19 julho 2012

Precauções na travessia de glaciares



Precauções gerais

Para evitar dentro do possível as fendas, é muito importante estudar a melhor trajectória através do glaciar, servindo-se de um ponto elevado para o observar. Deste ponto pode-se planificar a trajectória pelas zonas menos perigosas. Pode-se inclusive apontar notas ou fazer um croquis para lembrar os pontos estratégicos.


Os glaciares estão em constante mudança pelo que temos que caminhar sempre com desconfiança “nunca baixando a guarda”, mesmo que o trajecto já seja conhecido de outras vezes anteriores.


No verão, em glaciares desprovidos de neve e com as fendas descobertas e à vista, podemos prescindir da corda, no entanto quando atravessamos glaciares cobertos de neve, temos que ir sempre encordados e com arnês. Ficar suspensos por um encordamento com a corda presa directamente ao corpo, representa um grande risco de lesões e asfixia, e no entanto o encordamento com arnês de cintura é insuficiente, pois se levamos uma mochila pesada convém improvisar um arnês de peito se não quisermos ficar suspensos com a cabeça para baixo.


É tentador passar sem o incómodo de uma corda por um glaciar plano e agradável, mas é precisamente nestes glaciares que se encontram as ratoeiras mais escondidas e perigosas. Muitos montanheiros pereceram da forma mais absurda numa fenda, após terem  efectuado difíceis passagens e trajectos.  A corda é o nosso seguro de vida, por isso justifica algum incómodo que possa causar. Levar a corda não evitará que caiamos acidentalmente numa fenda, mas pode salvar a nossa vida ou a dos nossos companheiros. Utilizar uma corda tampouco é uma garantia de que não existirão problemas, além de a utilizar, cada elemento do grupo deve saber:

Deter a queda de um companheiro

Resgatar uma pessoa incapacitada do interior de uma fenda

Saír de uma fenda pelos seus próprios meios

Pode ser desmoralizante, mas não basta saber, é preciso praticar, sendo esta a única garantia que, quando chegar o momento seremos realmente capazes de solucionar os imprevistos que surjam. Os treinos práticos devem ser o mais próximo dos reais possível, elegendo um terreno real, mas sem perigo e praticar desde uma queda dentro da fenda (evidentemente os que aguentarem a queda, deverão estar perfeitamente seguros e ancorados), até todos os tipos de sistemas para saír ou tirar da fenda o companheiro.


Evitando fendas

Podemos intuir a presença de fendas pelas cores e aspecto da neve, pelas ténues linhas ou ondulações ou por pequenos desníveis e depressões. Também podemos prever a sua presença se observarmos as fendas abertas em dois lados e as prolongarmos imaginariamente.
Sondar as fendas, quer dizer, palpar a neve em busca de fendas ocultas, não adianta muito se não tivermos um piolet suficientemente comprido ou um bastão sem as borboletas para neve, e a experiência suficiente para avaliar o resultado da nossa exploração. Em terreno duvidoso é melhor parar e assegurar.


O que podemos fazer perante a presença de fendas?

Rodear: Caminhando paralelamente até que a fenda se feche ou se estreite o suficiente, para passar por cima dela, mas atenção, não devem caminhar todos pelo mesmo trilho perto da fenda e convém não esquecer de manter a corda sempre tensa entre os companheiros.



Saltar: Em função da largura, o salto pode ser uma simplesmente passada larga ou um salto de comprimento (estilo olímpico), este último “estilo” será reservado como última solução devido ao perigo que implica. Será conveniente dar o salto sem a mochila e levar em conta que as beiras da fenda podem ser instáveis, pelo que se deve comprovar previamente com o piolet a firmeza do terreno para tomar o impulso. Como precaução, sempre que o salto seja perigoso, montaremos uma reunião para nos assegurar e saltaremos o mais longe possível, com a corda suficientemente frouxa de forma que não impeça o salto, e levaremos o piolet seguro em posição de auto detenção de forma a fixar-se em caso de necessidade.



Perante a possibilidade de cair na fenda, é prudente agasalhar bem e rever o sistema de autobloqueantes para sair da mesma.
Um caso particular é o salto de rimaias, que são as fendas que se formam perto das fortes pendentes. Estas fendas, se tiverem uma altura razoável podem saltar-se com relativa facilidade, uma vez que, vantajosamente, estão encosta abaixo, mas não devemos esquecer que a nossa indumentária está cheia de picos, pelo que se deve saltar com os pés afastados, joelhos flectidos e de preferência sem piolet, sendo preferível que este fique a reforçar a reunião, desde onde nos segurará o companheiro, se for necessário. Uma vez que o primeiro que salte fique em baixo, baixam-se os dois piolets e também as mochilas, pela corda, para montar outra reunião, e por sua vez o montanheiro que estiver em cima, salta sendo seguro pelo que está em baixo. Se a altura for excessiva ou  a aterrizagem suspeita, não existam dúvidas para montar um rappel.



Cruzar por uma ponte

Se não for possível  contornar nem saltar a fenda, será necessário procurar uma ponte de neve que una as duas bordas da fenda. Uma ponte de neve pode ter o tamanho de um autocarro como pode ser uma frágil passerelle, com a visão do negro vazio por baixo de nós, que nos faz tremer de medo. Deve-se instalar uma reunião e verificar com o piolet, a firmeza da ponte. O montanheiro que tenha a honra de cruzar primeiro a ponte, deve-o fazer pisando com precaução antes de descarregar todo o peso do corpo em cima do pé, perante dúvidas pode-se passar a ponte de gatas ou melhor ainda, rastejar deitado na neve para repartir melhor o peso pela superfície. Uma vez a salvo do outro lado procederá à segurança do companheiro montando outra reunião.





Teóricamente, as pontes devem ser mais sólidas nas horas mais frias do dia.

Todo o cuidado é pouco, portanto…

Boas caminhadas, com segurança

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