Como é lógico e já vem sendo hábito, antes de abordarmos o tema
propriamente dito, é conveniente fazer uma breve abordagem à anatomia
directamente relacionada com o tema, o que logicamente leva a uma facilitada
compreensão dos mecanismos de socorro. Assim, passamos ao tema desta semana, “O
Traumatismo Torácico”.
Anatomia
O tórax
A porção do tronco constituída pelo “esterno”, “cartilagens costais”,
“costelas” e corpos das “vértebras torácicas” é apropriadamente chamada de
“tórax”. O tórax é um cilindro oco composto por 12 pares de costelas. Dez pares
articulam-se posteriormente com a coluna
torácica e anteriormente com o esterno através das cartilagens costais.
Os dois pares inferiores são as costelas flutuantes. Um nervo, uma
artéria e uma veia estão localizados ao longo da borda inferior de cada
costela. Os músculos intercostais unem cada costela com a que está acima. Estes
músculos, juntamente com o diafragma, são os músculos primários da ventilação. Esta
caixa óssea encerra e protege os pulmões e outras estruturas da cavidade
torácica. O tórax também fornece suporte para os ossos da cintura escapular e
membros superiores. Na vida adulta, possui uma forma de cone com base ampla.
A pleura
A pleura parietal forra o lado interno da cavidade torácica e a pleura
visceral recobre a superfície externa de cada pulmão. Uma pequena quantidade de
líquido está presente entre as faces pleurais do pulmão e a face interna da
parede torácica. Assim como uma gota de água entre duas lâminas de vidro torna
difícil a separação das duas lâminas, este líquido pleural cria uma tensão
superficial entre as duas membranas pleurais e faz com que permaneçam aderidas.
Desta maneira, as membranas pleurais opõem-se à elasticidade e à tendência
natural do pulmão a colabar. Normalmente, não há espaço entre as duas membranas
pleurais; a adesão mantém as duas juntas. A ausência de comunicação com o ar
externo também contribui para que se mantenham juntas. Caso exista um orifício
na parede torácica ou no pulmão, este espaço enche-se de ar e o pulmão colaba.
No adulto, este espaço potencial pode conter um volume de 3.000 ml ou mais.
Esterno
O “osso do peito” desenvolve-se em três partes – de cima para baixo, o
manúbrio, o gladíolo ou corpo e o processo xifóide. Essas partes são assim
denominadas devido à sua semelhança com uma clava. Não existem costelas ligadas
ao processo xifóide, mas o manúbrio e o gladíolo exibem incisuras em ambos os
lados para conexção com as sete primeiras cartilagens costais. Nas regiões
superior e externa, o manúbrio do esterno articula-se com a clavícula. Entre os
dois pontos de articulações está a “incisura jugular” facilmente sentida
através da pele. Ligados ao processo xifóide estão o diafragma, a linha alba e
o músculo reto do abdome.
Costelas
Os doze pares de costelas são denominados de acordo com a sua ligação
anterior. Os sete pares superiores articulam-se directamente com o esterno são chamados “costelas verdadeiras”. Os cinco
pares inferiores articulam-se com o esterno apenas indirectamente e são
chamados “falsas costelas”. As ligações indirectas são as da oitava, nona e
décima costelas, nas quais a cartilagem costal de cada costela, está ligada à
cartilagem da costela superior. Completamente desligadas da última anterior,
estão a décima primeira e a décima segunda que têm um segundo nome, “costelas
flutuantes”. Uma costela típica tem uma extremidade posterior ou vertebral
contendo uma cabeça e um colo; uma extremidade anterior com uma depressão em
forma de taça para ligação, com uma cartilagem costal e uma porção curva
intermediária chamada “diáfise” ou “corpo”, que tem uma dobra distinta, o
ângulo, a curta distância do tubérculo. As cabeças das costelas de 2 a 9 têm
duas facetas para articulação com as facetas dos corpos das vértebras
torácicas.
