20 fevereiro 2013

Socorro em montanha – 13ª parte – Traumatismo torácico



Como é lógico e já vem sendo hábito, antes de abordarmos o tema propriamente dito, é conveniente fazer uma breve abordagem à anatomia directamente relacionada com o tema, o que logicamente leva a uma facilitada compreensão dos mecanismos de socorro. Assim, passamos ao tema desta semana, “O Traumatismo Torácico”.







Anatomia

O tórax

A porção do tronco constituída pelo “esterno”, “cartilagens costais”, “costelas” e corpos das “vértebras torácicas” é apropriadamente chamada de “tórax”. O tórax é um cilindro oco composto por 12 pares de costelas. Dez pares articulam-se posteriormente com  a coluna torácica e anteriormente com o esterno através das cartilagens costais.





Os dois pares inferiores são as costelas flutuantes. Um nervo, uma artéria e uma veia estão localizados ao longo da borda inferior de cada costela. Os músculos intercostais unem cada costela com a que está acima. Estes músculos, juntamente com o diafragma, são os músculos primários da ventilação. Esta caixa óssea encerra e protege os pulmões e outras estruturas da cavidade torácica. O tórax também fornece suporte para os ossos da cintura escapular e membros superiores. Na vida adulta, possui uma forma de cone com base ampla.





A pleura

A pleura parietal forra o lado interno da cavidade torácica e a pleura visceral recobre a superfície externa de cada pulmão. Uma pequena quantidade de líquido está presente entre as faces pleurais do pulmão e a face interna da parede torácica. Assim como uma gota de água entre duas lâminas de vidro torna difícil a separação das duas lâminas, este líquido pleural cria uma tensão superficial entre as duas membranas pleurais e faz com que permaneçam aderidas. Desta maneira, as membranas pleurais opõem-se à elasticidade e à tendência natural do pulmão a colabar. Normalmente, não há espaço entre as duas membranas pleurais; a adesão mantém as duas juntas. A ausência de comunicação com o ar externo também contribui para que se mantenham juntas. Caso exista um orifício na parede torácica ou no pulmão, este espaço enche-se de ar e o pulmão colaba. No adulto, este espaço potencial pode conter um volume de 3.000 ml ou mais.






Esterno

O “osso do peito” desenvolve-se em três partes – de cima para baixo, o manúbrio, o gladíolo ou corpo e o processo xifóide. Essas partes são assim denominadas devido à sua semelhança com uma clava. Não existem costelas ligadas ao processo xifóide, mas o manúbrio e o gladíolo exibem incisuras em ambos os lados para conexção com as sete primeiras cartilagens costais. Nas regiões superior e externa, o manúbrio do esterno articula-se com a clavícula. Entre os dois pontos de articulações está a “incisura jugular” facilmente sentida através da pele. Ligados ao processo xifóide estão o diafragma, a linha alba e o músculo reto do abdome.






Costelas

Os doze pares de costelas são denominados de acordo com a sua ligação anterior. Os sete pares superiores articulam-se directamente com o esterno  são chamados “costelas verdadeiras”. Os cinco pares inferiores articulam-se com o esterno apenas indirectamente e são chamados “falsas costelas”. As ligações indirectas são as da oitava, nona e décima costelas, nas quais a cartilagem costal de cada costela, está ligada à cartilagem da costela superior. Completamente desligadas da última anterior, estão a décima primeira e a décima segunda que têm um segundo nome, “costelas flutuantes”. Uma costela típica tem uma extremidade posterior ou vertebral contendo uma cabeça e um colo; uma extremidade anterior com uma depressão em forma de taça para ligação, com uma cartilagem costal e uma porção curva intermediária chamada “diáfise” ou “corpo”, que tem uma dobra distinta, o ângulo, a curta distância do tubérculo. As cabeças das costelas de 2 a 9 têm duas facetas para articulação com as facetas dos corpos das vértebras torácicas.





