19 fevereiro 2014

Problemas psicológicos nas grandes expedições (4ª parte)




Medicação psiquiátrica

Os psicofármacos não deveriam fazer parte rotineira dos kits de expedição, e sobretudo, nunca deveriam ser usados por ninguém que não esteja habilitado para tal.





No entanto, as expedições nas quais não seja possível uma evacuação imediata, um médico com experiência no uso de psicofármacos, deveria levar em conta o seguinte:

. Antidepressivos (por exemplo, fluoxetina 20 mg). Ainda que aliviem os sintomas depressivos em cerca de 65% dos casos, demoram sensivelmente duas semanas para fazerem efeito.





. Ansiolíticos/hipnóticos (por exemplo, diazepam 5mg). Estes medicamentos podem revelar-se úteis a qualquer momento, estes medicamentos podem ter alguma utilidade se houver necessidade de tratar crises de ansiedade ou situações de tensão graves, mas como provocam dependência apenas devem usar-se por poucos dias.






. Antipsicóticos (por exemplo, clorpromazina 50 mg).  Podem ser úteis nos estados de confusão agudos. No entanto existe o perigo de mascararem um agravamento clínico do paciente, e podem causar efeitos indesejáveis do tipo extrapiramidal* o que acarreta o uso de fármacos anticolinérgicos (por exemplo, prociclidina 5 mg).







O regresso a casa

Se durante a expedição existiu algum desastre importante ou esteve a ponto de se verificar, será necessário prestar particular atenção no regresso a casa.





Na verdade, no decorrer da última década tem-se compreendido melhor as sequelas psicológicas graves de que padecem muitas pessoas que sofreram acidentes graves ou que estiveram a ponto de morrer. O término (transtorno de stress pós-traumático) compreende uma série de alterações que aparecem após uma experiência traumática.





As mais frequentes são os pensamentos obsessivos, recordações da experiência traumática, pesadelos, insónias e o evitar de lugares e situações específicas. Se houveram mortos ou lesionados graves, os sobreviventes podem padecer de sentimentos de culpa pelo facto de terem escapado ilesos, ainda que não tenham nenhuma responsabilidade no sucedido. Se não se tratarem estes sintomas, eles poderão persistir durante anos, originando sofrimento e incapacidade. Por isso, essas pessoas devem procurar a assistência de peritos na matéria.





Felizmente a maioria das expedições concluem-se sem nenhum desastre. Hugh Robert Mil, que foi bibliotecário da Royal Geographycal Society descreveu “a elegante tradição dos exploradores britânicos de passar bem alto pelas pequenas lutas e ciúmes”, e não há dúvidas de que os pequenos desacordos e conflitos de personalidade tendem a esquecer-se logo que se chega a casa. No entanto, por trás da excitação inicial do regresso, é frequente a perda de alguma da sensação de camaradagem vivida durante a expedição.





Uma sensação de anticlímax é a consequência inevitável de uma viagem com êxito. Coloca-se sempre mais atenção no processo de construção de um grupo no início da expedição do que no processo da separação, quando a expedição assinala o seu fim. Um chefe responsável deve-se aperceber que este é um processo doloroso, pelo que deve dar particular atenção ao sentimento de perda experimentado pelo grupo.

 Uma coisa prática que se pode fazer para combater esse sentimento, será distribuir uma lista com os endereços de todos os membros da expedição, com a finalidade de que todos os expedicionários possam manter-se em contacto entre si no futuro. Passados poucos meses do final da expedição, será também interessante convocar uma reunião com todos os expedicionários. De qualquer forma, a melhor das curas será começar a planificar a próxima aventura.

E com este capítulo, chegamos ao final deste tema que contamos ter sido do vosso agrado. Para a semana regressaremos com um novo tema. Até lá…






Boas caminhadas


* O sistema extrapiramidal é uma rede neural localizada no cérebro humano que faz parte do sistema motor envolvido na coordenação dos movimentos.

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