação física é que permite uma grande economia de forças: evita contrair
músculos que não intervenham directamente na produção do movimento (contrações
desnecessárias dos músculos da cara ou da mão, movimentos desnecessários
verticais ou lateriais do corpo). Se previamente se estirar um músculo, o máximo possível, este vai-se
contrair mais. Se forem alteradas as fibras musculares que se utilizam, a
fadiga chegará mais tarde (mudança de lado na cramponagem, mudança de posições
na marcha com esquis, alteração na tracção de prisões de escalada, etc).
As sessões técnicas devem ser efectuadas imediatamente após o
período de aquecimento. Não tem interesse assimilar uma técnica se estivermos
fatigados. Será melhor trabalhar a técnica por segmentos (caminhar com crampons
e sem piolet, esquiar sem bastões, etc).
A técnica mantem-se durante toda a vida, sendo a maior
diferença em relação à resistência e à força.
. A preparação táctica:
tem como objectivo a melhoria do rendimento procurando a utilização mais
correcta dos meios, é prioritária a tomada de decisões em função dos factores
determinantes (físicos, técnicos, psicológicos, sociológicos, conhecimento do
material, etc).
. A Preparação Física
: tem como finalidade melhorar as capacidades físicas do individuo, tanto as
capacidades de base (resistência, força, velocidade e flexibilidade) como as
específicas de cada desporto.
Qualidades físicas de base
Resistência:
É a capacidade psicofísica para suportar um esforço
eficazmente durante o maior tempo possível sem que diminua o rendimento. É a qualidade mais importante para as pessoas
que praticam desportos de montanha. O alpinismo é um desporto de fundo no qual
predomina a resistência.
No interior de cada célula muscular, a mitocondria é o lugar
onde se oxidam a glicose e os ácidos gordos para produzir energia que permite
aos músculos actuar. A glicose e os ácidos gordos são carburantes e o oxigénio
o comburente, quer dizer, o que provoca a combustão dos carburantes. Para obter
mais oxigénio é preciso desenvolver o sistema cardiovascular.
O nosso melhor carburante é a glicose que se armazena no
músculo e no fígado em forma de glicogénio (acumulação de glicose). Os
depósitos de glicogénio muscular são escassos (40 ou 45 g por kg de músculo),
motivo porque se utiliza o glicogénio hepático. Por outro lado, cada grama de
glicogénio é acompanhada de 2,7 g de água. Os lípidos são uma fonte de energia
mais abundante, mas não têm a eficácia do glicogénio. Enquanto existirem
reservas de glicogénio, estes serão utilizados prioritariamente, além de que o
carburante lípido consume muito oxigénio.
A resistência cardiorrespiratória é a capacidade para
transportar eficazmente o oxigénio no nosso organismo. A resistência faz
trabalhar fundamentalmente os órgãos cardiovasculares e respiratórios, que
constituem o sistema de transporte de oxigénio. Este trabalho é realizado por
muitos músculos e de forma bastante intensa como para necessitar de uma
quantidade de oxigénio suficiente para aumentar o funcionamento destes órgãos.
Resistência aeróbica: quando a intensidade não é muito alta,
o sistema de transporte é capaz de fornecer oxigénio suficiente para manter esta intensidade durante mais de
30 minutos, graças à energia produzida pela degradação dos ácidos gordos e do
glicogénio armazenado no fígado.
Resistência anaeróbica: Quando a intensidade é muito alta, o
sistema de transporte não é capaz de fornecer oxigénio suficiente para que
funcione a glicólise aeróbica e a energia produz-se através da degradação do
glicogénio armazenado no mesmo músculo, produzindo ácido láctico. Este sistema
produz menos energia que o aeróbico e acumula ácido láctico no organismo, que é
um produto tóxico e o responsável pela dor que surge nos antebraços quando
escalamos, provocando quedas. Por estes motivos, nestes casos, a intensidade do
esforço não se pode manter mais de 3 minutos.
A intensidades baixas, estimula-se o metabolismo das gorduras,
e, a intensidades altas, o metabolismo do glicogénio.
