28 junho 2012

Fogões e montanhismo



Houve um tempo em que os montanheiros inexperientes que tinham de se defrontar com uma sessão de cozinha ao ar livre, se sentiam inspirados por um tipo de arte muito popular, a fogueira.



Para muitos, esta era a imagem típica de um acampamento, grupos de excursionistas reunidos em volta do calor de uma labareda, os potes fervendo alegremente, o aroma resinoso da madeira de pinho invadindo tudo e o fogo que os aquecia, dava luz e proporcionava, principalmente, uma fonte de calor para cozinhar.



Para muitos isto constitui uma recordação nostálgica que evoca visões de correrias juvenis no campo, do cheiro da madeira queimada, arrastado pelo vento. É até bem provável que essas chamas nos tragam à memória  agradáveis viagens sentimentais. Contudo,  devemos parar um pouco a nossa poética romântica divagação e concluir que, por muito românticas que sejam as fogueiras, não devemos esquecer, os tachos  e copos cobertos de fuligem que sujavam tudo o que tinham à sua volta, ou os dias húmidos e frios em que todas as fontes de combustível estavam molhadas e inutilizáveis. É também fácil esquecer as caras e as mãos, as roupas e os sacos enegrecidos, para além do facto de a comida ficar muitas vezes intragável.  Ora, os modernos e leves fogões de acampamento podem não ser tão românticos como uma fogueira, podem parecer clínicos, frios e muito pouco atractivos esteticamente, mas são, no entanto funcionais e práticos. Pode-se confiar sempre neles, são fáceis de transportar e mais importante ainda, proporcionam fonte de calor até nas condições mais inóspitas que se possa imaginar.



Aliás, desde o ponto de vista ético, um fogão permite-nos reduzir ao mínimo os danos causados ao ecossistema, o que numa natureza que começa a apresentar cada vez maiores sinais de descuido e uso abusivo, é uma grande vantagem.

Quem não sonha com uma comida quente no final de um longo dia de caminhada? Para realizar esse desejo nada melhor do que os fogões actuais, simples “fogões de bolso  que são responsáveis por verdadeiros milagres”. São eficientes, geram muito poder calorífico, e são práticos e pequenos.


Tipos de fogões

Podemos agrupar os fogões segundo o tipo de combustível  que se utiliza em cada um cada um.


1 - Os fogões de Butano – Constam de duas partes, um cartucho para o combustível e o mecanismo do fogão propriamente dito, que é constituído geralmente por uma válvula de controle e os pontos de sujeição dos tachos. A maioria dos fogões de butano funcionam com vapor, o que quer dizer que o combustível, neste caso o butano, se vaporiza no cartucho e o vapor assim produzido, solta-se no fogão e penetra no queimador , onde se pode acender controladamente. Os exemplos mais conhecidos são o “Camping Gaz Bluet” e o “Globetrotter”, ambos fabricados na França e distribuídos por todo o mundo.



Existe outro tipo de fogão de butano no mercado, que funciona com líquido e de cuja e futura popularidade não podemos duvidar. Neste tipo de fogões, o combustível entra no fogão em forma de líquido, geralmente por intermédio de um pavio incorporado no cartucho, vaporizando-se aí. Para ver as qualidades que este modelo acarreta, é preciso examinar o comportamento do gás butano sob baixas temperaturas.

O butano é um gás ou vapor que sofre uma liquefação e é armazenado a pressões extremas num recipiente hermético. Se não se armazenasse sob pressão, o butano ferveria ou evaporar-se-ia imediatamente, sendo o que sucede quando se abre a válvula de controle do fogão: o butano líquido vaporiza e é libertado no interior do queimador, onde se pode acender. Mas a pressão do butano vaporizado depende muito da temperatura, e quanto mais elevada seja esta, maior será a pressão do vapor. No ponto de congelação a sua pressão será muito baixa (quase igual à do ar que rodeia o fogão) se estivermos ao nível do mar ou relativamente próximo desse nível, e portanto nestas condições, o vapor permanecerá no interior do cartucho. Se as temperaturas forem ainda mais baixas, a pressão do butano diminui ainda mais e além de não saír do cartucho, ainda poderá inclusive, absorver ar. Isto pode ser comprovado, deixando um fogão de butano no congelador durante uma noite inteira, retirando-o de manhã.  Quando abrirmos a válvula iremos ouvir um assobio, produzido pelo ar absorvido para o interior do cartucho, e de seguida não se passará nada, até que o cartucho atinja a temperatura ambiente.

