Muitos montanheiros libertam-se de muito peso, deixando a
tenda em casa. Essa poderá ser uma boa ideia quando nos deslocamos em zonas onde existam refúgios de
montanha, cabanas, albergues, cavernas ou outros refúgios naturais.
Mas convém ter presente que a cabana para onde nos dirigimos
pode estar cheia de gente que também se lembrou dela, pelo que a solidão e
tranquilidade que procurávamos e desejávamos desfrutar, poderá estar cheia de
risos, canções e até discussões que perdurarão, provavelmente, até altas horas da noite.
Os montanheiros até podem suportar isso, no entanto este tipo de
atmosfera poderá ser encontrado num bar qualquer do nosso bairro, não sendo
necessário ir para a montanha para encontrar tal ambiente. Num refúgio ou num albergue
não podemos eleger a companhia, e além disso as pousadas e albergues
sujeitam-nos a horários e determinadas regras. Teremos que nos cingir a
distâncias previamente fixadas para cada dia, porque teremos que estar na pousada ou no
albergue até à hora de abertura e voltar correndo para chegar antes que fiquem
cheios. Desta forma estamo-nos a privar da liberdade e mobilidade que nos
oferece a tenda de campanha.
O melhor do montanhismo é podermos acampar quando estamos
cansados ou onde a paisagem for mais agradável, representando esta escolha a verdadeira liberdade. Existe
uma alternativa a dormir numa tenda, que é fazer um bivaque. Pode-se improvisar
um refúgio simples, mas eficaz, somente com um saco de plástico grande ou com uma lona
impermeabilizada. Nestes refúgios não ficamos tão protegidos da água como numa
tenda de campanha, mas este será um pormenor sem importância se considerarmos a
diferença de preços (as lonas impermeabilizadas costumam custar a décima parte
do preço de uma tenda barata). Utilizar coberturas de bivaque em Gore-Tex será
outra alternativa para prescindir da tenda. Ainda que sejam dispendiosas, a sua
aceitação tem sido cada vez maior entre os montanheiros que pretendem aliviar peso na mochila e
pretendem dormir ao ar livre. Os sacos de bivaque com aros são na realidade
pequenas tendas, funcionais, embora com pouco conforto.
(Se vamos dormir ao ar livre, não nos
podemos esquecer de montar um refúgio. Uma simples lona de nylon, sem furos,
pode-se colocar de qualquer uma das formas que se mostram nas ilustrações
acima. As árvores são os melhores pontos de ancoragem, no entanto também serve
um bastão forte. Ao colocar a lona, convém recordar que a entrada do abrigo não
deve ficar voltada contra o vento.)
(Na imagem acima vemos um saco de
bivaque de Gore-Tex com aros. Como o espaço interior tem pouca altura, o vapor
de água que exista dentro do saco, vê-se forçado a saír pelos poros do PTFE,
por acção do calor do corpo, desaparecendo por convecção. Estes sacos costumam
pesar cerca de 700 gramas, sendo portanto ideais para o montanheiro que pretenda
reduzir o peso ao mínimo, evitando ficar sem refúgio impermeável para a noite.
Não se pode falar de conforto, pois apenas é possível ficar deitado nesta
classe de refúgio.)
(Se pretendemos viajar com pouco peso,
será conveniente levar tendas como a da imagem acima, com armação de arcos e um
equipamento leve e bem compactado.)
Noites ao ar livre
Existem montanheiros e escaladores muito destemidos que
sentem calafrios só de pensar em passar uma noite ao ar livre sem as
comodidades materiais de um hotel ou duma pensão, ou pelo menos com as quatro
paredes de um simples refúgio de montanha, entre eles e os elementos naturais.
Esta é a reacção natural das pessoas - ditas -normais, sociais e domésticas. O
montanhismo oferece-nos a possibilidade de quebrar estas restrições sociais, proporcionando uma mudança da rotineira vida diária. “Identificar-se com a natureza” é uma frase
banal e gasta, que dá a impressão que
quem a diz é um excêntrico. Contudo se
dormirmos debaixo de um céu estrelado, sem outra protecção que não seja o fino
saco de bivaque a separar-nos entre nós próprios e o mundo exterior, enquanto
escutamos os grunhidos abafados de uns veados, quando vemos um esquilo nervoso
e curioso que se aproxima do nosso corpo inerte, ou, ainda, quando escutamos o barulho
do vento nas árvores que nos rodeiam, jamais como então nos teremos sentido tão próximos
da natureza.