No que concerne à resistência é preciso levar em conta duas
qualidades:
. Potência aeróbica: é o valor máximo de consumo de oxigénio
que se pode conseguir num determinado período de tempo e que se avalia mediante
o VO2 máximo.
O VO2 máximo é a medida do consumo máximo de oxigénio durante
o esforço, quer dizer, quanto mais oxigénio se consume, mais energia se produz ,
e a velocidade de deslocamento em longas distâncias, é maior.
. Capacidade aeróbica: é a capacidade de prolongar um alto
consumo de oxigénio durante o máximo tempo possível e que se avalia perante um
limiar anaeróbico.
Quando se realiza exercício físico, produz-se uma primeira
acumulação importante de ácido láctico, por volta de 2 mmol/l (limiar aeróbico),
que coincide com o nível máximo de intensidade em que ainda é possível uma
conversação, de seguida existe uma segunda acumulação de ácido láctico mais
intenso, que não se consegue eliminar aerobicamente, por volta dos 4 mmol/l,
que limita a duração do exercício a esta intensidade (limiar anaeróbico) e o
desportista terá a sensação de não conseguir aguentar muito mais esse ritmo.
É importante conhecer o limiar anaeróbico, pois é a
percentagem de VO2 máximo que se pode
manter de forma prolongada. Esse limiar anaeróbico corresponde a uma
determinada frequência cardíaca, que será a utilizada para programar os treinos
e que se determina mediante uma prova de esforço.
Existem diferentes métodos para aumentar a resistência, as
diferenças estão determinadas pela duração da actividade, o tempo de repouso e
o número de repetições e séries. Para melhorar a capacidade aeróbica, o
trabalho deve-se realizar com uma intensidade com o mínimo de 60% ou 70% da
frequência cardíaca máxima. A frequência aconselhável é de 4 a 6 sessões
semanais.
A frequência cardíaca (FC) máxima pode-se calcular
aproximadamente com a seguinte fórmula: FC = 220 – idade.
Existem diversos métodos de treino da resistência aeróbica,
sendo os mais utilizados:
. Sistema contínuo armónico:
- De baixa intensidade: a intensidade de trabalho é baixa (inferior a 70% da FC
máxima) e a duração do esforço alta (1 a 3 horas). Melhora a resistência de
longa duração e favorece o metabolismo de gorduras e da glicose aeróbica. Por
exemplo, a corrida contínua, consiste em correr grandes percursos desde 5 até
30 km (20 a 120 minutos) a um ritmo que melhore a condição cardiocirculatória.
- De alta intensidade: a intensidade de trabalho é maior (70%
a 90% da FC máxima). Favorece mais o metabolismo de glicogénio do que o das
gorduras.
Sistema contínuo variável:
efectuam-se mudanças de intensidade (fartlek, distâncias naturais com
pendentes, etc). O fartlek consiste em correr alternando mudanças de ritmo em
função das características do terreno durante distâncias e tempos que oscilem
entre 5 e 20 km e 15 e 45 minutos. Deve-se escolher um terreno variado com
diferentes tipos de pendentes.
. Sistema intervalado: alterna fases de esforço com curtas
fases de recuperação incompletas. Melhora a potência aeróbica máxima (VO2
max.), aumenta o limiar anaeróbico e a capacidade anaeróbica, e, ainda melhora
a capacidade de suportar niveis de lactato altos. Estes sistemas permitem correr a distância total a maior velocidade do
que se corresse de forma continuada. Pode ser de intensidade média ou alta.
. Sistema de repetições: diferencia-se do anterior na medida
em que as recuperações são completas. Melhora a força máxima, a força de
resistência a alta intensidade e a velocidade.
Os sistemas contínuos e o intervalado de média ou baixa
intensidade são orientados para melhorar
a condição física de base e o intervalo
de alta intensidade para alcançar o ritmo de competição.
É perigoso iniciar um treino anaeróbico sem antes se alcançar uma boa base aeróbica, com
treinos de baixa intensidade e longa duração.