Existe quem defenda que estes fogões não servem para serem usados por montanheiros experientes e profissionais, pelo facto de serem apenas muito práticos para fazer uma incursão, ou para serem usados com bom tempo em zonas baixas, mas não terem grande utilidade no inverno. No entanto existem montanheiros que afirmam ter usado este tipo de fogões e que os mesmos funcionaram com tempo frio a mais de 6.000 metros de altitude.



Todavia existe uma explicação para este fenómeno aparente.  A maiores altitudes, a pressão do ar em volta do fogão é muito menor do que ao nível do mar. A 3.000 metros, por exemplo, a pressão normal do ar é de 3,1 kg/cm2, pelo que um cartucho à temperatura de congelação será ainda capaz de libertar vapor, e acenderá facilmente a 6.000 metros, porque os problemas de libertação de vapor não aparecem até que se alcancem temperaturas de -18º C, as quais já são muito baixas.

Mas voltemos às vantagens dos fogões que se alimentam por líquido. Ora ainda que os fogões de vapor possam funcionar de modo satisfatório a grandes altitudes, podem apresentar problemas em altitudes mais baixas, se o tempo estiver  frio. Isto deve-se a que o combustível simplesmente sai  para fora, porque as baixas temperaturas não o bloqueiam. Acresce ainda  que  estes fogões dependem menos da temperatura, pelo facto de a transformação em vapor, se verificar no mesmo corpo do fogão, o qual aquece rapidamente graças ao calor gerado pelo queimador.

Em geral, os fogões de butano oferecem mais vantagens que os demais, especialmente para principiantes e excursionistas ocasionais. Com eles, o controlo dos cozinhados com fogo lento é óptimo, sendo estes fogões fáceis e rápidos de acender, além de que não exigem nenhuma operação especial com o combustível, e, em principio são mais baratos que os outros.
Obviamente o facto de não funcionarem bem com o frio, constitui uma grande desvantagem em relação aos fogões de gás. O problema pode-se resolver em parte, aquecendo fisicamente o cartucho com o calor do nosso corpo, envolvendo o cartucho com as nossas mãos, ou colocando-o no saco cama antes de ser utilizado. Isto pode ser um pouco incómodo, mas ajuda.



Se for usado num acampamento de verão, o problema estará resolvido logo à partida.

Os cartuchos de “Camping Gaz” são completamente herméticos até ao momento que são perfurados pelo fogão, quando se acoplam. Mas um cartucho vazio pode simplesmente ter pouco combustível, ou, pior ainda, pode nem funcionar devido ao problema das baixas temperaturas. Podemos tomar como exemplo um excursionista sem experiência a manusear um cartucho que aparenta estar vazio. Observemos enquanto o tira envolto por uma nuvem de butano explosivo, e esperemos que não exista outro fogão ligado, ou uma vela, um cigarro, etc nas proximidades, para que não aconteça um acidente explosivo. É fundamental ler com atenção as instruções que vêm com qualquer fogão e prevenir para que quando se mude o respectivo cartucho, não exista por perto nenhuma outra fonte de calor.

Os cartuchos que se podem voltar a fechar, também têm os seus problemas. Por vezes aparecem alguns cartuchos que não se fecham quando se retiram do fogão, e deixam escapar o butano. Se isto acontecer, o melhor será encaixa-lo novamente no fogão, o mais rapidamente possível e deixá-lo lá até que termine de esvaziar. Estes esclarecimentos deveriam dissipar a crença de que os fogões de gás são “mais seguros” que os de petróleo. Os fogões de gás não são fabricados à prova de loucos, porque não estão projectados para serem usados por qualquer um deles.



2 - Os fogões de propano

Estes fogões têm sido muito utilizados nas excursões familiares ao longo dos anos, mas apenas recentemente foram colocados ao alcance do montanheiro. Alguns fabricantes começaram a desenvolver cartuchos que se podem voltar a fechar, com uma mistura de propano e butano, e, segundo algumas opiniões, isto soluciona o problema  do seu funcionamento perante baixas temperaturas.




