Mais uma vitória foi alcançada pelo Clube de Montanhismo de
Braga, desta feita o CMB logrou alcançar os cumes do Grand Paradiso (Itália –
4060 metros de altitude) e do Mont Blanc (França – 4807 metros de altitude)
sendo que este último constitui o ponto mais alto dos Alpes e da Europa
Ocidental.
O grupo de montanheiros do Clube de Montanhismo de Braga,
composto por Claudio Ribeiro, Amadeu
Barros, Daniel Ribeiro, Osvaldo Oliveira, Vitor Veloso, João Rodrigues, Paulo
Soares, Manuel Ribeiro e Manuel Martins, partiu em duas viaturas no dia 27
de Julho de 2012 pelas 20:30h com destino a Itália, mais concretamente para a
localidade de Pont (situada a 1900 metros de altitude). Após uma viagem de
cerca de 24 horas, com algumas atribulações, como seja termos perdido por alguns períodos o contacto visual
entre as viaturas bem como alguns problemas mecânicos, chegamos ao local de
destino no dia 28 de Julho, cerca das 22:00h onde pernoitamos, ao relento, pelo
facto de os parques de campismo da zona já se encontrarem encerrados àquela hora. Montamos o “acampamento” em Pont,
debaixo de um alpendre à face da estrada, para evitar que o orvalho molhasse os
sacos cama e o equipamento.
No dia 29 de Julho, bem cedo, preparamos as mochilas e dirigimo-nos
para o parque de estacionamento de Pont onde deixámos as viaturas, perto do
local de início do trilho para o Refúgio “Vitorio Emanuelle II” situado a 2735
metros de altitude.
Cruzámos uma pequena ponte de madeira e demos início à
caminhada por um trilho em ziguezague, com uma forte inclinação.
Após algumas horas de dura marcha, deparou-se à nossa frente
o imponente refúgio “Vittorio Emanuelle II”,
local onde paramos,
junto com outros montanheiros para descansar um pouco. Montamos o acampamento
base a cerca de 500 metros acima do refúgio. Foi aqui, no interior do refúgio
que verificamos que o trilho que nos tínhamos propostos efectuar estava
interdito, informando um trilho alternativo até ao cume.
No dia seguinte, 30 de Julho de 2012, preparamos as mochilas apenas
com o equipamento necessário para subir ao cume do Grand Paradise.
Após uma desgastante subida
por terrenos pedregosos e nevados, que tivemos que atravessar com todo o
cuidado diversas fendas no gelo.
Depois desses esforços conquistamos finalmente o cume do Grand
Paradiso situado a 4060 metros de altitude. Chegados ao cume fomos
surpreendidos pela quantidade de pessoas que se encontravam neste.
Estamos a falar de um espaço reduzido, com uma única via de
acesso e onde se cruzavam desmedidamente e perigosamente, dezenas e dezenas de
pessoas, o que torna este acesso final ao cume extremamente difícil e perigoso.
Eu próprio quase fui lançado no vazio por um grupo encordado que fruto da sua
distracção e leviandade, quase me empurraram com a corda que os unia para o
precipício. Também o nosso colega João Rodrigues que foi ferido num dedo com os
crampons de um alpinista descuidado.
Após esta conquista e devido ao intenso frio que se fazia
sentir, (com temperaturas muito abaixo dos 0ºC), iniciamos rapidamente e
durante algumas horas, o regresso ao acampamento base onde recolhemos as tendas
e o equipamento e demos início à descida da montanha até às viaturas.
Esta ascenção serviu, sobretudo, para efectuar a aclimatação
possível à altitude e à consequente
rarefacção do ar. Ainda no mesmo dia, deslocamo-nos para Chamonix (França) onde procuramos um
parque de campismo para pernoitarmos e tomarmos um duche revigorante, servindo
ainda para ajudar na aclimatação, pois desta feita dormimos a 1000 metros de
altitude, situação que nos permitiu, em teoria uma maior criação de glóbulos
vermelhos, para provocar um maior aporte
de oxigénio, o que, por sua vez, constitui um auxilio para alcançar o principal
objectivo desta missão.
Nesta noite encontramo-nos com um amigo emigrante do Manuel
Ribeiro que nos levou a uma pizzaria e onde aproveitamos para efectuar uma
refeição “a sério”.
Destinamos o dia 31 de Julho para repousar e recuperar
energias para o grande objectivo desta aventura, a conquista do Monte Branco.
Neste dia, 31 de Julho optamos por dar um passeio em Chamonix, e aproveitamos
para tomar uma decisão para a hipótese de se confirmar o nosso receio de estar
vedado o acampamento e/ou bivaque na zona de acesso ao Mont Blanc.
Na verdade, desde 1953 que foi implementada essa proibição.