De uma forma empírica, pode-se considerar que 75% ou 80% do
treino, deve ser realizado a um ritmo que permita manter uma conversação.
Os desportos que melhoram a resistência são: o atletismo
(cross, fundo e meio fundo), ciclismo (BTT), esqui (fundo e montanha),
desportos de equipa, desportos aquáticos e ténis.
É importante efectuar treinos em montanha para uma melhor
adaptação às condições climáticas e de altitude do meio.
Força
É a capacidade neuromuscular para superar uma resistência
externa ou uma forte oposição ao movimento.
Os desportos de resistência trabalham-se de forma aeróbica e
a força que se desenvolve é inferior a 20% da máxima. Para evitar a perda de
massa muscular é necessário fazer exercícios de musculação e principalmente de
força resistência. Ainda assim, as
actividades aeróbicas têm pouca
influência sobre a força resistência
muscular da parte superior do corpo.
Existem diferentes classes de força:
. Força máxima: é a força superior que pode executar
um grupo muscular contra a máxima oposição (alterofilia). Melhora-se fazendo
poucas repetições com uma carga o mais elevada possível. Em escalada requere-se
a força máxima em vias atléticas. Existem dois tipos fundamentais de esforços
máximos, estáticos (bloqueio com um ou os dois braços) e dinâmicos (superação
de todo o nosso peso sobre um ou os dois braços).
. Força – velocidade: é a que num período muito curto
de tempo chega a ser eficaz. Melhora com cargas médias de 60% ou 75% da carga
máxima e um número moderado de 6 a 10 repetições.
. Força resistência ou resistência muscular: é a
capacidade para manter contracções musculares repetidas com a frequência mais
elevada possível, ou uma contracção fixa
durante o máximo tempo possível. Melhora com cargas baixas e
médias (30% a 60% da máxima) e muitas repetições (15 a 40). A recuperação é
incompleta (1 a 3 minutos). Os métodos mais utilizados são o próprio corpo e os
pesos.
Os exercícios de força-resistência consistem em contracções
separadas de grupos musculares que pretendem mobilizar uma carga ou vencer uma
resistência extrema que se opõe ao movimento.
Podem ser:
- Dinâmicos: as contracções modificam o comprimento do
músculo.
- Isotónicos: mantèm
constante o tónus com uma velocidade de contracção variável, produzindo encurtamento muscular (concêntricos), o
desenvolvimento tensão ao mesmo tempo
que permitem que o músculo se estire (excêntricos).
- Isocinéticos:
mantêm constante a velocidade de contracção e varia o tónus.
- Estáticos (isométricos): As contracções não modificam o
comprimento do músculo. As contracções isométricas limitam a chegada de sangue
ao músculo. As técnicas de trabalho isométrico apenas melhoram a força no ângulo
trabalhado.
Para desenvolver e manter a força, recomenda-se 2 a 3 sessões
semanais com 8 a 10 exercícios que desenvolvam a maior parte de grupos
musculares (braços, ombros, tórax, abdómen, costas, ancas e pernas) em cada
sessão e com 8 a 15 repetições de cada exercício.
Flexibilidade
É a capacidade para mover as articulações ao longo de toda a
sua amplitude de movimento. A elasticidade muscular é a faculdade do músculo
para se estirar. A flexibilidade possui uns limites ósseos que não se modificam
e que dependem da herança, uns limites dos ligamentos e cápsulas articulares
modificáveis pelo treino e uns limites musculares (elasticidade) também
modificáveis.
O método da facilidade neuromuscular propioceptiva consiste
em relaxar um estiramento passivo, e,
nesta posição, fazer uma contracção isométrica de 6 segundos de duração , do
grupo muscular que se encontra estirado, seguido de um relaxamento muscular de
5 a 10 segundos. Estes ciclos devem ser repetidos até se alcançar um limite
insuperável de estiramento.