O propano vaporiza-se abaixo dos -45º C, mas deve-se manter a uma pressão de aproximadamente 31,5 kg/cm2, pelo que deve estar contido num cilindro de aço, bastante mais pesado. Esse facto limita o seu uso por parte dos montanheiros. A mistura, tal como a usam alguns fabricantes, vaporiza-se muito melhor que o butano puro, e ainda que necessite de recipientes de aço pesados, parece em princípio bastante promissor.

3 - Os fogões de gasolina

Os fogões de gás e de gasolina são muito parecidos, em ambos, os respectivos combustíveis devem -se transformar em vapor antes de arder eficazmente. No caso da gasolina esta sobe por uma mecha, ou, por vezes, é forçada por pressão, para o interior de um tubo, onde o calor do queimador a converte em vapor. De seguida, esta dirige-se para o queimador, mistura-se com o ar e arde. O tanque de combustível, o tubo vaporizador e o queimador , são os três elementos mais importantes destes fogões.


O calor produzido por estes fogões, varia um pouco, mas quase sempre é de um nível medio a alto. A maior produção de calor corresponde aos que têm tanques a pressão por intermédio de uma bomba, o que os torna independentes da temperatura externa. Preparar um fogão de bomba pode ter as suas dificuldades e requer uma certa prática. A maioria dos montanheiros, criam pressão no interior do fogão e de seguida abrem a válvula de controle para permitir que passe uma certa quantidade de combustível através do tubo vaporizador e até à cartilha. No entanto com este sistema é provável que saia demasiado combustível, o que provoca uma labareda indesejada.


 Convém neste momento dizer algumas palavras sobre o combustível. O ideal seria usar gasolina sem aditivos, muitas vezes chamada de gasolina sem chumbo. Em sua substituição pode-se usar o combustível “Coleman”, que é muito parecido e que pode encontrar-se em imensas lojas. A maioria dos montanheiros utiliza gasolina normal, ainda que o chumbo que esta contém possa chegar a bloquear sistemas muito sensíveis em pouco tempo.



Provavelmente, o fogão de gasolina mais popular será o “Svea 123” da Optimus, tendo ganhado uma justa reputação de fogão de muita resistência e bons resultados. Se podemos apontar-lhe alguma falha, será o facto de ser instável. Este fogão cria a pressão interior necessária por si mesmo e possui uma agulha limpadora integrada no seu interior, o que por si só já é uma grande vantagem. O “Optimus 8R” e o “Optimus 99”, são também muito populares, e com justo mérito, sendo actualmente considerados quase clássicos. Estes dois fogões são basicamente “Sveas” cujos componentes foram reordenados e encaixados numas pequenas caixas de bronze. O rendimento destes três fogões é similar, e podem-se situar num nível médio de qualidade. Todos eles ardem de forma satisfatória, e quando funcionam em pleno rendimento, praticamente não são afectados pelas temperaturas externas. De qualquer forma convém advertir que quando estiver tempo frio será aconselhável isolar o fundo do fogão do solo com uma almofada de espuma de células fechadas, ou uma outra base isolante, porque caso contrário, o rendimento começará a diminuir progressivamente.



O fogão “Coleman Peak 1” está a ganhar rapidamente uma grande reputação, principalmente  para os montanheiros que acampam no inverno, devido ao seu alto rendimento. Este fogão é compacto, bastante mais leve (0,9 kg) e tem uma tela integral, um suporte para os tachos, um limpador incorporado e um grande queimador.


O fogão mais caro e menos selecionado na hora de usar combustíveis é o “MSR GK” da Mountain Safety  Research dos Estados Unidos, lançado no mercado em meados dos anos 80. Este fogão funciona com gasolina, petróleo, gasóleo, combustível de aviação , benzina, e dizem que até com óleo de amendoim. Além disso, arde muito bem e é perfeito para derreter baldes de neve e gelo. Os principais combustíveis utilizados neste tipo de fogão, são a benzina, que fornece uma chama forte e limpa, e o querosene, que pode ser encontrado em qualquer lugar, mas possui um cheiro desagradável e uma certa oleosidade que incomoda a maioria dos montanheiros.
Mas desgraçadamente, este tipo de fogão, não permite um bom controle dos cozinhados a fogo brando, existindo ainda um atraso de seis segundos entre o momento em que se gira a válvula e o momento em que a chama se veja afectada por esse movimento, o que não constitui nenhuma ajuda para o “Chef cordon-bleu…”. O “MSR” é outro fogão todo o terreno, incluído na categoria dos que produzem bastante calor, sendo ideal para o inverno.