Claro que nem toda a gente pensa da mesma forma. Muitas
pessoas têm imensa dificuldade em relaxar se estiverem ao ar livre. Para além da
acolhedora luz das suas velas cintilantes ou lanternas, encontra-se um mundo escuro e
hostil e sentem uma ameaça que engloba tudo a começar pelas sombras.
O som de qualquer rocegar na vegetação, ou de grunhidos, pode-se ampliar
até alcançar proporções alarmantes e o som da água a fluir no ribeiro pode dar
a impressão de vozes distantes a murmurar. É preciso ter coragem para ficar
dentro das paredes de lona de uma tenda frágil, ouvindo o vento a gemer e rugir
sobre a colina próxima, aguardando que nos sacuda com uma força estremecedora.
Mas a experiência é uma grande professora. Quando sabemos
que a nossa pequena tenda está firmemente montada e protegida, e que não será
arrancada pelo vento, quando sabemos que os esquilos, os guaxinins e os ouriços
cacheiros são incapazes de nos fazer mal, quando tristemente tivermos
consciência que a simples presença do homem origina medo e alarme em quase
todas as criaturas, será nessa altura que saberemos que não existe nada com que
nos preocuparmos. O medo do desconhecido é o mais receoso de todos os
nossos temores e esse medo pode-se transformar rapidamente em amor. O amor à solidão, o amor
aos espaços abertos e naturais, o amor ao cheiro da resina dos pinheiros, do
café acabado de fazer e da terra húmida e o aroma do novo dia que começa na
natureza.
Contudo , a maioria das recordações mais felizes das
viagens, são os sítios onde acampamos. As etapas de caminhada das viagens
também serão recordadas, mas não passam simplesmente de meios para alcançar um
fim, que será passar a noite no exterior, seja debaixo das estrelas ou dentro
de uma tenda.
Em muitas ocasiões também se efectuam percursos de apenas um dia. Quando se
vive perto das montanhas, pode-se partir a qualquer momento, passar um dia no cume das montanhas e
regressar a casa para jantar, mas sempre falta algo em dias destes, fica sempre
um sentimento de nostalgia quando nos afastamos destes maravilhosos sítios
enquanto a noite vai caindo. È como se algo de nós ficasse para trás. A melhor forma
de estar nas montanhas, por senti-las em toda a sua dimensão, passa por procurar um pequeno pedaço de erva plana para a
converter na nossa casa durante uma noite. As melhores partes do dia são sempre as
horas do início da manhã e aquelas em que cai a escuridão da noite.
Nas viagens de apenas um dia, estes momentos são perdidos. É
muito melhor permanecer na natureza e sentir-nos parte desta, quando a escuridão se estende sobre nós,
passar a noite confortavelmente, resguardados no saco de bivaque ou na tenda, a
sós com os nossos pensamentos e sonhos, ou até com um bom livro e pela manhã levantar-nos
cedo e frescos. É básico e essencial acampar depois de um dia de caminhada.
“Onde deixo o meu chapéu está a minha casa”, esta frase talvez sintetize o
romantismo do viajante. Um dos prazeres mais elementares do montanhismo é
encontrar um local bonito para acampar e passar a noite. Alguém escreveu um
dia, que para conhecer uma montanha é preciso dormir nela. Passar o ciclo
completo das 24 horas do dia sujeitos à intempérie, dá-nos uma grande confiança
em nós próprios e na nossa capacidade de nos identificarmos com o meio
ambiente. Se regressamos a casa ao caír da noite, ou abandonamos o local para
ir em busca da comodidade de um hotel, sentimo-nos como meros visitantes.
Muitos consideram os montanheiros muito corajosos, uma vez que conseguem resistir a todas as adversidades que acontecem num acampamento em
plena natureza, sobretudo quando a aventura dure vários dias. No entanto amigos, a dureza é algo que
está ausente de tudo isto. A única coisa que se necessita para poder disfrutar de um
acampamento de vários dias, é de um bom equipamento em que se possa confiar e
principalmente saber utiliza-lo. Com o passar dos anos, o
equipamento converte-se num velho amigo.