Cada cabeça articula-se entre os corpos adjacentes de duas vértebras – a sua faceta inferior articula-se com uma vértebra de número correspondente; a superior articula-se com a vértebra acima desta. As cabeças das costelas 1, 10, 11 e 12 têm uma única faceta que se articula com o corpo da vértebra numericamente correspondente. Uma saliência lateral ou tubérculo está localizada na junção do colo com a diáfise excepto na décima primeira e na décima segunda costelas, nas quais não existe colo nem tubérculo. Cada tubérculo contém uma faceta que se articula com o processo transverso da vértebra correspondente. A partir das junções vertebrais posteriores, as costelas, curvas, inclinam-se para baixo e para fora, aumentando assim o tamanho da cavidade torácica; contudo a borda anterior da cavidade é consideravelmente mais alta do que a posterior, porque a extremidade posterior do esterno encontra-se ao nível da décima vértebra torácica, e não da décima segunda, e porque as cartilagens costais das falsas costelas estão necessariamente dirigidas para cima em direcção ao esterno.





Os pulmões

Os pulmões ocupam as metades direita e esquerda da cavidade torácica. Uma área chamada de “mediastino” está localizada no meio da cavidade torácica. No mediastino estão todos os outros órgãos e estruturas da cavidade torácica – o coração, os grandes vasos sanguíneos, a traqueia, os brônquios principais e o esófago. Qualquer uma destas ou todas estas estruturas podem ser lesadas no trauma torácico.






A mecânica da ventilação

Para avaliar adequadamente as consequências e o tratamento do trauma torácico, é importante entender a mecânica da ventilação. Ventilação é o processo mecânico pelo qual o ar se move da atmosfera externa para o organismo, para dentro da boca, nariz, faringe, traqueia, brônquios, pulmões e alvéolos e depois, sai. Respiração, um processo celular, pega no oxigénio da corrente sanguínea e produz energia dentro das células do corpo. A respiração inclui a ventilação. Embora os termos “ventilação” e “respiração” sejam frequentemente utilizados como sinónimos, na realidade representam diferentes niveis de função. A capacidade do sinistrado de fazer chegar o oxigénio vital às células do organismo depende de ambos os processos: o mecânico (ventilação) que leva o ar para dentro dos pulmões e o biológico (respiração) que permite que o oxigénio atinja as células onde pode ser usado como combustível pelo corpo. Durante a inspiração, o diafragma e os músculos intercostais contraem-se, levando o diafragma a mover-se para baixo e as costelas a abrirem-se e elevarem-se. Este movimento aumenta o volume dentro da caixa torácica. Como volume e pressão são inversamente proporcionais, num sistema fechado, a pressão intratorácica cai para um nível inferior ao do ar fora do corpo, fazendo com que o ar entre nos pulmões através da boca, nariz, faringe, traqueia e brônquios.


Durante a expiração, o diafragma e os músculos intercostais relaxam, levando o diafragma a mover-se para cima e as costelas a retomarem a posição de descanso. O volume intratorácico diminui do volume do pico da inspiração, enquanto a pressão intratorácica aumenta até um nível superior ao do ar de fora da boca. O ar dentro dos pulmões é forçado para fora do corpo através dos brônquios, traqueia, faringe, nariz e boca. Dentro dos pulmões estão os alvéolos, diminutos sacos de tecido cada um intimamente relacionado com uma rede de capilares.





O dióxido de carbono (CO2) e o oxigénio (O2) difundem-se através das paredes dos capilares e dos alvéolos.






Introdução ao traumatismo torácico

O traumatismo do tórax é um traumatismo extremamente grave, principalmente se vai afectar a ventilação do sinistrado através de possíveis perfurações nos pulmões. Mas a gravidade desta lesão não fica por aqui. Assim, as pancadas fortes no tórax poderão ocasionar, além das mais diversas fracturas, ruptura do coração, ruptura do diafragma e toda uma série de contusões associadas, levando o sinistrado, por vezes, a uma morte rápida, se a sua entrada num centro hospitalar não for feita dentro do mais breve espaço de tempo.





O trauma torácico é causa directa de 25% das mortes por traumatismo, devidas quer à falta de oxigénio quer ao choque, quer ainda da simultaneidade dos dois processos, sendo um factor adicional de 25% para as demais situações.




Na avaliação do trauma torácico deve considerar-se que existem lesões associadas, como por exemplo, trauma vertebromedular ou a nível de órgãos intra-abdominais, em particular quando existem fracturas das últimas costelas.
O tórax está exposto a lesões provocadas por diversas causas:

. Traumas produzidos por objectos contundentes (por exemplo soterramento).





