Precauções gerais
Para evitar dentro do possível as fendas, é muito importante
estudar a melhor trajectória através do glaciar, servindo-se de um ponto
elevado para o observar. Deste ponto pode-se planificar a trajectória pelas
zonas menos perigosas. Pode-se inclusive apontar notas ou fazer um croquis para
lembrar os pontos estratégicos.
Os glaciares estão em constante mudança pelo que temos que
caminhar sempre com desconfiança “nunca baixando a guarda”, mesmo que o trajecto
já seja conhecido de outras vezes anteriores.
No verão, em glaciares desprovidos de neve e com as fendas
descobertas e à vista, podemos prescindir da corda, no entanto quando
atravessamos glaciares cobertos de neve, temos que ir sempre encordados e com arnês.
Ficar suspensos por um encordamento com a corda presa directamente ao corpo,
representa um grande risco de lesões e asfixia, e no entanto o encordamento com
arnês de cintura é insuficiente, pois se levamos uma mochila pesada convém
improvisar um arnês de peito se não quisermos ficar suspensos com a cabeça para
baixo.
É tentador passar sem o incómodo de uma corda por um glaciar
plano e agradável, mas é precisamente nestes glaciares que se encontram as
ratoeiras mais escondidas e perigosas. Muitos montanheiros pereceram da forma
mais absurda numa fenda, após terem efectuado difíceis passagens e trajectos. A corda é o nosso seguro de vida, por isso
justifica algum incómodo que possa causar. Levar a corda não evitará que
caiamos acidentalmente numa fenda, mas pode salvar a nossa vida ou a dos nossos
companheiros. Utilizar uma corda tampouco é uma garantia de que não existirão
problemas, além de a utilizar, cada elemento do grupo deve saber:
Deter a queda de
um companheiro
Resgatar uma
pessoa incapacitada do interior de uma fenda
Saír de uma fenda
pelos seus próprios meios
Pode ser desmoralizante, mas não basta saber, é preciso
praticar, sendo esta a única garantia que, quando chegar o momento seremos
realmente capazes de solucionar os imprevistos que surjam. Os treinos práticos
devem ser o mais próximo dos reais possível, elegendo um terreno real, mas sem
perigo e praticar desde uma queda dentro da fenda (evidentemente os que
aguentarem a queda, deverão estar perfeitamente seguros e ancorados), até todos
os tipos de sistemas para saír ou tirar da fenda o companheiro.
Evitando fendas
Podemos intuir a presença de fendas pelas cores e aspecto da
neve, pelas ténues linhas ou ondulações ou por pequenos desníveis e depressões.
Também podemos prever a sua presença se observarmos as fendas abertas em dois
lados e as prolongarmos imaginariamente.
Sondar as fendas, quer dizer, palpar a neve em busca de
fendas ocultas, não adianta muito se não tivermos um piolet suficientemente
comprido ou um bastão sem as borboletas para neve, e a experiência suficiente
para avaliar o resultado da nossa exploração. Em terreno duvidoso é melhor
parar e assegurar.
O que podemos fazer perante a presença de fendas?
Rodear:
Caminhando paralelamente até que a fenda se feche ou se estreite o suficiente,
para passar por cima dela, mas atenção, não devem caminhar todos pelo mesmo
trilho perto da fenda e convém não esquecer de manter a corda sempre tensa
entre os companheiros.
Saltar: Em função
da largura, o salto pode ser uma simplesmente passada larga ou um salto de
comprimento (estilo olímpico), este último “estilo” será reservado como última
solução devido ao perigo que implica. Será conveniente dar o salto sem a
mochila e levar em conta que as beiras da fenda podem ser instáveis, pelo que
se deve comprovar previamente com o piolet a firmeza do terreno para tomar o
impulso. Como precaução, sempre que o salto seja perigoso, montaremos uma
reunião para nos assegurar e saltaremos o mais longe possível, com a corda
suficientemente frouxa de forma que não impeça o salto, e levaremos o piolet
seguro em posição de auto detenção de forma a fixar-se em caso de necessidade.
Perante a possibilidade de cair na fenda, é prudente
agasalhar bem e rever o sistema de autobloqueantes para sair da mesma.
Um caso particular é o salto de rimaias, que são as fendas
que se formam perto das fortes pendentes. Estas fendas, se tiverem uma altura
razoável podem saltar-se com relativa facilidade, uma vez que, vantajosamente,
estão encosta abaixo, mas não devemos esquecer que a nossa indumentária está
cheia de picos, pelo que se deve saltar com os pés afastados, joelhos flectidos
e de preferência sem piolet, sendo preferível que este fique a reforçar a
reunião, desde onde nos segurará o companheiro, se for necessário. Uma vez que
o primeiro que salte fique em baixo, baixam-se os dois piolets e também as
mochilas, pela corda, para montar outra reunião, e por sua vez o montanheiro
que estiver em cima, salta sendo seguro pelo que está em baixo. Se a altura for
excessiva ou a aterrizagem suspeita, não
existam dúvidas para montar um rappel.
Cruzar por uma ponte
Se não for possível
contornar nem saltar a fenda, será necessário procurar uma ponte de neve
que una as duas bordas da fenda. Uma ponte de neve pode ter o tamanho de um
autocarro como pode ser uma frágil passerelle, com a visão do negro vazio por
baixo de nós, que nos faz tremer de medo. Deve-se instalar uma reunião e
verificar com o piolet, a firmeza da ponte. O montanheiro que tenha a honra de
cruzar primeiro a ponte, deve-o fazer pisando com precaução antes de
descarregar todo o peso do corpo em cima do pé, perante dúvidas pode-se passar
a ponte de gatas ou melhor ainda, rastejar deitado na neve para repartir melhor
o peso pela superfície. Uma vez a salvo do outro lado procederá à segurança do
companheiro montando outra reunião.
Teóricamente, as pontes devem ser mais sólidas nas horas
mais frias do dia.
Todo o cuidado é pouco, portanto…
Boas caminhadas, com segurança
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