O abrigo (Bivaque)
A situação complica-se quando somos apanhados desprevenidos
e precisamos improvisar para conseguir um abrigo minimamente confortável para
passarmos a noite.
A função primária de um abrigo é proteger o montanheiro dos
perigos e riscos, próprios do ambiente de sobrevivência. Um abrigo bem
construído também pode fornecer conforto e bem-estar psicológico. Quanto mais
dilatada for a duração da situação de sobrevivência, tanto maior será a
importância destas considerações.
Um abrigo feito à mão, pode ir de um rápido e simples
alpendre a uma cabana de troncos completamente calafetada. A sofisticação do
abrigo que resolvermos fazer depende de vários factores.
As ferramentas à nossa disposição e a circunstância de o abrigo ser temporário
ou semipermanente, são factores fundamentais para a nossa decisão. Mesmo que
tenhamos previsto uma permanência dilatada, os nossos esforços têm de,
necessariamente, limitar-se à construção de um abrigo simples, se, pelo menos
não dispusermos, no mínimo, de uma navalha e de um machado. Outras considerações mais
significativas são o tempo disponível para trabalhar a madeira e os
conhecimentos da arte de o fazer. Contudo de qualquer modo poderá ser construído um abrigo
bastante adequado com poucas ou nenhumas ferramentas e um conhecimento limitado
das técnicas de trabalhar a madeira. O importante para construir um abrigo
eficaz e habitável é improvisar. A improvisação, combinada com a criatividade e
os conhecimentos básicos do trabalho com madeira, pode produzir um abrigo
robusto e confortável.
Escolha do local
Devemos procurar um sitio seco para acampar, num esporão ou
ponto alto do terreno, num local aberto bem afastado de pântanos (mas não
demasiado afastados da nossa fonte de água doce). Nessas circunstâncias os mosquitos incomodarão
menos, o solo estará mais seco e as brisas serão mais prováveis.
Devemos saber, por exemplo, que na selva montanhosa, as noites são frias. Devemos providenciar
protecções contra o vento. Devemos evitar os leitos de rios secos. Estes leitos
secos podem ser inundados em poucas horas. Essas enxurradas podem ser provocadas por chuvas caídas em
locais tão distantes da nossa posição que tampouco nos aperceberemos do perigo que representam.
Alguns tipos de abrigo
Como já aqui se referiu, o tipo de abrigo a construir depende do tempo disponível
para o preparar e de se destinar a servir como estrutura permanente ou
semi-permanente. Eis alguns abrigos simples:
1- O abrigo de colmo ou em “A” – Construído cobrindo uma
estrutura em forma de “A” com uma boa camada espessa de folhas de palmeira ou outras
folhas pesadas, bocados de casca de árvore ou leivas de relva. Põe-se o colmo
atado a ripas e coloca-se de baixo para cima. Este tipo de abrigo é considerado ideal
desde que possa ser concebido completamente à prova de água.
2- O alpendre – Ou abrigo-padrão. Quando usar um abrigo do tipo alpendre, é,
porém, importante que esteja estrategicamente localizado num local onde se possa fazer
uma fogueira suficientemente grande para espalhar calor de forma uniforme por
todo o abrigo. A localização correcta do alpendre e da fogueira em relação aos
ventos dominantes é outro factor a considerar. Este abrigo pode ser melhorado
com uma fogueira e com a construção de um reflector com toros verdes colocado
para lá da fogueira em relação à abertura do alpendre. Grandes pedras espetadas
do outro lado da fogueira também reflectem o calor.
3- O abrigo de salgueiros – Este é construido com salgueiros atados
formando uma armação que pode ser coberta por tecido. Não há nenhum desenho
especial para este tipo de abrigo, mas deve ser suficientemente espaçoso para
um ocupante e seu respectivo equipamento. É muito importante colocar a extremidade aberta do abrigo
perpendicularmente aos ventos dominantes, bem como vedar a parte inferior da cobertura
com terra ou neve para evitar que o vento entre nele.
4- O abrigo de árvore caída – É, como o nome indica, formado pela copa de uma árvore
caída. Os abrigos feitos com as copas das árvores caídas não reflectem o calor
de uma fogueira e metem água durante uma chuvada, mas os ramos podem servir
como um abrigo temporário.
5- O abrigo de tronco – Este é construido colocando dois barrotes de
encontro a um tronco de grandes dimensões e cobrindo a estrutura com folhagem.