Para trabalhar e manter a flexibilidade, recomenda-se 2 a 3
sessões semanais com 8 a 10 exercícios que incluam a maior parte de grupos de
músculos e tendões. Os exercícios de flexibilidade devem-se fazer de forma
lenta e progressiva, mantendo o estiramento durante 20 a 30 segundos, e
realizando 5 a 10 repetições para cada grupo muscular.
Velocidade
É a capacidade para realizar o movimento com a maior rapidez
possível.
Deve-se diferenciar entre a velocidade de reacção, a
velocidade de contracção muscular e a velocidade de deslocação.
Outras
. Coordenação: é a faculdade de utilizar conjuntamente
as propriedades dos sistemas nervoso e muscular sem que se interfiram.
. Equilibrio: é a faculdade para adoptar uma posição
contra a força da gravidade.
. Relaxamento: é o menor estado de tensão de um
músculo.
. Rusticidade: é a facilidade de adaptação às
variações do ambiente e às situações que se deparam.
Tempo de descanso entre sessões:
. Velocidade: 48 a 72 horas.
. Força-velocidade: 24 a 48 horas.
. Força-resistência: 48 horas.
. Resistência forte (80% a 88% da FC máxima): 48 a 72 horas.
. Resistência suave (70% a 80% da FC máxima): 12 a 24 horas.
. Agilidade-coordenação: 6 horas.
. Flexibilidade: 6 horas.
Nunca se deve trabalhar uma técnica em estado de fadiga.
Princípios fundamentais do treino Desportivo
. Princípio da totalidade: o treino deve envolver
todas as qualidades do indivíduo, tanto
físicas como psíquicas. A especialização decorre depois de uma boa base de
formação total.
. Princípio de continuidade do processo de treino: o
treino deve ser contínuo durante toda a vida desportiva do indivíduo. Deve
estar baseado no treino anterior e deve contemplar os intervalos de recuperação
adequados que melhorem a capacidade.
. Princípio do aumento progressivo das cargas de treino:
a melhoria de rendimento está relacionada com o esforço realizado durante o
treino que provoca no organismo as fases de fadiga e sobrecompensação, do que
se deduz a necessidade de ir incrementando progressivamente as cargas, pois o
organismo vai-se adaptando às exigências a que se vê submetido. Se não se
incrementarem as cargas não se verificam melhorias, mas apenas uma manutenção.
. Princípio da variação oscilante das cargas de treino:
os ciclos naturais e biológicos determinam a necessidade de manter um critério
cíclico na aplicação das cargas de treino. A alternância da carga produz-se
combinando volume ou quantidade com qualidade ou intensidade do esforço. Em função
da sua duração, os ciclos de treino podem ser pequenos ou suaves ou podem ser
grandes.
. Princípio da individualidade do treino: o treino
deve ser adaptado a cada desportista.
Programação da
preparação física nos desportos de montanha
Os desportos de montanha, geralmente, caracterizam-se pela
sua longa duração, sendo de resistência com uma componente de força
resistência.
Quando se programar um treino, devem ser definidos os
objectivos gerais e específicos do programa e distribuir o ciclo anual em três
períodos:
. Preparatório
- Sub-período de
preparação geral com aumento do volume de trabalho.
- Sub-período de
preparação específica com aumento da intensidade de trabalho.
. De competição
. Transitório
- Sub-período de
recuperação.
- Sub-período de
descanso activo.
Como correr pela
montanha
. Em subida, é necessário inclinar o corpo para a
frente e encurtar a passada. As mãos apoiam-se nas pernas para acompanhar o
movimento e os pés colocam-se ligeiramente abertos para melhorar o agarre,
sobretudo em terrenos com erva. Em pendentes cujo desnível exceda 15% ou 20%
pode ser mais rentável andar do que correr, pois ganha-se em amplitude o que se
perde em frequência e além disso chega-se ao cimo em melhores condições para
enfrentar o terreno plano ou a descida.
. Em descida, o instinto faz com que se corra a largas
passadas com o corpo inclinado para trás para travar e, a recepção é feita sobre os calcanhares. Tudo
isto pode produzir uma considerável dor de costas. Parece ser melhor inclinar o
corpo para a frente, perpendicular à pendente, encurtar a passada e fazer a recepção
do solo com a parte anterior do pé, afastando os braços de forma a conservar
melhor o equilíbrio. O amortecimento realiza-se através da flexão dos joelhos.