Cada cabeça articula-se entre os corpos adjacentes de duas vértebras –
a sua faceta inferior articula-se com uma vértebra de número correspondente; a
superior articula-se com a vértebra acima desta. As cabeças das costelas 1, 10,
11 e 12 têm uma única faceta que se articula com o corpo da vértebra
numericamente correspondente. Uma saliência lateral ou tubérculo está
localizada na junção do colo com a diáfise excepto na décima primeira e na
décima segunda costelas, nas quais não existe colo nem tubérculo. Cada
tubérculo contém uma faceta que se articula com o processo transverso da
vértebra correspondente. A partir das junções vertebrais posteriores, as
costelas, curvas, inclinam-se para baixo e para fora, aumentando assim o
tamanho da cavidade torácica; contudo a borda anterior da cavidade é
consideravelmente mais alta do que a posterior, porque a extremidade posterior
do esterno encontra-se ao nível da décima vértebra torácica, e não da décima
segunda, e porque as cartilagens costais das falsas costelas estão
necessariamente dirigidas para cima em direcção ao esterno.
Os pulmões
Os pulmões ocupam as metades direita e esquerda da cavidade torácica.
Uma área chamada de “mediastino” está localizada no meio da cavidade torácica.
No mediastino estão todos os outros órgãos e estruturas da cavidade torácica –
o coração, os grandes vasos sanguíneos, a traqueia, os brônquios principais e o
esófago. Qualquer uma destas ou todas estas estruturas podem ser lesadas no
trauma torácico.
A mecânica da ventilação
Para avaliar adequadamente as consequências e o tratamento do trauma
torácico, é importante entender a mecânica da ventilação. Ventilação é o
processo mecânico pelo qual o ar se move da atmosfera externa para o organismo,
para dentro da boca, nariz, faringe, traqueia, brônquios, pulmões e alvéolos e
depois, sai. Respiração, um processo celular, pega no oxigénio da corrente
sanguínea e produz energia dentro das células do corpo. A respiração inclui a
ventilação. Embora os termos “ventilação” e “respiração” sejam frequentemente
utilizados como sinónimos, na realidade representam diferentes niveis de
função. A capacidade do sinistrado de fazer chegar o oxigénio vital às células
do organismo depende de ambos os processos: o mecânico (ventilação) que leva o
ar para dentro dos pulmões e o biológico (respiração) que permite que o
oxigénio atinja as células onde pode ser usado como combustível pelo corpo.
Durante a inspiração, o diafragma e os músculos intercostais contraem-se,
levando o diafragma a mover-se para baixo e as costelas a abrirem-se e elevarem-se.
Este movimento aumenta o volume dentro da caixa torácica. Como volume e pressão
são inversamente proporcionais, num sistema fechado, a pressão intratorácica
cai para um nível inferior ao do ar fora do corpo, fazendo com que o ar entre
nos pulmões através da boca, nariz, faringe, traqueia e brônquios.
Durante a expiração, o diafragma e os músculos intercostais relaxam,
levando o diafragma a mover-se para cima e as costelas a retomarem a posição de
descanso. O volume intratorácico diminui do volume do pico da inspiração,
enquanto a pressão intratorácica aumenta até um nível superior ao do ar de fora
da boca. O ar dentro dos pulmões é forçado para fora do corpo através dos
brônquios, traqueia, faringe, nariz e boca. Dentro dos pulmões estão os
alvéolos, diminutos sacos de tecido cada um intimamente relacionado com uma
rede de capilares.
O dióxido de carbono (CO2) e o oxigénio (O2) difundem-se através das
paredes dos capilares e dos alvéolos.
Introdução ao traumatismo
torácico
O traumatismo do tórax é um traumatismo extremamente grave,
principalmente se vai afectar a ventilação do sinistrado através de possíveis
perfurações nos pulmões. Mas a gravidade desta lesão não fica por aqui. Assim,
as pancadas fortes no tórax poderão ocasionar, além das mais diversas
fracturas, ruptura do coração, ruptura do diafragma e toda uma série de
contusões associadas, levando o sinistrado, por vezes, a uma morte rápida, se a
sua entrada num centro hospitalar não for feita dentro do mais breve espaço de
tempo.
O trauma torácico é causa directa de 25% das mortes por traumatismo,
devidas quer à falta de oxigénio quer ao choque, quer ainda da simultaneidade
dos dois processos, sendo um factor adicional de 25% para as demais situações.
Na avaliação do trauma torácico deve considerar-se que existem lesões
associadas, como por exemplo, trauma vertebromedular ou a nível de órgãos
intra-abdominais, em particular quando existem fracturas das últimas costelas.
O tórax está exposto a lesões provocadas por diversas causas:
. Traumas produzidos por objectos contundentes (por exemplo
soterramento).
. Traumas produzidos por objectos penetrantes (por exemplo uma bala).