Tem no entanto algumas desvantagens, como o facto de, se por acaso se apagar, ser necessário retirar a panela para o voltar a acender. Como já foi dito, nele não se controlam bem os cozinhados a fogo lento ou brando, e, ainda tem um acendedor integral para o acender uma primeira vez, sendo depois necessário usar acendalhas, pois o acendedor  apenas faz arder a gasolina, o petróleo, o óleo de amendoim, etc, no cevador e não no queimador.


4 - Os fogões de Petróleo

Os fogões de petróleo ou querosene funcionam de forma similar aos de gasolina, sendo o combustível, no entanto, menos  volátil e mais fácil de manejar. O petróleo é uma excelente alternativa à gasolina, ainda que seja mais sujo, pois tem um toque oleoso e demora muito a evaporar-se quando se derrama, além de ter um cheiro muito intenso. Tem como vantagens, a sua fácil obtenção em qualquer parte do globo, embora em diferentes graus, e o seu baixo preço também constitui uma vantagem importante.


Um exemplo de fogão de petróleo é o “Optimus 00”, que sempre gozou de grande popularidade.


5 - Os fogões de álcool metilico (ou desnaturado)

Um dos fogões mais populares no mercado é o “Trangia” de álcool. É um fogão muito aconselhado para jovens escuteiros, grupos de jovens principiantes e famílias de excursionistas, pois é muito seguro e muito fácil de manejar, e provavelmente o mais estável que abordamos até agora. O álcool não necessita ser cevado, nem de grande pressão, pelo que se torna muito simples de manejar. Tanto o modelo “Trangia” como o “Optimus Trapper” estão desenhados de forma a que o seu rendimento aumente quando exista vento e ambos funcionam muito bem em situações onde não exista qualquer tipo de protecção. Por desgraça, o álcool metílico pesa muito e é caro, e além disso nenhum destes modelos tem um bom controle para cozinhar a lume brando.


Seguidamente e de forma a ajudar a compreender melhor, vamos fazer uma breve abordagem ao equipamento para cozinhar e aos fogões aqui abordados.




a) O fogão “Coleman Peak 1” produz muito calor para o tamanho que tem. Funciona com gasolina (normal)  sem aditivos ou com um combustível especial produzido pela Coleman, que também pode ser usado noutros fogões que funcionem a gasolina.




b) O típico fogão de montanheiros, o “Svea”, é conhecido em todo o mundo. Utiliza gasolina normal, tem sistema de autolimpeza e não necessita de pressão. A tampa de alumínio pode-se usar também como  tacho.





c) “Optimus Triple Fuel 199 Ranger” - Como o seu nome indica, utiliza três combustíveis, gasolina normal, petróleo (querosene), e álcool metílico. Tem uma chama muito potente. A sua pequena bomba cria a pressão necessária no fogão, pelo que se pode acender facilmente. A tampa de alumínio pode-se usar como tacho.




d) O “Optimus 8R” é um fogão também muito popular entre os montanheiros. Queima gasolina, tendo um sistema de autolimpeza quando se usa gasolina sem aditivos (normal). Se for usada gasolina Super, deve-se limpar o fogão com regularidade.





e) O “Bleuet S 200” é um fogão de butano, limpo, prático e que funciona bem. É um pouco instável, mesmo com o pequeno pé de apoio com o qual se costuma vender.




f) O fogão “Trangia”, que utiliza álcool metílico. O corte na ilustração acima mostra a chaleira sobre o queimador. Os furos nos lados do queimador estão dirigidos para o vento dominante proporcionando uma ventilação controlada ao queimador. Para mudar o nível do fogo, gira-se o fogão completo de forma que os furos não se dirijam para o vento, com o que se consegue um certo controle para cozinhar a fogo lento, ainda que não seja muito preciso. O desenho inferior mostra um método alternativo de cozinhar, cobrindo o tacho com uma frigideira invertida, para assim obter maior quantidade de calor.