Este abrigo não é conveniente para ser usado como acampamento permanente.
A cavidade natural
Se não tivermos um abrigo connosco, o que seria preferível, teremos
que procurar oportunidades de abrigo que a natureza nos oferece e que já tem previstas
para nós, seja uma caverna ou uma cavidade natural no solo. No entanto, devemos
evitar depressões naturais em áreas de baixa altitude uma vez que podem inundar e se
estivermos numa ladeira, temos que tentar manter-nos bem longe de buracos expostos e propícios para escoamento
de águas.
Uma cavidade pode ser demasiado rasa para nos sentarmos dentro
dela , mas ainda assim pode servir de abrigo contra o vento, se nos deitarmos nela, e se a dotarmos dum telhado básico podemos ainda mantê-la seca também.
Alguns pontos a ter em consideração para um correcto aproveitamento de uma cavidade:
Alguns pontos a ter em consideração para um correcto aproveitamento de uma cavidade:
1 - Se a cavidade não for suficientemente profunda para nos abrigar da acção do vento ,
será necessário remover alguma terra com
uma vara, que poderá ser um pau afiado na ponta para soltar a
terra que depois será removida.
. Convém analisar com cuidado o solo que não deve ser húmido, pois pode ser propenso a inundações.
. Se o terreno for muito difícil de escavar, pode-se colocar
pedras ou madeira para construir os
lados aumentando-os, evitando, assim, a necessidade de escavar.
. Deve-se colocar material no chão para fazer uma cama antes
de continuar
2 - Com uma serra, ou, na falta dela, com alguma improvisação, corte um bom número de paus resistentes
ou galhos que sejam suficientemente compridos para cobrir todo o buraco e que servirão para criar um teto de apoio. Cortar
um tronco mais espesso, que deve ser apoiado em cima dos paus transversais. Com este procedimento irá criar a altura e
a inclinação semelhante a um telhado inclinado. Certifique-se que a estrutura não é demasiado
pesada.
3 - Coloque ramos mais curtos, paus, ou postes ao longo do
topo do tronco e ramos para criar um telhado pontiagudo.
Devem unir-se estes materiais bem juntos e certificar de que estão
colocados firmemente na posição
4 - Deixar uma entrada numa extremidade do abrigo com espaço
suficiente para entrar e sair sem danificar o telhado.
. Garantir que a entrada não fica de frente para o vento, sendo que um
ângulo de 90 graus em relação ao vento dominante será o ideal.
. Isolar o telhado inclinado com folhagem, usando tantas folhas quanto seja possível.
. Iniciar a camada de isolamento final, trabalhando-se sempre dos
lados para a parte superior do telhado para assim criar uma sobreposição de folhas de
forma que a água da chuva escorra para
fora do buraco.
. Em condições húmidas colocar um poncho ou um plástico por
cima.
Tenda Bivaque pequena
Um saco de bivaque consiste numa capa leve à prova de água usado para cobrir um para saco
cama e é feito de um material respirável que reduz a condensação. É um
componente essencial para campismo e montanhismo podendo facilmente ser transformada numa tenda
pequena para uma única pessoa. A vantagem de fazer uma tenda de saco de bivaque,
é que, em condições de chuva, a água cai
pelo lado e não penetra para o interior tão rapidamente como acontece quando o
saco fica estendido plano no solo.
Procedimento:
Procedimento:
1. Estende-se o saco de bivaque no chão no local escolhido
para o montar.
. Se tiver a aba da capa em cima ela vai formar uma "porta"
que trava para baixo. No entanto, se a aba está no fundo pode ser amarrado como
uma porta.
. Anexar um laço-botão (mais abaixo explicaremos como se faz este tipo de laço) com uma laçada em cada uma das esquinas do fundo do saco bivaque.
. Estacam-se os laços com um laço-botão no chão.
2. Atar a um laço-botão, com um longo comprimento de cordél
para o centro da abertura do saco bivaque de forma a segurá-la.
. Puxa-se para baixo os lados direito e esquerdo da entrada
e coloca-se um laço-botão com uma laçada, no sítio onde eles se encontram no chão.
. Prende-se os laços-botão no chão.
3. Coloca-se uma vara curva (ou duas varas cruzadas) sobre o
fundo do saco bivaque.