. Traumas produzidos por compressão (por exemplo desaceleração súbita
com concussão).
Tipologia das lesões
A gravidade de uma lesão a nível torácico não está directamente
relacionada com a sua tipologia em aberto ou fechado, embora seja importante
para pautar a actuação do socorrista/montanheiro.
De seguida abordaremos a classificação e identificação dos diversos
tipos de traumatismo torácico, que normalmente podem surgir após um acidente,
mais ou menos violento.
Lesões da caixa torácica
Fracturas costais
São as lesões mais frequentes nos traumatismos fechados.
. Fractura das 3 primeiras costelas (as costelas começam-se a contar
da parte superior do tórax): podem existir associadas a lesões de grandes vasos
sanguíneos do mediastino (espaço médio da caixa torácica), ruptura da árvore
Traqueo-bronquial ou fractura de vértebras cervicais ou dorsais. A fractura da
1ª costela indica traumatismo de grande violência.
. Fractura das 3ª e 7ª costelas: podem associar-se a pneumotórax, ao
romper-se a pleura parietal (pleura que recobre a caixa torácica), é frequente
o aparecimento de enfisema subcutâneo.
. Fractura das 8ª e 10ª costelas: podem estar associadas a lesões
abdominais e à ruptura do diafragma (músculo em forma de cúpula que separa o
tórax do abdómen).
Diagnóstico
. Dor e crepitação quando se palpa.
. Radiologia
Lesões abertas
Neste tipo de lesões a parede torácica sofre penetração que pode
ocorrer de duas formas diferentes: um objecto atravessa a parede torácica a
partir do exterior (por exemplo uma bala, uma faca, etc), ou uma costela
fracturada ou deslocada penetra na parede torácica desde o interior para o
exterior.
Lesões fechadas
Tipo de lesão em que não há solução de continuidade da pele. O coração
e os pulmões ficam expostos a lacerações e contusões ainda que não exista uma
ferida penetrante.
Relativamente às situações mais frequentes que representam risco de
vida imediato para o sinistrado e que requerem uma intervenção imediata do
socorrista/montanheiro, podemos agrupar os traumas em seis tipos:
Pneumotórax aberto
O pneumotórax (PNTX) consiste na acumulação anormal de ar na cavidade
pleural. Ocorre espontaneamente ou é consequência de um traumatismo. No PNTX
aberto existe uma ferida perfurante (PNTX traumático). A entrada de ar
contribui para o colapso do pulmão com consequente alteração da ventilação e má
oxigenação.
Um sinal característico do PNTX aberto é a existência de uma ferida
“soprante”, que produz um ruído característico de aspiração. A ferida torácica
é visível com saída de ar ou espuma de aspecto sanguinolento, coincidindo com
os movimentos ventilatórios. Podem ainda observar-se os seguintes sinais e
sintomas:
. Dor torácica (aguda e pleurítica) do lado do PNTX.
. Esforços ventilatórios que provocam dor.
. Dispneia.
. Ventilação abdominal.
. Hemoptise.
. Taquicardia.
. Hipotensão.
. Cianose.
Diagnóstico clínico
. Insuficiência respiratória grave, hipoventilação do lado afectado,
timpanismo com a percursão da caixa torácica (som parecido com o de um tambor).
. Distenção jugular (veias jugulares inchadas), desvio traqueal
contralateral.
. Choque.
Pneumotórax espontâneo
Este tipo de PNTX surge sem traumatismo local identificável e pode
comparar-se com um arrebentamento de um pneu defeituoso. Os pulmões podem
desenvolver uma zona débil, quer seja por defeito congénito, quer seja devido a
alguma doença. Esta situação ocorre com mais frequência em pacientes entre os
20 e os 40 anos de idade.
Em cerca de 15-20% dos casos com PNTX espontâneo pequeno os pacientes
encontram-se relativamente assintomáticos. Nestes casos o ar do espaço pleural
é gradualmente absorvido, aumentando a rapidez com a administração de oxigénio.
Pneumotórax hipertensivo
Esta situação também conhecida por PNTX “com tensão”, corresponde a
uma complicação que surge quando o ar entra na cavidade pleural e um mecanismo
valvular impede a sua saída. Trata-se de uma verdadeira urgência e requer
intervenção imediata.