O equipamento da “Trangia” para cozinhar constitui uma unidade de fácil manejo, tendo vários tachos, uma chaleira, uma pega, uma frigideira e uma tampa.




g) Um fogão desenvolvido pela Primus, com um sistema automático de ignição, muito útil para quando existe vento. No pequeno tanque de combustível cabe uma pequena quantidade de propano ou butano, suficiente para usar o fogão durante trinta minutos.

h)  O fogão “MSR” multicombustível é excelente para derreter neve, pois proporciona muito calor, apesar do seu tamanho. Segundo alguns montanheiros, os tubos que unem a garrafa de combustível e o fogão, são no entanto incómodos e instáveis.

i)  Um equipamento de cozinha que inclui, de cima para baixo, uma tampa que serve como frigideira, dois tachos de tamanho médio, uma tela para o vento, um fogão “Svea” e uma base para o fogão. Tudo isto tem um peso total de 1 kg.




A escorva ou pré-aquecimento do queimador  –  Esta é a fase mais perigosa no uso dos fogões de gasolina. Deve-se aquecer o tubo vaporizador antes de acender o fogão, para isso verte-se uma pequena quantidade de combustível dentro do funil que aparece no final do tubo vaporizador e pega-se fogo. É conveniente usar um combustível em forma de massa, como se vê na fotografia. Quando a massa deixar de arder, o tubo está quente, o combustível vaporiza-se e pode-se acender o fogão sem provocar uma grande labareda de fogo, que é o que ocorre quando o combustível alcança o queimador, sem antes se ter vaporizado. È preciso ter muito cuidado com a escorva. É preferível usar uma massa e não o combustível líquido, mas se não tivermos massa, deve-se utilizar a menor quantidade de combustível possível, sem fazer estourar o funil, realizando toda a operação com calma. Uma vez vaporizado o combustível, este passa para o queimador através da válvula de controle. A maioria dos fogões de gasolina tem queimadores de chapa que rapidamente ficam com uma cor vermelho vivo.



Cortavento – Quando existe grande quantidade de correntes de ar e rajadas de vento em volta da tenda, é fundamental usar algo para proteger o fogão do vento. Inclusivé quando se cozinha no avançado da tenda, existirá sempre uma pequena corrente de ar entre as duas camadas da tenda (interna e impermeável). Por vezes é suficiente uma bota bem colocada, para evitar que uma pequena corrente de ar afecte a chama. No entanto, as telas cortavento são leves, funcionais e não ocupam muito espaço. Um pedaço, mais ou menos grande de papel de alumínio, preso com alguns espeques sobrantes da tenda será suficiente para funcionar como cortavento. De qualquer forma, é preciso ter cuidado e confirmar que quando se improvise uma tela, continue a existir ventilação suficiente à volta do tanque do combustível, pois estes, criam eles mesmos a pressão necessária e precisam estar quentes para funcionar, sem contudo queimar ao tacto.


De seguida apresentamos um quadro, onde se mostra a comparação entre os combustíveis:





Poderíamos ainda falar sobre os vários outros tipos de fogões que existem no mercado, mas face à vasta oferta que existe, com certeza daria "pano para mangas", pelo que optamos por nos cingir ao aqui apresentado.





Curiosidades sobre os combustíveis, numa  vertente notoriamente mais técnica:

Petróleo

O querosene, também designado por petróleo iluminante ou óleo de parafina é um líquido resultante da destilação fraccionada do petróleo, com temperatura de ebulição entre 150 e 290 graus celsius, sendo uma fracção entre a gasolina e o óleo diesel.
É uma combinação complexa de hidrocarbonetos (alifáticos, nafténicos e aromáticos) com um número de carbonos na sua maioria dentro do intervalo de C9 a C16, produzida por destilação do petróleo bruto, com faixa de destilação compreendida entre 15ºC e 239ºC. O produto possui diversas características específicas como seja uma ampla curva de destilação, conferindo-lhe um excelente poder de solvência e uma taxa de evaporação lenta, além de um ponto de inflamação que oferece relativa segurança ao manuseamento. É insolúvel em água. Historicamente, o querosene foi o primeiro derivado do petróleo com valor comercial, substituindo o azeite, e o óleo de baleia na iluminação. Os usos mais comuns do querosene são, a iluminação, o uso em solventes e QAV (querosene para aviação). Pesquisas em andamento têm vindo a desenvolver um combustível alternativo, derivado da biomassa, denominado bioquerosene. 