. Prende-se o laço-botão que tem 45 cm, dos pés do saco bivaque
para o aro. para assim o levantar e
proporcionar mais espaço para os nossos pés.
. Estaca-se fortemente o cabo a partir do aro.
4. Corta-se um pau com a mesma altura da entrada (também
podem ser usados um rebento curvo, ou
varas cruzadas)
. Coloca-se o pau na entrada, passa-se o cabo-botão pelo
meio e por cima deste, e estaca-se a corda levemente.
. Reajustam-se todos os pinos para garantir um bom aperto e uma boa tensão.
5 . Quando quisermos entrar na tenda bivaque, basta remover
o o pau da abertura e nela introduzir primeiro os pés.
. Com este movimento é necessário certificar que a corda não fique presa a nós.
6. Depois de termos entrado na tenda bivaque, recoloca-se o pau
da entrada sob o cabo longo.
. Usa-se o capuz do saco bivaque como uma porta ao abrir e
fechar, se for necessário.
Como se faz um laço
botão
Os laços-botão proporcionam uma fixação simples e segura para segurar ponchos e lonas que não possuem laços ou ilhoses, tornando fácil e seguro anexar uma linha ou cordel. Como não tem que se cortar
buracos no material, continuará a ser à prova d'água e menos propenso a rasgar.
1. Embrulha-se uma pequena pedra, redonda e lisa (ou
similar) no material para formar um "botão". Depois prepara-se a corda, e ata-se
com um nó corrediço numa extremidade.
2. Coloca-se a argola aberta do nó deslizante sobre o
pescoço do botão e puxa-se para o apertar.
3. Na outra extremidade da corda faz-se uma laçada simples para prender às cavilhas do
seu abrigo
A neve como refúgio
Não há nenhum problema em passar a noite debaixo de uma lona
ou de um saco plástico, ou simplesmente debaixo das estrelas, no entanto saír no
Inverno para a montanha sem uma tenda de campanha é procurar seguramente
complicações. Apesar de tudo, podemos perfeitamente saír sem tenda, quando esteja um tempo invernal,
se o fazemos com a deliberada intenção de escavar um buraco ou uma caverna na
neve para aí bivacar enquanto estivermos na montanha.
São bem conhecidas as propriedades isolantes da neve. Os
cientistas da Universidade do Colorado compararam a capacidade isolante da neve
com a do saco cama. Em ambos os casos o agente isolante consiste em milhões de
minúsculas bolsas de ar. No saco cama, estas bolsas de ar formam-se entre as
partículas das penas e na neve ocorre o mesmo ao amontoarem-se e unirem-se entre si
os flocos de neve. Algumas aves pequenas como as perdizes e mamíferos como as
lebres azuis, são capazes de sobreviver em invernos de muita neve,
protegendo-se do vento ao abrigo de buracos e montes de neve.
Uma camada de neve recente pode conter entre 60 a 90% de ar,
dependendo da sua estrutura. Após ter estado algum tempo no solo a forma dos
flocos de neve transformam-se, as arestas e as pontas desaparecem e o que eram
bonitos flocos convertem-se em massas globulares, mas grande parte do ar
original permanece na neve. A neve que caiu há mais tempo não retém tanto ar ,
mas este está firmemente preso, com o que aumentam as qualidades isolantes da
neve.
Se escavarmos um buraco neste tipo de neve sólida, conseguiremos
um isolamento parecido com o que obteríamos se nos enfiássemos num saco cama. A
temperatura que mantém o ar retido com a temperatura média com que caiu a neve,
mas rapidamente o calor do corpo, das velas e dos fogões, originam uma mudança
notável da temperatura dentro do covil de neve. Devido à acção destas fontes de
calor, a temperatura do ar dentro da caverna de neve começa a elevar-se até ao
ponto de congelação. Será conveniente manter a temperatura abaixo de 0º dentro
do covil, para evitar que se formem goteiras caso a neve comece a derreter . Talvez não pareça muito
atractivo estar num ambiente a 0º C, mas essa situação será muito
melhor do que uma caverna de neve com uma temperatura mais elevada, mas com a neve
a escorrer e a gotejar. Se quisermos apreciar o relativo conforto que nos
oferece uma temperatura de 0º, podemos experimentar colocar o nariz fora do covil e
deixar-nos ser fustigados pelo vento por breves momentos. Ao comparar a brisa e
frio do exterior com a temperatura do interior, parecerá que o nosso covil de
neve é um apartamento com aquecimento central. Se quisermos fazer um bom
trabalho na construção de uma caverna de neve, será útil dispor de uma pá larga, ou melhor ainda, uma serra para
a neve. Muito poucos montanheiros levam consigo estas ferramentas, a não ser
que vão com a intenção premeditada de construir um covil escavado na neve. Neste caso,
estas ferramentas facilitam-nos a tarefa. Os montanheiros utilizam normalmente
os piolets, os testos das panelas, os esquis, os bastões, as mãos, os pés e qualquer outra coisa que possa
servir para construir um refúgio de emergência na neve.
