Na sequência dos artigos anteriores, e como conclusão, neste artigo continuamos
a transcrever o documento da UIAA, cujo tema aborda as crianças e como estas
podem ser afectadas pela altitude.
Exposição ao frio
Os bebés e as crianças mais novas, são especialmente
vulneráveis aos efeitos do frio devido à grande superfície em relação com o seu
volume. A criança que precisa ser carregada durante uma caminhada, não gera
calor por actividade muscular e fica em risco de hipotermia. A roupa adequada é
essencial para prevenir o desgaste, a hipotermia e a congelação.
Cada um deve ter consciência de uma série de casos de
congelação das extremidades, incluindo aqueles casos que requerem amputações,
principalmente após o uso de porta-bebés no inverno. A protecção da cabeça com
um gorro é bastante recomendável, devido à maior proporção de volume na cabeça
das crianças, o que origina uma maior perda de calor por essa via.
Exposição ao Sol
A reflexão da neve e a camada mais fina da atmosfera a grande
altitude, provocam que o risco da radiação ultravioleta solar queime mais do
que ao nível do mar. As crianças são mais propensas a sofrer queimaduras do que
os adultos, se estiverem expostos excessivamente ao Sol. Cremes protectores de
Sol apropriados (com protecção contra os raios UVA e UVB, no mínimo que seja
SPF 30, aplicado antes da exposição solar), chapéus, roupas largas e óculos com
boas lentes são necessários para evitar a queimadura solar ou causar cegueira
através da neve. Consegue-se uma razoável protecção solar que evite queimaduras
do Sol, às crianças que caminham na sombra, usam roupas protectoras e que
limitam a sua exposição ao Sol durante as horas de pico (ou seja, 11 am até 3
pm).
Crianças com doenças pré-existentes
As crianças com determinadas condições médicas subjacentes
crónicas, podem ter um maior risco de desenvolvimento, seja uma exacerbação da
sua doença crónica ou uma doença directamente relacionada com a altitude.
Existem poucos ou nenhuns dados para determinar o risco de condições médicas
específicas.
Portanto, primeiro devem-se verificar os factores de risco
que contribuem para o desenvolvimento de doenças relacionadas com a altitude, e
se forem confirmadas, como em cada criança isto pode afectar a sua condição
médica num ambiente com menos oxigénio. Por este motivo, pode ser possível
determinar o risco relativo de desenvolvimento de complicações em altitude.
1. Disturbios de coração e pulmões
Portanto é lógico pensar que as crianças:
. Que carecem de uma das artérias pulmonares.
. Com determinados defeitos congénitos do coração.
. Com doenças pulmonares significativas secundárias a um
parto prematuro.
. Com fibrose cística.
. Com síndroma de Down.
. Que tenham infecções reais das vias respiratórias.
Estão em risco para desenvolver HAPE em altitude.
2. Outros distúrbios importantes
. Aumento do risco para as crianças com doença de células
falciformes, talassemia.
. Anemia grave
. Já se verificou desenvolvimento de HAPE com síndroma
adrenogenital, no entanto existem poucos ou nenhuns dados sobre este tema.
. Já se presenciou desenvolvimento de HAPE após quimioterapia
para o cancro, mas existem poucos ou nenhuns dados sobre este tema.
.Também se tem verificado convulsões recorrentes que já não
estão na medicação em altitudes baixas como os 2.700 m, também existem poucos
ou nenhuns dados sobre este tema.
Avaliação
Se os pais decidirem viajar para altitudes com as crianças
que têm condições médicas crónicas, é fundamental que façam uma avaliação
especial que garantam um socorro adequado e oportuno para a evacuação.
Provavelmente isto significa limitar as viagens a destinos de altitude mais
desenvolvidos em vez de viagens a sítios isolados. As câmaras de hipoxia
isobáricas dão a oportunidade de confirmar se a criança tolera a altitude ou
não.
Diversos
Aborrecimento. As crianças mais pequenas costumam ter pouca capacidade de
atenção e aborrecem-se facilmente quando viajam distâncias relativamente
curtas. Deve-se eleger cuidadosamente um itinerário estimulante.
Capacidade física. Tem-se efectuado estimativas das distâncias que as crianças
mais novas podem caminhar (ao nível do mar), mas apenas se devem utilizar como
directrizes que se possam ajustar a cada criança em particular. Deve-se
salientar que as crianças apenas devem caminhar o tempo que elas queiram.
Alimentos. Algumas crianças podem ser pouco adaptáveis às mudanças de
circunstâncias e recusar a comida que não lhes é familiar. É útil experimentar dar-lhe
vários alimentos antes da viagem para altitude. É importar garantir uma
alimentação e ingestão de líquidos adequados.
Higiene. Em caminhadas remotas, viajar com crianças pode ser
particularmente stressante para os pais que tentam manter uma higiene adequada
ao seu filho.
Doença concomitante. A gastroentrite será provavelmente
menos comum entre os montanheiros crianças do que nos adultos. No entanto, as
crianças são mais propensas a desenvolver uma desidratação grave e potencialmente
perigosa com uma gastroentrite, pelo que uma parte do kit de primeiros socorros
deveria conter soluções de hidratação por via oral (SRO). A dose deve ser
ajustada para as crianças, uma vez que a maioria das SRO são produzidas para
adultos.
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Membros da Comissão
Médica da UIAA
C. Angelini (Italia), B. Basnyat (Nepal), J. Bogg (Suécia),
AR Chioconi (Argentina), S. Ferrandis (Espanha), U. Gieseler (Alemanha), U.
Hefti (Suiça), D. Hillebrandt (UK), J. Holmgren (Suécia), M. Horii (Japão), D.
Jean (França), A. Koukoutsi (Grecia), J. Kubalova (República Checa), T. Kuepper
(Alemanha), H. Meijer (Países Baixos), J. Milledge (Reino Unido), A. Morrison
(Reino Unido), H. Mosaedian (Irão), S. Omori (Japão), I. Rotman (República Checa),
V. Schoeffl (Alemanha), J. Shahbazi (Irão), J. Windsor (Reino Unido)
E com este artigo terminamos a transcrição deste importante
documento da UIAA. Contamos que tenha sido útil.
Boas caminhadas
Excelente artigo e muito útil. Parabéns Amadeu pelo teu trabalho e preocupação em ir de encontro às necessidades dos frequentadores da montanha. :)
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