Sistema Cardiovascular
O débito cardíaco aumenta substancialmente quando se chega a
uma altitude extrema, devido a um aumento da frequência cardíaca.
Como resposta à hipoxia, o volume sistólico diminui para uma
determinada taxa de trabalho, no entanto, nas pressões sanguíneas sistólica e
diastólica ocorre pouca mudança ou nenhuma. Ao mesmo tempo, o retorno do sangue
venoso ao coração e a contratilidade cardíaca mantêm-se. A altitudes extremas
são pouco comuns as arritmias cardíacas, mas são muito frequentes os ritmos
cardíacos irregulares e uma marcada variação cíclica do número de batimentos
cardíacos durante o sono.
Em altitude, a libertação de oxigénio nos capilares dos
tecidos é melhorada pelas propriedades únicas da hemoglobina, que é a molécula responsável
pelo transporte de oxigénio (O2) nos glóbulos vermelhos.
É notável que a policitemia (maior ritmo de produção de
glóbulos vermelhos) seja considerada, com frequência, uma das respostas
clássicas e rápidas do organismo perante a hipoxia, porque supõe-se que aumenta
a capacidade de transportar O2 do sangue. No entanto, o aumento da hemoglobina
que se produz durante os primeiros dois dias em altitude, deve-se na realidade
a uma perda do volume de plasma presente no sangue.
Esta resposta do
organismo também pode aumentar a viscosidade do sangue, dando origem a um fluxo
sanguíneo irregular e a “borrões” nos capilares musculares. Existem
investigações recentes que suportam esta ideia: diluir o sangue de montanheiros
policitémicos não prejudicou o seu rendimento e induziu uma pequena melhoria
nas suas tarefas psicomotrizes.
Esta adaptação
policitémica natural, estimulada pela produção da hormona eritropoietina (EPO)
nos rins, deu origem a um modelo para produzir uma “dopagem do sangue” (também
conhecido por auto-transfusão) utilizada de forma ilegal pelos corredores de
fundo desde, pelo menos, os Jogos Olimpicos de Montreal de 1976. Assistidos por
médicos, essa forma de dopagem foi utilizada com o recurso a uma das duas
técnicas seguintes.
Uma das técnicas,
consiste em que após alcançado o aumento de volume de glóbulos vermelhos que se
consegue em altitude, extraem-se duas doses de sangue (aproximadamente um
litro): um adulto tem em média entre 4 e 5 litros de sangue em todo o sistema
circulatório. Depois de centrifugar esse sangue, congelam-se os glóbulos
vermelhos e seis semanas mais tarde ministra-se uma transfusão com esse sangue
ao atleta do qual se extraiu. O objectivo é aumentar a capacidade de transporte
de O2 no sangue e, assim, aumentar a quantidade de O2 que se distribui pelos
músculos em movimento. Constatou-se que esta técnica médica melhorava o VO2
máximo e o rendimento, 24 horas após a transfusão e aparentemente durante mais
tempo.
O uso suplementar de
EPO consiste na segunda técnica para “dopar o sangue”. Com técnicas modernas de
biologia molecular (como uma clonagem recombinante de ADN), pode-se produzir
EPO de uma maneira sintética.
Uma EPO sintética
injectada, pode demorar até 3 semanas para estimular completamente a produção
de glóbulos vermelhos na medula óssea. No entanto, a par de outros
inconvenientes, um uso excessivo de EPO pode levar a uns níveis de hematócrito
perigosamente elevado (concentração de glóbulos vermelhos no plasma).
Enquanto que um
hematócrito normal varia de 42 a 46%, o hematócrito induzido pela EPO pode
alcançar os 55%. Como os desportistas de fundo costumam sofrer de desidratação,
as perdas do seu volume de plasma são grandes pelo que correm maiores riscos de
que se espesse o sangue e de padecerem de má circulação (o que origina que
chegue aos músculos menos O2) e, como tal, de terem um enfarte do miocárdio.
De facto, e a título
de exemplo, verificamos que entre os ciclistas de elite foram atribuídas várias
mortes devido a um uso ilegal de EPO sintética desde que esta ficou disponível
no final dos anos 80. Também a utilizam ilegalmente muitos corredores de
distância europeus, e isto apesar de estar proibida pelo Comité Olímpico
Internacional e pela U.S. National Collegiate Athletic Association.
No próximo artigo
continuaremos com este tema, até lá…
Boas caminhadas
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