Os Iglus
Para construir um autêntico Iglu, é sobretudo necessário muito tempo,
bem como a ajuda de uma pá e uma serra para a neve. Uma vez feito, realmente, oferece um refúgio
sólido e de estrutura segura, que ficará de pé por muito tempo, inclusive em
épocas do degelo. Para construir um Iglu, o requesito principal é que a neve
tenha a consistência adequada. É ideal a neve recente, que ainda não teve tempo
de se consolidar, se a esmagarmos e deixarmos que fique endurecida, mas é
necessário imenso tempo para fazer isto. Podem-se fazer grandes bolas de neve
húmida e depois cortá-las em forma de blocos. No entanto qualquer Iglu, mesmo que
seja pequeno, precisará de quantidade significativa de bolas de neve, e este é um trabalho duro
de realizar. A neve ideal será a que esteja bastante dura ao ponto de nos
colocarmos em cima dela e esta resista ao nosso peso sem estarmos com raquetes ou
esquis nos pés. A neve deverá ter a mesma consistência em todas as partes do
bloco e não apenas na superfície.
Como construir um Iglu
Escolhe-se um local
afastado de qualquer ladeira com risco de avalanche. Para se construir um iglú
firme em pouco tempo é precisa muita experiência, uma serra para gelo e uma pá
adequada para neve. Ou seja, os iglus não são refúgios de emergência idealizados para, por
exemplo, nos proteger de uma tempestade de neve.
1 – Traça-se um circulo em volta do qual se escava uma vala
rasa. O tamanho do iglú é decidido em função das pessoas que vão dormir nele.
Geralmente, com 3 metros de diâmetro serão suficientes para albergar duas ou três pessoas.
Enquanto uma pessoa se dedica a cortar blocos de 40x80x25cm de espessura, as
outras duas pessoas podem ir construindo o iglú. Os blocos ganharão consistência e
serão mais fáceis de manejar se forem colocados sobre uma das suas bordas,
esperando um bocado para que se congelem.
2 – Uma pessoa coloca-se dentro do circulo, para ir
colocando os blocos, inclinados para dentro e seguindo a circunferência, em
forma de espiral.
3 – Continua-se a colocar blocos até chegar acima, sem
esquecer de lhes dar uma certa inclinação para dentro do iglú.
4 – Coloca-se o último bloco, a pedra angular do tecto, com
muita suavidade, e abre-se uma porta, do lado protegido do vento para que não
fique coberta pela neve.
5 – Pavimenta-se as paredes, cobrindo-as com neve para tapar
as fendas.
6 – Por fim, constrói-se um pequeno túnel de entrada e
faz-se um par de buracos de ventilação no tecto. Já dentro do iglú é permitido o lucho de
construir plataformas para dormir, ou preparar um espaço para cozinhar,
dependendo da nossa vontade.
Viver "dentro" da neve
È fundamental dormir num saco cama que não esteja húmido e
com roupas secas. É a única forma de permanecer
aquecido toda a noite. Se o saco cama ou a roupa começarem a humedecer,
existirão muitas probabilidades de
acabarmos congelados. Logo que entremos no refúgio de neve, é fundamental
tirar toda a roupa que esteja molhada e
metê-la num saco de plástico ou na mochila e de seguida devemos enfiar-nos
imediatamente no saco cama.
Escavar um refúgio na neve é uma tarefa muito dura que nos
faz suar imenso. Antes de começarmos a cavar, devemos tirar alguma roupa, de forma a
ficarmos apenas com o mínimo de roupa necessária para nos proteger, e assim
molharmos a menor quantidade possível de roupa com o nosso próprio suor.