No entanto, na prática, o bivaque tem sido permitido desde o pôr até ao nascer
do Sol. Foi com alívio, que soubemos que esse bom costume estaria ainda em
vigor, tanto mais que os refúgios estavam lotados. No dia 01 de Agosto de 2012
iniciamos a subida para o refúgio de “Tête Rousse” situado a 3167 metros de
altitude. Tivemos algumas dificuldades para estacionar as viaturas no parque de
estacionamento do teleférico, pois encontrava-se completamente cheio. Após
conseguirmos estacionar os carros, tomamos o teleférico que nos levou até à
estação de caminhos de ferro do famoso Tramway du Mont-Blanc. A meio do percurso habitual até à última
paragem (Nid d’Aigle), o comboio deteve-se num apeadeiro (Col du Mt Lachat),
onde já sabíamos de antemão que o percurso estava alterado, devido a obras na
linha férrea, obrigando-nos a efectuar um percurso mais longo e mais técnico do
que o normalmente utilizado.
Após 4 desgastantes horas de caminhada, com assinalável grau
de dificuldade, tanto a nível técnico como físico, chegamos junto do refúgio de
Tête Rousse onde montamos o acampamento em cima de rochas já acamadas,
dando-lhes uns últimos retoques, de forma a ficar um chão o mais confortável
possível para colocar as tendas.
Decidimos iniciar a subida para o refúgio de “Goutter” pelas 3
horas da manhã do dia seguinte (02 de Agosto). No entanto por volta das 00:30h
foram fustigados por uma violenta tempestade que nos impediu de iniciar a
ascenção no horário previsto. Por esse motivo foi decidido dar início à difícil
subida para Goutter ao início daquela manhã. No início dessa subida
deparamo-nos com uma parede quase vertical, imediatamente precedida do célebre
(por causa das suas avalanches) “corredor da morte”, assolado por queda de
pedras constantes.
Foi por isso,
necessário encarar a trepada daquela imponente parede com a máxima precaução.
Ao fim de aproximadamente 4 horas de esgotante e concentrada
ascenção, chegámos junto do refúgio de Gouter, situado a 3817 metros de
altitude, onde montamos o segundo e último acampamento, “num mar de neve” e
onde tivemos que proteger as tendas dos fortes ventos que se faziam sentir, o
que fazia com que a temperatura baixasse muito abaixo dos 0ºC.
Após algumas horas de descanso nas tendas, sempre fustigadas
pelo vento, preparamos o equipamento estritamente necessário para colocar nas
mochilas e iniciamos as ascenção para o cume do Mont Blanc pelas 2:15h da
manhã. Efectuamos grande parte da subida acompanhados pela noite, fazendo uma
pequena pausa no refúgio de Vallot, o qual se encontrava completamente lotado.
Reiniciamos a caminhada deparando-se então à nossa frente a
conhecida e imponente primeira bossa e após uma extenuante e costante ascenção,
sempre fustigados por fortes rajadas de vento e com
temperaturas a rondar os -15ºC, conseguimos conquistar o cume do Mont Blanc
(4807 metros de altitude) pelas 09:15h da manhã, do dia 03 de Agosto de 2012.
Após a natural alegria, os abraços e as fotos da praxe,
iniciamos a descida para o acampamento de Goutter, não perdendo tempo, devido
aos fortes ventos e ao frio intenso que se faziam sentir.
Aí chegados, desmontamos as tendas e, com “a casa às costas”,
reeiniciamos a difícil e perigosa
descida da montanha até ao apeadeiro Col du Mt Lachat do Tramway du Mont-blanc.
Como ali chegamos perto das 21:00h, já não havia comboios para nos levar ao
teleférico que, por sua vez, nos levaria até às viaturas, pelo que pernoitamos
mais uma noite ao relento, esperando pelo comboio que, pela manhã, nos levou de
regresso.
Após um banho revitalizante na estação do teleférico (que
custou 3 € a cada um), iniciamos o regresso a casa,
chegando a Braga pelas 12:30h do dia 05 de Agosto de 2012,
onde eramos esperados por amigos e familiares.
Inicialmente partimos de Portugal com algum receio, pelo
facto de ser proibido bivacar ou acampar no Grand Paradiso e no Mont Blanc, no
entanto montamos acampamentos base em cada uma das montanhas e felizmente não
fomos incomodados por ninguém, verificando inclusive que para além das nossas
tendas, sempre existiam muitas mais. Parece que ao contrário do que se verifica
em algumas áreas protegidas de Portugal, pelos belos Alpes ainda reina o bom
senso. Assim, nesses lugares, os montanheiros gozam a montanha como verdadeiros
amantes da natureza, confiando as autoridades, em termos práticos, na sensatez
de todos quantos não desejam prejudicar o que muito se estima.
Chegamos a Braga exaustos, mas com a satisfação de mais uma
vitória alcançada, a somar a todas as anteriores deste jovem, mas dinâmico,
Clube de Montanhismo de Braga.
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