O paciente apresenta o seguinte quadro de sinais:
. Dispneia crescente
. Distenção da veia jugular
. Desvio da traqueia para um dos lados
. Taquicardia
. Hipotensão
. Choque
. Cianose
. Enfisema subcutâneo.
Hemotórax maciço
Neste tipo de lesão o sangue entra rapidamente para a cavidade
pleural, em quantidades iguais ou superiores a 1500 ml. Surge nos casos de
feridas abertas e fechadas e está a normalmente associado ao PNTX.
Observa-se o seguinte conjunto de sinais e sintomas:
. Ansiedade
. Pulso rápido e fraco
. Hipotensão
. Pele fria e viscosa
. sudação
Retalho costal móvel
Também designado por “tórax instável” ou “volet costal”, corresponde a
uma lesão que consiste na fractura de várias costelas (três ou mais) com a
consequente distensão em sincronia de uma parte da parede torácica.
Num sinistrado com retalho costal móvel, a secção da parede torácica
que está distendida deixa de mover-se para fora e para dentro, tal como faz a
restante parede torácica, deslocando-se em direcção contrária enquanto decorre
a ventilação (para fora durante a expiração e para dentro durante a
inspiração). Este fenómeno conhece-se por “respiração paradoxal” e é fácil de
observar.
A gravidade desta situação advém da contusão pulmonar subjacente que
conduz a deficiente oxigenação tecidular. A respiração paradoxal manifesta-se
por ventilação superficial, dor intensa na área das fracturas e deformação. O
grau de insuficiência respiratória está relacionado com a intensidade da
contusão pulmonar subjacente.
Diagnóstico
. Presença de movimentos respiratórios paradoxos.
. Dor com a respiração e a palpação.
. Crepitação óssea.
Fractura do esterno
A fractura do esterno ocorre em consequência de um impacto directo, de
moderada ou grande intensidade, sobre a face anterior do tórax.
Deve-se administrar analgésicos, como nas fracturas das costelas, pelo
facto de ser muito dolorosa. É importante levar o sinistrado a um centro
hospitalar de forma a descartar uma contusão cardíaca.
Tamponamento cardíaco
É uma situação de risco de vida imediato e que constitui uma
emergência médica. Este tipo de trauma
resulta da acumulação de sangue no saco pericárdico (espaço existente entre as
duas membranas, pericárdio ou teca cardíaca, que revestem o miocárdio),
interferindo com a actividade do coração, havendo uma redução do enchimento das
câmaras cardíacas e diminuição do débito cardíaco.
A anamnese inclui:
. Confusão
. Astenia
. Dispneia
. Taquicardia
. Hipotensão
. Pulso paradoxal: queda da pressão arterial sistólica > 10mm HG
durante a inspiração
. Distensão venosa jugular
Actuação de emergência geral
Quando se efectuar a avaliação inicial a um traumatismo torácico
deve-se dar especial atenção ao seguinte:
. Verificar a segurança para o socorrista/montanheiro na área de
intervenção
. Actuar com calma e manter uma atitude serena e segura
. Observação detalhada do corpo
. Tentar contactar as equipas de resgate
. Administrar oxigénio; 10 litros/minuto (é administrada esta
quantidade de O2 pelo facto de nos encontrar-mos afastados de um centro
hospitalar, em casos de evacuação rápida, administram-se apenas 3
litros/minuto)
. Controlar hemorragias
. Prevenir a hipotermia
. Posicionamento:
- Sinistrado consciente:
posição de semi-sentado
- Sinistrado inconsciente:
Posição lateral de segurança libertando sempre o hemitórax não atingido
- Em caso de suspeita de
lesão vetebromedular, colocar o sinistrado em supinação num plano rígido
. Avaliar, registar e vigiar continuamente as funções vitais, com
particular destaque para os parâmetros ventilatórios.
. Frequência cardíaca, tensão arterial e frequência respiratória (12 a
18 respirações por minuto).
. Auscultação respiratória: o ruido que se ausculta deverá ser igual
nos dois pulmões. Um barulho assimétrico pode indicar uma diminuição da
ventilação num dos pulmões (suspeitar de pneumotórax).
. Distenção (suspeitar de pneumotórax ou tamponamento cardíaco), ou
colapso (suspeitar de choque hipovolémico) das veias do pescoço.
. Feridas no pescoço ou na parede torácica.
. Dor quando se palpa o tórax.