É preciso verificar que a cabana ou Iglu fiquem com a
ventilação necessária. Se não o fizéssemos poderíamos morrer de anoxia, ou seja, falta
de oxigénio. Devemos colocar tudo dentro do refúgio, especialmente os
utensílios para cavar. É muito provável que a entrada fique coberta de neve e
evidentemente vamos querer saír. Se
tivermos que abandonar o refúgio durante algum tempo, será necessário
sinaliza-lo bem, para depois o conseguirmos encontrar novamente, e devemos
deixar as ferramentas para cavar fora do refúgio. Provavelmente necessitaremos
de voltar a abrir a entrada. Convém colocar as botas e a roupa na plataforma
onde dormimos podendo-se metê-las na mochila para serem utilizadas como almofada,
mas nunca se devem deixar no solo, porque podem ficar coladas com o gelo. Devemos
sacudir toda a neve que esteja na roupa quando entrarmos no refugio, tal como se
fosse uma tenda. Se não o fizermos, a neve derreterá ao entrar em contacto com a temperatura
interior do refúgio de neve. Será necessário prescindir da comida que
tenha necessidade de ser fervida durante muito tempo. O vapor de água que sai
da panela, produzirá condensação e molhará os sacos cama e a roupa. No covil
será ideal usar uma vela em vez de uma lanterna. Com uma só vela podemos
iluminar todo o refugio, porque os milhões de cristais de neve vão reflectir a
luz, dando assim o aspecto de estarmos na cabana do Pai Natal.
É preciso garantir bastante isolamento entre a neve e o saco cama.
Nunca se deve dormir directamente sobre um saco de plástico, porque é bem
provável que o saco escorregue e caia da plataforma durante a noite. Se tivermos
que sair do refugio durante a noite, deveremos deixar acesa uma luz, que
provavelmente, será o único sinal que teremos para nos indicar onde fica o
refúgio. Também é aconselhável assinalar a parte superior do refúgio com algum
indicativo, inclusive durante o dia.
Tipos de abrigo para a neve
O Covil de neve
Para se fazer um covil de neve, escolhe-se um banco de neve
alto e profundo
1 – Escava-se um buraco e afastam-se os blocos de neve com a
ajuda de um saco de plástico.
2 – Quando se estiver dentro do buraco começa-se a ampliar o
covil e a escavar umas plataformas para dormir, de forma que fiquem acima do
nível da entrada (o ar frio desce e o ar quente sobe).
3 – Com os blocos que tiramos do buraco e posteriormente
deixamos congelar, taparemos a entrada do abrigo, deixando apenas uma abertura,
suficientemente grande como para passar por ele arrastando-nos. Uma vez dentro
da cova, espetamos o piolet ou o bastão na parte de cima da entrada para fazer
um buraco de ventilação. Não devemos esquecer de deixar algo que identifique o
covil por cima da entrada.
O interior do covil de neve pode ter diversas disposições,
variando em função do número de pessoas, do espaço disponível, do gosto, etc. Nunca
devemos esquecer os furos de ventilação e que devemos ficar sempre num patamar
situado acima do nível da entrada.
Trincheira ou vala de neve
Consiste num abrigo temporário que permite ao sobrevivente ter tempo
suficiente para construir um outro de carácter mais permanente. Deve-se procurar uma galeria de
neve com pelo menos 1 metro de profundidade e cortam-se blocos de maneira a
formar uma vala com a largura de um saco cama e com comprimento suficiente para
o acomodar (figura A). Constrói-se uma parede com blocos em torno da vala (figura B) e
cobre-se com grandes lajes (escavam-se um pouco no interior de maneira a formarem
um arco). Não esquecer também neste caso o buraco de ventilação. O abrigo Trincheira ou Vala de
neve não deve ser utilizado a longo prazo
trincheira combatente
Se a neve é macia, uma trincheira de combate é rápido e
fácil de construir. Numa emergência, pode-se até mesmo fazer uma trincheira
chutando a neve macia. Primeiro, encontra-se um local protegido contra os
elementos. Em seguida, testa-se a profundidade da neve
com o bastão ou um pau.
1. Usando uma pá ou panela, ou simplesmente chutando a neve,
limpa-se uma vala que seja grande o suficiente para uma pessoa e seu equipamento.