. Traumas produzidos por objectos penetrantes (por exemplo uma bala).





. Traumas produzidos por compressão (por exemplo desaceleração súbita com concussão).


Tipologia das lesões

A gravidade de uma lesão a nível torácico não está directamente relacionada com a sua tipologia em aberto ou fechado, embora seja importante para pautar a actuação do socorrista/montanheiro.

De seguida abordaremos a classificação e identificação dos diversos tipos de traumatismo torácico, que normalmente podem surgir após um acidente, mais ou menos violento.

Lesões da caixa torácica

Fracturas costais

São as lesões mais frequentes nos traumatismos fechados.

. Fractura das 3 primeiras costelas (as costelas começam-se a contar da parte superior do tórax): podem existir associadas a lesões de grandes vasos sanguíneos do mediastino (espaço médio da caixa torácica), ruptura da árvore Traqueo-bronquial ou fractura de vértebras cervicais ou dorsais. A fractura da 1ª costela indica traumatismo de grande violência.
. Fractura das 3ª e 7ª costelas: podem associar-se a pneumotórax, ao romper-se a pleura parietal (pleura que recobre a caixa torácica), é frequente o aparecimento de enfisema subcutâneo.
. Fractura das 8ª e 10ª costelas: podem estar associadas a lesões abdominais e à ruptura do diafragma (músculo em forma de cúpula que separa o tórax do abdómen).






Diagnóstico

. Dor e crepitação quando se palpa.
. Radiologia


Lesões abertas

Neste tipo de lesões a parede torácica sofre penetração que pode ocorrer de duas formas diferentes: um objecto atravessa a parede torácica a partir do exterior (por exemplo uma bala, uma faca, etc), ou uma costela fracturada ou deslocada penetra na parede torácica desde o interior para o exterior.








Lesões fechadas

Tipo de lesão em que não há solução de continuidade da pele. O coração e os pulmões ficam expostos a lacerações e contusões ainda que não exista uma ferida penetrante.




Relativamente às situações mais frequentes que representam risco de vida imediato para o sinistrado e que requerem uma intervenção imediata do socorrista/montanheiro, podemos agrupar os traumas em seis tipos:

Pneumotórax aberto

O pneumotórax (PNTX) consiste na acumulação anormal de ar na cavidade pleural. Ocorre espontaneamente ou é consequência de um traumatismo. No PNTX aberto existe uma ferida perfurante (PNTX traumático). A entrada de ar contribui para o colapso do pulmão com consequente alteração da ventilação e má oxigenação.





Um sinal característico do PNTX aberto é a existência de uma ferida “soprante”, que produz um ruído característico de aspiração. A ferida torácica é visível com saída de ar ou espuma de aspecto sanguinolento, coincidindo com os movimentos ventilatórios. Podem ainda observar-se os seguintes sinais e sintomas:
. Dor torácica (aguda e pleurítica) do lado do PNTX.
. Esforços ventilatórios que provocam dor.
. Dispneia.
. Ventilação abdominal.
. Hemoptise.
. Taquicardia.
. Hipotensão.
. Cianose.

Diagnóstico clínico

. Insuficiência respiratória grave, hipoventilação do lado afectado, timpanismo com a percursão da caixa torácica (som parecido com o de um tambor).
. Distenção jugular (veias jugulares inchadas), desvio traqueal contralateral.
. Choque.





Pneumotórax espontâneo

Este tipo de PNTX surge sem traumatismo local identificável e pode comparar-se com um arrebentamento de um pneu defeituoso. Os pulmões podem desenvolver uma zona débil, quer seja por defeito congénito, quer seja devido a alguma doença. Esta situação ocorre com mais frequência em pacientes entre os 20 e os 40 anos de idade.
Em cerca de 15-20% dos casos com PNTX espontâneo pequeno os pacientes encontram-se relativamente assintomáticos. Nestes casos o ar do espaço pleural é gradualmente absorvido, aumentando a rapidez com a administração de oxigénio.





Pneumotórax hipertensivo

Esta situação também conhecida por PNTX “com tensão”, corresponde a uma complicação que surge quando o ar entra na cavidade pleural e um mecanismo valvular impede a sua saída. Trata-se de uma verdadeira urgência e requer intervenção imediata.