. Movimentos anormais da parede torácica: o tórax afunda-se quando
recebe o ar e expande-se quando o expulsa (suspeitar de instabilidade
torácica).
. Enfisema subcutâneo (ar que crepita debaixo da pele).
. Hematoma cervical.
. Diminuição do pulso carotídeo.
. Os acidentados que sofreram um traumatismo torácico, devem ser
transportados a um centro hospitalar para se fazer uma exploração radiológica e
um diagnóstico definitivo.
. Não dar nada a beber ou a comer ao sinistrado.
Actuação de emergência
específico
PNTX aberto
. Fazer tamponamento oclusivo em todo o perímetro da ferida, deixando
um dos vértices aberto, utilizando compressas esterilizadas e um plástico para
tornar o penso hermético.
. Imobilizar eventuais corpos estranhos encravados. Nunca tentar a
remoção de um corpo empalado.
. Nas feridas provocadas por armas de fogo o projéctil muitas vezes
não segue uma trajectória em linha recta, podendo fragmentar-se no interior do
corpo sem consequentemente sair para o exterior. O socorrista/montanheiro,
todavia, deve considerar a possibilidade da existência de um orifício de saída,
de dimensões maiores que o de entrada, por onde terá saído o projéctil.
A observação detalhada do corpo permitirá identificar essa ferida que
deve ser igualmente coberta com penso hermético.
Volet costal
. Formar uma “almofada” de camadas de algodão ou de compressas, e
preencher a zona do retalho costal móvel. Fixar a “almofada” com a mão até ao
momento final da fase inspiratória.
. Fixar o preenchimento do volet costal com adesivos largos e grandes,
colocados logo após o início da fase expiratória.
. Em alternativa, podem usar-se sacos de areia sobre o retalho costal,
apertados na fase expiratória com duas ou três ligaduras largas sobrepostas em
“telha”.
Tratamento efectuado por equipas especializadas
. Analgesia: Deve ser sempre administrada, sem esperar que o
sinistrado a peça, de forma a evitar a hipoventilação. Pode-se utilizar
paracetamol ou ácido acetilsalicílico em doses de 500 mg em cada 6 a 8 horas ou
ibuprofeno em doses de 400 a 600 mg em cada 8 a 12 horas.
. Colocar o sinistrado com o lado lesionado para baixo de forma a
conseguir estabilizar eficazmente durante o transporte. Se necessário, pode-se
imobilizar provisoriamente a parede instável com um penso firmemente aderido
para evitar a dor e o movimento paradoxo, melhorando assim a ventilação.
. Estabilização pneumática interna: Se existir insuficiência
respiratória, deve-se fazer entubação e manter uma ventilação mecânica, pelo
que ficará hospitalizado até que se estabilize o tórax (de 10 a 15 dias).
Fracturas de costelas
Neste tipo de lesões deve-se observar a atitude do sinistrado, pois um
sinistrado que esteja consciente e com capacidade de coordenação, indica
geralmente o local exacto da lesão “aqui é onde me dói”. É possível que não exista
deformação aparente se a força que provocou a lesão tiver sido pouco intensa.
De uma maneira geral, os sinistrados com este tipo de lesão inclinam-se
naturalmente para o lado lesado e apoiam a sua mão sobre o local da fractura,
no sentido de imobilizarem as costelas e aliviarem a dor que sentem. Além
disso, evitam ventilar profundamente e tossir, pois ambas as atitudes provocam
intensa dor.
As fracturas da primeira e segunda costelas que não se devem a
traumatismo directo, podem estar associadas a lesões subjacentes
significativas, como por exemplo, contusões do miocárdio, contusões pulmonares,
deslocamentos bronquiais e lesões vasculares importantes. As fracturas de
múltiplas costelas, essencialmente ao nível da nona, décima e décima primeira,
estão amiúde ligadas a lesões intra-abdominais.
Actuação de emergência
. Observação sistematizada do corpo
. Tentar contactar as equipas de resgate
. Respeitar a posição em que se encontra o sinistrado, ou sugerir a
posição de semi-sentado, e fazer uma boa estabilização
. Em caso de inconsciência, colocar o sinistrado em posição lateral de
segurança, libertando o hemitórax não afectado
. Administrar oxigénio: 10 litros/minuto
. Cobrir o sinistrado com lençol isotérmico
. Avaliar, registar e vigiar as funções vitais
Tratamento efectuado por equipas especializadas
. Analgesia: Deve ser sempre administrada, sem esperar que o
sinistrado a peça, de forma a evitar a hipoventilação. Pode-se utilizar
paracetamol ou ácido acetilsalicílico em doses de 500 mg em cada 6 a 8 horas ou
ibuprofeno em doses de 400 a 600 mg em cada 8 a 12 horas.