Em pendentes superiores a 10% será melhor procurar usar apoios laterais. O
tempo de contacto do pé com o solo deve ser muito curto, como se estivéssemos a
correr sobre brasas quentes, com a finalidade de evitar entorces,
principalmente se o solo for irregular. É importante ir olhando para o terreno
uns passos à frente com a finalidade de escolher o sítio onde colocar o pé e
desta forma evitar tropeções com consequências desagradáveis.
Na prática, para desenvolver e manter uma condição física
adequada, no que se refere a resistência, são suficientes 3 a 5 sessões
semanais de corrida contínua com duração de 30 a 60 minutos e a um ritmo de 70%
ou 80% da FC máxima, tentando ir aumentando para 30 a 60 minutos semanais a um
ritmo de 80% ou 88% da FC máxima. Esse ritmo mais elevado faz-se a intervalos
de 10 ou 15 minutos numa ou duas sessões e sempre depois de ter corrido pelo
menos 15 minutos a um ritmo suave inicialmente, e pelo menos 10 minutos no
final.
A sessão de
exercício físico
A sessão de exercício físico deve-se estruturar em três
parte:
. Aquecimento: consiste num exercício de baixa
intensidade (10 a 20 batimentos cardíacos por minuto acima da FC de repouso)
com 5 a 10 minutos de duração, seguido de estiramentos dos grupos musculares
envolvidos no esforço.
. Período principal de exercício.
. Recuperação: redução progressiva do exercício
durante 5 a 10 minutos, fazendo-o suavemente para favorecer o retorno venoso,
eliminando o lactato e catabólicos acumulados. De seguida é conveniente fazer
estiramentos parecidos com os iniciais.
Progressão:
. Etapa de início: inclui as primeiras 4 a 6 semanas,
em que o progresso deve ser gradual, começando com uma intensidade suave
durante um curto período de tempo e poucas vezes por semana.
. Etapa de melhoria: aumenta-se a intensidade, a
frequência e a duração do exercício, incluindo 4 a 5 meses com aumento de
exercícios cada 2 a 3 semanas.
. Etapa de manutenção.
Duração:
Deve ser suficiente para incrementar o desgaste energético em
287 kcal no mínimo, o que quer dizer que com as baixas intensidades
recomendadas, deve ter uma duração de pelo menos 30 minutos nos casos da
corrida a pé e da natação, e uma duração de 60 minutos no caso do ciclismo e do
treino aeróbico.
Frequência:
Recomenda-se no mínimo 3 sessões semanais.
Intensidade:
A intensidade recomendada é de 60% a 90% da FC máxima.
Recuperação:
É de extrema importância completar as sessões de treino com
uma boa recuperação. O treino deve ser programado equilibrando-o com o resto
das actividades da vida diária.
Para uma boa recuperação, é preciso ter em conta os hábitos
higiénicos que favorecem uma boa condição física.
. Evitar o tabaco, o álcool e as drogas.
. Ter uma alimentação adequada.
. Ter um descanso nocturno suficiente.
. Caminhar sempre que seja possível, evitando o carro, o elevador,
etc.
. Respeitar o ritmo biológico (dia e noite).
Treino excessivo
Este aspecto é de extrema importância. Devemos ter muito
cuidado para não exagerarmos no treino.
A linha que separa um bom treino de um excesso de treino, é ínfima. O
entusiasmo pode-nos levar a esforçar demasiado. O objectivo é treinar e não
esgotar. Treinar demasiado, é tão mau ou pior, do que não treinar. Uma forma
eficaz de sabermos se estamos a treinar dentro das nossas capacidades, é por
intermédio do pulso. Um pulso normal ronda entre as 60 e as 80 pulsações por
minuto, dependendo de cada pessoa. Para saber a nossa pulsação, basta contar as
nossas pulsações durante 10 segundos e multiplicar esse número por 6. Mas uma
coisa é o nosso pulso normal em repouso e outra coisa é o nosso pulso rápido ao
qual podemos chegar em situação de treino. Para obter este último, a 220
devemos subtrair a nossa idade e o resultado multiplica-lo por 0,85 (pulso
máximo = 220 – idade x 0,85).