O paciente apresenta o seguinte quadro de sinais:
. Dispneia crescente
. Distenção da veia jugular
. Desvio da traqueia para um dos lados





. Taquicardia
. Hipotensão
. Choque
. Cianose
. Enfisema subcutâneo.

Hemotórax maciço

Neste tipo de lesão o sangue entra rapidamente para a cavidade pleural, em quantidades iguais ou superiores a 1500 ml. Surge nos casos de feridas abertas e fechadas e está a normalmente associado ao PNTX.




Observa-se o seguinte conjunto de sinais e sintomas:
. Ansiedade
. Pulso rápido e fraco
. Hipotensão
. Pele fria e viscosa
. sudação

Retalho costal móvel

Também designado por “tórax instável” ou “volet costal”, corresponde a uma lesão que consiste na fractura de várias costelas (três ou mais) com a consequente distensão em sincronia de uma parte da parede torácica.




Num sinistrado com retalho costal móvel, a secção da parede torácica que está distendida deixa de mover-se para fora e para dentro, tal como faz a restante parede torácica, deslocando-se em direcção contrária enquanto decorre a ventilação (para fora durante a expiração e para dentro durante a inspiração). Este fenómeno conhece-se por “respiração paradoxal” e é fácil de observar.





A gravidade desta situação advém da contusão pulmonar subjacente que conduz a deficiente oxigenação tecidular. A respiração paradoxal manifesta-se por ventilação superficial, dor intensa na área das fracturas e deformação. O grau de insuficiência respiratória está relacionado com a intensidade da contusão pulmonar subjacente.






Diagnóstico

. Presença de movimentos respiratórios paradoxos.
. Dor com a respiração e a palpação.
. Crepitação óssea.


Fractura do esterno

A fractura do esterno ocorre em consequência de um impacto directo, de moderada ou grande intensidade, sobre a face anterior do tórax.
Deve-se administrar analgésicos, como nas fracturas das costelas, pelo facto de ser muito dolorosa. É importante levar o sinistrado a um centro hospitalar de forma a descartar uma contusão cardíaca.






Tamponamento cardíaco

É uma situação de risco de vida imediato e que constitui uma emergência  médica. Este tipo de trauma resulta da acumulação de sangue no saco pericárdico (espaço existente entre as duas membranas, pericárdio ou teca cardíaca, que revestem o miocárdio), interferindo com a actividade do coração, havendo uma redução do enchimento das câmaras cardíacas e diminuição do débito cardíaco.





A anamnese inclui:
. Confusão
. Astenia
. Dispneia
. Taquicardia
. Hipotensão
. Pulso paradoxal: queda da pressão arterial sistólica > 10mm HG durante a inspiração
. Distensão venosa jugular






Actuação de emergência geral

Quando se efectuar a avaliação inicial a um traumatismo torácico deve-se dar especial atenção ao seguinte:

. Verificar a segurança para o socorrista/montanheiro na área de intervenção
. Actuar com calma e manter uma atitude serena e segura
. Observação detalhada do corpo
. Tentar contactar as equipas de resgate
. Administrar oxigénio; 10 litros/minuto (é administrada esta quantidade de O2 pelo facto de nos encontrar-mos afastados de um centro hospitalar, em casos de evacuação rápida, administram-se apenas 3 litros/minuto)
. Controlar hemorragias
. Prevenir a hipotermia
. Posicionamento:
   - Sinistrado consciente: posição de semi-sentado
   - Sinistrado inconsciente: Posição lateral de segurança libertando sempre o hemitórax não atingido
   - Em caso de suspeita de lesão vetebromedular, colocar o sinistrado em supinação num plano rígido
. Avaliar, registar e vigiar continuamente as funções vitais, com particular destaque para os parâmetros ventilatórios.
. Frequência cardíaca, tensão arterial e frequência respiratória (12 a 18 respirações por minuto).
. Auscultação respiratória: o ruido que se ausculta deverá ser igual nos dois pulmões. Um barulho assimétrico pode indicar uma diminuição da ventilação num dos pulmões (suspeitar de pneumotórax).





. Distenção (suspeitar de pneumotórax ou tamponamento cardíaco), ou colapso (suspeitar de choque hipovolémico) das veias do pescoço.
. Feridas no pescoço ou na parede torácica.
. Dor quando se palpa o tórax.
. Movimentos anormais da parede torácica: o tórax afunda-se quando recebe o ar e expande-se quando o expulsa (suspeitar de instabilidade torácica).
. Enfisema subcutâneo (ar que crepita debaixo da pele).