Álcool metílico

O metanol, também conhecido com álcool metílico, é um composto químico com a fórmula química CH3OH. É um líquido inflamável, possui chama invisivel, fundindo-se a cerca de -98ºC.
O metanol, ou ainda, o álcool da madeira, pode ser preparado pela destilação seca de madeiras, sendo este o seu processo mais antigo de obtenção, e a partir do qual, durante muito tempo, foi obtido exclusivamente. Actualmente é obtido pela reacção do gás de síntese (produzido a partir de origens fósseis, como o gás natural), uma mistura de H2 com CO passando por um catalisador metalico a altas temperaturas e pressões.
Esta reacção é uma redução catalítica do Monóxido de Carbono, e processa-se a temperatura de cerca de 300ºC e pressões de 200 a 300 atm. É utilizado como catalisador, uma mistura de óxidos metálicos comoóxido de cromo (Cr2O3) e óxido de zinco (ZnO). O metanol também pode ser produzido a partir da cana do açucar. O metanol é principalmente um solvente industrial, pois dissolve alguns sais, e fá-lo melhor do que o Etanol; é utilizado na indústria de plásticos, na extracção de produtos animais e vegetais, e como solvente em reacções de importància farmacológica, bem como na preparação de colesterol, vitaminas e hormonas. É uma matéria prima na produção de formaldeído.
É usado no processo de transesterificação da gordura, para produzir biodiesel.
É também usado como combustível em algumas categorias de monopostos dos EUA (ex. Champ Car, IRL, Dragster). As equipas e os pilotos são treinados de forma a saber como agir perante um incêndio provocado por um acidente. Como o fogo resultante da sua combustão não é visível, é necessário lançar água em todos os cantos onde supostamente ele poderá estar a ocorrer, bem como no próprio piloto e membros da equipa se fornecessário.


O Butano

O butano é um derivado do petróleo. É um gás incolor, inodoro e altamente inflamável.
É um hidrocarboneto gasoso, obtido através do aquecimento lento do petróleo.
O butano está presente no nosso gás de cozinha, ou gás liquefeito de petróleo (GLP), onde é encontrado misturado com outros gases, maioritariamente pelo propano. Actualmente o GLP é fornecido via tubulação e em botijas.
A sua fórmula é C4H10, é um hidrocarboneto com carbonos primários e secundários de ligação sp3, de cadeia aberta (acíclica ou alifática).
O termo butano é também usado como um colectivo do n-butano juntamente com o seu único isómero isobutano, (também chamado metilpropano), CH(CH3)3.
A respectiva molécula é apolar (por ser um hidrocarboneto), não sendo, portanto, solúvel em água. Outras misturas de hidrocarbonetos obtidas a partir do petróleo, como a gasolina, o querose ou o diesel, são igualmente homogéneas e insolúveis em água. As ligações intermoleculares do butano - como todos os outros hidrocarbonetos apolares - são feitas pelas denominadas forças de Van Der Waals, por dipolos temporários, que são as mais fracas das ligações intermoleculares. Por isso as temperaturas de fusão e ebulição são menores que as de outros componentes.
O butano (gás de cozinha), é inodoro, por isso, por convenção e para que possamos perceber a diferença com outro tipo de gás, é-lhe adicionada uma substância de cheiro específico, do qual resulta aquilo a que as pessoas atribuem o famoso "cheiro de gás".
Este gás produz asfixia em virtude de expulsar o oxigénio do meio ambiente.
Uma característica interessante do butano é o facto de ao contrário da maioria dos gases, a sua densidade corresponder aproximadamente ao dobro da densidade do ar atmosférico. Por esse motivo, o butano tende a expulsar o ar depositado no fundo de ranhuras onde não se pode chegar.
O butano foi usado como combustível para os motores dos dirigíveis fabricados pela empresa Zeppelin, na Grande Guerra.


O Propano

Um alcano de três carbonos, propano é algumas vezes derivado de outros produtos do petróleo, e é obtido durante o processamento de óleo ou gás natural.
Quando comburente é vendido como combustível, também é chamado de gás liquefeito de petróleo (GLP), que é uma mistura de propano com pequenas quantidades de propileno, butano e butileno, mais etanotiol como odorizante para impedir que o normalmente inodoro propano deixe de ser identificado quando existem fugas. É usado como combustível para fogões e em motores de automóveis.
Tem também uso como propulsor para sprays aerossóis, especialmente após o desaparecimento dos CFCs. Utilizado na mistura denominada MGR (mixed gaz refrigerant), que é fundamental para liquefação do gás natural (GNL) em processos industriais, onde a refrigeração necessária é obtida por uma válvula Joule-Thomson.