Se tivermos 20 anos, a pulsação máxima a que devemos chegar
será (220-20)x0,85=170. E após terminado o treino, é necessário que ao fim de
5 minutos a pulsação tenha baixado para 120 e ao cabo de 10 minutos tenha
baixado para 100 pulsações. Se isto não correr desta forma, significa que o
programa de treino é demasiado intenso e deve ser reduzida a carga do mesmo.
Outra forma de determinar a carga de treino, é medir a
pulsação de manhã ao despertar. Se efectuamos um treino no dia anterior, medimos
o pulso no dia seguinte, quando
despertarmos. Se o número de pulsações for superior ao número do dia anterior,
devemos treinar menos, com menos carga ou melhor, descansar nesse dia. Para
evitar excesso de treino, uma forma eficaz será, alternar dias de treino mais duro com dias de
treino mais suave.
Além do pulso outros sintomas do excesso de treino são:
. Diminuição da nossa resistência.
. Fadiga geral (corpo pesado, apatia, falta de interesse para
treinar).
. Músculos muito doridos.
. Tremuras.
. Febre (quando este último sintoma ocorre estamos a pontos
de sofrer um choque bastante grave e sério).
Outros sinais de alarme são:
. Falta de apetite.
. Insónias.
. Irritação.
. Dor de cabeça ou de estômago.
. Falta de interesse para efectuar actividades normalmente
entusiastas.
Pormenores a ter em conta
Para garantir a efectividade de um treino da condição física
é preciso ter presentes algumas regras básicas:
. Antes de treinar, deve-se fazer um bom aquecimento. Isto é
válido para qualquer tipo de treino, seja o treino da resistência, da força ou
da flexibilidade.
Começa-se com uma estimulação do sistema cardio-vascular através de uma carga leve de todo o corpo,
como por exemplo, correr. De seguida preparam-se a musculatura e as
articulações através de stretching e exercícios de ginástica. E finalmente
começa-se o treino propriamente dito.
. Nos treinos da força, após o aquecimento, devem-se realizar
exercícios com pouca carga e progressivamente vai-se aumentando esta.
. As dores musculares e das articulações podem indicar uma
possível lesão. Deve-se suspender o treino de imediato e tentar averiguar as
causas dessas dores.
. A execução de testes com máxima força, não devem ser
tentados por principiantes, visto que a estrutura muscular e articular destes
não está habituada a cargas elevadas. O peso correcto das cargas, estabelece-se
através do aumento escalonado da intensidade do treino.
. Após cada treino deve-se recuperar. No final do treino não
se deve interromper o esforço de uma forma brusca. Para se conseguir uma
recuperação adequada e um adequado catabolismo dos resíduos metabólicos, é
necessário efectuar um ligeiro trote ou uma carga suave sobre a musculatura que
se trabalhou. Apenas assim é garantido o êxito do treino.
Qualquer pessoa que tenha saúde e tenha vontade para se
movimentar na natureza se pode tornar alpinista. Devido ao grande número de
modalidades que agrupa o montanhismo, desde o excursionismo até à escalada,
passando pelo alpinismo extremo de inverno, sempre existe uma modalidade que se
adapte às capacidades de cada um.
O que conta não é o aspecto meramente desportivo, mas sim a
alegria que existe em quem pratica actividades de montanha. Desta forma e
através do esforço físico, obtém-se experiências gratificantes.
Portanto não se esqueçam de treinar, não apenas para
efectuarem actividades de montanha, mas também para garantirem uma boa
qualidade de vida. Treinem pela vossa saúde.
E já agora…
Treinem para desfrutarem de boas caminhadas
Caminhar! meu amigo deixe a bicicleta em casa ...
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