. Hematoma cervical.
. Diminuição do pulso carotídeo.
. Os acidentados que sofreram um traumatismo torácico, devem ser transportados a um centro hospitalar para se fazer uma exploração radiológica e um diagnóstico definitivo.
. Não dar nada a beber ou a comer ao sinistrado.






Actuação de emergência específico

PNTX aberto

. Fazer tamponamento oclusivo em todo o perímetro da ferida, deixando um dos vértices aberto, utilizando compressas esterilizadas e um plástico para tornar o penso hermético.




. Imobilizar eventuais corpos estranhos encravados. Nunca tentar a remoção de um corpo empalado.




. Nas feridas provocadas por armas de fogo o projéctil muitas vezes não segue uma trajectória em linha recta, podendo fragmentar-se no interior do corpo sem consequentemente sair para o exterior. O socorrista/montanheiro, todavia, deve considerar a possibilidade da existência de um orifício de saída, de dimensões maiores que o de entrada, por onde terá saído o projéctil.





A observação detalhada do corpo permitirá identificar essa ferida que deve ser igualmente coberta com penso hermético.

Volet costal

. Formar uma “almofada” de camadas de algodão ou de compressas, e preencher a zona do retalho costal móvel. Fixar a “almofada” com a mão até ao momento final da fase inspiratória.
. Fixar o preenchimento do volet costal com adesivos largos e grandes, colocados logo após o início da fase expiratória.
. Em alternativa, podem usar-se sacos de areia sobre o retalho costal, apertados na fase expiratória com duas ou três ligaduras largas sobrepostas em “telha”.

Tratamento efectuado por equipas especializadas

. Analgesia: Deve ser sempre administrada, sem esperar que o sinistrado a peça, de forma a evitar a hipoventilação. Pode-se utilizar paracetamol ou ácido acetilsalicílico em doses de 500 mg em cada 6 a 8 horas ou ibuprofeno em doses de 400 a 600 mg em cada 8 a 12 horas.
. Colocar o sinistrado com o lado lesionado para baixo de forma a conseguir estabilizar eficazmente durante o transporte. Se necessário, pode-se imobilizar provisoriamente a parede instável com um penso firmemente aderido para evitar a dor e o movimento paradoxo, melhorando assim a ventilação.




. Estabilização pneumática interna: Se existir insuficiência respiratória, deve-se fazer entubação e manter uma ventilação mecânica, pelo que ficará hospitalizado até que se estabilize o tórax (de 10 a 15 dias).

Fracturas de costelas

Neste tipo de lesões deve-se observar a atitude do sinistrado, pois um sinistrado que esteja consciente e com capacidade de coordenação, indica geralmente o local exacto da lesão “aqui é onde me dói”. É possível que não exista deformação aparente se a força que provocou a lesão tiver sido pouco intensa. De uma maneira geral, os sinistrados com este tipo de lesão inclinam-se naturalmente para o lado lesado e apoiam a sua mão sobre o local da fractura, no sentido de imobilizarem as costelas e aliviarem a dor que sentem. Além disso, evitam ventilar profundamente e tossir, pois ambas as atitudes provocam intensa dor.
As fracturas da primeira e segunda costelas que não se devem a traumatismo directo, podem estar associadas a lesões subjacentes significativas, como por exemplo, contusões do miocárdio, contusões pulmonares, deslocamentos bronquiais e lesões vasculares importantes. As fracturas de múltiplas costelas, essencialmente ao nível da nona, décima e décima primeira, estão amiúde ligadas a lesões intra-abdominais.






Actuação de emergência

. Observação sistematizada do corpo
. Tentar contactar as equipas de resgate
. Respeitar a posição em que se encontra o sinistrado, ou sugerir a posição de semi-sentado, e fazer uma boa estabilização
. Em caso de inconsciência, colocar o sinistrado em posição lateral de segurança, libertando o hemitórax não afectado
. Administrar oxigénio: 10 litros/minuto
. Cobrir o sinistrado com lençol isotérmico
. Avaliar, registar e vigiar as funções vitais

Tratamento efectuado por equipas especializadas

. Analgesia: Deve ser sempre administrada, sem esperar que o sinistrado a peça, de forma a evitar a hipoventilação. Pode-se utilizar paracetamol ou ácido acetilsalicílico em doses de 500 mg em cada 6 a 8 horas ou ibuprofeno em doses de 400 a 600 mg em cada 8 a 12 horas.
. Hidratação adequada e fisioterapia respiratória.
. Não utilizar ligaduras compressivas.






