Medicação psiquiátrica
Os psicofármacos não deveriam fazer parte rotineira dos kits de
expedição, e sobretudo, nunca deveriam ser usados por ninguém que não esteja
habilitado para tal.
No entanto, as expedições nas quais não seja possível uma evacuação
imediata, um médico com experiência no uso de psicofármacos, deveria levar em
conta o seguinte:
. Antidepressivos (por exemplo, fluoxetina 20 mg). Ainda que aliviem
os sintomas depressivos em cerca de 65% dos casos, demoram sensivelmente duas
semanas para fazerem efeito.
. Ansiolíticos/hipnóticos (por exemplo, diazepam 5mg). Estes
medicamentos podem revelar-se úteis a qualquer momento, estes medicamentos
podem ter alguma utilidade se houver necessidade de tratar crises de ansiedade
ou situações de tensão graves, mas como provocam dependência apenas devem
usar-se por poucos dias.
. Antipsicóticos (por exemplo, clorpromazina 50 mg). Podem ser úteis nos estados de confusão
agudos. No entanto existe o perigo de mascararem um agravamento clínico do
paciente, e podem causar efeitos indesejáveis do tipo extrapiramidal* o que acarreta
o uso de fármacos anticolinérgicos (por exemplo, prociclidina 5 mg).
O regresso a casa
Se durante a expedição existiu algum desastre importante ou esteve a
ponto de se verificar, será necessário prestar particular atenção no regresso a
casa.
Na verdade, no decorrer da última década tem-se compreendido melhor as
sequelas psicológicas graves de que padecem muitas pessoas que sofreram
acidentes graves ou que estiveram a ponto de morrer. O término (transtorno de
stress pós-traumático) compreende uma série de alterações que aparecem após uma
experiência traumática.
As mais frequentes são os pensamentos obsessivos, recordações da
experiência traumática, pesadelos, insónias e o evitar de lugares e situações
específicas. Se houveram mortos ou lesionados graves, os sobreviventes podem
padecer de sentimentos de culpa pelo facto de terem escapado ilesos, ainda que
não tenham nenhuma responsabilidade no sucedido. Se não se tratarem estes
sintomas, eles poderão persistir durante anos, originando sofrimento e
incapacidade. Por isso, essas pessoas devem procurar a assistência de peritos
na matéria.
Felizmente a maioria das expedições concluem-se sem nenhum desastre.
Hugh Robert Mil, que foi bibliotecário da Royal Geographycal Society descreveu
“a elegante tradição dos exploradores britânicos de passar bem alto pelas
pequenas lutas e ciúmes”, e não há dúvidas de que os pequenos desacordos e
conflitos de personalidade tendem a esquecer-se logo que se chega a casa. No
entanto, por trás da excitação inicial do regresso, é frequente a perda de alguma
da sensação de camaradagem vivida durante a expedição.
Uma sensação de anticlímax é a consequência inevitável de uma viagem
com êxito. Coloca-se sempre mais atenção no processo de construção de um grupo
no início da expedição do que no processo da separação, quando a expedição
assinala o seu fim. Um chefe responsável deve-se aperceber que este é um
processo doloroso, pelo que deve dar particular atenção ao sentimento de perda experimentado
pelo grupo.
Uma coisa prática que se pode fazer para combater esse sentimento,
será distribuir uma lista com os endereços de todos os membros da expedição,
com a finalidade de que todos os expedicionários possam manter-se em contacto
entre si no futuro. Passados poucos meses do final da expedição, será também
interessante convocar uma reunião com todos os expedicionários. De qualquer
forma, a melhor das curas será começar a planificar a próxima aventura.
E com este capítulo, chegamos ao final deste tema que contamos ter
sido do vosso agrado. Para a semana regressaremos com um novo tema. Até lá…
Boas caminhadas
* O sistema
extrapiramidal é uma rede neural localizada no cérebro humano que faz parte do
sistema motor envolvido na coordenação dos movimentos.
Sem comentários:
Enviar um comentário
comentários