. Deixar pelo menos profundidade suficiente para se poder
rolar durante o sono sem estragar o tecto.
2. Criar uma estrutura de ramos e galhos em toda a
trincheira, para fazer uma cama, antes de começar a fazer o tecto.
. Verificar se temos material de cobertura suficiente em
cima, para impedir a neve de penetrar no interior.
3. Se tivermos uma folha de abrigo ou de lona, devemos
coloca-la em cima do"telhado" para criar
uma camada isolante extra.
. Alternativamente podem-se usar esses materiais para cobrir a nossa “cama”.
4. Cobrir o quadro com pelo menos 12 cm (30 cm) de neve para
agir como isolamento.
. Deve-se cavar um pequeno buraco na entrada, para facilitar
o acesso ao interior do abrigo.
. Na entrada pode-se
fazer um pequeno fogo controlado
.
Cova-abrigo apoiada numa árvore
Escolhe-se uma árvore grande que tenha ramos grossos e
baixos e que esteja cercada por um alto monte de neve. Aumenta-se a cova
natural formada pela neve em torno da árvore. Faz-se um telhado com troncos
cortados e ramos e forram-se as paredes e
o chão com os mesmos materiais. Este é um abrigo temporário que se pode usar
abaixo da linha de árvores. Quando se fizer este abrigo, é importante não
deixar caír a neve que se encontra nos ramos.
Em termos de conclusão, não podemos deixar de sublinhar a necessidade de
procurar um refúgio em situações de emergência.
De forma a isolar-nos das condições exteriores
desfavoráveis, é fundamental saber aproveitar ao máximo as condições naturais do terreno em que estamos a desenvolver a nossa actividade. Qualquer refúgio por
precário que seja é bem melhor do que a intempérie. O principal motivo para obtermos um refúgio deriva da necessidade de evitar ao máximo e na
medida do possível o vento, o frio e a
humidade, para não perdermos calor e evitar chegar a situações de hipotermia e/ou de
congelações.
Haverá que ter em atenção que o calor corporal perde-se de várias formas:
a) Por convecção – (movimento dentro de um fluido) A pele
aquece o ar que está em contacto com ela, ao soltar-se este ar por efeito do
vento, esta perda de calor acelera (Chill factor).
b) Por radiação - A
emissão de energia em forma de radiação de infravermelhos desde o corpo para o meio
ambiente.
c) Por evaporação – A perda de calor que se produz quer na pele pela
evaporação do suor (na transformação de líquido em vapor), bem como nos pulmões através do
vapor de água da respiração.
d) Por condução – Perda de calor pelo contacto directo com o ambiente,
rochas, neve, água, etc.
Assim é necessário tentar reduzir estas perdas de calor mediante a adopção de um refúgio
e protecção adequados, para o que deve ter em atençãomais algumas regras:
. Evitar a exposição ao vento, pois este é o maior agente
agravante do frio.
. Evitar a humidade, pois o esfriamento é 20 a 30 vezes mais
rápido na água do que no ar seco.
. Isolar o corpo do contacto directo com sítios frios, para evitar a
perda de calor por condução.
. Utilizar todos os meios disponíveis, para nos abrigarmos,
para reflectir o calor na nossa direcção e evitar a humidade (com o recurso a manta de alumínio, roupa, mochilas,
cordas, esquis).
Para optimizarmos o nosso abrigo, devemos ainda saber que:
. No fundo dos vales e junto aos rios é mais frio do que nas
colinas.
. O ar quente pesa menos e portanto sobe, e ao contrário, o ar
frio (mais pesado) desce para as zonas mais baixas.
. A neve tem propriedades isolantes, tanto no que respeita à
temperatura exterior como aos ruídos (vento).
. Se tivermos uma fonte de calor, podemos aumentar o seu
rendimento reflectindo o seu calor
através de uma folha de alumínio ou similar e situando-a no meio do refúgio.
. O refúgio, ainda que seja confortável, deve ser pequeno
para que o volume de ar ao aquecer não seja excessivo.
Esperemos que nunca necessitem de utilizar estas técnicas em
situações de emergência. No entanto após lerem este artigo, com certeza que se
alguma adversidade ocorrer na montanha, alguma ideia surgirá para desenrascar a situação.
Por último, deixamos aqui mais algumas ideias de abrigos de emergência que
dispensam mais palavras.
Boas caminhadas
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