Hemotórax

Como neste caso se verifica a ocupação do espaço pleural pelo sangue, em sequência de um traumatismo torácico grave, é conveniente agir rápidamente.

Diagnóstico

. Quando é maciço (> 1.500 cc) pode originar insuficiência respiratória e choque hipovolémico.
. Ausência de ruido vesicular, apatia à percussão.
. Toracocentese.

Tratamento efectuado por equipas especializadas

. Drenagem tóracica
. Tratamento do choque
. toracotomia urgente, se for maciço. (abertura da cavidade torácica)






Lesões pulmonares

Contusão pulmonar

O traumatismo afecta o tecido pulmonar, apresentando zonas com edema e hemorragia, alterando-se a função de troca gasosa.

Sinais e sintomas

. Insuficiência respiratória de vários graus.
. Hemoptise (escarro com sangue).
. Febrícula, aumento da secreção bronqueal.
. Auscultação: hipoventilação e crepitação.

Tratamento efectuado por equipas especializadas

. Analgesia, como nas fracturas das costelas.
. Tratamento da insuficiência respiratória aguda.

Ruptura traqueo-bronqueal

Costuma estar associada à fractura das 3 primeiras costelas.

Sinais e sintomas

. Enfisema subcutâneo.
. Pneumotórax.
. Insuficiência respiratória.
. Alterações da voz

Tratamento

. Tratamento da insuficiência respiratória e do pneumotórax a tensão, se este estiver presente.





Alterações do espaço pleural e tratamento efectuado por equipas especializadas

Pneumotórax

Uma vez que neste tipo de lesão se verifica a ocupação do espaço pleural pelo ar, que provoca um colapso pulmonar parcial ou total, a actuação do socorrista deve ser urgente.

a) Pneumotórax de tensão

Uma vez ocorrido o colapso pulmonar total, a tensão de ar pode continuar a provocar um desvio do mediastino para o lado contralateral, produzindo a compressão do outro pulmão com insuficiência respiratória severa e um compromisso circulatório por dificuldade de retorno venoso que implica um baixo débito cardíaco e choque.






Diagnóstico clínico

. Insuficiência respiratória grave, hipoventilação do lado afectado, timpanismo com a percursão da caixa torácica (som parecido com o de um tambor).
. Distenção jugular (veias jugulares inchadas), desvio traqueal contralateral.
. Choque.

Tratamento

. É uma situação que comporta risco vital imediato.
. Drenagem torácica urgente: enquanto não se dispõe de um tubo torácico, faz-se toracocentese terapêutica com um cateter 12G-14G na linha clavicular média do 2º espaço intercostal.






b) Pneumotórax simples

Apenas ocorre o colapso parcial do pulmão.

Diagnóstico

. Insuficiência respiratória de grau variável.
. Diminuição do ruido vesicular.

Tratamento

Transporte para um centro hospitalar, onde se efectuará drenagem torácica, se o pneumotórax for grave.






c) Pneumotórax aberto

Diagnóstico

. Visual: observa-se uma ferida penetrante no tórax com entrada e saída de ar relativamente com os movimentos respiratórios. Pode-se associar efizema subscutâneo.






Tratamento

. Oclusão da ferida com pensos vaselinados fixados à pele com fita adesiva por três pontos. Deixa-se sempre um sítio livre, de forma que actue como uma válvula. Devem ser colocadas cerca de 5 a 7 cm para fora dos bordos da ferida. O ar sairá com a expiração e não entrará com a inspiração.



. Deve-se transportar o sinistrado a um centro hospitalar onde se decidirá se será necessário fazer intervenção cirúrgica e drenagem torácica.

Conforme temos vindo a alertar, nunca esqueça, não sabe não mexa, não “apague” uma vida tentando ajudar. Efectue um curso de primeiros socorros, para quando for necessário poder actuar com maior segurança.





Boas caminhadas

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