14 maio 2014

As crianças e a altitude (4ª parte)




Na sequência dos artigos anteriores, e como conclusão, neste artigo continuamos a transcrever o documento da UIAA, cujo tema aborda as crianças e como estas podem ser afectadas pela altitude.




Exposição ao frio

Os bebés e as crianças mais novas, são especialmente vulneráveis aos efeitos do frio devido à grande superfície em relação com o seu volume. A criança que precisa ser carregada durante uma caminhada, não gera calor por actividade muscular e fica em risco de hipotermia. A roupa adequada é essencial para prevenir o desgaste, a hipotermia e a congelação.





Cada um deve ter consciência de uma série de casos de congelação das extremidades, incluindo aqueles casos que requerem amputações, principalmente após o uso de porta-bebés no inverno. A protecção da cabeça com um gorro é bastante recomendável, devido à maior proporção de volume na cabeça das crianças, o que origina uma maior perda de calor por essa via.






Exposição ao Sol

A reflexão da neve e a camada mais fina da atmosfera a grande altitude, provocam que o risco da radiação ultravioleta solar queime mais do que ao nível do mar. As crianças são mais propensas a sofrer queimaduras do que os adultos, se estiverem expostos excessivamente ao Sol. Cremes protectores de Sol apropriados (com protecção contra os raios UVA e UVB, no mínimo que seja SPF 30, aplicado antes da exposição solar), chapéus, roupas largas e óculos com boas lentes são necessários para evitar a queimadura solar ou causar cegueira através da neve. Consegue-se uma razoável protecção solar que evite queimaduras do Sol, às crianças que caminham na sombra, usam roupas protectoras e que limitam a sua exposição ao Sol durante as horas de pico (ou seja, 11 am até 3 pm).






Crianças com doenças pré-existentes

As crianças com determinadas condições médicas subjacentes crónicas, podem ter um maior risco de desenvolvimento, seja uma exacerbação da sua doença crónica ou uma doença directamente relacionada com a altitude. Existem poucos ou nenhuns dados para determinar o risco de condições médicas específicas.





Portanto, primeiro devem-se verificar os factores de risco que contribuem para o desenvolvimento de doenças relacionadas com a altitude, e se forem confirmadas, como em cada criança isto pode afectar a sua condição médica num ambiente com menos oxigénio. Por este motivo, pode ser possível determinar o risco relativo de desenvolvimento de complicações em altitude.






1. Disturbios de coração e pulmões

Portanto é lógico pensar que as crianças:

. Que carecem de uma das artérias pulmonares.

. Com determinados defeitos congénitos do coração.

. Com doenças pulmonares significativas secundárias a um parto prematuro.

. Com fibrose cística.

. Com síndroma de Down.

. Que tenham infecções reais das vias respiratórias.

Estão em risco para desenvolver HAPE em altitude.






2. Outros distúrbios importantes

. Aumento do risco para as crianças com doença de células falciformes, talassemia.

. Anemia grave

. Já se verificou desenvolvimento de HAPE com síndroma adrenogenital, no entanto existem poucos ou nenhuns dados sobre este tema.

. Já se presenciou desenvolvimento de HAPE após quimioterapia para o cancro, mas existem poucos ou nenhuns dados sobre este tema.

.Também se tem verificado convulsões recorrentes que já não estão na medicação em altitudes baixas como os 2.700 m, também existem poucos ou nenhuns dados sobre este tema.






Avaliação

Se os pais decidirem viajar para altitudes com as crianças que têm condições médicas crónicas, é fundamental que façam uma avaliação especial que garantam um socorro adequado e oportuno para a evacuação. Provavelmente isto significa limitar as viagens a destinos de altitude mais desenvolvidos em vez de viagens a sítios isolados. As câmaras de hipoxia isobáricas dão a oportunidade de confirmar se a criança tolera a altitude ou não.






Diversos

Aborrecimento. As crianças mais pequenas costumam ter pouca capacidade de atenção e aborrecem-se facilmente quando viajam distâncias relativamente curtas. Deve-se eleger cuidadosamente um itinerário estimulante.

Capacidade física. Tem-se efectuado estimativas das distâncias que as crianças mais novas podem caminhar (ao nível do mar), mas apenas se devem utilizar como directrizes que se possam ajustar a cada criança em particular. Deve-se salientar que as crianças apenas devem caminhar o tempo que elas queiram.

Alimentos. Algumas crianças podem ser pouco adaptáveis às mudanças de circunstâncias e recusar a comida que não lhes é familiar. É útil experimentar dar-lhe vários alimentos antes da viagem para altitude. É importar garantir uma alimentação e ingestão de líquidos adequados.

Higiene. Em caminhadas remotas, viajar com crianças pode ser particularmente stressante para os pais que tentam manter uma higiene adequada ao seu filho.

Doença concomitante. A gastroentrite será provavelmente menos comum entre os montanheiros crianças do que nos adultos. No entanto, as crianças são mais propensas a desenvolver uma desidratação grave e potencialmente perigosa com uma gastroentrite, pelo que uma parte do kit de primeiros socorros deveria conter soluções de hidratação por via oral (SRO). A dose deve ser ajustada para as crianças, uma vez que a maioria das SRO são produzidas para adultos.






Referências:

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Membros da Comissão Médica da UIAA

C. Angelini (Italia), B. Basnyat (Nepal), J. Bogg (Suécia), AR Chioconi (Argentina), S. Ferrandis (Espanha), U. Gieseler (Alemanha), U. Hefti (Suiça), D. Hillebrandt (UK), J. Holmgren (Suécia), M. Horii (Japão), D. Jean (França), A. Koukoutsi (Grecia), J. Kubalova (República Checa), T. Kuepper (Alemanha), H. Meijer (Países Baixos), J. Milledge (Reino Unido), A. Morrison (Reino Unido), H. Mosaedian (Irão), S. Omori (Japão), I. Rotman (República Checa), V. Schoeffl (Alemanha), J. Shahbazi (Irão), J. Windsor (Reino Unido)





E com este artigo terminamos a transcrição deste importante documento da UIAA. Contamos que tenha sido útil.





Boas caminhadas

1 comentário:

  1. Excelente artigo e muito útil. Parabéns Amadeu pelo teu trabalho e preocupação em ir de encontro às necessidades dos frequentadores da montanha. :)

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