Gasolina

A gasolina é um combustível constituido basicamente por hidrocarbonetos e, em menor quantidade, por produtos oxigenados. Esses hidrcarbometos são, geralmente, mais "leves" do que aqueles que compõem o óleo diesel, pois são formados por moléculas de menor cadeia carbónica (normalmente de 4 a 12 átomos de carbono). Além dos hidrocarbonetos e dos oxigenados, a gasolina também pode conter compostos de enxofre e compostos de nitrogénio. A faixa de destilação da gasolina também pode conter compostos de enxofre e compostos de nitrogénio. A faixa de destilação da gasolina automotiva varia de 30 a 220ºC.
A gasolina básica (sem oxigenados) possui uma composição complexa. A sua formulação pode obrigar à utilização de diversas correntes nobres oriundas do processamento do petróleo como naftaDD (produto obtido a partir da destilação directa do petróleo), naftacraqueada que é obtida a partir da quebra de moléculas de hidrocarbonetos mais pesados (gasóleos), nafta reformada (obtida de um processo que aumenta a quantidade de substâncias aromáticas) e naftade coque, obtida através do processo de coqueamento, nafta alquilada ( de um processo que produz isoparafinas de alta octanagem a partir de isso-butanos e olefinas), etc. Quanto maior for a octanagem (número de moléculas com octanos) da gasolina maior será a sua resistência à detonação espontânea.
A gasolina aditivada, disponível em alguns postos de combustível, é uma gasolina comum acrescentada de aditivos detergentes-dispersantes. Esses aditivos têm como finalidade a limpeza do sistema de alimentação de combustível, incluindo a linha de combustível, bomba, galeria de combustível, injectores e válvulas de admissão.
O seu uso permite que o motor opere nas condições especificadas pelo fabricante por mais tempo, o que reduz o consumo e as emissões aumentando o intervalo entre manutenções. Ao contrário do que se pensa, a gasolina aditivada não aumenta a octanagem do combustível. As gasolinas de alta octanagem são chamadas, genéricamente, de "gasolinas premium".

A Benzina

A benzina (também chamada éter de petróleo) é um líquido obtido na destilação fraccionada do petróleo entre 35-90ºC, constituído por hidrocarbonetos, geralmente alifáticos, de baixo peso molecular (pentano, heptano). A fracção de alto ponto de ebulição denomina-se "ligroína". A benzina emprega-se como solvente e como extractante. Possui um carácter tóxico quando inalado, podendo causar cancro subcutâneo. Se ingerido, alcançando os alvéolos pulmonares, a morte pode ocorrer.
Ou seja, a benzina deve ser evitada para fins recreativos.
Ao ser inalado pode produzir efeitos alucinogénios provocando desequilibrio, dilatação das pupilas e convulsões auditivas. Na Segunda Guerra Mundial, em alguns campos de concentração, exterminaram-se pessoas recorrendo a injecções de benzina.




Como verificamos, o tipo de gás e o tipo de fogão dependem da actividade que pretendemos empreender, pelo que fica ao critério e ao cuidado da "carteira" de cada um fazer a opção mais correcta. Pensamos  ter esclarecido algumas dúvidas que poderiam existir sobre este tema, e… nunca se esqueçam de ver as instruções de segurança dos fogões e tenham sempre muito cuidado ao manuseá-los.

Boas caminhadas... sempre a dar gás!

2 comentários:

  1. Um artigo muito interessante e útil, obrigado.
    Já usei vários tipos de fogões, actualmente uso um modelo, cópia chinesa, barato ao qual mudei a cabeça (DIY) para uma menos barulhenta.
    Já usei petróleo (exemplo no video) gasolina s/chumbo 95 (entope muito) e até gásoleo (leva uma eternidade a vaporizar).
    O combustível COLEMAN não encontro em Portugal, e o que chamam "White Gas", descobri que afinal é Benzina, produz uma chama limpa e não entope..

    https://www.youtube.com/watch?v=nfOfozJ021Y

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    1. Boa noite, qual o tipo de bezina que utiliza? Em relação ao petróleo, que tipo de petróleo usa? De limpeza ou para combustavo?
      Onde costuma comprar o combustível?

      Obrigado
      Cumprimentos
      Nelson

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