. Hidratação adequada e fisioterapia respiratória.
. Não utilizar ligaduras compressivas.
Hemotórax
Como neste caso se verifica a ocupação do espaço pleural pelo sangue,
em sequência de um traumatismo torácico grave, é conveniente agir rápidamente.
Diagnóstico
. Quando é maciço (> 1.500 cc) pode originar insuficiência
respiratória e choque hipovolémico.
. Ausência de ruido vesicular, apatia à percussão.
. Toracocentese.
Tratamento efectuado por equipas especializadas
. Drenagem tóracica
. Tratamento do choque
. toracotomia urgente, se for maciço. (abertura da cavidade torácica)
Lesões pulmonares
Contusão pulmonar
O traumatismo afecta o tecido pulmonar, apresentando zonas com edema e
hemorragia, alterando-se a função de troca gasosa.
Sinais e sintomas
. Insuficiência respiratória de vários graus.
. Hemoptise (escarro com sangue).
. Febrícula, aumento da secreção bronqueal.
. Auscultação: hipoventilação e crepitação.
Tratamento efectuado por equipas especializadas
. Analgesia, como nas fracturas das costelas.
. Tratamento da insuficiência respiratória aguda.
Ruptura traqueo-bronqueal
Costuma estar associada à fractura das 3 primeiras costelas.
Sinais e sintomas
. Enfisema subcutâneo.
. Pneumotórax.
. Insuficiência respiratória.
. Alterações da voz
Tratamento
. Tratamento da insuficiência respiratória e do pneumotórax a tensão,
se este estiver presente.
Alterações do espaço pleural e
tratamento efectuado por equipas especializadas
Pneumotórax
Uma vez que neste tipo de lesão se verifica a ocupação do espaço
pleural pelo ar, que provoca um colapso pulmonar parcial ou total, a actuação
do socorrista deve ser urgente.
a) Pneumotórax de tensão
Uma vez ocorrido o colapso pulmonar total, a tensão de ar pode
continuar a provocar um desvio do mediastino para o lado contralateral,
produzindo a compressão do outro pulmão com insuficiência respiratória severa e
um compromisso circulatório por dificuldade de retorno venoso que implica um
baixo débito cardíaco e choque.
Diagnóstico clínico
. Insuficiência respiratória grave, hipoventilação do lado afectado,
timpanismo com a percursão da caixa torácica (som parecido com o de um tambor).
. Distenção jugular (veias jugulares inchadas), desvio traqueal
contralateral.
. Choque.
Tratamento
. É uma situação que comporta risco vital imediato.
. Drenagem torácica urgente: enquanto não se dispõe de um tubo
torácico, faz-se toracocentese terapêutica com um cateter 12G-14G na linha
clavicular média do 2º espaço intercostal.
b) Pneumotórax simples
Apenas ocorre o colapso parcial do pulmão.
Diagnóstico
. Insuficiência respiratória de grau variável.
. Diminuição do ruido vesicular.
Tratamento
Transporte para um centro
hospitalar, onde se efectuará drenagem torácica, se o pneumotórax for grave.
c) Pneumotórax aberto
Diagnóstico
. Visual: observa-se uma ferida penetrante no tórax com entrada e
saída de ar relativamente com os movimentos respiratórios. Pode-se associar
efizema subscutâneo.
Tratamento
. Oclusão da ferida com pensos vaselinados fixados à pele com fita
adesiva por três pontos. Deixa-se sempre um sítio livre, de forma que actue
como uma válvula. Devem ser colocadas cerca de 5 a 7 cm para fora dos bordos da
ferida. O ar sairá com a expiração e não entrará com a inspiração.
. Deve-se transportar o sinistrado a um centro hospitalar onde se
decidirá se será necessário fazer intervenção cirúrgica e drenagem torácica.
Conforme temos vindo a alertar,
nunca esqueça, não sabe não mexa, não “apague” uma vida tentando ajudar.
Efectue um curso de primeiros socorros, para quando for necessário poder actuar
com maior segurança.
Boas caminhadas
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